segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Os portugueses na frente.







Tinha enorme simpatia pelos húngaros, seu folclore, suas músicas, minha avó tinha uma coleção de discos de mazurcas, ainda em setenta e oito rotações, e eu os ouvia muito, depois quando visitei a Hungria gostei muito dos grupos que vi por lá. Na Polônia foi o mesmo. Nunca mais irei a esses países, tomei nojo deles, repugna-me quem não é capaz de ser solidário, tenho nojo de quem é insensível à dor do próximo. A atitude define o caráter de um povo, do mesmo como define o de uma pessoa, desde os chutes da jornalista aos quilômetros de arame farpado, sem que um húngaro se manifestasse contra a atitude de seu governo, sem que um húngaro levasse uma garrafa d'água aos pobres desgraçados que queriam apenas atravessar o território de seu país, no que foram hostilmente impedidos,  sem contarem com a solidariedade de um húngaro, de um polonês, de um checo, de um eslovaco, essa gente que precisou muito de ajuda em várias ocasiões e encontrou solidariedade intensa e abundante, essa mesma solidariedade que não souberam materializar em um litro de água sequer. 

Por outro lado os portugueses saíram de seu país, percorreram milhares de quilômetros para irem levar em mãos a sua ajuda. Depois ainda outras mais caravanas desse povo cálido, que se solidariza com a dor do próximo, que sente a comunhão com quem está numa situação difícil, que se movimenta e partilha o pouco que tenha para que seu próximo não sofra mais. Hoje ocorre uma campanha onde os artistas, os músicos, os cantores, toda gente se movimentou para arranjar fundos. Onde o dinheiro escasseia, onde se está vivendo um momento difícil, esse povo não faltou, e está dando seu dinheirinho para acolher os refugiados, sabedores de que a ajuda europeia será insuficiente, e porque querem fazer mais e melhor. Tenho muito orgulho em descender dessa gente, nobre raça, com imenso coração, que deu com o mesmo gesto amplo, com a mesma solidariedade, com a mesma proximidade, ouviram o que disse D. Dilma na abertura da assembléia da ONU? São assim os portugueses e brasileiros. Eu tenho orgulho de ser brasileiro e de descender de portugueses. 

Sabem, sempre tenho em perspectiva o modo de ser das pessoas, individual e coletivamente, para avaliar de seu valor, de sua validade, aquilo que possam ter a ver comigo, o que me possa aproximar delas ou não, em vez de interesses, posições, se têm dinheiro, ou não, se me interessam culturalmente, ou não, se me são convenientes, ou não, se me trarão alguma vantagem, ou não, como sói fazer a maioria da gente segundo tenho notado, sempre escolhi meus amigos entre os excêntricos, entre os artistas, entre os poetas, entre os sonhadores, e não entre os mais bem bafejados pela matéria, os mais bem colocados nos postos interessantes desse mundo, e não me arrependo, os mais bem postos que se tornaram meus amigos e continuaram como meus amigos, o foram e o são, porque têm essa característica santa de serem foras de série, de serem especiais, de sentirem as coisas mais valiosas desse mundo e por saberem que essas não podem ser medidas em números, pesos e medidas. Assim quando encalhei em Portugal, deixei-me estar pela imensa empatia que tenho com essa gente, essa gente valorosa, capaz de grandes sacrifícios, e de gestos de uma nobreza que poucos outros grupos humanos são capazes. Admiro mesmo essa gente, e respeito essa forma de estar.

Em vista de tudo que estão fazendo, e como foi O ÚNICO PAÍS a ir ao encontro dos refugiados para dar sua solidariedade irrestrita, não podemos negar que eles sairam na frente de toda a gente, não podemos negar que estão, mais que todos, OS PORTUGUESES NA FRENTE !

Aproveito a oportunidade desse artigo para comentar que esse movimento que reuniu no Teatro São Luís a ação intitulada LISBOACOLHE,  que a RTP1 transmitiu ao vivo, com  a participação de artistas portugueses de diversas áreas, numa gala para recolher fundos que podem ir dos cinquenta cêntimos (custa sessenta) através do número solidário: 760 200 250  até milhares na transferência bancária para o  NIB: 0018 0003 4037 409 2020, dinheiro destinado ao Conselho Português para os Refugiados  e ao Serviço Jesuíta aos Refugiados. Isso é Portugal e os portugueses!

domingo, 27 de setembro de 2015

Decisión indecisa.






Cataluña no es España
Cataluña España es
Si la pierde, o si la gana
No la tiene bajo pies.

Puede uno no creer
Suelen todos desear
Cataluña y España
Lograrán se separar?




2ª VERSÃO

Catalunã no es España
Cataluña España es
Si la pierde, o si se engaña,
No la tendrá bajo sus pies.

Pueden todos no creer
Suele uno desear
Cataluña y España
Lograrán se separar? 

Pessoissimamente. (- P3)






Com suas palavras
Cercando
Dizer nunca à toa
Fernando
Pessoa.

Orai, perdoai e vigiai.





Sabedor dos riscos que corre e crente profundo, vai pedindo a todos que orem por ele. Francisco não perde oportunidade de solicitar orações, como é que isso funciona?

Odeia o pecado, mas ama o pecador nos diz a Bíblia, para amar é necessário perdoar, aceitar, incorporar, e é essa a preocupação de Francisco. Como é que se faz?

Só há uma maneira de estar honestamente no mundo, é cuidando dele, das coisas que acontecem nele, porque somos todos responsáveis. No episódio de José com os irmãos, que acabam por traí-lo, roídos pela inveja, ressoa uma frase à qual devemos prestar particular atenção: "Sou por acaso guardião de meu irmão?" A resposta é um inequívoco sim, por isso havemos de guardar e vigiar. Como é se faz isso?


Ele se vai precavendo face dos interesses poderosos que incomoda. Tem de os incomodar, para isso foi escolhido, e não fugirá, ou resignará, sabe que é o cordeiro da oferta, está pronto a morrer a qualquer instante, mas não pode recusar a oferta, se não tudo perde sentido, sua vida perde sentido, sua razão de existir e sua missão que aceitou não se consumarão, por isso tem de prosseguir, estar na estrada como ele diz, e acrescenta que prefere morrer na estrada do que não prosseguir com sua missão. Está tudo dito, mas para prosseguir a missão é necessário estar vivo, e sabe que só uma coisa nesse mundo o manterá vivo: A opinião pública. Não conteriam as forças que se desencadeariam se ele fosse morto, sabedores disso seus inimigos escondem-se nas sombras das suas transgressões, não como fizeram ao primeiro João Paulo, que mataram intramuros, eliminando esse apostolado de consertos, morreu antes mesmo de os tentar, mataram-no só por o querer tentar, isso com Francisco tornou-se logo impossível. Ao segundo João Paulo atribuíram, numa nova estratégia, a ação de eliminá-lo através de forças externas, Mehmet Ali Agca é o escolhido, e João Pulo ainda teve que guardar segredo para evitar uma convulsão com o conhecimento da verdade, depois na visita a Fátima é um padre que irá tentar, mas a polícia portuguesa é mais eficiente e evita o atentado, Juan Fernández Krohn, o segundo escolhido para a missão de eliminar João Paulo II, um padre da Sociedade  Santo Pio X, é percebido e detido antes de consumar seus propósitos assassinos. Assim em menos de um ano, ou no exato espaço de um ano, tentaram duas vezes, e João Paulo mudou de estratégia para não ser morto como fora seu antecessor. Seguiu-se o homem da Cúria, o décimo sexto Bento, que vendo a maré refluir contra sua governança, e com medo do que pudesse acontecer, resigna, Francisco o sucede, logo lança-se debaixo dos holofotes da opinião pública que sabe ser o único poder na Terra capaz de o defender, e, crente convicto, recorre a Deus que o escolheu para o ajudar a completar sua missão, é assim que ele começa a pedir orações por si, para que não morra, para que Deus o proteja. 

Uma Igreja excludente divide, separa, afasta seu rebanho. E afinal de contas Deus não é perdão, tolerância e amor? Então com que direito seus representantes na Terra não perdoam, apontam, restringem, excluem milhares de cristãos em virtude de sua opção sexual, em virtude de terem rompido uma relação humana, e, talvez, por terem começado outra, excluindo também o destinatário desse afeto, novo par da nova relação? Assim dentro dos melhores princípios cristãos, os quais a Igreja tinha repudiado, Francisco introduz uma diretiva incontestável à luz do texto da Boa nova, dos Evangelhos, à luz do texto bíblico: o perdão. Há que perdoar, e concita a todos a fazerem-no. Perdoar, não aceitar o pecado, mas amar o pecador, perdoando-o, e o reintroduzindo na vida da Igreja, uma coisa tão simples, e as reações que tem gerado, a força do preconceito, do ódio, não só ao pecado mas também ao pecador, da exclusão, da pretensa pureza do rebanho que seria conspurcado por esses pecadores, toda a hipocrisia e pretensão dessa gente, sua vaidade, orgulho e presunção, que Francisco deu combate com sua sabedoria e firmeza, expressas numa ordem: Perdoai!

Por fim se incluíndo na realidade da vida no mundo, como todos nós, pois não foge dela escondendo-se por detrás de uma espiritualidade, que, apesar de ser inerente ao Vaticano, não o exclui do mundo declarando uma neutralidade em relação aos temas prementes de nosso tempo, como se vivessem nas nuvens, não, Francisco busca respostas para as coisas do mundo tanto como para as coisas do espírito, não se exclui, não se nega, não foge, vigia, e com sua vigilância, com sua presença, pede a nossa vigilância, nos concita a sermos presentes, e mais que tudo aconselha: VIGIAI!

Esse o tripé, por enquanto, ainda haverá outros pés, da ação de Francisco, franciscana em sua essência, papal na sua condição,  perfeita na sua escolha. Um tridente a fustigar o mundo, com as forças de um Netuno indômito, com a bravura de uma combatente heróico, e com a candura de um pai extremoso. 

A nós que queremos o bem do mundo, só nos resta seguir suas pegadas, e vigiando e perdoando, ORARMOS POR FRANCISCO.

sábado, 26 de setembro de 2015

Ocaso d'alma.

Perdoem-me, há certos dias, não de melancolia, nem de uma tristeza que se apresente em mim, mas de sentir que o mundo não é só feito de sorrisos e alegrias, há também desencantos, e em respeito a outros que sofrem e estão tristes, desiludidos, e melancólicos, segue o poema:





Sombras longas, sombras outonais
De fim de tarde
Quando elas se alongam mais
E sem alarde
Nos restos do meu coração sem umbrais                                    
Então guardam
Toda a extensão dos meus ais
Que ainda ardam
Com meus sonhos, ademais
Extensão que se resguarda
Na influência de outros males viscerais
E que mesmo assim nunca tarda,
E, junto com essas sombras, me ensombra mais.






sexta-feira, 25 de setembro de 2015

EIL - O Homem é o lobo do Homem !









                                          




THROUGHOUT HISTORY, THEY'VE BEEN MADE TO ANSWER FOR THE SINS OF MEN




Escrevi esse poema quando vi os assassinatos do Estado Islâmico com suas degolações*, saibam que não acabaram, e muito desiludido com a natureza humana, esquecendo o lado de maravilha que também há, saiu-me assim:


Uivou-se.


Lobos vorazes
Forças tenazes
Em alcateia
Do que são capazes
Com essa ideia...

“O homem é o lobo do homem”
Só, ou em matilhas
Presença feraz
Para lançar armadilhas
Confrontos faz
Não deseja paz,
A destruir sintonias.


Quem sabe bem que é agonia?


* Não publiquei na época para não dar mais visibilidade àquele horror, hoje publico para lembrar que ainda nada foi feito de efetivo para os conter.

A mediocridade que impera!








Estive relendo alguns artigos meus para edição, e encontrei um de mais de um ano atrás onde previa tudo isso que está acontecendo com os refugiados, Veja no blog: 20 de Junho- Dia mundial do refugiado. Pois foi nesse dia, o título é esse, e falava de tudo isso que está acontecendo hoje. Agora pergunto: Serei eu o único 'super gênio' que viu isso? Claro que não !  Há pessoas muito mais dotadas do que eu, que sou comum, pra analisar tudo isso, e nada fizeram! Porque? Porque os que têm a responsabilidade política é que são medíocres. Lamentavelmente!


Essa gente que calhou estar no poder pelos diversos países é o que há de pior, a história certamente não os perdoará, mas enquanto isso, como são da nossa época, vamos pagando o preço, para muitos um alto preço. Claro que o caso dos refugiados, como não lhes dizia respeito diretamente, e tudo que iam passar e sofrer esses desgraçados não lhes doía, nada fizeram, e hoje andam a reboque, para remediar o que não mais tem remédio. Eles se contam por milhões!

O mundo está em convulsão, há hoje mais refugiados que na segunda grande guerra, ou seja se somarmos as guerras hoje em curso elas afetam mais gente que a segunda grande guerra afetou, só não produzem tantas mortes por falta de armamentos de grande porte dos que promovem as guerras de hoje. Leiam lá o artigo, ponham no motor de busca que ele aparece na primeira página no Google, e se puserem junto com o nome do blog é a primeira que aparece.    

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O Brasil em recessão vai entrar em 'default'.






O Brasil não pode ter dívida. O Brasil, assim como os Estados Unidos e a China, é um gigante solitário, por isso tem de se gerir por si mesmo, só consigo mesmo, mas diferentemente dos Estados Unidos da América do Norte, que, pela pujança econômica e bélica, pode ir vivendo sua incongruência financeira vendendo mentira sobre mentira que todo mundo compra, o Brasil não pode! 

Enquanto os que gerenciam o Brasil não entenderem que não podem haver contas não certas, buracos, e dívidas, o Brasil não deslancha verdadeiramente. Foi por momentos a quinta economia do mundo, e já voltou à sétima posição, e vai a caminho da oitava. O povo brasileiro não merece isso! É tão fácil com as potencialidades brasileiras subir, crescer, enriquecer, mas para isso tem de ter as mãos livres, o Lula entendeu isso claramente criando uma classe média, uma forma de depender mais de si mesmo, e ao pagar a dívida externa. O Brasil não pode se dar ao luxo de estagnar. A estagnação em nosso país gera imediata inflação. É preciso que se entenda que o Brasil é uma economia muito especial, porque para competir em mercado aberto, com todas as grandes economias do mundo, necessita de trabalhar em escala, projetar o futuro para acreditar no seu presente como um caminho de crescimento, e para que todos acreditem, para isso necessita de suporte num processo que seja contínuo. É por isso que um governo ativo e presente é essencial. Cada parada dessas, cada momento de espera, custa-lhe muito, pelo que compromete o futuro, e pelo que rouba ao presente. 

E o que pode impulsionar o Brasil é distribuição de riquezas, e custos baixos, para formarem as bolas de neve que gerem o crescimento da economia que está voltada para o interno e para o externo, por um lado tornando competitivos os produtos brasileiros, e por outro permitindo aos consumidores brasileiros poderem consumir mais. Não podemos ter posturas venezuelanas, onde tudo depende do petróleo, a economia brasileira é rica e variada, tem é de se tornar cada vez mais competitiva e mais variada, e aí ainda o mesmo paradigma interno e externo, porque com a diminuição do custo Brasil em ambos os parâmetros, em ambas as frentes, vive-se uma situação verdadeira a longo prazo, a diminuição feita pela desvalorização cambial em qualquer molde, provocada ou verdadeira, é sinal de pobreza, é perda de valor real; os ganhos de produção se obtêm com a diminuição dos custos de produção e o aumento da produtividade, como o Brasil pode pensar em aumentar sua riqueza econômica com o custo Brasil sendo o descalabro que é? E sem aumento da riqueza, aumento do bolo, não pode haver maior distribuição da mesma, nem mais postos de trabalho, nem mais crescimento econômico, que se alimenta dele mesmo, mais rico, mais rico se torna. Os interesses que se fazem representar no Congresso, as forças, que nada têm de ocultas, mas têm de perniciosas, porque agindo em seus interesses e daquele aos quais representam, agem contra o país. O Brasil para ter governo precisa baratear-se, precisa que os custos, da energia, dos impostos, dos transportes, et cetera, sejam coibidos, e quem quiser governar o Brasil os terá de coibir à qualquer custo, para isso terá de peitar os que se beneficiam desses custos serem elevados, e isso implica em peitar seus representantes políticos. Não comprando seus votos, mas os denunciando, e com o apoio da opinião pública, esse agente de poder infinito, obrigá-los a atender aos interesses do Brasil.

Se isso não for feito já voltaremos aos tempos de antigamente, e a classe média irá minguar, a recessão econômica vai se apresentar com força, e haverá 'default' incumprimento de suas obrigações, não as externas que o FMI estará contente em voltar para impedir isso, mas as internas, porque há obrigações para com o povo brasileiro, que constrói esse grande país, que se devem manter, e elas são basicamente três: 1. A formação contínua de uma classe média. 2. A geração de emprego. 3. A manutenção eficaz do Estado Social ( saúde, educação e aposentadorias a bons níveis) O resto é acessório (luxos, boa figura, falsa grandeza) poderia ter escrito: estádios, parques, projeção internacional e coisas que tais...  


Não têm os olhos fatigados? Não têm a alma cansada?






Sucedem-se  os contrastes fortes
Nas fotos
Sucedem-se as diversas mortes
Nas fugas
São refugiados
São injustiçados
Porque falta-lhes um destino
Porque falta-lhes um caminho
Porque falta-lhes um sorriso
Vêm-se as fotos
Não as gentes
Tudo muito lentamente.
Não, não têm,
Não, não têm,
Mais cegos são aqueles que não querem ver.


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Tempos modernos. (Da série: No universo das palavras.)





Não não tem nada a ver com cinema, ainda que tenha tudo a ver, apesar de eu adorar o filme deste título, aquela cena de apertar os botões do casaco da senhora é um achado, Chaplin era mesmo exepcional. Essa crônica é um reparo sobre a agilidade dos nossos tempos, ditos historicamente contemporâneos, e contemporâneos serão dos que neles viverem todos os tempos em que esses vivam, mas não se encontrou nome melhor, fico a espera de como irão denominar a próxima era na qual já entramos, e modernos, em oposição aos antigos, será para cada um de nós os tempos que nos forem próximos, que nos referencie de alguma maneira, opondo-se àqueles que não têm nada a ver conosco, nos sendo, destarte, estranhos, alheios, portanto de uma outra época que não a nossa, e os classificamos genericamente de antigos.

Portanto desses tempos que têm a ver conosco, dos ditos modernos, resulta uma primeira causa imaterial que transversalmente traspassa toda a gente, a pressa. Sim vamos cada vez mais vivendo tempos apressados, desde sempre vos digo, e aqui,  para afirmar isso, apoio-me no antigo provérbio latino que professa com firmeza: Bis dat que cito dat, mostrando já a valorização da urgência, pois duplicava o valor da dádiva se ela fosse ágil, rápida. 

Com o pausado passar do tempo a situação agravou-se porque os anseios deixaram de ser por rapidez, para reclamarem atendimento, satisfação, solução pronta, de tal ordem que começamos, sobretudo graças aos avanços da técnica que permitiu existirem máquinas, que aceleraram a satisfação das pretensões dos modernos, sempre mais rapidamente à medida que avançávamos no tempo, porque a tecnologia forneceu os meios para essa rapidez, a rejeitar tudo que fosse normal.

Tudo isso se reflete em tudo no que é do homem, sua saúde, sua casa, seu trabalho, suas relações, sua família, sua língua. Algumas dessas influências não são pela positiva infelizmente, posto que outro ditado nos ensina que a pressa é inimiga da perfeição, no extremo, mas a pressa é sempre inimiga de tudo que é feito pelo homem, as máquinas não, para elas esse fator não conta, para o homem sim, modifica de tal modo sua gramática, lato sensu, que sua prática torna-se defeituosa mor das vezes, torna-se insatisfatória ou incompleta; para não dar ideia péssima, que é a que fica, da ação da pressa em nossas vidas, não nos referiremos aos efeitos, em sua maioria danosos, que resultam dessa opção naqueles pontos a que me referi: na saúde, na casa nas relações et cetera, mais podemos verificar que essa pressa evoluiu, quanto mais modernos se tornaram os tempos, em aflição, aflição essa que atende pelo nome de imediata, na atenção cada vez mais pronta àquela pronta solução.

A busca da instantaneidade, de soluções cada vez mais repentinas, resultou, em seu reflexo linguístico, em quatro palavras para isso originadas do adjetivo: imediatez, imediatismo,  imediatidade, e imediaticidade, que querem dizer todas, rigorosamente, a mesma coisa: qualidade do que é imediato, que é a tal qualidade tão almejada por uma humanidade a viver numa velocidade cada vez mais frenética. O oposto a imediato, que é lento, moroso, vagaroso, demorado, só possuem um único substantivo, cada uma, para definir sua qualidade, o que revela ser uma qualidade menos apreciada. A ânsia antiga que nos envolveu desde sempre, e que os antigos consideravam que era dar duas vezes quem desse depressa, numa faina de agilidade que progrediu sempre e que progride sem parar, e que vai parar um dia quando chegue ao fim, pois que tudo tem um fim, e o fim da pressa é muito conhecido: é o trambolhão, o defeito, a imperfeição.


Imersos na busca do imediato perdemos a sensação da fluidez do tempo, e com essa perda a consciência de sua fluência, que é a melhor influência que possamos ter, pois a aceitação daquilo que não podemos modificar é a melhor política, como paira na oração de São Francisco, e que deixar seguir a onda, que é sempre o melhor remédio, aproveito e lembro um pagode que o Zeca cantando com sua rítmica evocativa nos dá uma lição existencial: "Deixa a vida me levar. Vida leva eu!!!....Se a coisa não sai do jeito que eu quero, também não me desespero,.... Vida leva eu! Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu."   

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O plancton e o plástico.










Existem coisas de natureza tão diferente cujo aspecto é muito próximo, assim são as nuvens e o algodão, o vidro e o cristal, a louça e a porcelana, o plástico e o plancton, coisas que semelhantes, são tão diversas, que, porém, pela similitude, se permitem confundir. Não são muitas, e, a confusão na maioria dos casos não causa damos, porém a de nosso título, é fatal!  

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Agora o terror!






Porretadas que abrem as cabeças às crianças, gás que envenena bebes, baixar o cacete em toda a gente, estabelecer uma zona de conflito a troco de tão somente não deixarem passar os refugiados, não é certamente a solução mais inteligente. Porém, inteligência a parte, eu que nunca mais ponho os pés na Hungria, nem para terminar uma pesquisa que poderia requerer mais detalhes, a dou por concluída, não posso compreender que essa situação não fosse evitada, já que evitável, a não ser por vontade do terror!

Vontade de semear o terror, ofender as pessoas, machucar as pessoas, humilhá-las, para evidenciarem que elas não são bem vindas, quando a sua imensa maioria já se dirigia para esse ponto de fronteira. Gente que está um pouco perdida, sofrida de longas deslocações, com crianças ao colo, em marcha forçada, ao relento, sem as mínimas comodidades, dormindo ao frio, quando conseguem dormir, sem banho, sem arear os dentes, sem lavar a cabeça, ou o rosto, ou fazer a barba, sem privacidade para irem fazer suas necessidades, que fazem no mato, após tudo isso, em vez de encontrarem simplesmente uma assistente social que lhes dissesse tão somente o seguinte: As fronteiras estão fechadas, desculpem, vocês terão de tomar outro caminho, o que, decerto, evitaria a violência e retiraria o terror de se juntar à já longa lista de sofrimentos desses infelizes, cujo sofrimento maior está na origem, e que foi terem que deixar tudo para trás: casa, família, amigos, cidade, hábitos, empregos, referências, para se lançarem nessa jornada penosa, que já perto do final, onde aguardam um sorriso e algum acolhimento, receberem bastonadas, gás lacrimogêneo, prisões, processos, agressões de toda ordem, motivados pelo simples fato de não os querer deixar passar. A Romênia está dividida, uns aceitam os refugiados, outros não, mas essa postura leva a que a população não tenha alcançado a unidade ou uma homogeneização, essa que transforma um país numa nação.

Se algo justifica isso, por favor que me esclareçam, não consigo compreender. Na Hungria nunca mais ponho os pés, como ainda não fui a Alemanha, porque  não consigo esquecer, e porque penso que minha presença física seria um pouco como justificar tudo que houve, me dirão que foram outros, sim foram, mas são os pais e avós desses, é todo um modelo de vida, uma forma de sentir que me é estranha e da qual não pretendo me aproximar. Tive um busto do Goering para vender por força de minha profissão, aliás muito valioso, nunca o tive dentro de casa, ficou na varanda, até que me pude livrar dele, mesmo com prejuízo. Dirão alguns que é preconceito, sim é! Tenho um enorme conceito prévio de ser contra assassinos, de não tolerar injustiças, e de não aceitar o terror!

Eu que nunca escrevi nada que envolvesse uma referência pessoal, porque acredito que as coisas devem ser tratadas com distância, para serem bem colocadas, nesse texto fiz revelações, mas não fujo a elas. Que mais vos posso dizer? AGORA O TERROR!



P.S. A Hungria deve ser expulsa da UE. um país que age como a Hungria tem agido, pode ser Africano, do Médio Oriente, dos quintos dos infernos, mas não europeu! 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

"Mama Merkel help me."









A frase título escrita à mão num cartaz de um refugiado à beira da fronteira húngara, impedido de passar, define tudo que se passa, marca um momento da história. Porque essa crise irá passar, todos nós iremos passar, a Sra. Merkel irá passar, mesmo os refugiados irão passar a outra condição e com mais tempo todos deixaremos de existir, o que existirá para sempre é tudo que fizermos, são nossas ações que permanecem e perduram pela eternidade, pois tudo o que fazemos de bom ou de mal, fica.


Hoje, mais que tudo, o registro histórico é visual, fica a imagem, poderosíssimo documento, denunciando para sempre tudo que se passa, com a eloquência instantânea que possui e que substitui a de 'mil palavras ' com a vantagem da prontidão e do imediatismo que possui. Teremos para sempre memórias específicas que definem uma época, recordações intransponíveis que representam essa época, que podem ser inexatas, podem ser redutoras, ou mesmo truncadas, mas que, por sua eloquência, serão as que permanecerão para além de qualquer outra verdade histórica, assim Napoleão nunca se livrará de Borodino nem da travessia do Berezina, assim como os alemães nunca se livrarão de Treblinka, Buchenwald, Auschwitz, enfim, do Holocausto.

A força daqueles homens, mulheres e crianças, pele e ossos, a força de sua imagem de miséria e inumanidade, nunca se apagará das retinas que as contemplaram ou que as contemplem, sendo por si só um libelo acusatório sem possibilidade de defesa.

Mama Merkel perderá uma oportunidade de ouro de minimizar perante mundo esse libelo que acusa  seu povo por toda a eternidade, se não atender ao pedido do menino do cartaz, porque o refugiado que carregava o pequeno cartaz era uma criança, porém se mandar imediatamente helicópteros para a fronteira húngara, helicópteros a que os sérvios receberão com agrado, para resgatar aqueles milhares impedidos de passar à Hungria que permanecem na prisioneiros na Sérvia, e cujo destino pretendido é a Alemanha, se o fizer conseguirá aos olhos do mundo resgatar um tanto do horror acusatório que pesa sobre a Alemanha, e que perdura, e que só ações desse calibre, muitas vezes repetidas, poderão, não direi apagar, mas minorar um pouco a condição diminuída da Alemanha perante a História.


'Mama Merkel' atenda ao angustiado pedido que lhe é dirigido, mostre ao mundo que o povo alemão não tem nada mais de nazi, mostre a solicitude e boa vontade de vossa sociedade, a força da sua cultura, a sabedoria de vossos filósofos, a boa intenção dos vossos políticos, que do vosso poderio econômico, da vossa força industrial, e do vosso antigo poder bélico bem sabemos.

Essa gente é uma vergonha.




As mortes continuam,  o Mediterrâneo se transforma cada vez mais em vala comum, a decência escorre pelo ralo como se a Europa fosse já o que não é, se esquecesse do que sempre foi, berço do desenvolvimento humano, inclusive e sobretudo no âmbito do humanismo e da filosofia, essas coisas que fazem aos homens humanos, fazem-nos diferentes dos animais, estes mesmos que enjaulamos por não lhes reconhecer o Direito fundamental da liberdade, essa matéria tênue sem a qual um homem não é homem, esse bem que retiram as sociedades para punir àqueles que desobedeceram suas leis, esse bem cada vez mais escasso num mundo em guerras disseminadas por toda parte, essa essência preciosa que cabe evocar.

Enquanto isso os dirigentes, Ministros  e Primeiro Ministros dos diversos países europeus sucedem as reuniões para não chegarem a conclusão alguma. ASSIM COMO OS REFUGIADOS ESTAMOS TODOS PRISIONEIROS DAS LIMITAÇÕES DESSA GENTE!

LIBERDADE:

Evoca-la-ei de formas extremas. Primeiro com a poesia de um português que nasceu nesse dia de hoje há um quarto de milênio, chamava-se Bocage, era poeta, e dizia evocando:

"Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo que desmaia.
Oh! Venha... Oh! Venha, e trêmulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao mortal, que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade!"


Segundo com a poesia musical samba enredo da Imperatriz Leopoldinense em 1989, que  dizia evocando:

Liberdade, Liberdade!
Abre as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz,
Liberdade!, Liberdade!
Abre as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz!!!

E se esses dois extremos tão opostos não forem suficientes para fazerem entender a esses 

medíocres que se reunem para decidir do acolhimento dos refugiados na UE, essa gente 

que pondo em risco suas vidas clama por um bem mais precioso que o pão, e que cada 

minuto conta, e sendo de atraso é contra-natura, é uma aberração dos que não entendem 

nada de nada, nem da urgência, nem da carência, nem da solidariedade, essa mão 

estendida que não pode faltar na hora certa, e muito menos de liberdade. Como não 

entendem, dou-lhes uma terceira dose, a pessoana, para que saibam que não pode haver 

nem preconceitos nem cálculos nessa hora, como Jesus, são refugiados!


Terceiro: a voz de Fernando Pessoa, era português, era poeta, e dizia evocando:

Liberdade

"Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original. "
.......................................................
E concluía:

"Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca... "

P.S.
Como eu afirmava horas atrás não se pode esperar nem mais uma hora  E MARCAM A NOVA REUNIÃO PRA DAQUI HÁ UMA SEMANA,  é uma vergonha, ou melhor a falta dela, a Europa nunca poderia agir assim.


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

BOCAGE NUM QUARTO DE MILÊNIO DO SEU NASCIMENTO.






                                                                                                              *  15 de Setembro 1765 -2015.
                                                                                                              ÷  21 de Dezembro 1805- 2020

Setúbal resolveu fazer com atraso homenagens neste passado 15 / 9, 255 anos de seu nascimento. Toda homenagem é pouca para Manuel Maria Barbosa du Bocage. E devemos sempre lembra-lo. 

Um génio além de seu tempo, explodindo em meio à mediocridade dominante, motiva todas as invejas, todas os ódios, com sua cascata de magia. Romântico antes do romantismo, moderno onde não havia modernismo, enfim uma modernidade pagã, contra tudo e contra todos, Bocage é Bocage.

No sesqui-bicentenário, seu quarto de milênio de nascimento eu o homenageei com um poema.
Segue o poema:


Se houve boca de ultraje
E que ninguém pôde calar
Foi a boca do poeta Bocage
Cantador a despregar.

Canta o povo, canta o amor, canta o desejo
Canta, canta, canta os falsos para os acusar
Canta o arrojo, a volúpia, mesmo o cantar, e do ensejo
Seu canto chega mesmo a delirar.

Delírios da vida pungentes,
Delícias de os fazer,
São os poemas pulsantes
Do seu pronto dizer.

Por as saber descentradas
À todas as coisas reage,
As fazendo iluminadas
À luz única de Bocage.

E para empalecer minhas pobres rimas, lembremos quatro poemas dentre os que mais gosto do grande vate, para além de seu Auto-retrato, visto aqui em diferentes registos (o romântico, o satírico, o erótico, quase pornográfico, o amoroso) :

Nascemos para amar; a Humanidade
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.
Tu és doce atractivo, ó Formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão na alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.


Morte, Juízo, Inferno e Paraíso

Em que estado, meu bem, por ti me vejo,
Em que estado infeliz, penoso e duro!
Delido o coração de um fogo impuro,
Meus pesados grilhões adoro e beijo.

Quando te logro mais, mais te desejo;
Quando te encontro mais, mais te procuro;
Quando mo juras mais, menos seguro
Julgo esse doce amor, que adorna o pejo.

Assim passo, assim vivo, assim meus fados
Me desarreigam d’alma a paz e o riso,
Sendo só meu sustento os meus cuidados;

E, de todo apagada a luz do siso,
Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados
Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.


Soneto de Todas as Putas

Não lamentes, ó Nise, o teu estado; 

Puta tem sido muita gente boa; 

Putissimas fidalgas tem Lisboa, 

Milhões de vezes putas teem reinado:


Dido fui puta, e puta d′um soldado: 

Cleopatra por puta alcança a c′ròa; 

Tu, Lucrecia, com toda a tua pròa, 

O teu cono não passa por honrado:


Essa da Russia imperatriz famosa, 

Que inda ha pouco morreu (diz a Gazeta) 

Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta: 

Não fiques pois, oh Nise, duvidosa 

Que isto de virgo e honra é tudo peta.


O Leão e o Porco

O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.