O século que encerrou o segundo milénio quase quadruplicou a população com a qual o planeta o começou, gerando uma demanda de todos os recursos sem precedentes na História do Homem. Recursos que, como tudo que existe tem uma só fonte originária: O nosso planetinha azul. Simplificadamente chamamos estes recursos de naturais, o que equivale a dizer que eles provêm da natureza, o que sendo verdade, assim dito, cria a falsa impressão de que são inesgotáveis, porque no século anterior a este, e em todos os anteriores, a mãe Natureza provinha todas as necessidades de forma absoluta, permitindo estabelecer-se a crença de sua inesgotabilidade. Crendo-a perene, sua exploração passou a ser cada vez mais efetiva, intensiva, atingindo níveis de insustentabilidade, uma vez que a demanda não permitia a reposição natural dos recursos, porque não lhe dava tempo para tal, isto relativamente aos recursos que se recompõem naturalmente como as florestas, as populações animais, e os aquíferos. O petróleo, todos os metais, as pedras de muitas utilidades, muitas substãncias quimícas essênciais, etc.. entraram em franco declínio das reservas, e assim continuará até que acabem totalmente.
A afirmação com a qual intitulei este artigo é assustadora na medida que tudo o que precisávamos em 1900, o que um planeta satisfazia, em 2000 já precisávamos de quatro planetas, o problema será que sempre só teremos um, e o mesmo, para satisfazer nossas necessidades. Em 1800 a população era um pouco menos de um bilhão, o século XIX elevaria-a para um bilhão e seiscentos e cinquenta milhões, o que já era uma terrível proeza, sobretudo com a imensa mortandade, porém o XX faria ultrapassar os seis bilhões. A dita explosão demográfica, filha dos progressos científicos e tecnológicos, com a maravilha da química espalhando saúde e produtividade agrícola, evitando que as pessoas morressem, aumentando-lhes a longevidade, permitindo que se reproduzissem intensamente, e produzissem alimentos em maior número e por um período maior de tempo, foi determinante para a sua manifestação, e explodiu mesmo!
Enquanto se contavam por centenas de milhões a população mundial, o planeta pode se sustentar, o que não impediu a extinção de inúmeras espécies nesse período de tempo, porque a insânia humana é sempre ativa, e essa loucura é sempre destrutiva, assim a caça intensiva primeiro, depois o ataque às florestas, e por fim o uso de químicos, dizimaram populações inteiras até que não existisse mais um só bicho, uma só planta, daqueles que sofreram esses ataques seletivos. Posto que a demanda mundial por alimentos é uma curva que não para de crescer, cada vez mais os recursos, aqueles ditos naturais, encontram-se sob um ataque cerrado até o ponto de colapso, para evitar o colapso estabelecem quotas, limites, defesos, proibições de toda ordem, mas nada é suficiente para atender a uma demanda crescente, muito menos o será, porque, relembro, quando necessitamos de muitas Terras para atender a essa demanda e só temos uma: NÃO HÁ SOLUÇÃO!
E quando se buscam recursos que não podem atender a todos, estabelece-se uma competição, que será tanto mais intensa e feroz quanto mais limitados forem esses recursos, e os recursos se tornam limitados não só pela sua diminuição, por serem extraídos e utilisados, como pelo aumento dos que querem ter esses recursos. Uma árvore utilizada não o será de novo, um ovo comido não o será de novo, isto quer significar que esses recursos são finitos, acabam, e não há nada a fazer.
Com a água dá-se o mesmo, só temos essa aqui que os asteróides nos trouxeram, como se sabe da geoformação, e não há outra mais, em maior quantidade, e a que há é na sua maioria salgada, e nós a consumimos doce, que tem cada vez mais poluição nela, e nós a consumimos limpa, é destinada para infindáveis necessidades humanas, desde repor os líquidos corporais, até lavarmos alguma coisa nossa mais ou menos frequentemente. O problema da água, não está na água de consumo direto pelas populações, o consumo indireto, esse sim é enorme, só a agricultura consome 75% (setenta e cinco por cento) da água doce usada no planeta, nos países menos desenvolvido esse número pode atingir a 98%, noventa e cinco (95% na média), média altíssima pelo mal uso e perdas, mas o consumo agrícola é o centro do problema, porque toda a água utilizada não pode ser reciclada, ou vai para a plantação, o objeto do regadio, ou evapora-se e vai para as nuvens, ou para o lençol freático, e não há nada a fazer, porque a plantação uma vez consumida, necessita de que se plante outra, e, é claro, ao ser comercializada levou a água consigo na forma daquilo que se colheu ali, a que foi para as nuvens, sabe-se lá onde irá esta água chover, e a que foi para o freático seguirá o rumo do rio subterrâneo, indo ter a outro lugar mais distante, ou seja para o próximo regadio é necessária mais água de uma fonte que o abasteça. E se, ou quando, não houver?
Isso é assustador, porque cada vez há menos água para satisfazer a uma demanda crescente, com um consumo crescente, tanto por mais população, como para populações com mais recursos que pretendem piscinas, banhos longos, banheiras, limpeza, e mais alimentos, que demandam enormes quantidades de água para serem produzidos a vários níveis, pois após a fase agrícola, eles têm de ser processados e conservados, o que demanda também enormes quantidades de água, água que não há! Para muitos não há mesmo nenhuma. O número é assustador 2 em cada 7 das pessoas que vivem no planeta nestes tempos, vivem sem água, ou seja sem acesso a água, em locais sem água nenhuma. São 1.800.000 de seres dispostos a lutar pela água, dispostos a tudo por água, agora juntem-se a eles agricultores por toda parte que sofrem com quantidades de água insuficientes para terem êxito com suas colheitas, que, impedidos de aumentar o plantio por não terem água, e havendo maiores populações com vontade de consumir esses alimentos que produziriam, sentem-se traídos e usurpados em seu legítimo direto de produzir mais. Quanto ao fato de não produzirem esses alimentos não só afetarem os produtores agrícolas, mas aos consumidores que sentirão a falta desses alimentos não produzidos, e sofrerão com o aumento dos preços, consequência da produção não atender a demanda, caminhamos então para termos a tempestade perfeita, com toda gente disposta a lutar pela água que necessita em seu território. Isso irá começar devagarinho, como já começou em muitos pontos do globo; primeiro serão conflitos localizados, depois irão aumentando, até haver guerra. Estejam certos, aí vem a Guerra da água.