O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
quarta-feira, 12 de julho de 2017
Critérios.
Critério é originalmente uma faculdade humana, um dom, uma capacidade. Mas estará entre nossas capacidades, a discricionariedade da exclusão? Também é uma possibilidade, um direito, uma licença, Qual será o direito que temos em excluir? É também um ensejo, uma permissão. Bem pelas coisas se ensejarem, ou nos autorizarem, isso não quer dizer que sejam justas ou corretas, pois ganham apenas um caráter de escolha, e tudo que é de caráter pessoal é discricionário, o que nos leva a primeira questão. Por fim há o aspecto virtuoso das capacidades humanas, e este poderia ser o único a redimir a situação, porém, por mais virtuoso e justo que possa ser, estará sujeito a discrição de alguém, e estar sujeito a quem quer que seja é sempre um fator de miséria, de diminuição, de exclusão à partida, mesmo que essa não se verifique, mas pelo só efeito dela ser possível, estamos diminuídos, estamos já excluídos, porque a menoridade que essa condição confere só por ter havido a possibilidade de nos encontrarmos entre aqueles que poderiam ter sido exceptuados já é uma condição de submissão, de estarmos sujeitos a uma vontade que nos obrigue, sem critério outro que ela mesma, e este sentimento pessoal de arbítrio, que, como bem sabemos, é uma ditadura quando a ele estamos sujeitos, inviabiliza a noção de critério pessoal, por mais válido que seja este. Porque essa noção de arbítrio a qualquer nível é entrópica. E gerará tanto mais desordem quanto mais critério houver, o que pode parecer uma impropriedade, um paradoxo, uma incongruência, mas não é, porque ao se introduzir mais critério, introduz-se mais distinção com escolha, com arbítrio. As leis são isso, por isso há o contraditório no processo de se julgar, porém acabador haver um arbítrio final, certo ou errado.
Então temos os critérios gerais por contraponto. Pretensamente universais. Também esses à força de existirem serão injustos de alguma maneira, entretanto serão tão menos injustos quanto mais abrangente forem, porque acumularão pouca entropia, pois quão mais inclusivos se revelarem, quão mais virtuosos e justos poderão ser, no entanto sempre pecarão de alguma forma pelo seu caráter humano, quanto menos seja, o da identificação, posto que absorvem em si direitos que são universais e absolutos, restringindo-os sempre de alguma maneira, quanto mais não seja pelo simples fato de existirem. Para quem entende de física isso é como o caso do observador, ou daquele que vai medir o fenômeno e sua interferência neste.
Resta-nos a possibilidade de descaracterizarmos (por 'descriterizarmos', palavra que não existe) e nessa inexistência toda uma revelação da sociedade humana em seu estágio atual) o mais possível, para permitirmos maior inclusão, que será tão maior, mais verdadeira, mais abrangente e justa, quanto menos critérios houver.
Isto se aplica a muita coisa!
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Somos um critério com vida...
ResponderEliminarÉ a pura verdade Manuel, e esta muitas vezes nos é negada em sua plenitude. H.
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