quarta-feira, 27 de maio de 2015

Menos de 48 horas para o porem na cadeia.





Finalmente um grande bastião da corrupção, como sabem e dizem todos, a FIFA foi ferida, não de morte, só o será, e poderá pensar em renascer como uma entidade mais palatável a quem tem vergonha na cara, se nas próximas 48 horas entre o rol dos detidos incluir-se o nome que todos sabem, todos sussurram, todos conhecem, todos apontam, e que vem teimando em permanecer como aranha-mór da enorme teia de cumplicidades que construiu e em que transformou a Fédération Internationale de Football Association, para vergonha mundial e para asco generalizado.

A Justiça Norte Americana age muito encima da data da eleição muito próxima, e, havendo mais uma reeleição desta cabeça de todo o sistema, de toda a teia, a aranha-mor, voltaria o esquema montado na Federação mantendo-se, só não digo por mais várias décadas, porque não creio que o aranha-mor viverá mais este tempo todo, mas certamente terá um sucessor ambicionando seu lugar, não de presidente, mas de aranha-mór, para movimentar os bilhões de euros a sua disposição. Foi assim quando saiu Havelange, o sétimo, há dezessete anos atrás. E quem conhece o passado do Havelange, como e de quem e em quais circunstâncias conseguiu suas empresas, reconhece-lhe como um 'homem' disposto a tudo. 

A FIFA tem atraído, como mel, aos, não direi insetos, ou moscas, que estas são devoradas pelas aranhas, mas tem atraído os artrópodos, mais diversificados, cada qual buscando estabelecer-se no centro do poder milionário da Federação, cada qual de mais difícil classificação, e com a motivação mais inconfessável, transformando a FIFA num caso de polícia.

Espero que com a audição dos hoje detidos possa a Justiça recolher elementos que permita decapitar, de uma vez por todas, essa abjeção que atende pelo nome de Joseph Blatter.

O prazo é curto, mas é possível. Sempre há uma réstia de esperança quando temos a agradável surpresa de ver detidos e arrolados um número expressivo de dirigentes de tão poderosa e intocável organização, que aproveitando-se da afecção de muitos milhões de milhões, tudo fizeram para enriquecer, valendo-se das suas posições dirigentes. E a Suíça deve responder com presteza as solicitações norte-americanas. As acusações são as de sempre conectas: Burla, extorsão, corrupção (subornos) favorecimento ilícito, associação criminosa (formação de quadrilha), e branqueamento de capitais (lavagem de dinheiro).

O que se aponta agora, e o crime já foi confirmado por vários dos incriminados, tornando incontornável a verdade das acusações, e logo a culpa dos acusados, faltando chegar ao fim da cadeia de culpados, ao topo, ao líder.

A desfaçatez de em semelhante situação, continuar o processo eleitoral na Federação é inadmissível ou este homem é preso nas próximas 24 horas, ou todo processo deve parar até que tudo seja aclarado. A corrupção aqui em causa refere-se a eleição para a realização da Copa do Mundo, e o direito de transmissão televisiva, mas existe muita coisa na administração corrente da organização que deve ser investigada, e junte-se a isto o que foi gasto na construção do Centro de operações em Balsberg, e a nova sede da Federação, que ninguém sabe quanto custou, nem tudo o que se terá passado. E para maior despautério a afirmação, direi quase indecorosa, do Sr. Blatter de que está disposto a colaborar com as autoridades, como se nada tivesse a ver com tudo isto.


28/05 - E depois eu vomitei!

            Vi e ouvi as declarações do Sr. Blatter afirmando-se distante de tudo que se está passando na FIFA, e, evidentemente de tudo que se passou na instituição nas últimas duas décadas, minha reação foi só uma, e é a que dei como título desta adenda.
              Resta lembrar que agora são 24 horas.
29/05 - E houve mesmo a votação. (as 17:30 hs - hora portuguesa.)
             A persistência e a cara de pau do Sr. Blatter é memso incrível, para além de asquerosa. Foi à votos, os estão contando agora, só falta ele ser reeleito.
             Às 20 hs.
              E afinal foi reeleito. Nada se pode opor ao 'contante' e sonante, infelizmente.
              Só não vomitei outra vez porque conheço a natureza humana.
30/05 -  Entrevista coletiva de imprensa.
       Com sua infinita desfaçatez respondeu como se nada tivesse a ver com tudo que está acontecendo. É um homem perigoso de fato.

02/06 - Quanto terá custado? ( Às 18 hs.)
             Afinal, sabedor que inevitavelmente estará implicado, vem demitir-se da presidência para qual havia sido eleito há quatro dias.  Terá tentado por todos os meios resguardar-se. O que lhe terão oferecido para que saísse por seus próprios pés? Qual a solução encontrada? Perdoar-lhe-ão a enorme fortuna amealhada neste interim?  Resta-nos saber a resposta à primeira pergunta que me ocorreu, e, creio, que só com o desenvolver do processo judicial, e se ele for ou não levado a tribunal, o poderemos saber, mas fica por enquanto a questão: Quanto terá custado?

21/12 - O Comitê de ética da FIFA afasta Blatter e Platini por 8 anos, enfim ele deixou de ser presidente da FIFA.

terça-feira, 26 de maio de 2015

O povo não foi bobo: Viva a Rede Globo!






Chovia torrencialmente, era mesmo um dilúvio, um dilúvio que por razões pessoais nunca poderei esquecer, e, depois de existir já o tempo de gestação humana, a emissora do Jardim Botânico que se lançara contra as poderosas Tupi e Excelsior, põe no ar toda a catástrofe das chuvas do início de 66 de forma crua e real, gerando um impacto de verdade, que deu logo destaque a seu jornalismo. Foi tanto tempo direto no ar que lá em casa parecia chover mais na televisão que nos jardins, certamente não era assim. Depois vieram os travestidos dramalhões mexicanos de Glória Magadan, e, logo, uma série de inovações no teleteatro, ainda o nome novela não tinha pegado, e para além da dramaturgia, uma especial atenção com a mulher e a criança telespectadora, trouxe-lhe o sucesso, poder-se-á mesmo dizer, sem exagero, meio século de sucesso contínuo. E soube fazer todos os movimentos certos para espalhar-se pelo mundo fora, levando os produtos de sua fábrica de sonhos a toda parte.

No entanto sua proximidade do poder, sobretudo o ditatorial, que se prolongaria forte durante os primeiros três lustros de sua existência, usando mesmo a força da sua imagem para favorecer a ditadura que lhe dera a concessão do canal, o quarto, comprometera-a, tirando para a elite pensante, política e cultural, do Brasil todo o valor da extensa obra que ao mesmo tempo realizava, amesquinhando-a para todos nós que tínhamos consciência disto.


Era raro o comício, ou manifestação que entre as palavras de ordem não estivesse incluído o coro: O povo não é bobo: Abaixo a Rede Globo! Um protesto natural daqueles que reconhecendo sua liderança nas audiências queriam acreditar que mesmo assim a população não se deixaria influenciar pelas tendenciosas matérias que saiam em seus noticiários protegendo ou ignorando as atitudes do governo, consoante fossem nocivas ou de caráter mais ditatorial, omitindo-as ou as maquiando. Como já pediram perdão destas atitudes, e como cristãos devemos perdoar, ultrapassemos isto.

Entretanto a Rede Globo foi se contagiando do país, deste imenso país que fez tanto por cobrir totalmente, diretamente através de suas retransmissoras, ou indiretamente através de suas afiliadas, concessionárias regionais, para interesses e anunciantes locais, que retransmitem a poderosa e prestigiosa grelha da imensa rede, até que chega a cobrir um percentual que beira os 99% de um continente como o Brasil. Padecendo desta incurável doença da beleza do fantástico país que retratava, já não tendo outro caminho que mergulhar cada vez mais fundo nessa realidade forte, penetrante e envolvente, seja nos pampas, ou nas fronteiras com a Guiana Inglesa, ou perdida em alguma praia ao longo dos nove mil e duzentos quilômetros de litoral para escolher se perder.

Desta fabulosa doença originou-se uma maravilhosa produção de retratos a todos os níveis da realidade brasileira, com destaque  para, sobretudo, os documentais e teatrais, que recriaram a multiplicidade de caráteres regionais, de falares, de cantares, de dizeres, e sobretudo de sentires, sentimentos tão diversificados e expressivos que fazem a imensidão destas terras, uma, por se expressar em uma só língua, mas tão múltipla na forma, no jeito, no som, no ímpeto, na interpretação de sua própria realidade. Contagiada, repito, por tudo isto, não pode conter-se no desejo imenso de tudo registrar, de a tudo dar expressão, padecendo deste mal incurável de brasilidade que transformou-se em sua marca mais forte, ou mesmo seu paradigma, que é no fundo sua marca de autenticidade, porque aprendeu a ser Brasil em tudo, ultrapassando toda e qualquer reticência que pudesse ter tido, para assumir, vestindo a camisa, mais que isto, vestindo as fantasias do país que retratava.

Brasílica, brasiliana, abrasileirada, brasileira em plenitude, não podia, nem deveria mais negar cerrar fileiras com a verdade que mais que retratar, tornara-a sua, mas não na qualidade de possuidora, mas na de parte, de partícipe, e mais que participante, agora era organizadora e gestora da festa, essa enorme festa que se chama Brasil. Irremediavelmente cooptada, integrada e florescente, a brasileira Rede Globo, perdeu-se nos braços de sua criatura-criadora, razão última de sua existência.

Por isto que nestes festejos de seu cinquentenário iremos transmutar, tão à brasileira, que é em si mesma esta força poderosa e irresistível de transformação, o coro tantas vezes repetido, e dizer a plenos pulmões desejando-lhe parabéns: O povo não foi bobo! Viva a Rede Globo!



segunda-feira, 25 de maio de 2015

A última cartada grega.






Será verão outra vez, quase dois mil e quinhentos anos depois, e novamente a Grécia estará invadida pela desgraça, na iminência da fratura. No entanto as hostes de hoje, diferentemente das de outrora, são invisíveis, apesar de que os combates que irão travar sejam também sangrentos. A destruição e miséria que causarão são igualmente temíveis, e as disposições igualmente terríveis, trazendo consigo a humilhação e o opróbrio, gerando vergonha e indignação homólogas.

Dois milênios e meio depois, com a mensagem do Cristo já bi-milenar e bem difundida, mas pouco entranhada, como que esquecidos que somos todos irmãos, e, como tais, guardiães do próximo, nosso irmão e razão de nosso amor e preocupação. No entanto a Europa irmanada não conhece bem a lição, esquecida desta regra, parece tudo arriscar pela manutenção de seus interesses de situação, contra uma verdade maior que lhes ultrapassa. Trocam a verdade eterna pela verdade do tempo.

Neste verão de 2015 A.D, como no de 480 a.C., a Grécia necessita de socorro, como no episódio das Termópilas, necessitou de tempo, tempo para se agrupar. Terá havido o seu Efialtes, como terá havido medo, e terá havido desespero. Há desespero, porque encurralados no fundo de um desfiladeiro confrontados com forças tão gigantescas que não há muitas possibilidades a explorar, restando-lhes, como último recurso, este confronto direto com as estreitas possibilidades de darem algum combate. Dentro do Euro-grupo, nas reuniões de cúpula dos dirigentes da União, tentando atender às fortíssimas exigências da conjuntura, para evitar a tomada generalizada do país pelas forças obscurantistas dos credores, que, havendo incumprimento, mover-se-ão pela lógica abstrusa da irracionalidade, matando mesmo a galinha e ficando sem os ovos a partir daí.

Grécia, onde estão os seus Leônidas? Os seus Demófilos? Os seus Temístocles? Os seus Hoplitas? Os seus 300? Só há Xerxes? Só há imortais? Estes que acima do bem e do mal, como se consideram, pensam que irão decidir do combate, mas se não houver nenhuma passagem desconhecida, se este for frontal, sua derrota é certa. Estes imortais que estão à cabeça dos diversos Estados que deveriam se conjurar como na aliança das polis, em solidariedade que ultrapassasse suas desavenças intestinas, face do inimigo poderoso dos mercados, que pode derrubar todas as polis, como já o ameaçou fazer, uma após outra como na invasão dos persas, que atingiria toda uma Europa frágil.

As lições da história estão sempre presentes para elucidar as mentes e encaminhar os espíritos, ou serão tantas as flechas que empanando a luz, impedem mesmo o combate à sombra porque os combatentes não estão dispostos ou não tiveram coragem para enxergar?

Ao Syiza, como aos homens de Leônidas resta-lhes o confronto absurdo, e a mesma resposta aos que lhes querem tomar as últimas armas de que dispõem: "Venham buscá-las"

domingo, 24 de maio de 2015

SIGNOS








Não os do Zodíaco, mas aqueles que marcam nosso dia a dia com sua importante condição de presença. Estamos cercados por signos, símbolos que registram sentimentos e intenções, e que falam ao nosso imaginário numa linguagem mais forte que a falada, ainda que essa também tenha seus símbolos, mas estes a que me refiro primeiramente, pela força de sua presença, bastando sua visão, impõem sensações abruptas e, às vezes, díspares, que se traduzem como chamadas à nossa imaginação, sendo tão mais poderosos quanto mais intensa for sua significação, formando o que chamamos simbologia, podendo ser dito que quão mais forte for sua presença na simbologia, mais poderoso o símbolo, que representa, pela carga dramática que carrega consigo, pelo significante, muito mais do que se vê a princípio. Assim, por exemplo, dentre as muitas e representativas cruzes que há, a mais simbólica hoje é a gamada, a suástica, por toda carga de drama negativo que carrega, como foi a vermelha cruz de cristo das caravelas bem conhecidas no alvorecer do XVI.


Os signos determinam com sua imagem toda uma ideia, toda uma forma de estar, toda uma filosofia, ou todo um modo de vida que representam. Assim basta vermos uma cruz com o eixo vertical maior que o horizontal na lapela de um casaco, para sabermos que seu usuário é clérigo, ou a cruz grega avermelhada para sabermos ser um membro da Cruz Vermelha Internacional.


Não as notas da música, que são os signos dos diferentes sons, como foram designados originalmente, signos estes que por fim chegaram a representar toda uma linguagem, a da música escrita, sendo a escrita da música propriamente. Assim como os signos linguísticos cujo significado implica o significante, porque as letras são, como as notas musicais, símbolos de sons. Aquilo que é tomado no lugar de outra coisa, por mais artificial ou estranho que seja, e suas relações, também, por mais arbitrárias que sejam, trazem esta comunhão de inclusão do significante no significado.

Sim estes signos que a sociedade vai criando, com o tempo vão assumindo uma presença de definição que sua marca, não só sua representação, expressa a totalidade da ideia que os gerou, passando a representar mesmo esta ideia, ou, mais forte ainda, passando a consubstanciar mais do que só a ideia que representa, mas também todas as manifestações desta ideia. A força de um símbolo pode abarcar tantas significações para além da sua própria, da que foi seu sinal originário, de tal ordem que torna-se em outra coisa, ganhando outra dimensão, a dimensão do impossível incluída, tornando reais tantas manifestações que só eram pressentidas, ou que só existiam no desejo, ou na percepção longínqua.

Sendo assim, hoje, compreender o mundo requer outras linguagens! Tudo o que nos bastava ao entendimento, como o conhecimento das palavras (outros símbolos decifráveis) o ter noção das expressões idiomáticas, o conhecimento das usanças e preferencias de grupos, localidades, países e entidades, hoje não basta. Há uma infinidade de símbolos novos que se mostram a cada dia, como siglas, expressões de outros idiomas, usos de diversos círculos restritos, que necessitam ser conhecidos para a boa compreensão das ações destes círculos que afetam a todos nós, jargões, números, proporções, percentuais, valores e relações, que são imprescindíveis para a interpretação do mundo que nos rodeia, não bastando mais as palavras e as expressões, requerendo uma rede sofisticada de signos, cuja tradução elaborada, sem nenhuma facilidade intuitiva, sem nenhuma naturalidade, como a dos signos originais, mas com uma complexidade crescente, que a perda de alguns signos num dado período de tempo, pode fazer falhar a compreensão do signo, ou signos, que se criaram ou estabeleceram a partir da base sinalética anteriormente existente.

Quantas pessoas vêm um noticiário sem compreender as informações que são passadas por falta de conhecimento simbólico, ainda que tenha compreendido todas as palavras utilizadas na notícia. A compreensão da realidade envolvente exige todo um conhecimento que vai muito para além das palavras, exige conhecimento de signos que são indispensáveis ao entendimento do mundo, entendimento que passa ao largo da maioria das pessoas, excluindo-as.

Este o grande perigo do nosso tempo, porque deixa espaço de decisão só aos que são capazes de decifrar os signos que se apresentam, excluindo a imensa maioria das pessoas que não são capazes da decifração. Podemos dizer que voltamos aos tempos do antigo Egito, onde só quem conhecia os hieróglifos contavam naquela sociedade.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

O Novo Museu Nacional dos Coches de Lisboa, e seus congêneres.






Terá custado 40 milhões de euros. Todo mundo que investe no imobiliário sabe que o bom imóvel é aquele que se paga com oito anos de renda, ou seja aquele cujo custo é aproximadamente cem vezes o do aluguer que pode gerar mensalmente. Se, com o preço do bilhete a seis euros, o número dos visitantes anuais for da ordem dos 750 mil, número muito razoável; com as rendas indiretas se paga como a mais vulgar das aquisições de imóvel particular, ficando depois a render para todo o sempre, o que quererá refutar estas contas é o incompreensível e absurdo alegado aumento dos custos de manutenção e exposição da coleção com a troca de edifício.

Porém, se considerarmos as rendas indiretas que traz ao país, tais como as provenientes do transportes, estadias, alimentação, etc.., que irá gerar (Não está contabilizado!) mas, creio, vai se pagar no primeiro ano! 

Grande investimento! Nada com melhor taxa de retorno! Até para um daqueles contratos draconianos das PPPs dava. E lhes pergunto: Quantos projetos como este do Nacional dos Coches pode concretizar Portugal? A resposta é dezenas. O que significa que, à conta de seu passado, Portugal dispõe de grande margem de crescimento econômico, e crescimento que gera crescimento, não um crescimento estático que absorve todas as margens das suas possibilidades. Não! É um crescimento multiplicador pois arrasta toda uma realidade envolvente que multiplica o resultado do investimento, e continuará o fazendo ao longo do tempo.

Vou lhes provar isso, mas deixem-me contar-lhes antes o que se passou comigo da primeira vez que fui a Burgos, Espanha. Quando eu era pequenino fez enorme sucesso um filme que tinha como seus principais atores Sophia Loren e Charlton Heston, acompanhado por grande elenco dos dois países produtores, Itália e Estados Unidos, que gerou logo um álbum de figurinhas, ou cromos, como se diz em Portugal, que eu colecionei regularmente até completá-lo, onde estavam retratadas todas as relíquias d'El Campeador, informando que estas estavam em Burgos.  Quando fui a Burgos, uma das minhas principais preocupações foi querer ver estas relíquias, entre as quais se encontrava uma arca do Cid, que de fato está na Catedral de Burgos, aquele fabuloso edifício gótico do século XIII, que tem tanta história guardada em suas salas. Porém, por alguma razão que agora me escapa, as relíquias d'El Cid não estavam expostas no dia quando lá fui por primeira vez. Não podia deixar Burgos sem ver as relíquias. Isto me custou dois ou três dias de estadia, todas as refeições do período, logicamente outras distrações com custos, enquanto esperava que abrisse a parte da catedral que me permitiria ver as relíquias do Cid. Ora que grande desilusão foi a minha quando abriu-se o salão onde está a arca do Cid, muito no alto, difícil de se poder ver, sem nos permitir nenhuma proximidade, geradora de cumplicidade, como esperava, entretanto a relíquia tinha cumprido sua principal missão hoje em dia: Trazer riqueza para a cidade que a guarda, para a catedral que a preserva, gerando empregos, pagando salários, promovendo ilusão, e a vida, sobretudo em período de férias tem de promover ilusão, aquecer corações.

Quem já leu sobre as fabulosas embaixadas de D. João V, ou sobre a época do terremoto, ou sobre o período de D. Maria I, terá certamente grande interesse em ir ver os coches destes períodos guardados no museu. Assim é inconcebível que não exista em Portugal nada referente aos descobrimentos, algumas maquetes no museu de marinha em Belém, e pouco mais, quando seria obrigatório o culto nacional do momento da história quando Portugal foi grande, com por exemplo dois museus complementares. Um em Lisboa localizado na Cordoaria Velha, sem custos de construção portanto, que guardaria todo o material disperso relativo a marinhagem dos descobrimentos, mais a evolução dos mapas e instrumentos de época dando uma visão dos riscos e arrojo da empreitada. O outro núcleo museológico em Sagres, local da Escola Naval do Infante D. Henriques, com uma reconstrução de época do que ela teria sido. Não é necessário nem construir o edifício, pois já o construiram como grande inutilidade vazia, onde fazem tolas e eventuais exposições temporárias.

Outra riqueza imensa são as cafuas, as reservas técnicas de grandiosos museus como os Janelas verdes ou os Palácios muitos e diversos pelo país fora, cafuas cheias de maravilhas não expostas. Por exemplo em Santa Clara em Coimbra, enorme espaço inútil, que recentemente teve seu imenso telhado refeito, e, onde felizmente não chove mais, adaptado, sem grandes custos, dava para ser o 'anexo' pelo qual clama os janelas verdes, e, dos Palácios, a lista é demais extensa para referi-la, em alguns dos palácios restaurados e fechados que mantém o Estado, e que iriam sendo transformados em 'anexos' para poderem expor as peças das reservas técnicas atulhadas de maravilhas longe dos olhos dos turistas. Outra história por se contar, que daria vários museus, é a relativa às influências culturais de Portugal no mundo, com as trocas mutuas que se estabeleceram das influências diretamente com os povos com que se relacionou na época, em áreas como alimentação, botânica, zoologia, vestuário, joalheria, musica, etc..., etc..., despertando o interesse direto das populações da China, do Japão, de vários países de África e das Américas, onde esteve presente no passado.

Tudo isto, aliado a propaganda certa, ao envio às agências de turismo por todo o mundo de material, em seus idiomas, informando destes desenvolvimentos museológicos em Portugal, mais relembrando o fabulosos acervo já existente desta 'potência' que foi dona de metade do mundo, resultaria na entrada, e pela porta grande, de divisas no valor de centenas e milhares de milhões para os cofres combalidos do Estado, sem recursos aos degradantes e criminosos artifícios dos vistos gold, ou outras patranhas semelhantes.



quarta-feira, 20 de maio de 2015

A Doença do Dinheiro.




                                                                                                    "It's in the way that you use it."
                                                                                                        Eric Clapton - The color of money.


Montanhas de papel, nada mais que isto, papel com números impressos a que chamam dinheiro. Papel cobiçado por muitos que não o tem, e portanto atribuem-lhe valor, valor que efetivamente não tem, e isto é assim em toda parte desde que o dinheiro deixou de ter lastro, e cada um imprime quanto quer, tendo a quantidade e o valor que acham conveniente, E o seu verdadeiro valor? O que possa ter, este valor só lhe é atribuído porque o dinheiro, como não está na mão de todos, é desejado por quem não o tem, verificando-se que metade do dinheiro existente está em poder de uns poucos (1% da população) por isto sendo cobiçado por todos os demais, os bilhões que têm só um pouquinho de dinheiro, assim como está distribuído, metade de todo o dinheiro existente não está circulante no sentido pleno do termo, é uma acumulação estática a serviço de aumentar o bolo de quem o detém, roubando estas quantias que o aumentam à economia real, que é a única riqueza verdadeira e consistente que explica tudo isto, porque nenhum de nós necessita de qualquer quantidade de dinheiro, mas sim das coisas que se pode comprar com ela, e só a existência destas coisas representa a verdadeira riqueza que há.

Sendo assim, a quantidade de dinheiro é tanta que distorce a realidade das coisas, distorção que só serve ao próprio dinheiro, não serve a mais nenhuma realidade, serve a que, como para cada nota de qualquer moeda que anda por aí, há outra que fica para sempre num cofre, e cobra por esta sua singular condição de existir não existindo, porque como não está nas mãos de todos, todos o cobiçam e os que dele necessitam para tocar suas vidas, têm de pagar por ele, mas suas quantidades  hoje são tantas, que muitos dos que o detém chegam a pagar para que alguns o guardem. Parece surrealista a alguém que não compreenda bem estas coisas do movimento das finanças, mas é assim mesmo, uns quantos têm tanto dinheiro, que não se incomodam de pagar para que alguém fique com ele por um tempo, desde que o devolva a tempo e horas.

É claro que esse agente que irá guardar esse dinheiro tem de ser muito confiável para justificar que alguém lhe pague por esta tarefa. Ou seja alguém com sólida condição econômica, que seja confiável, de tal ordem que leve a outrem a pagar-lhe qualquer coisa para que este tenha seu dinheiro, porque sabe que quando for cobrá-lo, o que o recebeu terá todas as condições de devolvê-lo, mesmo que tire um pouquinho por o ter guardado. É isto que motiva a classificação das agências de 'raiting', as agências que classificam quem tem condições sólidas ou não para garantir o pronto pagamento das quantias que lhe sejam entregues, e estas agências são tão respeitadas, que muitas das entidades que detêm enormes quantidades destes dinheiros, como os fundos de pensões que só podem aplicar em entidades e países com o 'triple A', ou seja a classificação máxima dessas agências. Assim os mercados reagem às opiniões das agências que cotam os diversos agentes que vão a mercado, como mais ou menos habilitados a cumprirem, segundo a opinião destas agências, que são poucas e norte americanas na sua quase totalidade.

E mesmo com a cotação de um país como Portugal por estas agências como lixo do lixo, a mais baixa avaliação, ou seja atribuindo a Portugal um elevado risco, risco de não pagar, porque, sempre segundo os critérios destas agências, não reúne as condições de ser cumpridor dos seus compromissos financeiros, sendo assim investir em títulos portugueses é muito arriscado e por isto tem de pagar uma taxa muito atrativa, equivale a dizer muito alta, para justificar a que alguém se arrisque a emprestar-lhe dinheiro, HOJE, 20 DE MAIO DE 2015, OS MERCADOS PAGARAM PARA QUE PORTUGAL  FICASSE COM O DINHEIRO QUE BUSCAVA NESTE MERCADO.

É incrível que Portugal classificado como lixo do lixo pelas agências, desperte no mercado esta situação singular de que só goza países muito sólidos e poderosos economicamente como a Alemanha por exemplo. E o que explica que isto tenha se passado? O que pode explicar que alguém pague hoje a Portugal que há poucos meses tinha de pagar taxas de juros tão alta que foi obrigado a recorrer a auxílio de três entidades poderosas para lhe emprestar dinheiro abaixo das taxas extorsivas que o mercado lhe cobravam por qualquer cêntimo que lhe viesse a emprestar?


Primeiro de tudo as respostas a essas inquietantes questões têm a ver com aquelas montanhas de dinheiro, a que chama-se excesso de liquidez, de alguns poucos é claro, já que esta metade de todo o dinheiro que existe têm de ficar em algum lugar, visto que não é de todos, pois que quase todos, mais propriamente 99% não tem acesso a ele, logo têm de estar aplicado, mesmo que seus detentores tenham de pagar por isto. A primeira resposta é essa: Quem tem montanhas de dinheiro quer que ele esteja disponível exatamente no dia e hora contratados, logo quer ter confiança em quem entrega este dinheiro, portanto volta-se para os agentes que parece-lhes dar esta confiança, independentemente do que se lhes possa indicar as agências de 'raiting', que desta forma se transformaram em enormes inutilidades, porque os mercados as ultrapassaram. Segunda porque joga-se um jogo de aparências, porque todo o mercado sabe que esta situação financeira é irreal, logo todos aqueles que jogarem pelas regras serão confiáveis, e manterão a ciranda financeira. Terceiro porque estabeleceu-se uma grande mística, a mística da mentira generalizadamente aceite, que é algo mais ou menos assim: Tu me dizes que podes, e eu, que necessito que tu possas, acredito logo que tu podes, e entre tu afirmares que podes, e eu acreditar que tu podes, vai a distância de tu realmente poderes, visto que eu crio as condições para que possas, e vamos nisso até onde for possível, mantendo todos contentes (Devo aqui confessar que apesar de achar tudo isto surrealista, porque não lida com a economia real, talvez isto seja mesmo o princípio da confiança, e esta seja uma cor que nestes termos eu não conheça, certamente um princípio assente em bases diplomáticas, bases que jogam com as aparências, porém tudo isto causa-me enorme impressão, espécie e constrangimento, porque sou daqueles que gostam da verdade verdadeira, e não da consensual, ou aparente; mas como nunca serei ministro das finanças de nenhum país, o que eu gosto ou deixo de gostar não faz a menor diferença, nem é para aqui chamado.).

Tendo isto em conta tudo o que tenho dito sobre a reação das dívidas impagáveis se esboroa, até que os mercados mudem de opinião. Para o bem de países como Portugal, espero que os mercados continuem a acreditar, para além das opiniões das agências de 'raitings' e que para bem de países como a Grécia a montanha de dinheiro seja tão grande que necessitem chamá-los para o jogo do tu acreditas, que eu acredito. Até quando? A pergunta mais apropriada é melhor: Até quando a economia vai conseguir suportar a fatura desta ciranda financeira?




terça-feira, 19 de maio de 2015

O Tigre que deixa sua pele.







                                                                                      " We just want to make you feel like a tiger"
                                                                                                                                  Jayme Gutierrez.

                                                                                      " Don´t stop me cause I'm having a good time...
                                                                                        ... like a tiger defying the laws of gravity...
                                                                                            I don´t stop at all." " I like it!"
                                                                                                                                                Queen.
                                                                                                                                   




Houve um tigre (*) que era conhecido como o dono disto tudo...


Sua pele hoje não tem listras como as dos tigres, nem manchas como as das onças e panteras, tem nódoas! Enodoado com 29 grandes manchas no DCIAP, outras quantas da CMVM, e ainda algumas do BP, este tigre poderá acrescentar centenas e centenas de outras nódoas das inúmeras ações que lhe são e serão movidas pelos defraudados de várias ordens, os que acreditaram e investiram, os que emprestaram, os que forneceram, e os que financiaram um embuste de um tigre, cuja pele que deixa está tão suja e maculada, que quase nem se vê que animal ele é.

Por outro lado essa pele da qual se quer libertar em tudo que diz, em tudo que faz, em todas as mentiras que escolheu como defesa de sua pele, em todas as respostas que dará em tribunal, tornando-se não mais uma pele de um animal qualquer, mesmos dos mais sujos e emporcalhados que por aí andam, mas num embuste, numa farsa, numa rematada miséria de difícil interpretação e mais difícil reconhecimento, deixando mesmo de ser qualquer bicho, qualquer coisa, para ser apenas um símbolo de desgraça para tudo e para todos que lidaram com esse tigre, mesmo seus familiares que se viram corrompidos e ultrajados por todos os seus atos após sua pele ter sido revelada, após sua marca ter sido exposta, após sua condição se tornar pública e ficarmos todos a saber que sua pele, supostamente aristocrática, não valia nada, que sua aparência de animal forte e poderoso era falsa, era tudo um grande embuste.

Suas marcas, aquelas que definem o animal, sua identidade e sua característica, eram o engodo que eram, e logo se transformaram em nódoas, estas que confundem, que enganam, que mascaram, que enlameiam, que estigmatizam, causando asco, repulsa, opróbrio, miséria, degradação e subversão, impelindo aos seus congêneres, mesmo aos mais inocentes, ao sentimento de culpa, de desgraça e condenação consequente e similar, inseparáveis de uma condição de conspurcação, pela simples condição de serem da matilha, ou àqueles que tinham algum envolvimento, de qualquer ordem que fosse, com esta imensa desgraça que este tigre conformou, também se sintam compelidos a que suas peles devam sofrer de alguma maneira imensa mudança e profunda limpeza, para verem-se livre da lama e das máculas que os atinge a todos.

Sim o tigre deixará sua pele, mas sua pele será algo reconhecível? Será distintivo da estirpe que o gerou? Será de alguma maneira um símbolo de um passado de lama para onde o trabalho, a luta e a capacidade de gerações se irão ocultar, como se nunca tivessem existido, restando apenas a marca do animal, cuja pele, enodoada e imunda, tudo envolve, tudo esconde, tudo oculta, impedindo que a verdade, o passado que lhe foi anterior,  evitando a todos os tigres que queriam, e todos queiram, deixar uma pele que se pudesse admirar, possam um dia sequer pensar em morrer em paz, e os já mortos sejam confundidos nesta sanha de sujeira que ele gerou.


Esta pele que o tigre deixa, que o homem boa reputação não tem, limitado pela circunstância dos resultados alcançados, fossem quais fossem suas motivações, seu insucesso transformou para sempre sua pele, sua essência, causa motivadora de seus crimes, que se verá quão extensos e quão profundos são, seu desmazelo, sua catástrofe, sua desgraça, talvez mesmo por pensar-se dono disto tudo, que isto tudo tem o dono que se apresenta, não o que merece, pois não há merecimento, nem donos deveria ter, mas os tem, de ocasião, má ocasião certamente, porém teria a aparencia que conquistasse, tomaria o espaço que se lhe dessem, porque há sempre espaços que ocupar, lobos em peles de cordeiro, animais famintos a devorar presas fáceis, famigerados tigres a dilacerar vítimas indefesas, tigres que, perdidos em suas ganâncias, extrapolam os espaços que ocupam, espraiando-se por todos os cantos que são sensíveis a seus cantos de sereia, disseminando-se como infecção em todos os organismos que permitiram seu contato, seu contágio é que foi, gerando a desmedida teia de suas ambições, que tudo envolve, e tudo conspurca.

Tudo para nada afinal, resta-lhe a pele, aquela mesma que serviu-lhe de encobrimento, e que mil vezes foi de cordeiro, ela, de tigre, transmutada e bem comportada, numa aparência de respeito e manutenção das regras numa farsa de limites e comedimentos, que sabemos todos, sempre violada e violenta, pois que encobre as mais famigeradas intenções. O tigre deixa sua pele, pois deixa, visto que ela, que foi sua marca, se transformou em opróbrio, ignomínia, infâmia, vexame, de que nada, nem mesmo a morte, o livrará.


(*) Em várias oportunidades disse leopardo em vez de tigre.





segunda-feira, 18 de maio de 2015

Dia Internacional dos Museus.









Museu: Guarda do passado, transmissor do testemunho, testemunho do sempre, passado presente e futuro, eternidade do saber, sabermo-nos.

Está tudo dito, resta refletir.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

A LÍNGUA QUE SE FALA NO BRASIL É A PORTUGUESA!!!







O Dr. Pacheco Pereira tem que ler este título, porque ele pensa que não é assim.

Na última edição da Quadratura do círculo o Dr. Pacheco Pereira ao afirmar que vivemos dias tristes a conta do ACORDO ORTOGRÁFICO, disse essa enormidade, fugindo-lhe a boca para a verdade, mostrando o que verdadeiramente se esconde por baixo das ideias dos que são conta o Acordo, vejamos, 'verbis':
                            " ... está a língua portuguesa numa posição defensiva, mas não é pela competição com o Brasil..."
                           Notaram bem a afirmação?

                           Desde quando a língua portuguesa tem qualquer tipo de competição com o Brasil?Ao dizer isto está implícita a ideia de que a língua portuguesa, talvez por assim se chamar, é um patrimônio português! Por isto o título desse artigo, que é para lembra-lhe e aos opositores do Acordo, é que a língua que se fala no Brasil é a portuguesa!!! E por assim ser, como o é em Angola, em Moçambique, em Cabo Verde, em São Tomé e Príncipe, em Timor, e na Guiné-Bissau, mesmo que saibamos que em todos estes lugares, como também em Portugal, falam-se ainda outras línguas, só no Brasil é que só se fala o português e nada mais, mas por assim ser, por não ser uma exclusividade de Portugal, não há posição defensiva porque não pode haver, porque não há fronteiras, não há muralhas para a defesa, e não há e não pode haver competição linguística de espécie alguma, poderá, e será salutar, haver alguma competição literária, e esta será mais clara e evidente com uma mesma grafia em toda parte.

Por isto o Dr. Pacheco Pereira e os outros comentadores da Quadratura que equivocadamente o acompanham, e o escritor Miguel Sousa Tavares devem saber que a língua portuguesa não é só deles! Não há nem pode haver posição defensiva, nem competição, só pode haver entendimento, e houve todo o tempo do mundo para isto, e estes Senhores não fizeram nada. Agora depois de tudo arrumado, tudo acordado, é que vêm esbravejar??? Tomem tento!

Recomendo-lhes vivamente a leitura de meu artigo intitulado: Até que enfim! Onde esclareço que este Acordo é um bem precioso para todos que se expressam neste idioma, e o é porque com uma normatização ampla da forma de escrever, obtemos um grande e sólido bloco com centenas de milhões de falantes, todos registrando suas ideias da mesma maneira, criando um potencial multiplicador pela forma agora única sem paralelo anterior na história destas comunidades.

Não reconhecer o valor deste patrimônio e insistir em detalhes que afetam umas quantas palavras a conta do Bem geral de uma só forma, é olhar para o céu noturno e não ver as estrelas.
               

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Até que enfim!





Aparecida e Fátima regozijam-se, uns quantos esbravejam, outros contestam, ainda outros não aceitam, e creio que ainda alguns outros, como o Vasco Graça Moura, revirarar-se-ão no túmulo!

Uma só língua, uma só portugalidade (eu preferiria portuguesidade), um só dizer, uma enorme força conjunta mundo fora! Essa a verdade subjacente, latente e vigorosa neste ACORDO ORTOGRÁFICO que a partir de hoje é obrigatório, e que, como tal, deve ser cumprido.

Já veio para o espaço mediático o outro de plantão que sucedeu ao Graça Moura que não era ninguém, e por isto não pesava, mas este, que o substituiu, é um grande autor desta língua que ama, a amamos todos, e que quer ver preservada em seu arcaísmo lusitano, citando Pessoa para sua identidade, e esquecendo Camões, sendo esse mais arcaico que aquele, não deixou de ver a verdade translúcida e comprometedora de Portugal: Dera mundos ao mundo.

E nesta função todo seu compromisso, o compromisso de estar em sintonia, ou como queria Saint-Exupéry no Pequeno Príncipe o compromisso da responsabilidade, porque " Tu te tornas eternamente responsável por tudo que tu cativas, me cativastes e agora és responsável por mim..." e nesta última assertiva toda a realidade portuguesa, criou mundos, agora há que cartar com eles, porque é responsável!

Falar em estupidez, abastardamento, e arrogância, como o fez Miguel de Souza Tavares, filho de uma mulher fabulosa, e admirável escritor, é uma dessintonia, uma desconexão com a realidade que avança, e que avançou neste acordo. "Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras..." " É loucura odiar as rosas porque uma te espetou". Acredito que esta mudança espete aos que habituados a antiga ortografia, querem preservá-la, porém os atos que advirão dela, o congraçamento dessa imensa pátria plurinacional que é nossa língua, fala mais que a alteração na grafia de umas quantas palavras, alterando em uns pontuais casos a dição, - as palavras - pequeníssimo preço a pagar por uma unidade maior,  tão importante que ultrapassa questiúnculas - os atos.

" Eis o meu segredo. E muito simples: Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos." Sempre seguindo as lições de Saint-Exupéry, este é o passo a dar para não nos queixarmos das palavras porque foram outrora dessa maneira e não doutra, circunstância transitória, ocasionalidade da vida deste ser vivo e mutável que é nossa língua, e nunca disse nossa, como brasileiro que sou, com tanta extensão e propriedade com tanta abrangência e unidade como hoje, neste dia feliz em que acordamos ter uma mesma forma de escrever em todo lado onde se escreve em português, num tempo novo que começa, este ano novo que se inicia hoje, por isto evoco esse último conselho 'exuperyano': "Para conhecer as estrelas olhe para o céu e para dentro de si... Neste ano novo deixe sua estrela brilhar!!!"

terça-feira, 12 de maio de 2015

Cavaco, o milagre português.








A influência do Dr. Cavaco Silva foi de tal ordem que para designá-la, para designar a influência da doutrina e da ação política desta personagem, forjou-se o termo cavaquismo. Nenhuma maior medalha ou distinção se lhe podiam oferecer, nenhuma maior homenagem se lhe podiam fazer que recolher seu antropônimo, transformando-o de substantivo próprio em comum. Prova inequívoca de sua influência, e aí começa o milagre.

Sempre hei de me questionar como uma pessoa tão inexpressiva possa ter ocupado tanto espaço no cenário político português durante tanto tempo, e aí o milagre inteiro! Fenômeno este que me proponho a analisar desapaixonadamente, apesar de minha natural aversão pela figura, que confesso como ponto de partida, para honestamente não negar ao leitor esta condição, da qual  tentarei me desvencilhar, a qual evitarei por todos os modos, no sentido de possuir a neutralidade e  a imparcialidade misteres a análise que irei proceder.

Antes de tudo atualmente o Dr. Cavaco é um alinhado, em tudo e por tudo toma a mesma posição do governo de sua mesma cor política, exceto quando falava de espiral recessiva, esteve sempre ao lado do governo do Primeiro Ministro Passos Coelho, cabeça de seu partido, como se tivesse logo descoberto que este governo tinha o caminho da redenção. Com o Dr.Cavaco morre esta falácia de que o Presidente da República não tem partido.

O Dr. Cavaco é intrinsecamente um presunçoso e um presumido, que sendo a mesma coisa, são diferentes porque além de seu comportamento mostrar este orgulho exagerado de si mesmo, condição comum a ambos os adjetivos, o que no caso de alguns presunçosos é apenas confiança excessiva, e que na maioria é vaidade, no caso do Dr. Cavaco inclui-se esta dose fatal de se presumir superior.

É fato que o percurso acadêmico do Dr. Cavaco ultrapassou bem o que seria de se esperar para alguém como ele, o que lhe dá uma certa superioridade na consecução dos objetivos, mas que isto lhe subiu à cabeça, subiu, sobretudo quando ao fazer a rodagem de seu automóvel vai a um Congresso partidário e sai candidato a primeiro ministro, aproveitando para afirmar que nunca tem dúvidas e raramente se engana. Afirmação que segundo os manuais de psicologia demonstram um comportamento paranoico.

Se analisarmos as características do comportamento paranoico ou transtorno da personalidade paranoide como o chamam, veremos que o Dr. Cavaco registra vários destes comportamentos, tais como desconfianças e suspeitas generalizadas, como ficaram patentes em vários momentos de sua carreira, sendo o mais eloquente o caso das escutas de Belém. Relutando por confiar nos outros com um medo infundado, mania de perseguição, e suspeitas de que alguém o está vigiando, ou de estar sendo maltratado, enganado ou explorado por terceiros, preocupar-se com dúvidas infundadas referentes a lealdade ou confiabilidade das pessoas com quem se relaciona, e reluta em confiar nos outros com receio de que essas informações que confiar, possam ser usadas maldosamente contra si mesmo, interpreta  significados ocultos de caráter humilhante ou ameaçador onde não os há, guarda rancores persistentes, percebe ataques a seu caráter ou reputação onde estes não existem e tem suspeitas recorrentes e injustificadas, apresenta transtornos de humor com características psicóticas, como se viu em muitas de suas entrevistas, mesmo as ligeiras, acabando inclusive em desmaios, nos casos brandos mantendo-se sempre neste estado pré-mórbido do transtorno psicótico, sintomas também notados no Dr. Cavaco.

Numa análise de um psicólogo independente o Dr. Cavaco apresenta todos estes sintomas num estado pré-mórbido, ou seja num estado brando, onde se manifestam, mas sob controle forte de uma lucidez e inteligência fortes que os sabem disfarçar bem.

Então alguém me pergunta do milagre. Ora o milagre é este! Alguém com esta personalidade ter vivido nos palcos midiáticos durante tanto tempo sem que ninguém acusasse esta condição, se se verifica, e sem que ninguém o mandasse ir se tratar.


domingo, 10 de maio de 2015

Uma conversão declarada.






As afirmações de Raul Castro, o homem à cabeça do Estado cubano, de que :
                                                                                                                            1º - No partido comunista cubano, onde não eram admitidos crentes, que a partir de agora o vão ser, e
                                                                                                                   2º - De que ele irá pessoalmente às missas que o Papa Francisco celebrar em Cuba,

é, para quem sabe compreender o que se passa: UMA DELARAÇÃO DE CONVERSÃO!



Aos papas cabem inúmeras missões, pastorais, administrativas, políticas, religiosas, filosóficas, éticas, morais, diplomáticas e muitas outras, mas a sua missão primeira, sua própria razão de existir antes de qualquer outra, é arrebanhar almas (missão deveras esquecida por tantos papas) trazer as rezes ao rebanho, por isto pastor! Nunca até hoje, eu, que sou cristão e longe estive sempre de me ver como um praticante católico, não podia imaginar-me atuante na igreja, porque a sua realidade era algo muito distante para mim, homem de esquerda, com um espírito crítico forte, por outro lado, imaginar ouvir as palavras que ouvi da boca de um dos irmãos Castro, então, nem numa alucinação. Tive de rever a matéria jornalística duas vezes, porque minimamente não acreditava no que ouvia, mas afinal era verdade: Raul Castro se convertera!

Sim meus caros, porque esta declaração que fez é a prova provada de sua conversão, talvez nem ele mesmo se dê conta disto, disse-o porque entende que as afirmações do atual Papa trazem uma força de verdade que tocam no mais fundo de suas crenças ideológicas, daquilo de solidário que o comunismo tem, que converteu tanta gente, mas o cristianismo tem muito mais, se visto na sua plena dimensão, se pronunciado nas palavras do Cristo, seu único molde, sua única verdade. O mais incrível é que seus pastores, seus representantes, têm-na dito sem a força da sua inteireza, obnubilando-a, diminuindo-a, amesquinhando-a, até pela califasia, pela empáfia, pela presunção dos atores que fazem uso dessa palavra pastoral.

A força do verbo simples e humilde de Francisco todos toca, e, agora posso afirmar, todos converte.

A vontade de aproximação da Igreja que sentia em mim, e que vejo ser a mesma de Raul Castro, é uma ação pastoral de Francisco. Porque queremos a palavra, seja de quem for, a dizer a verdade, a apontar as fraquezas, a combater pela justiça. Para quem pretenda pregar, a maior lição que pode existir, está nas palavras de Jesus, e na sua forma de contemporaneidade em seu tempo, levando a cada homem, naqueles dias, a mensagem, esta eterna, mas cuja compreensão é feita no tempo de sua divulgação, e, logo, deve trazer os ecos desse tempo, para  tocar as almas e satisfazer as inquietações dos homens, prisioneiros de seu tempo de vida, por isto Jesus pareceu-lhes um líder político, é este o equívoco de Judas, mas esta é outra história, o que importa é que a voz de Francisco tocou-me, assim como tocou Raul Castro.

Já está mais que claro que a prisão em que todos nos encontramos, a prisão das aparências, das conveniências, dos mecanismos e dos organismos que nos envolve e nos limita na sociedade e individualmente, e como precisamos nos livrar desta prisão, ela só tem uma chave que a abra, é a sinceridade, é falar direto aos corações dos homens. E só há sinceridade dentro da plenitude da verdade! Aquela verdade para a qual Jesus nos lembrava que a conhecendo estaríamos libertos.

Todos os que são libertos, convertem-se, pela força desta libertação, à palavra libertadora.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

A adorável Mariana Mortágua.











                                 

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Fulcral é a palavra para classificar seu verbo. Retilíneo é a palavra para seu caráter. Intensa é a palavra para designar sua presença. Metódica é a da sua análise. Sincero é seu temperamento. E como todo mundo pode ver: Ainda por cima é bonita.

Fico a matutar qual será seu defeito. É que, como sabemos, ninguém é perfeito. Pensei que podia ser orgulhosa, não é, é simples. Poderia ser presunçosa, mas é ordenada, natural, humana mesmo. Talvez vaidosa, mas é sólida e útil. Talvez soberba, arrogante, pois conhece a força de seu intelecto, e conhecerá a de sua beleza, soberba qual nada, já disse é sólida, é pura, é simples.  Como toda regra tem exceção... 

Brincadeiras à parte, também é brincando que se dizem as verdades, é a filha que gostaria de ter, as que tenho, espero que se mirem nela. A palavra certa, o gesto exato, a presença forte, a firmeza sem afetação, sem fatuidade. Grande garota! 

Faço estes elogios rasgados porque sei como é difícil estar na ribalta e não tropeçar, não ceder a voz interior que nos mostra nossa evidente superioridade, sei como é difícil apontar o dedo sem presumir, sem altanar-se, sem ultrapassar a medida de fé de ofício, pisando o visado. Grande garota, semana após semana cumpriu sua função dentro do estreito senso do dever, nada mais que isto, e concluiu com a única meta que lhe importa, prover um futuro mais seguro evitando as distorções que o exercício de poderes não regulados se permitem, ultrapassando todos os limites da decência.

Mariana Motágua é das que marca a diferença, é das pessoas que, para quem, como eu, já credita em pouca coisa neste mundo, faz com que a vida valha a pena ser vivida na expectativa de que possa haver mesmo um mundo melhor.

150 anos de uma cruz em estado de alerta.






                                                                                                  A imaculada ação da dignidade humana.






Dois anos depois da fundação da Internacional, os portugueses fundavam a portuguesa, que agora completa também seu sesquicentenário. Neste dia de fim de guerra, o do fim da segunda grande guerra onde há 70 anos a Cruz foi imprescindível. São cento e cinquenta anos de existência a carregar a cruz escolhida, a cruz de empenho, de luta, e de serviço mais que tudo. Vermelha, com a cor da vida, escolheu argumentos incontornáveis como seus princípios básico em seu centenário, os mesmos que vinha seguindo sem enunciá-los, mas que enunciados demarcaram e demarcam aquilo que é esta Cruz: Humanidade, Imparcialidade, Neutralidade, Independência, Voluntariado, Unidade  e Universalidade.

Neste ambiente aprendi que dar é muito mais importante que receber, e muito mais reconfortante, e nos enche muito mais a alma. Voluntariar-se é a ação mais especial que se possa fazer: escolher alguém para realizar uma tarefa de forma totalmente gratuita, tarefa muitas vezes difícil ou perigosa, quando este alguém somos nós mesmos. E nesta auto escolha toda a força da Cruz, porque chamando a cruz para si mesmo, o voluntário torna-se um escravo de sua escolha, de sua palavra, e não há maior poder que uma decisão interior, de forma  autônoma, livre, voluntária, e por escolha própria.

De Solferino, de Dunant, de Moynier, guarda uma memória ativa da dor dos outros, mostrando que sentir leva à dimensão da solidariedade, única dimensão onde a vida faz sentido. Preocupada com este sentido da vida e em sua cor, a cor da vida, a Cruz sempre defendeu às vítimas nos conflitos em que se tem lançado a humanidade estúpida, respondendo sempre sim com sua presença, sempre participando, nunca se eximindo, sempre correndo riscos; só que a vida, bem mais que precioso, essencial, indissociável de nossa condição de existirmos, não pode ser compreendida sem a dignidade mister à sua manifestação, por isto indo para além de sua ação de assistir a vida, obriga-se a pautar com que esta seja e siga sendo digna, fazendo respeitar limites que os conflitos dilaceram.

Esta dificílima condição faz da Cruz e de sua versão islâmica, o crescente, que é a mesma entidade respeitando com outro nome as crenças diversas em que transita, a imaculada ação da dignidade humana, que não deixando esta ser malbaratada pelo desinteresse de governos, líderes e instituições, que descumprindo sua razão de existência, muitas vezes violam-na,  reencontrarão esta dignidade humana nos dois lados da mesma fronteira pela ação desta Cruz que não teme cruzá-la.    

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Outros inéditos do mesmo dia.






Contei no artigo intitulado: Um inédito de Florbela Espanca, que no sarau que se realizou no verão de 1930, em Julho, quatro meses antes da morte de Florbela, Adolfo Faria de Castro, recolheu uns quantos versos das poetisas presentes, e eram elas entre outras que compareceram a este sarau de Julho de 1930:

                           1. Branca de Gonta Colaço.
                           2. Fernanda de Castro.
                           3. Laura Chaves.
                           4.Thereza Leitão de Barros.
                           5. Rosa Silvestre
                           6. Alice Ogando.
                           7. Helena de Aragão.
                           8. Florbela Espanca.
                           9. Candida Ayres de Magalhães.
                          10. Oliva Guerra.

E foram destas quadras recolhidas por Adolfo naquele dia, que retirei a de Florbela, já não mais inédita pela publicidade de meu anterior artigo sobre esta matéria. Entretanto pensarão alguns que comecei por Florbela, por ela ser a mais conhecida, hoje, da lista de oito poetas daquele sarau, enganam-se, o meu critério foi a força do poema entre os recolhidos, e, como verão, o de Florbela ganha de longe.

Certamente, naquele verão de 30, Florbela não era o nome mais sonante, Branca Eva de Gonta Syder Ribeiro Colaço, esposa do ceramista dono de seu último apelido, o renomado Jorge Rey Colaço, era este nome entre as demais, algumas outras ganharam maior notoriedade mais tarde, mas neste 1930 Branca era a mais notável, por isto é dela que é recolhida a primeira poesia, esta ordem apresentada é a mesma que aparece no álbum, e talvez seja também a da mais famosa pelo menos naqueles dias, porém lhes será possível comparar a força poética das diversas poetisas, não só com os versos que irei aqui publicar, como com a comparação da obra que deixaram.

O poema de Branca, que era uma recitalista, não é inédito, tendo posto no álbum uma quadra das suas intituladas «Canções do Meio Dia» que é assim:
                                                                               " Nenhuma data me importa,
                                                                                  se a não marca a tua mão,
                                                                                   parando o meu coração...
                                                                                   por bater à minha porta..."

A seguinte é Maria Fernanda Telles de Castro e Quadros Ferro (1900 - 1994), que nasce no mesmo dia de Florbela, seis anos depois dela (1900) e que era casada com Antônio Ferro desde 22, e tinha ganho o prêmio do Teatro D. Maria II em 20, que nos deixa esta quadra inédita que fala de pinhões, com muita graça:

                 "Os pinhões são como os beijos...
                   Quantos? Não sei... Não se diz...
                    Hei-de plantar um pinhal
                    tal como el-rei D. Diniz."

Ficam os registros, retira-se o ineditismo, revela-se o repente, a forma de estar, e a espontaneidade que houve.                                   



quarta-feira, 6 de maio de 2015

As portas da Europa.




                                                                                 


                                                                                                       Ama o próximo como a ti mesmo.



Às portas da Europa se encontram hoje mais de um milhão de vítimas da insânia que percorre  África por diversos países, deslocando este enorme contingente humano que sem outro remédio que fugir, fugir para tentar manter-se vivo, apegando-se ao último e mais precioso bem que lhes resta: a vida, as suas próprias!

Mas de que fogem estas centenas de milhares de almas? Fogem de que, e porque arriscam suas vidas, as mesmas que querem salvar, lançando-se nas águas do mar que divide duas terras tão distintas, tão desiguais em condições, estas condições tão necessárias e imprescindíveis a manutenção deste bem, único que lhes resta e que querem salvar? Querem salvar suas vidas, e tencionam vivê-las, se conseguirem, num ambiente onde elas não estejam sujeitas ao risco permanente, e onde haja outro bem que sendo para além da vida em si mesma, é o único que a justifica, e que se chama dignidade, posto que uma vida indigna não é vida que mereça ser vivida. Por isto arriscam suas vidas, por isto fogem, e fogem dos quatro cavaleiros do Apocalipse, que juntos e em ação combinada, pois que os quatro cavalos à toda brida cavalgam pelas terras d'África, e alucinadamente vão perpetrando seus ditames de morte e de dor.

A guerra, a Fome, a Peste e a Morte campeiam pelos países  de onde fogem estes milhares e milhares, que se tornam nossos próximos, vindo bater às portas desta nossa Europa, como último recurso para tentarem manter aquele bem precioso  que vêm ameaçado pela ação combinada dos quatro cavaleiros. 

Nós não somos responsáveis, indiretamente talvez até sejamos, pelo que se passa nos seus países, e não teremos obrigação de propor ou dar solução às desgraças que lá ocorrem, mas ao que nos vem bater à porta, a esta solicitação, é irrecusável tomar posição, não podemos fingir, como se vem fingindo já desde há muito tempo a esta parte, que o problema não existe, ou que não temos nada a ver com isto. Quando alguém nos bate a porta, torna-se nosso próximo, e, como tal, seu problema passa a ser nosso, passamos a ter responsabilidade para com ele, e não podemos nos escusar.

Toda reação que não seja inclusiva neste caso será contra natura, já que se encontramos um bicho ferido, abandonado, nossa primeira reação é tratar dele, é darmos-lhe proteção e aconchego. Não será assim com nossos irmãos que fogem do inferno em que se transformaram seus países, suas cidades, suas casas? Negros, na cor da decencia, pois que a decencia é negra, como a situação limite que representa: A situação negra de não ter uma vida decente, posto que, sendo assim desde sempre, a decência mostra-se negra em solidariedade daquilo que não podemos evitar, que é sermos com ela, decentes, posto que se ela assumisse qualquer outra postura que não a da solidariedade, não seria decênte, não seria decência, então contaminando-nos desta condição absoluta e suficiente para sermos dignos e merecermos viver, porque indecentemente, miseravelmente, contra a natura, contra nossa natureza humana, não vale a pena viver, portanto não temos outra possibilidade que atendermos aos nossos irmãos que nos batem à porta. Esses mais de um milhão de que vos falei são só os com estatuto de refugiados, os deslocados são várias dezenas de milhões.

Esta cegueira em que se encontra a Europa é inadiável! Ou recupera prontamente a visão, ou perde-se na confusão do precipício de não querer enxergar, realizando o dito popular- Mais cego é aquele que não quer ver. Não querendo atender a um problema que é muito volumoso e que chega em má hora, procura na atitude da avestruz, esta ave africana que não serve de exemplo, procrastinar o inadiável, repito. A Itália tem solicitado que olhem o problema, o Papa Francisco desde o primeiro momento indicou o caminho, sabedor da inescusabilidade envolvida, pois que como problema diário, que inquieta e confrange toda gente, que se vai avolumando em números e impossibilidades a cada dia que passa, e que só se soluciona com um plano de inclusão abrangente, onde todos os países digam até onde podem ir, e que números estão dispostos a aceitar, e que disponibilizam o transporte, pondo fim a um tráfico de almas jamais visto na história da humanidade.


Quanto mais cedo a Europa no seu todo compreender que esta situação é problema seu, e, que como tal, a si compete promover a  melhor solução. De ficar feia na fotografia não se livra mais, porque tudo que a movimente agora terá a ver com a realidade, esta incontornável manifestação que nos exige posicionamento sempre, e não com sentimentos altruísticos, posto que a beleza do humanitário se perdeu com a avestruz, mas até por conveniência ordeira, já que a ordem é tão melhor que seu oposto, ou por habilidade, outro motivo recorrente, a Europa terá de ver a 'incontornabilidade' e a 'inadiabilidade' deste problema que está batendo às suas portas, e para o qual não tem outro recurso que as abrir.




PS. No dia 7, o seguinte a este artigo, o presidente da Comissão européia, declara que é preciso abrir as portas da UE para que 'eles' não entrem pela janela. Junker é pragmático ao menos.


terça-feira, 5 de maio de 2015

Pacheco Pereira Pinkfloydiano.








                                                                                                         "We don't need no thought control."





Reiteradamente esta sensibilidade profunda que atende pelo nome de José Álvaro Machado Pacheco Pereira tem se referido ao muro, este muro invisível que nos rodeia e nos restringe, esta condição constringente a que estamos sujeitos por forças supervenientes que nos cercam e obrigam-nos a seus ditames. Percebendo a situação de supressão de liberdade em que fomos lançados, o Dr. Pacheco Pereira contra tudo e contra todos, tão somente alicerçado em suas convicções pessoais, vem esgrimindo esta situação, sempre na esperança de uma liderança consciente que tenha como primeiro e fulcral objetivo repor a liberdade cerceada, porque entende que todas as restrições à condição de liberdade e cidadania são mutilações feitas a democracia, e os seus conhecimentos de história amalgamados no cadinho da experiência de combate, portanto da realidade, da ditadura, compreende que qualquer restrição democrática, por pequena que seja, é perigosa.

E onde mora o perigo? A resposta é só uma: No muro! Sim o muro que se não cuidarmos se constrói rapidamente. A condição de cidadania da qual se fez guardião é sempre atacada de forma insidiosa, e quantas coisas saberá o Dr. Pacheco Pereira que não nos pode contar...  Porém isso não o exime de, na medida de suas possibilidades, opor-se, contrapor-se, lutar para que as coisas não evoluam nesta direção, e faz sua profissão de fé em todos os espaços que lhe são possíveis, esgrimindo com sua melhor espada, a palavra, escrita, dita, insinuada, toda e qualquer manifestação fascista, sim pois que todo o autoritarismo é fascista.

« All in all it's jus another brick in the wall."

Sem negros sarcasmos nas classes de aula, deixem as pessoas em paz, e nesta paz a liberdade de elas serem elas mesmas, sem que o tempo vá queimando gerações de gente cerceada como na visão medieval de muralhas, onde havia o espaço bom e protegido do intra-muro e o perigo exterior de que este muro supostamente nos livrava, porém como viver é correr riscos, o muro é antes de tudo um bloqueio, um impedimento. Liberdade, liberdade....

Homens como o Dr. Pacheco Pereira certamente não são estimáveis, e não seriam eleitos Primeiro Ministros, ou Presidentes, porque como lembrava Sócrates, e Platão nos deixou escrito, " a sinceridade mata."

Como as pessoas gostam de preferencialmente serem enganadas com cantigas melodiosas, que as façam crer na necessidade do muro, que é o que nos protege, nos restringe até a visão da paisagem, é verdade, mas é necessário, todos os que são contra aos modelos amuralhados que há por toda parte, e os que a isto se opõem, rapidamente se tornam 'personas não gratas' em toda parte, porque todos os dias se colocam tijolos, e são malditos os que os querem derubar.

Talvez por isto reiteradamente lembra-se Pacheco Pereira, velando para que estes não se construam, de muros e tijolos, estes que conota com a realidade, a realidade opressora, pelo seu peso irredutível, pela sua condição massiva, pela presença esmagadora do muro invisível, muro que se tem de derrubar, principal alvo a abater para que não sejamos um outro tijolo na muralha.