segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ALEMANHA -A infecção perdura.

Liderança castrada.


                           Agora que se discute cada vez mais se haverá uma Europa alemã, ou uma Alemanha européia, está na pauta entender porque a Alemanha recusa-se a  assumir um papel preponderante no cenário mundial, compatível com a sua condição de líder econômico da Comunidade européia, esta Europa dos 27 atualmente. O que há com a Alemanha que se escusa sempre em assumir uma posição que é sua?

                               Curioso é que esta posição incomoda-lhe. E além do mais  é uma posição de liderança, e liderar é mais que tudo comandar sem mandar, é ter carisma, é passar  emoção, é  esquentar corações. Certa feita conversava sobre isto com um grupo de pessoas em minha casa, disse-lhes o que achava e que esta qualidade de passar emoção não tinha nada à ver com a beleza física ou o estatuto social da pessoa, ou com suas outras qualidades, mas só com sua alma, e citava Martim Luther King, Ghandi etc...Não acreditaram, propus-lhes um teste. Íamos escolher uma pessoa  feia, de origem social dita baixa, estranha, estrangeira, isso passa-se em Portugal num local onde há sempre muita gente de toda a parte do mundo. Lembrei-me de Tim Maia, um mulato barasileiro, feio, brutamontes, de origem dita baixa, já morto, sem nenhum atributo à mais que seu enorme, enormíssimo, coração, sua alma de grande cantor, e propus o seguinte: Escolheríamos qualquer pessoa ao acaso na rua e pediriamos para que ela cantasse «Um dia de domingo». Fomos pra rua e não deu outra, quando começava a cantar: " Eu preciso te falar, te encontar de qualquer jeito..." as pessoas todas, espanhois, argentinos, portugueses evidentemente, italianos, começavam logo a cantar também, e, outras, as que não sabiam a letra, acompanhavam o som trauteando e, ainda outras (alemães, ingleses,coreanos) que efetivamente não conheciam a música,(na voz de Tim Maia) imediatamente gostavam dela, e sintonizavam-se com a canção de primeira. Isto é alma. E é o que os Alemães perderam. Onde anda aquela Alemanha de Goethe,? De Schopenhauer? De Kant, do rosacruciano Leibniz? De Nietzsche, de Heidegger ,ou mesmo de Kruger e Lubbe? A Alemanha de Mann, de Hesse? De Schiller, de Heine? De Brecht? De Bach, este divinal? De Weber, de Brahms, de Handel ou mesmo dos Tokio Hotel? O que se passa com a Alemanha?

                                  O mal imenso que este ser que se chamava Hitler continua fazendo mesmo agora, passadas duas gerações, e que se vão completar 70 anos que perdeu o poder  efetivo, e logo à seguir o mesmo tempo sobre sua morte, é assustador. Porque ainda o mal que espalha é a presença invisível, a impedir a Alemanha de assumir uma posição pró-ativa de liderança na Europa, que só a ela compete, tanto mais que a Inglaterra continua em cima do muro. Quem conhece os ilhéus sabe o que eles pensam dos do continente, é assim com todas as ilhas, até dentro de um mesmo país, não querem se envolver muito. Mais que tudo Hitler transformou a Alemanha numa coisa vaga, sem princípios, sem objetivos e sem ideais. Mas a Alemanha é a Alemanha dos grandes filósofos, dos grandes juristas, das grandes idéias e dos grandes ideais da humanidade. Não poderá continuar como se fosse um povo sem alma. Tendo perdido a espiritualidade, parece que perderam junto o próprio espírito (sua alma) não tendo razões para que  este se manifeste. Sim, porque Hitler roubou-lhes a espiritualidade e condenou à todos os alemães e eles sabem disto. Porém tudo neste mundo passa, mesmo às vezes não passando para nós que nos sabemos culpados, que nos sabemos enredados.

                                   Esta  triste herança que roubou-lhes a espiritualidade, deixa castrada as lideranças pelo só efeito de se pensarem líderes da Europa que tentaram comandar à ferro e fogo. Deixará ainda de sobreaviso todos os outros povos da Europa, imaginem só os poloneses por exemplo. E os alemães sabem disto,lembram tudo isto, e por isto excusam-se. Mas é um encontro com a história. É um encontro com seu passado e com seu futuro que não poderão evitar. É preciso compreeneder e aceitar que este povo está fadado a cumprir seu destino, destino que desejou porfiar com outras razões, mas que lhe chega agora pelas melhores. Há que saber-se reencontrar com a história, há que saber aceitar o que virá..

                                  Entretanto há solução para tudo ! Só o perdão nos converte. É preciso perdoar para  perdoar-se, como é preciso pedir perdão para se ser perdoado. Se a Alemanha entender que tem de pagar o preço de sua conversão fazendo o bem de juntar em torno do projeto europeu de que faz parte, todos os demais países sem exclusão, sem presunção e sem sobranceria, então assumirá o papel que só a ela cabe por suas especiais condições como povo, por suas exepcionais qualidades de trabalho e pensamento. Porém aceitando, respeitando e amando o diferente. Porém acolhendo, convivendo e desejando o desigual e irregular, e, então, dirão como   Goethe: " Nada nesse mundo nos torna mais necessário aos outros como o amor que lhes temos." Pois que  a Alemanha é necessária, sobretudo por razões econômicas, mas poderá vir a ser imprescindível, se souber amar a diferença.



quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Qual é a explicação?

Não tem explicação?
Tudo tem explicação...

Recebi muitos comentários do NO MÁXIMO DO CINISMO, onde questionavam a minha posição de apoiar a idéia de cortar no orçamento em Portugal. Ora, todas as outras coisas que fizeram, todas de resultado temporário e efeito duvidoso, só não duvidoso para o caos que semearam  na economia, e de resultados, estes  não duvidosos, mas inúteis, pois não evitarão a Portugal um segundo resgate, bem como não solucionaram em nada os problemas estruturais que criaram a situação em que este país se encontra, aumentaram a dívida. Sendo o cortar o déficite do orçamento de Estado, ou, melhor, ter um orçamento zero, ou, melhor ainda, ter um orçamento que tivesse sobras, que deixasse dinheiro para ser guardado, ou para pagar dívidas, era o ideal, sempre a primeira coisa à fazer é estancar a hemorragia,  se não vejamos....

Imaginemos uma família que ganha 100, não importa o que, digamos 100.000 euros anuais, uso cem pela visibiidade que proporciona e facilidade de cálculos, mas serve para qualquer valor, em qualquer família, em qualquer época, posto que os números são sempre os mesmos em qualquer tempo e em qualquer situação e a eles não se pode fugir.

Pois  suponhamos uma família que aufere 100 mil euros anuais e gasta 110. Onde parte destes cento e dez são serviço de dívidas contraídas e parte são gastos excedentes (3, 4, 5, 6, 7% acima de seu orçamento anual). Ora, esta família para pagar as contas terá de recorrer a empréstimos, que só vão gerar mais dívida e aumento desta, posto que esta soma-se à já existente e aumenta ainda em função de mais serviço(juros) que gera para pagamento dos débitos exixtentes. Não há saída : A divida irá aumentar.

Imaginemos agora que esta famíia faz isto por 5 anos consecutivos. No 1º ano terá dez por cento de débito, além do empréstimo que já tinha em seu orçamento. No segundo terá outros dez, mais os juros sobre o serviço, mais os gastos excedentes, posto que a contabilização destes  é à somar. Terá no mínimo no 2º ano algo em torno de 21% de débito à mais. No 3º ano a coisa se agrava, irá rondar no mínimo os 34%. No 4º já estará por volta dos 50%, e no 5º  chegará perto dos 70%. Se imaginarmos que a dívida  inicial era de 30% de seu orçamento anual, já deve um orçamento inteiro. Se for superior, já deve mais de um ano de esforço. Mais uns aninhos e não lhes será possível, com todos os cortes que inventarem, pagar a dívida, porque o coração dele, já não é mais suas necessidades e despesas, mas a própria dívida. 


Neste intervalo ainda outras coisas podem acontecer, por exemplo a família ganhar na loteria e pagar a dívida toda de uma vez. Outra coisa que pode acontecer é um dos membros da família perder o posto de trabalho, o que diminuirá a receita familiar, aumentando a dívida, ou uma das fontes de suas receitas diminuir, o que acarretará  o mesmo. Ou ainda  os credores aumentarem o 'spread', coisa mais natural, posto que esta família já sobreendividada passou a ser um risco acrescido, o que também fará aumentar a dívida mais rapidamente.


Em cerca de uma década a dívida ganha vida própria e se auto alimenta para além de qualquer possibilidade. Não é necessário, saber muita matemática para compreender isto, as quatro operações bastam. Por isto não há desculpa possível à nenhum destes governos que administraram Portugal. Não há desculpa nenhuma que salve o Dr. Victor Gaspar, posto que não começou por onde devia começar : Pelo corte nas despesas públicas ! E permiitiu que os déficites orçamentais alimentassem ainda mais uma dívida já por si enorme. Esperavam que saísse a loteria a Portugal? Será que não sabem aritmética? Ou qual é a explicação?


  

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

NO MÁXIMO DO CINISMO.

O dinheiro, esta coisa rara, esta coisa cara, esta coisa inesperada.


Agora que  discute-se em todo o mundo quando é que a crise acaba, porque onze anos de crise, será melhor no plural,de crises,que se foram sucedendo numa lógica perversa, porém absolutamente conecta e perceptivel, e é sempre bom lembrar que gerou algumas dezenas de bilionários, americanos do norte na sua esmagadora maioria, que, com o sub-prime, expuseram um sistema desregulado e que não teve até agora regulamentação, e que ninguém  fala mais nisso, sendo esta a razão de todos os males de que padecemos hoje em diversas frentes. 

Pois a crise, instalada  florescente e preconizadora de medos e decisões que afetam a vida de milhões e milhões de pessoas sérias e que não têm nada à ver com isto,e que estão pagando a onerosa  fatura que esta lhes apresentou : são desempregados, sub-empregados, nunca empregados e com salários menores, salários cortados, pensões cortadas, benefícios roubados, vidas roubadas, melhorias e conquistas suprimidas etc.. Que  representam  gente defraudada em suas vidas, em suas  conquistas,em suas  espectativas e em seus projetos,que de um momento à outro deixaram de existir ou ter coerência ou possibilidades. É  um relato triste, mas absolutamente verdadeiro em que vivem milhões e milhões de pessoas que haviam  conquistado um nível de vida decente e o  perderam e ainda outros milhões e mais milhões que não o chegaram a ter e ainda outros mais milhões e milhões que seriam beneficiados pela conquistas daqueles que as perderam, pois que com o seu consumo que deixou de existir,os outros,iriam conquistar melhor situação para si. Foi toda uma sequência de gente  defraudada,de vidas roubadas.

Em paises como Grécia, Irlanda; Portugal, que poderíamos formar o bloco GIP, por oposição aos BRIC, que em breve serão BIC, já que a Rússia por outras razões,só suas,vai deixar de ser um país em grande crescimento econômico, pois o GIP além de já ter uma década roubada que não voltará, terá muitas outras décadas de dificuldade para repor a normalidade administrativa governamental que perderam,  face de sua enorme dívida e imperiosas dificuldades de financiamento.

O que se passou nestes países,foi que sucumbindo à tentação do crédito fácil, que lhes era oferecido na época das vacas gordas, se viram de tal maneira endividados que se tornaram inviáveis e entraram em bancarrota. Logo vieram programas de assistência , onde,com uma receita de austeridade e cortes,pretenderam sanear suas finanças. As organizações que atuaram neste sentido foram o Fundo Monetário Internacional, que existe para apoiar seus países membros quando entram em bancarrota, e impõe uma receita muito conhecida de saneamento financeiro, que implica,entre outras coisas,em mudanças dos paradigmas sociais para obtenção de empréstimos.  As duas outras organizações no caso dos GIP, por serem europeus, foram  o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, que são, por serem três, alcunhadas com a palavra russa para comitê com três membros, com notoriedade originária da época da morte de Lenine, troika.

Estes países intervencionados pela troika, assim conhecida, reagiram de forma diferente às  receitas implementadas em virtudes de suas caracteírsticas particulares, porém tiveram em comum um aumento sempre superior a dez por cento anuais  do percentual de  suas  dívidas  em relação ao PIB, o que mostra que apesar de pagarem imensas quantias do serviço de suas dívidas, estas não param de aumentar ( 10% todos os  anos é inviábilizante.) Na Grécia o aumento foi explosivo dos  127% do PIB em 2009 para mais de 160% em finais do ano passado, com perdão de aproximadamente um terço dela pelo meio.Na Itália de 119% em 2011 para perto dos 129% no final de 2012.  Em Portugal o terceiro mais endividado da Europa,dos 107,2% em 2011,para os 123,6% em fins de 2012.Na Irlanda dos 107,2% para os 117% no mesmo período. A Itália apesar de não intervencionada, como é a oitava ou nona economia do planeta vem se mantendo há muito tempo acima dos cem por cento, podendo ser considerado um endividamento crônico. Para que saibam,no Brasil,a sexta economia,terminou 2012  pelos 36,5% do PIB, pela primeira vez neste índice, que era de 60% em 2003 e pretende ser 27% ano que vem, tem vindo a diminuir continuadamente, poupando bilhões de dólares ao país e com a agravante positiva de não ser externa, e sim interna. O Brasil agora  não tem dívida externa. E eu vi o Brasil ser intervencionado pelo FMI várias vezes,em minha vida três  ou quatro, o que mostra que é só haver uma vontade e esta loucura para.

A dívida dos países  no mundo aumentou 65% na última década, desde que  a crise começou. Sabe-se que muitas destas dívidas não irão ser pagas, porque simplesmente são impagáveis. Sabe-se que  os 'ratings' das agências não refletem isto, logo a orientação aos credores é falsa. Sabe-se que Países como a Grécia e Portugal não têm a mínima possíbilidade de equacionar suas dívidas sem uma anistia, um perdão parcial, sabem que toda esta falácia de um programa de assistência ao invés de um segundo resgate para Portugal é inviável, como sabem que este deverá vir com algum perdão de dívida. E ainda falam,em Portugal,de alargar o déficit que já devia ser 3%  e é cinco,dos agora quatro contratados para quatro e meio ou cinco, ou seja continuarem a se individar e os credores concordarem com isto sabendo do quão pouco provável será receberem. E perguntam-se :« Porque emprestam?» Vos respondo: Já ouviram falar de ganância? Os juros compensam e convidam, por isto são tão altos, mesmo sabendo-se que estas taxas inviabilizam qualquer possibilidade de pagamento, que os valores que a dívida já atingiu, a  inviabilizam já de per si.Sabem que a dívida da Itália é crônica e, não fosse a Itália  uma gande economia, já teria entrado em bancarrota, mas que a sua dívida também é impagável. Sabem que a Espanha vai pelo mesmo caminho, tendo crescido dos 36,3% do PIB para os 84,2% com a crise e que no Reino Unido os numeros são muito parecidos aos de Espanha. Bem, não vos quero mais cansar, tudo isto somado é uma enorme mentira, que é mantida  com o único propósito de ordenhar a vaca enquanto for possível, enquanto o dono do animal não se dá conta, ou enquanto o animal não morre. É por isto, por estar apoiado em bases tão torpes, tão falsas e com tamanho cinismo a gerir suas relações,que esta grande mentira, esta grande falácia, não é sustentável e de tempos em tempos explode, arrebenta,cai, colapsa. Todo mundo sabe isto, mas é como não soubessem.

Enquanto não tomarem vergonha na cara, não puserem uns quantos muitos na cadeia, homens  como Dick Fuld Jr. do Lehman brothers, que continuam por aí como se nada se tivesse passado, como também primeiros  ministros e presidentes de vários  países que os endiviaram à níveis incompatíveis com a riqueza que cada  país produz,não forem para a cadeia pelo que fizeram, enquanto não houver legislação regulamentando todas os produtos que se podem negociar em mercado, punindo severamente quem lançar produtos que causam prejuizo aos investidores e contratadores, enquanto não se apurarem e punirem responsabilidades à todos os níveis, nada vai mudar. Vão haver muitas SWAPS e PPPs  e sub-primes e produtos tóxicos e negociatas e milionários do dia pra noite, por um lado, e falências e vidas roubadas, gente sem emprego e sem ter o que comer,  por outro.

Onde há incoerência, impossibilidade, perda de conquistas e falta de espectativas, impunidade e obliteração,e nada é posto em causa, vive-se a maior das mentiras, vive-se no máximo do cinismo.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

VELHOS HÁBITOS.

Estamos  abertos...

Tempo houve em nossas cidades
que sempre  havia onde comer,
tinha-se sempre uma porta aberta
onde a  ceia ia  ser  certa,
e onde se podia beber ...

Em madrugada de terrível açoite
ou fosse noite a mais negra e tardia,
que mesmo se estando errado,
havia sempre quem nos acolhia,
tendo bem à porta estampado:
Estamos abertos toda a noite.

Perdeu-se o hábito com os tempos
novos de novo viver.
Já  não há portas abertas
que nos tragam bons alentos,
pode-se bem de fome morrer
que já ninguém traz estampado
o letreiro revelador,
mostrando o quão desvelados
no  dispensar seu ardor,
podiam ser em seus cuidados.

Havia também, toda noite aberta, uma igreja
em sinal de perene comunhão,
para que, quanto mais não seja
na fé, se poder encontrar consolação.

Hoje está tudo fechado,
já não há tanta oração,
está tudo estropiado,
é tempo de consumação.

Se não há casas de pasto
com letreiro consolador,
se não  há locais de oração:
Quero ser o teu repasto,
quero ser o teu pastor,
quero ser tua canção,
pra te dar esta alegria,
para ver como tu gostas,
pra fazer feliz meu dia,
e em ter sido o meu, o teu foi-te!
Em meu pobre coração
vou mandar  pintar às portas :
Estamos abertos toda a noite.
























sexta-feira, 13 de setembro de 2013

MUSEU DA MULHER.

Anéis para os dedos dos pés.



Existem seis ou sete museus da mulher no mundo, existiram oito(*). A incerteza   reside no fato do The California Museum for History, Women and the Arts profile, não ser especializado no asssunto, ser mais abrangente, e, por isto, sua inclusão suscitar dúvidas. E seriam oito até que o mais ambicioso e maior deles, The Women's Museum de Dallas, fechou no último dia de outubro de 2011 por falta de fundos. Esta idéia recente(**) e californiana assim como o monoquini e e sandália de dedo, irá lentamente contar, por toda parte, a história de sua exclusão, mais que tudo.

A mulher não deveria ser, evidentemente, um tema de interesse museológico, só o é por sua tradicional exclusão, e , consequentemente, ser uma história de humilhação, sofrimento e dor, por todo o mundo, sem exceção.Em todos os países e em todos os tempos as mulheres foram excluidas e humilhadas, em maior ou menor medida. Por isto há datas determinantes da história da emancipação feminina, lembremos algumas, verão que são todas recentes, antes a mulher não discutia e nem podia discutir sua condição : A.D.: 1401- Cristine de Pizan em França critica a depreciação da condição da mulher,  só mais de dois séculos e meio depois vai haver outra discussão de gênero, em 1688, com Aphra Behn, a primeira escritora profissional Inglêsa, no seu Oroonoko,  curiosamente ambas se lançaram no mundo literário por terem sido deixadas insolventes pela morte de seus maridos. Em 1694 Mary Astell volta ao tema com o seu  A serious proposal to the ladies for the advancement for their true and greatest interest. Do mesmo círculo era Lady Mary Wortley  Montagu que também escreveu suas cartas ,1733, nos versos ao imitador de Horácio. Depois temos em 1792 outra Inglesa, Mary Wollstonecraft , que  faz a primeira defesa dos Direitos da mulher. No Brasil temos em 1832, Nísia Floresta com o seu Direito da mulher e da justiça dos homens. Em oito de março de 1857 em Nova York teremos o brutal assassinato de 129 operárias queimadas vivas na sequência de sua reinvidicação por licensa maternidade e pela diminuição da jornada de trabalho de 14 para dez horas diárias, este 8/3, se tornou o dia internacional da mulher.  Só em 1873 vamos ter uma americana  sufragista : Matilda Joslyn Gage, mas não será neste século, o XIX, que uma mulher poderá votar neste país ou no mundo, honrosa exceção feita  à Nova Zelândia o único país em que uma mulher podia votar no XIX. A lei é de 1893 e exercem o Direito em 1899.

Só no século XX as mulheres conquistam este Direito fundamental(***)sendo uma vergonha as datas que em cada país as mulheres conquistaram este Direito. Porém para um ser que só teve o Direito a ter alma reconhecido em 1870, nada assusta. Este opróbio é particular da Igreja Católica que só em 1870, repito, reconheceu que as mulheres e os negros tinham alma. Que mais se pode dizer? Antes vigiam idéias tais como as difundidas pelo grande matemático Pitágoras : " Existe um  princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem e um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher." ou as de São Cristovão : "Entre todos os animais selvagens, não há nenhum mais daninho do que a mulher." ou as de Santo Agostinho : " A mulher é uma besta insegura e instável.", torno a perguntar : Que mais se pode dizer?

Entretanto no mundo do  hijab (código de vestimenta do Islão.) que gerou exclusões tão  fortes como a burca afegã e paquistanesa, que não era nada disto originalmente, sendo a burga ( é com g mesmo) como eles falam no Dubaiy,  só uma pequenina máscara que recobre o contorno dos olhos e o nariz, cuja origem está no viver no deserto. E assim o chador (persa) que quer dizer originalmente tenda, outra proteção, ou o nicabe árabe. Sendo o significado do próprio hijab apenas véu, o véu que separa o homem de Deus; prescrevendo o Corão, assim como o Hadith e o Samah, apenas que o homem e a mulher se vistam e comportem modestamente. Nada mais desejável ! Tudo o mais é opressão masculina e desvirtuação da palavra. E esta  opressão levou à exclusão da mulher, como em todo o mundo.

O grande problema está em excluir um ser com quem temos intimidade, inclusive física, e a queremos bonitas, enfeitadas, pelo menos para nós. Cobertas de jóias: colares, brincos, pulseiras e anéis, até nos dedos dos pés. Esta ambiguidade que se vai tornando cada vez mais difícil manter--Como excluir com quem temos que conviver?-- E lentamente têm conquistado este seu espaço, por ocupá-lo e por Direito, milenar luta feminina! (****) 

Por fim neste mundo onde as diferenças são mais demarcadas, o mundo que chamei genericamente do Hijab, vem soferndo recentemente imensas mudanças pela expressão do valor cultural, e logicamente social, da mulher. Cultas, preparadas, vão ocupando seu lugar na sociedade e disolvendo as exclusões. É uma longa caminhada ainda, mas a recente inauguração de um museu a elas dedicado num dos sete Emirados, prova que algo está a mudar.

A casa das meninas, assim se chama o museu, na tradição das escolas corâmicas do Dubaiy, onde nesta esquina das crianças, Fátima Bint al Zeina costumava ensinar na sua casa no Souk do Ouro em Deira, até o final dos anos sessenta. Ficou a tradição e a força de um local de emancipação, hoje lá funciona o museu das mulheres do Dubaiy, o primeiro do mundo Islâmico, e por enquanto o único. Lá se emancipou a fundadora do museu,  Profª. Drª. Rafia Ghusash, considerada a 36ª na lista das 100 mulheres árabes mais poderosas e influentes, sem ser millionária ou Sheika, mas  conquistou seu lugar por seu saber em medicina, e sua especialização em psiquiatria, mas sobretudo por sua vontade em se fazer ouvir.

Contando as histórias que pôde recolher, de mulheres que foram ocupando os espaços que se lhe permitiram, sem revoltas e sem denúncias, o museu existe. E neste seu existir uma semente, como a dizer aqui estamos para o futuro, aqui estamos na casa das meninas, aqui estamos porque existimos muito para além da vontade de quem quer que seja. Só Deus nos poderá julgar ou excluir, e como não é esta a Sua vontade, havemos de existir na plenitude, como seres inteligentes, plenos de Direito e com alma, que somos!





* I- O Women's museum of California em San Diego. II- O KWINDEMUSEET em Aarhus, na Dinamarca.  III- O IMOW- International Museum Of Woman em  San Francisco. IV- O Museu da Mulher do Vietnã  em Hanoi. V- O National  Women's History Museum em Washington D.C. VI- The Women's Museum em Dallas. VII-  The California Museum for History, Women and the Arts profile em Sacramento. VIII- Women's Museum- Bait al Banaat no  Dubaiy.
** São suas datas na ordem :1983,1984,1985,1996,1996,1996,1998 e 2012. 
***1906- Finlândia. 1918- Alemanha. 919- Suécia. 1920- Estados Unidos. 1932- Brasil. 1940- Canadá. 1951- Argentina. 1971- Suiça. 1980-Iraque. 1994- África do Sul.
**** Note-se que não há um museu do homem, ou um dia internacional do homem.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

POEMA DO TEJO.

De  espraiar-se.




E ao lado da cidade lento corre,
e a  cidade doida de gente que chama gente,
gente que vive, gente que morre
e de gente que vive doída e não chama ninguém,
o Tejo de mil preceitos.





Da janela a rapariga vê o Tejo,
que se alisa em suave beijo
contra o velho cais
e que placidamente cuida das gentes,
as leva e traz.





No tempo da memória a deslizar,
onde o Tejo se faz mar,
espraiado  da Caparica ao Estoril,
que demarcado pela luz de Abril,
quer  alongar-se noite dentro ,
promovendo a enorme tarde lisboeta
tão boa para  passear,
tarde que não mais acaba,
onde o Tejo é mar.




Mil coisas a passar, veículos a passar,
barcos a passar,
seguem rumo incerto,
irão longe? Irão  perto ?
Porque  devem partir ?
Porque não podem ficar?
O certo é que se vão.
E voltarão pr’onde o Tejo é mar.

Tudo isto é um convite
que alguém aceitou um dia
e dizendo que voltaria
fez-se ao mar,
ao mar profundo,
ao mar longíncuo, ao mar ignoto
e fez-se o mundo,
sempre, por o navegar.
Mas sempre voltam,
mas voltam  sempre
pr’onde o Tejo é mar.

E  chegado a este ponto,
depois  de muito pervagar,
 já não vejo o que vejo,
sem saber se o Tejo é mar,
sem saber se o mar é Tejo.


























domingo, 8 de setembro de 2013

Alguma coisa mudou no Brasil...



Ainda  nada mudou no Brasil!


Acreditando enfaticamente que o poder deve estar nas ruas , mas que disso se devem tirar consequências, escrevia,em finais de Junho passado,com um questionamento que queria saber em que isto iria resultar, e apresentava a única solução para o problema da representatividade política-que é o cerne da questão -os manifestantes,e quase todo mundo,não se sentem representado pela classe política que, ademais corrupta, cria este clima de desconfiança generalizada, que é agravado por um total desconhecimento das prioridades das populações, que deveriam estar relogiosamente percebidas, respeitadas e atendidas tão logo se possa, ao invés das 'prioridades' que estabelecem os políticos:como estádios de futebol em lugar de hospitais por exemplo.

Temos que já se passou um ano desde as primeiras manifestações em Natal,RGN, e seis meses desde que a adesão foi nacional e deixou nítido que há necessidades de mudanças. Porém, como para os políticos, as melhores mudanças são aquelas que se fazem de molde a continuar tudo como está, e também por não saberem( não é não quererem,nem não poderem, é não saberem mesmo) dar resposta à tão complexo problema, que como todos sabemos está na vontade de termos um país à sério. Só que um país à sério não se faz de um dia para o outro, além de ser preciso tempo, é preciso 'conversa' ou seja entendimento do que é possível e desejável fazer. E para isto é necessária gente mais séria do que esta que temos na política, e mais ainda é necessário um factor desde há muito expurgado dos meios que decidem as coisas no Brasil: PATRIOTISMO! Se é que alguém ainda se lembra do que isto é...

Por outro lado temos que a expectativa tem sido desde o começo que estas manifestações passassem e acalmasse o furor reinvidicatório. Como nos ensinou Napoleão com sua argúcia, tudo cansa e tudo passa.E portanto logo seria tudo história. Porém há um grupo mais reduzido que teima em manter acesa a chama, e por razões diversas de insatisfações locais, o processo continua. Não houve,nem há cinquenta centávos que os vá acalmar. Como não houve nem há força de segurança pública que os irá deter. Aliás toda repressão é estúpida e injustificada (o único que deveriam fazer as forças policiais era prevenir e evitar vandalismo e deixar seguir o curso da vontade popular no mais) no entanto pelo seu total despreparo e da cadeia de comando, ineficiente e desconhecedora de como tratar com estas situações, há atos dos mais equivocados,provocando vítimas desnecessárias de ambos os lados.

No entanto as expectativas não passaram, e,ainda que reduzidas em seus números e mal vista por uns quantos que acreditam que os mascarados são apenas vândalos, elas aí estão manifestando-se,e está com eles esta vontade,como também está dentro de cada um dos que se manifestaram,e foram milhões,como também está na alma da imensa maioria silenciosa que gostava que o Brasil fosse um país à sério. E, como se transformou numa das maiores economias do mundo( no top 5) tem os meios e as razões para o ser, para ser um país à sério.Se pudessemos por decreto por em vigor a Constituição de Capristano de Abreu, seria uma possibilidade, mas isto leva tempo, muito tempo,e é este o país que temos.

No entanto alguma coisa mudou no Brasil ! Mudou o seu jeito cordeiro. Mudou ser a quase totalidade o número de anônimos que não se manifestavam e não contrapunham sua vontade à vontade e ao poder de uns quantos que ditaram ordem neste país. Lembro-me especialmente dos militares de 64, aos quais tanto me opus e me levaram à exclusão. Agora não são umas centenas de homens e mulheres que viam e vêm que a impunidade e os interesses lesados do Brasil e de seu povo, não podia, não pode continuar a o ser. Logo este aumento exponencial de conscientização é uma mudança e uma mudança bem vinda.


Agora o que ainda não mudou no Brasil foi o meio de se dar vazão a esta nova realidade, porém não se enganem aqueles que pensam que tudo vai terminar em 'pizza'.A coisa mais poderosa que existe é a fermentação. A química que determina  as mudanças das substâncias, nunca mais voltando a serem o que eram. E esta está em processo, e, consequentemente, ninguém a poderá parar. O vinho que começa a ser vinagre nunca mais voltará a ser vinho.

Que Deus permita que esta consciência se generalize, que a cidadania seja uma conquista, que as vontades não desanimem e que os meios sejam democráticos, posto que os revolucionários criam dolorosas exceções.Não são desejos à mais, já que os meios estão disponíveis: temos os recursos ( O Brasil está rico.)temos as pessoas ( com uma outra base, sobretudo cultural) temos o momento ( sopra um vento de mudanças no planeta) e mais que tudo temos a vontade, porque não vivemos tempos de obscurantismo como outrora, que anulava as vontades (não a minha). E eis que esta riqueza que proporcionou tudo isto, não pode ser para gaudio de alguns apenas.


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Lisboa.

Refluxo da maré/
Poema de Lisboa.


Quando o cheiro da maré adentra pelas vielas
é como um despertar de antigas mazelas, repelir.
De um grande susto que tive
um  grande bocejo, um retesamento de coluna
que se convertem em alvíssaras e madrigais,
a dizer à grande cidade compacta: Vive !
Há  sempre que viver.

Maré alta, maré cheia, vento norte,
noroeste, cheira a rio, cheira a lodos,
cheira a vida, cheira a morte
Vísceras em ais, acorrem todos
a lugar algum e a algum lugar.


A gentinha mexe-se, cochicha, conversa,
diz lá historinhas, dá notícias, conta piadas.
Vão com pressa ou vão com calma
 suas conversas boas, suas conversas fiadas,
pois sempre há um lugar n’alma
que nos diz: aí é.


É todo um amanhecer!
De coisas essenciais e coisas banais, assim são.
E vem e vão,
sabem que são, por este acordar.
E que é do mar!
Ai que é!


Alvíssaras e madrigais,
vísceras em ais,
saudades viscerais,
vêm  do mar coisas que tais,
pois que hão de vir.




E ao lado desta cidade lenta, corre a cidade louca
de gente que busca gente, de gente que vive doida
sem pensar,
mas param um pouco, um 'pouquichinho' a lembrar,
tocados pelas brisas que lhes traz
sabor a mar.



Lembram que o mar é signo de seus destinos,
Estreitam-no  ao peito sem outro jeito que o aceitar,
com quem convivem desde meninos,
 hão sempre de o saber amar.


Sabem à mar, já  nos escolhos visíveis e temíveis,
que a maré a baixar vem revelar,
sabor a mar vem-lhe às  mesas
nos peixes e mariscos e outras surpresas
de gosto peninsular.

É sempre o mar, é sempre o mar.
Fico eu cá a dizer tais coisas
que bem sabem a alfacinhas,
coisas cantadas já em versos e prosas,
mas que também são  coisas  minhas.

Que então compete-me dizer?
Pois se é só para fazer saber
 que cá percebe o brasileiro,
que um pouco deste cheiro
é pra se guardar
como testemunho verdadeiro
de que há um só  mar.


Se quiser diga como Vinicius:
“A nos unir e separar”.