Os há de dois gêneros, assim como os conventos, porém revelarem-se, ou se deixarem entrever, é mais difícil nos masculinos, onde as confidências da carne não deixam sequelas por não serem geratrizes, extinguindo-se em si mesmas no apaziguamento da sua volúpia, que é do que se trata.
Conhecedor de alguns destes segredos, tendo os descoberto por caminhos e razões várias, guardei-os comigo, retive-os sem nenhuma espectativa que reconhecer que a condição humana restrita é mais propícia a enfeudamentos e desvios, do que quando está desinibida por posssibilidades amplas.
Porém nesta oportunidade (notícia da primeira semana de Junho de 2014) da descoberta de 796 esqueletos de crianças que morreram por má-nutrição, pneumonia, tuberculose e maltrtatos, ocorrências características da falta de assistência e da negação de sua existência, por indesejada, no antigo convento católico de Santa Maria, em Tuam, na Irlanda, agora loteado seu terreno, o que revelou no cemitério, mortes que se deveram aos frutos de mães que engravidaram fora do casamento, solteiras a esmagadora maioria, que assistidas pelas caridosas freiras do Bom Socorro, que com outros mais contados, chegaram a ser dez mil estas mulheres nesta triste condição na Irlanda entre 1922 e 1996, transformadas em lucrativas lavadeiras pelos diversos convento que as acolhiam sob o nome de Irmãs Madalenas, cuidavam de lhes livrar dos incômodos bebês, matando-os à fome ou com as doenças decorrentes desta, maltratando-as e depois as enterrando em conveniente cemitério intra muros, eliminando, destarte, o rastro daquela situação irregular de extra conjugalidade e sua indesejável única testemunha delatora, com isso lembrei-me de muitos outros casos, mais antigos, mais distantes, mais ocultos, mais esquecidos que, e os fui revistar e investigar, o que levou seu tempo, e, alguns, iremos revelar.
No silêncio cúmplice por traz de muros altos que as defendem do mundo, da verdade do mundo, das solicitações e exigências do mundo, bem como de seu dedo acusador e de suas críticas mordazes, movimentaram sempre segredos inconfessos, conhecimentos ocultados, disposições escondidas, que resguardaram situações indesejáveis, ou, ao menos, de conhecimento indesejável ou indesejado, em face de uma moralidade impiedosa, mantendo-as condições de secretismo conveniente à ocultação destas ocorrências, forjando assim um mundo à parte. Muitos destes segredos ficarão para sempre esquecidos atendendo a seu propósito primeiro, porém outros quantos se vieram a revelar, aflorando por registros, confissões, descobertas, situações inopinadas ou tradição suspeitosa confirmada. A muitos manterei ocultos, não por cumplicidade num siêncio que não acho mister ou merecedor de meu apoio, mas por não ter a certeza da prova de sua ocorrência, ainda que as probabilidades, bem como as evidências incompletas, apontem todas para que sejam apenas mais casos como os que já foram descobertos e tornaram-se conhecidos.
Comecemos por Odivelas, grande Lisboa no século XVIII, onde havia neste convento duas madres exepionalmente bonitas. Paula Teresa da Silva e Almeida, conhecida como Madre Paula de Odivelas, com quem o Rei, D. João V, teve D. José, não o que foi o primeiro rei deste nome que também o gerou D. João V, mas o que foi Inquisidor-mor do Reino, assim como havia gerado D. Gaspar, no mesmo convento de Odivelas, quatro anos antes, de outra freira, Madalena Máxima da Silva de Miranda Henriques, Madre Madalena Máxima de Miranda, como era conhecida, e que veio a ser arcebispo primaz de Braga, esses dois filhos de D. João, juntamente com um terceiro não nascido de religiosa, foram os que ficaram conhecidos popularmente como os meninos da Palhavã, o local do Palácio da Azambuja do marquês de Louriçal, onde viviam, escolhendo assim alcunha incerta para um segredo não bem guardado. O povo na sua sabedoria não falava em meninos da Azambuja, do palácio da Azambuja, que seria uma denúncia quase certa, nem dos meninos do marquês de Louriçal, o que seria uma ofensa, já que deles não o eram, falavam do bairro onde viviam, generalizando e mantendo o segredo, que só o estudo histórico levou o pesquisador até o Mosteiro de São Dinis e São Bernardo da Ordem de Cister, em Odivelas. Como o Rei os reconheceu oito anos antes de morrer, e o seu irmão rei os tratou com deferência como queria seu pai, soube-se deste segredo conventual, posto que as mães feriras ficaram conhecidas, como conhecida ficou a história da frequência do rei ao mosteiro, e como se soube de que foi imitado por outros que também geraram filhos nas religiosas com quem entretiveram-se.
Outro Mosteiro famoso desde o século XVI, portanto muito antes do terremoto, e a este tendo resistido, e mais ainda ao maremoto que se lhe seguiu, e que o invadiu por completo, pois que ficava em posição propícia, quase ao nível do rio e do mar de Lisboa, muito na linha da foz do Tejo, e ficava onde é hoje a Avenida D.Carlos, que se abriu para a passagem do cortejo da coroação deste penúltimo rei português tristemente assassinado, levando ao fim da monarquia, logo a seguir, com seu filho, pois foi quando esta esventrou o convento que se conheceu o segredo. Chamava-se então Convento da Esperança, nome que expurgou o original da Piedade, do Mosteiro que 'sempre' ali houve, com a invocação desta Nossa Senhora pela irmandade que os marítimos ali estabeleceram. Como estes certamente precisassem mais de esperança que piedade, como se possa imaginar, como penso que todos nós ademais, o nome espalhou-se ao local, a uma rua que assim se chama, e ao imaginário lisboeta de um sítio que sempre foi de boa vista, com aprazível localização sobranceira. Este mosteiro desde sempre se destinou a receber senhoras nobres que lá se recolhiam por diversas razões.
Pois foi nesta época do Convento esventrado pela rua, cortado a meio dando lugar a nova Avenida que se abriu, que fez-se a descoberta logo encoberta outra vez, só ficando um traço numa correspondência entre dois homens da municipalidade de então: Francisco Fonseca Benevides e Manuel de Castro Guimarães, depois Conde desse apelido. Havia lá oculto no mosteiro algo que justificava uma das razões do recolhimento das nobres senhoras que lá se recolhiam para esconder do mundo, do século, a inversa pela qual lá se fez recolher uma segunda Rainha em 21 de Novembro de 1667, D. Maria Francisca de Sabóia, que diferentemente das nobres recolhidas na esperança, já que se 'provou' que D. Afonso VI não consumara, não se satisfazendo dela. Razão bem diversa também da Rainha que se lhe antecedera neste mesmo convento em 1562, Catarina Habsburgo, mulher de D. João III, esta mãe e avó, mãe de nove filhos todos mortos em sua vida, e avó de um neto que desapareceria, sendo sempre desejado e esperado.
O outro convento é insular, e ganhou preeminência quando esta ilhas eram a sede única da legalidade em Portugal, contrapondo-se a usurpação restante, que dominava todo o continente e a Madeira. Foi em 1831 quando as tropas de D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal se dirigindo a Portugal continental, estacionaram nos Açores que haviam resistido a usurpação, as bravas ilhas resistentes, lutando pela vitória da legalidade, essa terra de mulheres bonitas, como referenciam diversos autores desde sempre, e que Boid, nessa época que iremos evocar o que se passou no convento, diz textualmente:"As mulheres dos Açores, são mais belas que as naturais de Portugal", pois essas nove ilhas que tiveram nos conventos desde há muito comportamento censurado pelas sucessivas visitas que os apontavam, registrando luxo e licenciosidade em seu seio. Os conventos femininos eram à época dezessete nas diversas ilhas, não em todas como os masculinos, eram seis na Terceira, um em São José, dois no Faial, seis em São Miguel, e dois em Santa Maria, porém eram nos das Clarissas e Capuchas onde o luxo e as luxúria eram mais observáveis, o que era lógico pela presença nas suas hostes de mulheres insatisfeitas, formadas na maioria de filhas secundonas, que não iam para os conventos por vocação mas por imposição, e por não haverem encontrado casamento conveniente, lá sendo colocadas, e que não se resignavam a abrir mão das coisas do mundo (luxo, conforto e sexo). Assim, quando desembarcam as tropas liberais, esfregaram-se as mãos em muitos desses conventos, sobretudo o de São Gonçalo em Angra, pobre do Santo, e o micaelense da Esperança, valha-nos Nossa Senhora o nome outra vez, cada um com mais de cento e cinquenta freiras e setenta e tais noviças, que rapidamente se irão transformar em bordéis, dando vazão a ímpetos de ambas as partes que se encontravam e saciavam mutuamente. Muitas ficaram como se diz em Portugal, e que o nome do Convento das Clarissas em São Miguel indica, de esperança, vindo irremediavelmente, após o contado período de énea mensalidades, a suscitar bebés, cujo destino ficaram entre os segredos conventuais.