sábado, 31 de outubro de 2015

Pré visão da atual situação política em Portugal.










Era o meio de Setembro do não passado, portanto há bem mais de um ano, e eu fazia perguntas sucessivas sobre as possibilidades,  as necessidades do PCP e a inviabilidade também, dada às mudanças conjunturais que já antevia, da participação dos comunistas na governação portuguesa. O artigo se intitulava: Um governo com, ou do partido comunista. E, permitam-me a vaidade, acertava na mosca, 'na mouche' como preferem dizer os portugueses afrancesadamente. Tá tudo lá, para que não se dêem ao trabalho de irem procurar entre centenas de artigos, lhes facilito a vida, segue-se o texto:

 




O eleitorado por toda parte, e em particular o europeu, está descontente, desiludido, e distanciado dos partidos que sempre fizeram a alternância  do poder, sendo eleitos por mandatos sucessivos desde que se estabilizaram no pós guerra as correntes de pensamento dominantes, polarizando-se durante a guerra fria, anos 50/70, com uma demarcação mais efetiva entre esquerda e direita, pela força da oposição entre os que projetavam suas ideias como do seio da democracia em oposição às que vinham do leste europeu, da autocracia, para lá daquela cortina que o discurso de Churchill caracterizou como de ferro. Dispensando todos os excessos e invenções de caráter dramático, que visavam assustar os ingênuos e dividir as águas de dois mundos mutuamente excludentes. Os comunistas comiam criancinhas, lembram-se?

Caído o muro de Berlim, rompeu-se e esfrangalhou-se a cortina com sua queda como símbolo central, os interesses mais inconfessáveis ascenderam, e a credulidade e a pureza de uma certa esquerda perdeu-se para sempre. Viu-se na Rússia comunista surgirem titãs e 'tacoons', políticos e econômicos, viu-se toda a presença do proletariado ser afastada para dar espaço à ganância desenfreada e a um capitalismo mais selvagem que a maior selvageria do verdadeiro capitalismo, cristalizando-se lentamente com garras profundamente fincadas nos países por ele tutelado, surgindo, nos ex-comunistas, uma ganância desmedida, filha dos muitos anos de coerção, era como se vivêssemos a saga da Igreja do diabo, tão bem desenvolvida no conto machadiano. Muitos partidários que mantinham-se nas suas convicções, perderam a coragem de continuar a chamar de comunista seus partidos, em meio a uma democracia, sem terem mais o bloco de leste, a grande União, para apontarem como exemplo de desenvolvimento e equalitarismo, se é que algum dia foi exemplo quer de uma coisa ou outra. Não obstante toda esta mudança no mundo que globalizava também ideias e tendências, em Portugal o antigo e consolidado Partido Comunista Português, o PCP, resistiu conservando seu nome que em breve será centenário, recaldeado pela clandestinidade longa a que esteve sujeito.

Esta dissolução das linhas divisórias das ideias que vinham do 1918, transformaram, com um pouco mais de fôlego, todo o quadro que se conhecia, esfarelando a esquerda, desacreditando a direita e outros mais ao centro que não conseguiram promover soluções para os problemas sociais e muito do que postulavam perdia-se no vazio da implementação incongruente e da pouca convicção de valores, que a esquerda queria manter mais límpidos, e que a avassaladora presença ditatorial dos mercados econômicos relegava para o plano dos boas intenções. (Diferentemente do conto de Machado de Assis a dissolução das linhas divisórias não permitiu a solidificação do 'status quo ante', mas sim o descrédito de todos os envolvidos.)

Tudo foi num crescendo, de crise em crise, onde alguns embolsavam quantias inimagináveis para o cidadão comum, criando milionários em número dissonante com o número muitas vezes exponenciado dos pobres que as mesmas situações geravam, e de bilionários com números mais perversos ainda,  até que o descrédito foi se avolumando para todos os envolvidos, sobretudo para os políticos, jogando os eleitores nos braços de correntes populistas, quase sempre colocadas nas estremas do quadro ideológico, o que não exclui o populismo simples, dos que fazem uso dele sem base ideológica nenhuma, só visando iludir o grande número de susceptíveis a este canto de sereia, porque já não têm mais nada para acreditar. E neste impasse nos encontramos presentemente.

Agora espera-se que vá ocorrer uma dispersão cada vez mais intensa e resoluta dos votos que se concentravam naqueles antigos partidos preferenciais, que compunham o que em Portugal usa-se chamar do arco da governação, uma tolice designativa como outra qualquer, partidos que se vão esvaziando a pouco e pouco por falta de credulidade, e criando inesperadas surpresas eleitorais a cada eleição que se realiza, pela vontade de se buscar algo diferente. Os exemplos italiano e francês são os mais visíveis. Entre esta dispersão que ocorre, algo se concentra nos comunistas por toda parte.

Suponhamos que, após mais algumas eleições, os comunistas atinjam um volume de votos que lhes proporcione uma representatividade tal  que lhes permita estabelecer governo, estaríamos na outra face da medalha, teríamos revertido a situação, invertido as expectativas, e seriam de se esperar soluções que atendam a razão subjacente que os terá levado a esta votação: o desejo de soluções para a manutenção do estado social e as conquistas deste, e, evidentemente, da classe operária. A desculpa de que o sistema comunista só traz  soluções com a implantação da sua plenitude (ou seja o pleno sistema comunista com um só partido) não mais procede, porque onde esteve implantado com todo o poder, desmontou-se e caiu tão fragorosamente, que creio nunca voltará, tão ensurdecidos ficaram os que ouviram de perto. Hoje o comunismo tem de viver dentro das regras democráticas, nada mais de partido único, convivendo com a alternância e com regras e normas constitucionais que não se alterarão por mais numerosos que cheguem a ser. Logo, entre as responsabilidades que terão de assumir, está a de formarem governo em coligação com outro(s) partido(s), não se escusando ao jogo democrático para o qual sejam eleitos, uma vez que o postularam ao candidatarem-se.

É claro que a maneira mais simples de evitar isto é fazer imposições programáticas prévias, que digam ao eleitorado que se eximem nestas e tais circunstâncias, permitindo-lhes continuar em seu isolamento, é bem o que estamos verificando na atual conjuntura. Poderá esta situação permanecer? Poderão os comunistas afastarem a possibilidade de participarem do jogo democrático indefinidamente? Abandonarão esta linha, até agora estrutural, de serem um partido de oposição, e aceitarão ser um partido de governo? Ou momento chegará em que o eleitorado lhes sinalizará que, ausentes, sozinhos, sem participarem, não cumprem as expectativas dos que lhes sufragaram, recusando-lhes, portanto, o voto? O jogo político sempre continua, ou a gênese do comunismo o exclue? E no caso português? Haverá diferenças?

 Creio que antes do que se imagina, subordinados ao desejo de sobrevivência política, ver-se-á um governo com o PCP. E porque não? Afinal eles não comem criancinhas.

Volta Lula!





Se eu tivesse escrito duas vezes a palavra volta no título, pareceria a música do Lupicínio imortalizada na interpretação da Gal, no entanto é exatamente o sentimento de não mais poder que denuncia a música de Lupicínio, que hoje afeta o Brasil. Sei bem a regularidade de Dilma, mas, infelizmente, falta-lhe o jogo de cintura de Lula, que conclamando seu eleitorado conseguia fazer frente os negocistas que ocupam as duas câmaras em número surpreendente, diminuindo desse modo o volume dos "necessários" subornos. Triste realidade dita de uma maneira até bem ligeira, porque a sujeira da verdade é muita mais forte e repugnante (Poderia ter dito ao invés de necessários subornos, subornos necessários, que em parecendo outra coisa, releiam o texto substituindo a expressão, repito que parecendo outra coisa, era a mesma imundice.) Até pra fazer o bem é necessário comprar, subornar, dar propinas, corromper. O grande problema é que corromper corrompe o corruptor também, vejam o PT.


Entretanto, após muitas dezenas de anos de desvio, o Brasil que finalmente acabava, com Lula, de ser eternamente o país da esperança, conseguiu ir-se  colocando em seu lugar, e seu lugar é de líder por ser quem é, por ser como é, e assumir esse lugar com gáudio, sem a situação eternamente miserável e controversa de suas duas facções se oporem e leva-lo para o buraco. Destarte chegou a ser a quinta economia do planeta. Caindo outra vez para sétima e à seguir para oitava, por não manter seus índices de desenvolvimento, ver-se-á condenado a descer, se interesses como os dos BBB, e as ambições pessoais, mais evidentes, ou mais mascaradas, subalternizarem o que os governos Lulas viram como saída, e aplicando-a elevaram o Brasil a um patamar nunca visto antes: a criação de uma classe média forte. Todos os outros caminhos farão o Brasil se perder! As duas pontas beligerantes, a das classes ricas querendo manter e aumentar seus privilégios por um lado, e as classes menos favorecidas querendo institucionalizar favorecimentos, levarão a uma rotura da corda que ambas puxam. Só o acordo no meio, onde os pobres ficam remediados, e onde os ricos ficam menos ricos, pode dar ao Brasil uma estabilidade social, a estabilidade mãe de todas as outras em política.

Alertava D. Dilma para isso no artigo intitulado: Aproveita Dilma, onde sugeria que usasse a força das ruas para vencer os obstáculos que surgiam imparáveis, não conseguiu, não teve a habilidade necessária. No artigo: O Brasil em recessão vai entrar em default, mostrava toda a inconveniência dessa situação de confronto progredir, mostrando que os interesses econômicos que mandam no mundo, adoravam ver o Brasil em recessão, escorrendo ladeira abaixo.  Porém bem antes, quando escrevi sobre os ciclos minoritários brasileiros, em agosto do ano passado, abordando a razão de toda essa desgraça, presente e passada, e futura se assim se mantiver, porque os ciclos econômicos favoráveis que se formam no Brasil têm todos menos de vinte e um anos, nunca completam 21 anos, a maioridade plena, e esse agora que já querem matar, querendo repetir o estigma, porque como foi elaborado permitiria uma maior durabilidade e resistência às maldades a que todos estão sujeitos, consagrando a situação, e, esse, que, entretanto, irá completar vinte anos parece não querer fugir à regra. Portanto para que esse ciclo se possa manter, e quebrarmos de uma vez por todas com essa maldição que nos aflige, grito bem alto: VOLTA LULA!  

A Litania da desesperança - A Rua dos Douradores.

                                                                                           
                                                                                                 (Sugere-se ler após leitura da Litania no
                                                                                            Livro do desassossego de Bernardo Soares,)

Solidão, que em não sendo desassossego, desassossega. Nossas almas clamam por companhia. É como o ser e não ser em nós. " Tudo que sabemos é uma impressão nossa, e tudo que somos é uma impressão alheia...". Por isso com um poema busquei definir esse livro de horas descuidadas, " casual e meditado." Onde diz o autor que subsiste nulo, talvez por ele fazer "férias das sensações." E assim corre o poema:
                          

                           Há um desassossego
                           Imensamente presente
                           no sossego
                           imanente em nossa
                           solidão
                           que para o mantermos
                           com nossa alma lusca
                           falseamos termos
                           isolamento que busca
                           outra
                           qualquer
                           inquietação


   Ou diz, por nele nada ter a dizer, e, nada tendo-se a dizer, diz-se muito, que é portanto como o mito.

Encontrando-se na Rua dos Douradores Aylton Escobar com Fernando Pessoa, o primeiro pôs música às palavras do segundo nominando a litania inominada naquilo que ela traduz e não naquilo que ela é em seu croché. "Croché das coisas...Intervalo... Nada..." No som de Ayltom a multiplicidade das coisas, no mutismo de Pessoa, sua esperança e sua unidade, e ademais unidade exclusiva,"Uma inteligência aguda para me destruir" por um ato diferencial: " o saber escrever", se não seria o moço de fretes, a costureira, o guarda-livros.

Um desassossego
permanente
na alma, no corpo,
na mente...

Que postergo,
entremente,
por não ter solução.

                          Volta sempre,
                          constantemente,
                          por ser minha
                          vocação.

"Sonho e fantasmagoria" "Tanto me basta, ou me não basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida." Posto sabermos que "Baste a quem basta o que lhe basta/ O bastante de lhe bastar!" e "... o fechar-se-me sempre a vida nesta Rua dos Douradores ..." "Tenho fome da extensão do tempo, e quero ser eu sem condições." Todos queremos essa incondicionalidade, que, entretanto, é sujeita à tantas condições. "Cuido só de que o polegar não falhe o laço que lhe compete." Somos tão condicionais, e nossa única verdadeira realidade é a esperança, porque quebra a condicionalidade. A esperança é incondicional. "Ter o que me dê para comer e beber, e onde habitar..." e seguir em frente posto que "A vida é breve, e a alma é vasta..." Sempre o croché, "Sim, croché..."

Esvoaça a borboleta de beleza infinita, e uma vez poisada na cabeça determina nossa condição, ridícula condição de possuirmos o mundo, e afirmarmos: "Se eu tivesse o mundo na mão, trocava-o, estou certo, por um bilhete para a Rua dos Douradores."

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

MOHAMED ESTRANGULADO COM UM CINTO.






Mohamed o profeta que ascendeu aos céus no Monte do templo em Jerusalém, o homem que uniu as tribos de seu povo, que por seus desígnios criou o Islão, Mohamed o escolhido de Deus, Mohamed o grande político, o grande religioso, certamente um dia foi menino, e como menino viveu, passou seus dias de infância até que cresceu e foi mercador, e viajou e viu o mundo.

Assim todas as crianças do mundo, devem ser crianças e crescerem e passados seus dia serem homens e mulheres para cumprirem seu destino, destino de vida e de esperança que cumprem cumprir.

Jesus também foi criança, e como criança viveu sua vida de criança e cresceu e cumpriu seu destino de redimir a humanidade. 

E se Jesus ou Mohamed, nas condições adversas em que viveram, não tivessem crescido, e, em criança, tivessem perdido o rumo de seu destino?

Morreu um Mohamed estrangulado com um cinto em Berlim, era uma criança como tantas crianças de todos os tempos, de todos os lugares, de todas as famílias, vivendo o que lhes cumpre viver: suas vidas de criança. Assim era esse nosso Mohamed.

Assim como foi um Mohamed o estrangulado em Berlim, poderia ter sido um Jesus, um Moisés, um Buda, um Isaac, um David, um Jacob, um Ismael um Abraão... não importa!  O que importa é uma criança estrangulada, venha ela a ser o que for, ou não venha a ser nada. O que importa são as possibilidades destruídas, é o futuro roubado, é a esperança eliminada.

Morreu com o nosso Mohamed todas as esperanças de um novo profeta naquele ser pequenino, chamasse-se ele Jesus ou Moisés, se tivesse o mesmo fim que ele teve, o fim do pequeno Mohamed, com ele morreria o futuro, morreriam as possibilidades, de um novo Mohamed, de um novo Buda, de um novo Abraão, a morte elimina todas as possibilidades, morreria com ele a possibilidade de alguém que pudesse liderar seu povo, ou que viesse dar um novo rumo à humanidade. E o futuro é feito de possibilidades. E com isso puseram um ponto final no futuro, ao menos nesse futuro puseram um ponto final.

As razões miseráveis, mesquinhas, indizíveis de sua morte, como ato vil e indigno, numa sociedade rica, riquíssima, que gera esses tipos marginais, não são a principal razão de sua morte. Essa, a razão principal de sua morte, está na circunstância de Mohamed, o pequenino, ser um lesado, um amputado. Amputaram-lhe a estabilidade, o seu lar, a sua casa, a sua rua, a sua cidade, o seu país. E a esse Mohamed amputado as circunstâncias acabaram por lhe amputar a vida, o bem mais precioso porque sem ele não podem advir os outros.

Não lamento a morte de Mohamed, esse pequenino como um Jesus pequenino. Não lamento porque o meu sentimento não está na morte de Mohamed, está nas mortes de todos os Mohameds, Jesus, Maomés, Abraãos, Isaacs, Jacós e Ismaéis desse mundo. 

Execro a morte de Mohamed como abominação que ela é, menos pelo desgraçado que dela foi instrumento, mas mais pelas condições que amputaram a Mohamed a proteção de seu país, sua cidade, sua rua, sua casa, seu lar, seus pais em presença, sua gente próxima e presente, porque o pequenino Mohamed era um refugiado em terra estranha, e é isso o que primeiramente estava errado. E para lá de todo o preconceito existe a esperança, e habita a verdade.

Nós todos não podemos interferir numa família, todos temos muita dificuldade em interferir num lar, numa casa, nossa interferência numa rua é pouco provável, na cidade, na polis, já todos interferimos, e num país, ainda que não seja o nosso, devemos intervir porque todos somos responsáveis, e nossa maior responsabilidade é que não hajam os pequenos Mohameds mortos, para que hajam os Grandes Mohameds vivos, para liderarem seu povo e darem esperanças ao mundo.

F. Pessoa: Feliz dia... (P - 8)

Continua a homenagem a F. Pessoa que completamos no próximo dia 30, 80 anos sem.  


Feliz Dia para Quem É

Feliz dia para quem é
O igual do dia,
E no exterior azul que vê
Simples confia!

Azul do céu faz pena a quem
Não pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver

Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!

Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia

De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter! 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Não se causa aflição a um aflito. (*) Formação!





Glória à pequena Eslovênia! Vergonha à poderosa Hungria! Na base de um milhar a cada par de horas os refugiados entram na Eslovênia que não tem mãos a medir para atender a tão volumosa demanda, mas não se furta, não se exime, não põe arame farpado no caminho de gente que já tem tantos obstáculos, e que a pé numa marcha terrível, imparáveis, seguem em busca de seu futuro, seguem na trilha da esperança, na tentativa intensa de encontrar o primeiro bem que lhes foi roubado: a paz.

Antes de mais agradeço aos que me deram formação, certamente essa que faltou ao Sr. Viktor Órban, pois por maior que seja o seu grau acadêmico, que eu não tenha, por maior que seja sua cultura, que eu não tenha, falta-lhe formação. Pois que formação é ter filosofia de vida antes de tudo o mais. Os portugueses que vão a Guerguélia são o exemplo do que deve fazer um povo, essa gente brava que não se furta nunca em solidariedade, porque tiveram formação! Pais e mães portugueses passaram a noção de ajudar o próximo, a mais linda lição que se pode dar a alguém é essa da solidariedade, é algo divino, algo que está para além do humano, no que o humano tem de pensar em si, de egoísmo, de falta de encaixe, ou de excesso de espelhos.

Só quem não teve formação que lhe abrisse os olhos para ver a condição do próximo, pode ficar insensível a essa torrente humana que foge, foge por uma reação básica, a primeira delas: fugir ao perigo. E afastar-se é o que resta àqueles que não podendo reagir são afrontados, esmagados e, se permanecem, mortos!  

Assim continua a senda, ver-se-á que será longa caminhada, muito longa será, com reação aos espasmos, como se fora um soluço europeu, triste condição, quase uma patologia, que por agora num soluçar acrescentou-se de cem mil refugiados aos que anteriormente havia decidido receber, assim seguem por esse caminho errático, onde muitos, mas muitos, que pousam de cristãos e de solidários no fundo pretendem, que essa gente expulsa não venha ter aqui a Europa para se refugiar, que fiquem lá por onde param, que se lhes dê dinheiro, como vão dar três bilhões ( três mil milhões) à Turquia para que por lá fiquem os refugiados que lá se encontram, e não cruzem em desespero e risco as águas do Mediterrâneo.

Nessa situação instável e precária seguem as reações européias, fruto de equívocos e mal-entendidos, erros consequentes da falta de um poder central efetivo, imaginem só sem a União como se defenderiam mais desordenada e violentamente os países que os refugiados querem atravessar e os que onde querem por fim se instalar, no sentido de obter soluções precárias após situações precárias, que, apesar de resolverem o problema para uns, impõe desespero a outros. Resulta que isto tudo terá um preço no final (Quem viver verá!), fatura que será apresentada a ambos os lados do conflito, pois de um conflito se trata em toda sua extensão, e apresentada a fatura alguém há de pagar a conta, porque quem tem formação sabe que toda conta é sempre paga por alguém, gerando enorme tensão, porque uma conta cobrada em desespero, só desespero propõe, e não se causa aflição a um aflito impunemente. 



(*) Lição muitas vezes repetida por meu pai Dr. Alfredo Do Couto,
      professor na UFF - Universidade Federal Fluminense.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

As janelas verdes.




O Museu Nacional de Arte Antiga, conhecido carinhosamente como das janelas verdes, porque seu prédio, antigo Palácio dos Távoras, Palácio de Alvor mais propriamente, que o irmão de Pombal adquiriu junto ao largo de Santos-o-velho, num número da rua desse nome, número que se perdeu ou nunca existiu, bastando a referência de tão imponente palácio, que acaba por se apropriar do one de sua rua, e que junto ao rio por escadaria própria tinha-se acesso às suas embarcações privadas na Rocha Conde d'Óbidos, de saudosa memória, logo ali, e que o Marquês de Fronteira e Alorna, Trazimundo, nos conta em suas memórias, lembrando que lá esteve à época da partida de seus parentes para o Brasil, quando acompanhavam D. João VI em sua viagem, evocando o antigo embarcadouro, que então existia. sendo ainda dos finais do XVII, quando d. Francisco o manda construir após seu retorno da Índia, em 1778 passa a ser um Palácio com água à porta pela construção do chafariz num pequeno largo, largo que viria a ter o nome do primeiro diretor do Museu que passa a ocupar o palácio a partir de 1884.

E é no Museu e no seu atual diretor António Felipe Pimentel em que me quero situar. Conhecendo imensamente o primeiro, o museu, e desconhecendo totalmente o segundo, o diretor, devo congratular-me com sua iniciativa, porque tudo que é correto e competente deve ser louvado, e o referido diretor teve(tem) uma iniciativa louvável, na qual devemos todos participar.

É uma ação de financiamento colaborativo, ou como preferem alguns, que serão muitos, sua expressão em Ingês: 'crowdfunding' que pretende arranjar seiscentos mil euros para adquirir o quadro de Domingos Sequeira a adoração dos Magos, como nos informa o Diário de Notícias de ontem. O tema a Adoração, abordado por quase todos os importantes pintores do renascimento desde Leonardo e Botticelli, não deixou de ter em Portugal, ainda que tardiamente, seu adorador, um pintor que fizesse sua versão do tema consagrado, e que pudesse incluir-se na prestigiosa lista de adoradores, como chamo aos pintores que abordaram a temática. O quadro de Sequeira, esse menino da Casa Pia, depois pensionista de D. Maria I em Roma, filho de um barqueiro do Tejo, cujas águas do tempo trazem de volta na sua infindável viagem seu nome e seu quadro do menino Jesus sendo adorado, à rocha conde d'Óbidos onde o barco de seu genitor tantas vezes terá aportado.   

Adoradores todos nós da estética e da ética, queremos ver esse quadro chegar a bom porto, o porto de acolhimento museológico maior de Portugal, o nosso janelas verdes. Queremos e vamos pagar por isso! A solução é muito inteligente e baratíssima, divido o valor necessário a aquisição da obra, os seiscentos mil euros que ela custa, pelo número de portugueses, dez milhões, dá seis cêntimos a cada um, quantia irrisória, que cada um, não direi de nós porque não sendo português, não estou entre os dez milhões, e como irei contribuir, ainda fica mais barato. Claro que vamos dar alguns euros cada um o que logo porá Sequeira no lugar certo, respondendo ao mote da campanha : Vamos por Sequeira no lugar certo ou seja porá no Museu Nacional de Arte Antiga A Adoração dos Magos, o quadro que queremos ver em seu acervo.

Como colaborar, muito fácil: Ponha no motor de busca sequeira no lugar certo que logo aparece, note bem é sequeira com e e o site é do MNAA, o do museu, onde seu nome ficará para sempre associado a aquisição da obra. O que está esperando, pode transferir, pagar por multibanco, fazer remessa, vamos lá!!!  

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Fernando, o outro. (P - 7)







O Outro era ele mesmo
Muitos outros que eles são
Que surgiam a esmo
Dentro da mesma dição

Vozes da alma desse Fernando
Que brotavam em aluvião
Como que desafogando
Toda sua inspiração

De um fez-se diversos
Porque muitos já era
 Sendo tantos os versos
De uma mesma quimera

Ser em si e ser só
Ser em todos, ser maior
Ser da moenda a mó
Moendo o seu melhor
Depurador mór
Desatando o seu nó.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A Dra. Maria Manuela Dias Ferreira Leite.




Deixei passar os dias para que meu desagrado não influenciasse minha escrita, hoje debruço-me sobre o assunto.

Essa velha reacionária a quem eu recusei estender a mão quando a conheci pessoalmente numa reunião do Rotary de Algés, era meu julgamento de então, depois foi mudando o seu discurso, menos por convicção e mais pelo ódio de estimação que nutre por Passos Coelho a ter excluído dos quadros de candidatura parlamentar. Desprovida de outros atributos (salvo se é boa cozinheira, mas eu não arriscaria) que os de ordem intelectual, que se restringiram sempre à economia e gestão, sendo pouco versada em outras áreas, especialmente a jurídica, onde se revolta contra muita da legislação aprovada de seu país, especialmente certos pontos da Constituição. 

Com essa mudança de discurso que culminou na apresentação do livro de Pedro Adão e Silva indiciava uma vontade de revisão de suas posições, e que caminharia para uma posição mais progressista, evoluindo numa análise crítica que lhe permitisse despir a pele de tigre da reação para vestir uma pele algo mais desenvolvida, libertando-se a pouco e pouco dos tiques da retroação. Ia andando, até houve momentos em que me fez crer que iria se dar uma reabilitação, persignando-se das atitudes execrandas que povoam seu passado, assumindo uma nova posição de entendimento de verdades populares às quais está infensa.

E assim foi, não deixando de ser aquela que durante a sua campanha a primeiro ministro afirmou que uma ditadura era uma ideia apetecível, o que diz tudo de sua forma de ser e estar bem como de seu caráter, acaba por classificar como "Golpe de Estado" a um procedimento normal, comum mesmo em muitas democracias parlamentares, constitucionalmente previsto, revelando com essa afirmação seu verdadeiro humor escondido e guardado nas mais profundas franjas da sua viperina constituição anti-democrática.  

Esta senhora que por uma questão de querela pessoal fora se afastando de seu modo de estar, nunca deixou seu modo de ser, revelando-o tão logo foi encurtado o espaço de manobra onde podia torcer e retorcer suas convicções, ficando tudo descoberto à luz clara de um questionamento que se lhe antepôs. 

Com a tristeza do crente que acredita na recuperação das almas, com o desgosto do jurista que acredita no arrependimento eficaz, com a comiseração de quem anseia por um mundo melhor, escrevi 
essas linhas.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Dia do poeta.











Poético. (*)


Poetas, poetas
Por serem estetas
Pagam o preço de sentir
Mui indiscretas
Presenças os possuir
Para além ser
Para além ter
Para além dor
Para além poder
Sempre a iludir
Poeta,  sua alma discreta
Seu ser em que desperta
A hipótese de se permitir
Implicitamente ser poeta.



(*) A poesia que fiz para o dia do poeta, esse 20 de Outubro.