segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

'Accusat onere probandi'








Nada como ver alguém se desdizer. As palavras servem para muita coisa, como sabemos, inclusive para as nuances que guardam.

A bastonário da Ordem dos enfermeiros, certamente aconselhada por jurista que lhe alertou do risco em que incorre a apontar prática de eutanásia como medida corrente em hospitais portugueses, acusação grave que teria que ser provada evidentemente, veio prontamente esclarecer que o que havia dito, não era o que havia dito, pois a interpretação de suas palavras foram incorretas.

Que seria do mundo sem o depois, sem a análise, sem a interpretação. O mundo da música nada seria sem interpretação certamente. E o que seriam das palavras sem sua interpretação? Ainda bem quando é o próprio que as interpreta, pois assim não deixa dúvidas quanto ao que queria dizer, ainda que muitas vezes não tenha isso que tenha sido dito, não seja a interpretação do que disse, aquilo que efetivamente disse. No caso da bastonário, felizmente, ficou tudo esclarecido, veio logo à público esclarecer.

As palavras, poliédricas que são, dependendo do lado que se as contemple, pode parecer aquilo que não são, portanto é mister muito cuidado e atenção, não só ao contempla-las, mas ao apresentar o sólido geométrico que elas pretendem ser, para subitamente, por exemplo, não se confundir um hexaedro com um tetraedro, ou com  um dodecaedro. ou mesmo com um cuboctaedro, olhando em cada um deles a sua face triangular sem observar o resto, sendo mais grave no caso do cuboctaedro, porque nele ainda se verá uma face quadrada. Ou em caso do sólido ser irregular ou truncado onde o engano pode ser mais forte.

Dito isto fica a lição dos perigos possíveis de vermos que alguém, menos experiente, terá que se contradizer, ou desdizer-se, ou explicar-se, porque as poliédricas o traíram, ou eles mesmo se enganaram ou com as palavras ou os temas...




domingo, 28 de fevereiro de 2016

Portugal não é Brasil...


Portugal não é Brasil

E Portugal Brasil é...
Quem aparta esse ardil?
Quem separa o que unido é?

Falam sempre do comportamento dos brasileiros em Portugal, eu tenho 20 anos de Portugal e sou brasileiro, e  ninguém terá nada a apontar em meu comportamento nesse país, entretanto é bem verdade que vi muitos e muitos brasileiros a assumirem uma atitude no mínimo irreverente em relação ao país que os acolhia. Com a debandada muitos já partiram para outras plagas, e  não mais contam-se entre aqueles que poderiam ter má ação por aqui.

Entretanto creio que proporcionalmente em ambos os lados do atlântico tem-se feito igualmente muito de errado, sendo difícil avaliar que lado fez mais.  Pode-se ver no noticiário a recorrência de malfeitos de ambas as nacionalidades, tendo em conta que a população portuguesa é em torno de cinco por cento da  brasileira, até creio que os malfeitos lusitanos ganham, em gravidade também, e principalmente, porque os que vão ao Brasil fazer coisas más saídos de Portugal, é uma casta de gente mesmo ruim com declarada intenção malfeitora, já entre os brasileiros há de tudo, e a má fama deve-se mais ao fato do espírito desordeiro e espontâneo do brasileiro, que, menos educado, se porta mal mais vezes, isso não absolve aos facínoras brasileiros que vieram a Portugal com a intenção de cometer delitos, e que com uma população vinte vezes maior, os terá o Brasil em maior número.

Pondo tudo isso de lado, o que está mal na fotografia, e aí não é forma de dizer, ou anexim, refiro-me à fotografia supra que tem escrito numa mureta de Lisboa uma frase a enxotar generalizadamente os brasileiros. Como se diz em Portugal, quem não se sente não é filho de boa gente, e, é claro, eu me senti atingido, não pelo tolo que escreveu a frase, o terá feito por raiva, por pirraça, por desafrontamento de algo que lhe aconteceu, não interessa, o fez, o que é triste, e me atinge, é ter sido a foto da tolice estampada em páginas de jornais.

Ultrapassando isso, que é coisa de gente reles, e esta há em toda parte infelizmente, devo lembrar a forma como fui e sou acolhido pelos portugueses, o seu calor e boa estima, sua proximidade, nunca em momento algum senti-me excluído, e fui extra-comunitário por longo tempo, pois nunca quis ir para uma fila do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) o que não me causou nenhum obstáculo, sempre participei em tudo sem nenhum embaraço, sem nenhuma exclusão. Por isso digo, bem à portuguesa, aos partidários da frase: Vão criar juízo! 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Começo de uma homenagem a uma ausência multissecular.






Em dois meses completar-se-ão quatro séculos que sabe-se que deixou de existir o maior poeta em língua inglesa a quem atribuímos o nome  de William Sheakspeare, que terá morrido em 23 de abril de 1616, e conforme avisei em 23 de Novembro do ano passado, maior antecedência ainda, irei louvar e comemorar como a grandeza intelectual que foi, não importando verdadeiramente quem tenha sido, alguém foi, e esse alguém, quem quer que tenha sido,  foi absolutamente genial.

Desde agora até que se completem esses quatro séculos dessa ausência existencial entre nós, mas que sempre continuou existindo pela excelência de sua palavra sempre viva, todas as semanas, como fizemos com os oitenta anos de ausência de Fernando Pessoa, um Shakespeariano, publicaremos um texto, seja em que forma for, para homenagear essa personalidade única.

Hoje deixo-vos esse pequeno poema para lembrá-lo com amor:

                   É aquele que sempre diz
                   Da tragédia mais violenta
                   E do amor mais infeliz
                   Trazendo a força da tormenta
                   É William Shakespeare.

                   Diz que o amor é verdadeiro
                   Diz que o ódio é perdição
                   Com seu modo alvissareiro
                   E sua aguçada visão
                   Da história por inteiro.

                   Um fenômeno, um espanto
                   Na cultura Universal
                   Viverá sempre seu canto
                   Revelando o Bem e o Mal.
                   

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Inicio a homenagem ao gênio castelhano : D.Miguel de Cervantes Saavedra.





Amanhã Sheakspeare, esse final de Abril de 1616 será sempre um grande vazio: Morreu no 22 Cervantes, e logo no 23 Shakespeare.


Grandes escritores que influenciaram a História podem ser contados pelos dedos de uma das mãos, e esses dois estão entre eles sem dúvida nenhuma, o que significa um nível altíssimo, creio mesmo que estão no top do top, por isto é tão importante essa homenagem, porque sem demonstrar respeito, sem demonstrar culto pelos que nos maravilharam não somos nada, não nos inserimos no universo social que se formou ao longo dos séculos com essa aristocracia de expoentes, porque a não respeitando, não somos parte dela. É também verdade que o mundo vem perdendo essa elite, conturbado por gente baixa que vai se manifestando da pior maneira por todo lado em nossos dias, mas isso só aumenta nossa responsabilidade em preservarmos e cultivarmos essa sociedade de relêvo que nos formou e conformou, e que se a perdermos não somos nada, estaremos soltos num mar revolto, onde só fortes âncoras nos podem firmar.

Esses grandes são âncoras, e, como não há futuro sem passado, devemos lembra-los, para que reafirmando valores do passado construamos o futuro. Hoje cantarei D.Miguel:



                               Seguir essa estrela (*)
                               Não sabemos se impossível
                               Se foi sonhada
                               Poderá não ser
                               O que acalenta o coração do homem
                               Contra o que lhe abate
                               É sua forma de dizer:
                               Concretizaremos o sonho!
                               Seguiremos a estrela!
                               Lutaremos o combate!





"The Impossible Dream"

from MAN OF LA MANCHA (1972)

music by Mitch Leigh and lyrics by Joe Darion

Click here "The Impossible Dream" (a .MP3 file courtesy MGM).
 To dream the impossible dream
To fight the unbeatable foe
To bear with unbearable sorrow
To run where the brave dare not go
To right the unrightable wrong
To love pure and chaste from afar
To try when your arms are too weary
To reach the unreachable star
This is my quest 
(*)To follow that star
No matter how hopeless
No matter how far
To fight for the right
Without question or pause
To be willing to march into Hell
For a heavenly cause
And I know if I'll only be true
To this glorious quest
That my heart will lie peaceful and calm
When I'm laid to my rest
And the world will be better for this
That one man, scorned and covered with scars
Still strove with his last ounce of courage
To reach the unreachable star



AVISO CERVANTINO-SHAKESPEAREANO...







AMANHà CERVANTES

NA QUARTA SHAKESPEARE

COMEÇO DE UMA HOMENAGEM

400 ANOS  DE  SUAS  AUSÊNCIAS

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Einstein, e o velhinho tinha razão.





As ondas gravitacionais que Einstein tinha previsto há já um século, foram confirmadas agora, sem nenhuma dúvida, com medições, onde a técnica comprova a teoria, e tudo o que seus cálculos e seu raciocínio haviam previsto.

10 anos a pensar e o velhinho viu tudo! Só a pensar! Naquela época não dispunha de instrumentos, juntou tudo que os outros haviam pensado antes dele, viu o que servia e o que não prestava, só munido de só uma ferramenta, essa fabulosa ferramenta que só diz a verdade a que chamamos matemática, e para que tudo pudesse bater certo, as contas tinham que estar certas, e os caminhos tinham que mostrar um único mesmo rumo. Pôs-se a pensar, e pensou, e pensou, e pensou, sozinho, ele com ele mesmo, e com os gênios mortos que o antecederam e que tinham pensado e deixado as pegadas. Terá então a humildade de dizer: "Se alcei-me tão alto é porque ergui-me sobre ombros de gigantes." Sim juntou os seus gigantes, gigantes espectrais que lhe mostravam o caminho, lhe indicavam o rumo, e, sozinho, com as suas orientações, viu tudo como era, pelo menos o tudo que se deixava ver até então, e ao ver mostrou-nos realidade inimaginável, abriu a caixa que nem Pandora, lançou-se no futuro, venceu o tempo, essa grandeza que, na matéria, prisioneira do espaço, mas que para a imaginação com asas, é caminho aberto a percorrer.

Nessa sua fantástica viagem descobriu mundos inimaginados, que só sua acuidade, só o seu escrutínio das possibilidades, estabelecendo uma trama que a mecânica quântica ao explicar mudaria o mundo para sempre, revelaria como hipóteses prováveis. Afinal a caixa de Pandora continha muitas outras caixas guardadas em seu interior, e sua abertura revela mundo dentro de mundos,  mundos que ainda demorarão muito tempo a serem comprovados, mas que se vão revelando a pouco e pouco, mostrando, com cada confirmação, que um homem sozinho pode mudar o  mundo desde que tenha o engenho e a arte misteres.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Instável e Incontrolável - Playing God.






São estas as características da fusão nuclear, que é agora a brincadeira mais em moda na prática laboratorial dentro dos reactores, na busca que empreendem os cientistas dessa área, para domar a matéria, numa tentativa de, passando-se por deus, criar coisas, materializar energias, recriar a natureza.

Assim o último grito é a fusão, como foi a fissão durante longo período desde o primeiro experimento atômico. Hoje, nos aceleradores de partículas, ainda se faz a fissão que vai revelando novas partículas, como a recém descoberta partícula de deus, o bosão de Higgs, que o LHC, o grande colisor de Hádrons,  possibilitou os meios técnicos para que a teoria se comprovasse, como se vai fazendo, com o aparecimento de muitas partículas sub-atômicas. Com a fusão trata-se de juntar átomos, formando outro tipo de matéria que não a dos átomos que se juntam, o que liberta enorme quantidade de energia, essa coisa de que o mundo moderno tem tanta sede a baixo custo e com o mínimo de poluição, por isso andam a procurar repetir o Sol,  e o vão conseguindo em pequeninas doses.

A temperatura do núcleo do Sol gira em torno dos 15 milhões de graus Celsius, uma temperatura impensável, pois ja excedem-na em cinco para seis vezes esse valor, um feito prodigioso que se vem repetindo nos principais centros de pesquisa mundiais, tendo o Max Planck na Alemanha o recorde de temperatura, 80 milhões de graus Celsius, inacreditável! Entretanto nesse processo o que mais importa que a temperatura é o tempo, pelo qual ele se possa realizar sob controle, e nisso os chineses conseguiram o feito de o fazerem por quase dois minutos no Instituto de Ciência Física, o que significa recriarem o Sol, ou seja transformando Hidrogênio em Hélio como se passa no nosso astro-rei, para que isso se possa realizar, é necessário transformar o Hidrogênio, um gás, num plasma, e o processo, para que resulte, tem de estar controlado.

O controle dá-se confinando o processo dentro de um reator com poderosíssimos imãs, o que significa usar super-condução para manter o processo dentro do reator, gerando controle e estabilidade, em algo que por natureza é instável e incontrolável. Confiná-lo é toda a habilidade do processo, porque o permite controlar, ao mesmo tempo que é toda a incapacidade do processo, por o limitar. A técnica tem permitido fazê-lo e com mais altas temperaturas e cada vez por mais tempo. O Sol faz isso a todo o momento há bilhões de anos de maneira bastante instável, o que admite a contrapartida de ser ao mesmo tempo bastante estável, extremos que se tocam sempre, nós queremos fazê-lo por alguns minutos com segurança. O problema é que se mesmo o Sol o faz com imensa instabilidade, com jorros, explosões, adensamentos e expulsões de grandes quantidades de matéria e energia, que no limite são a mesma coisa, e no Sol estão mesmo no limite, como haveremos de fazer estavelmente, de forma controlada, o processo?


 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Je ne serais pas plus France.






                                                                  Si le Droit de l'Homme est méprisés pour le gouvernement  français  avec une loi que va marchandiser la nacionalité française... Je ne serais pas plus France. (*)



Todos os pais são responsáveis por seus filhos. Excluir quem quer que seja é renegar, e nada pior na vida, São Pedro passou o resto de sua vida se penitenciando de o ter feito, e nós sabemos como morreu... Renegar é contradizer seu próprio eu, é por-se em condição de miséria, porque nega sua verdade, e isso é abjeto.

Além do mais retirar a nacionalidade a quem tenha sido condenado por terrorismo é punir uma segunda vez. Se acham a punição aplicável insuficiente, que agravem-na, mas imporem uma segunda punição, repito, é abjeto, é ir contra o mais basilar dos Direitos do Homem, e foram os franceses em sua fabulosa revolução que os enunciaram como coroamento do que pugnavam, contradizer isso, é negar sua história, é renegar seu passado, outra negação que se junta àquela de excluir um filho.

So o fato de haver discussão a esse respeito é indecoroso, que alguém possa tê-lo proposto, degradante, que queiram legislar desse modo, uma ignomínia. O opróbrio a que se sujeitam os franceses pela má fadada ideia de negar a nacionalidade retirando-a, por que causa for, como pena acessória é um ultraje tão grande que macula um passado glorioso de uma nação, que nesse campo não pode haver maior.

Colocar um preço na nacionalidade, seja por que razão for, é uma mácula indelével, porque os Direitos são inerentes, não são conquistas nem concessões, portanto não podem ser atribuídos, e muito menos retirados. Recomenda-se vivamente aos partidários dessa tresloucada ideia a leitura urgente dos 'consideranda' no preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Vejam os tempos em que vivemos, tempos de negação! De que se foi alguém lembrar, alguém sem conhecimento da História, sem respeito pelo passado, sem noção de valores, os valores imprescindíveis que mantêm e sustentam o edifício nacional conformando sua História, que em sendo relato do passado é razão de futuro para nunca esquecer, como está inscrito em Versailles: " À toutes les gloires de la France."  E que maior glória pode haver que a conquista do auto-respeito por um povo que estabelece seus próprios Direitos, não só como seus, mas como os de toda a Humanidade?


(*) Veja o artigo intitulado Je suis France.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Varoufakis recusa-se a morrer.





                                  Afinal a morte anunciada do Cometa Varoufakis acaba por revelar-se prematura.



Sua efêmera participação na cena política europeia, e, consequentemente, mundial, num palco conturbado, com seu país levado ao extremo, e no momento extremo ele pontificou, e aprendeu da pior maneira que os caminhos incertos que percorria eram-lhe adversos. Os cometas demoram muito a voltarem à cena, ao céu nesse caso, seguindo longa rota, demorando enorme tempo a reaparecerem. O Cometa Varoufakis deixou rastro logo, em livro que prontamente publica, e agora encabeça um movimento internacional para forçar a Europa a alterar o tratamento dispensado aos seus tutelados, mudando a receita, querendo que ela entenda que é com riqueza que se resolvem os problemas, e não com austeridade e contenção como únicos caminhos. Terá êxito agora? Logo se verá.

Ou a rota do astro seguirá um caminho incerto ou se fixará num céu muito brilhante, porque a parada é alta, a jogada incerta num jogo muito difícil, onde é necessário controlar muitas e diversas variantes, algumas delas imprevisíveis. Mas como ele recusou-se a morrer depois de metralhado  no Eurogrupo e na Comissão, e,  para que não restasse pó varoufakiano, as condições exigidas à Grécia excluíam todas as suas ideias, e todas as promessas de seu partido e de seu primeiro ministro que foi cilindrado pela UE, sem solidariedade alguma dos outros países na mesma situação, só a enorme decisão e generosidade dos gregos manteve Tsippras em seu posto.

Alijado, recusado, banido, expurgado, Varoufakis joga agora sua derradeira cartada. Sabedor de que muitos países precisam das soluções que aponta, lança um movimento que, sabe, vai tocar na ferida mais exposta e mais dolorosa existente na União, sabendo também que ela carece de tratamento, carece de remédio, e nisto joga seu futuro, sua vida política, sua possibilidade de ter voz, a voz que buscou solitário em sua moto expressar, de início com o apoio de Tsipras, que logo lhe faltou, a efemeridade deste não teve maldade, foi sujeito a desígnios muito superiores e à natureza política central do cargo que Tsipras ocupa, não lhe restando outra solução se desejasse sobreviver politicamente, e foi o que se viu.

Varoufakis ultrapassou tudo estoicamente, uma boa forma grega de estar, e, agora, renascido, pretende fazer valer suas capacidades, que são muitas, seu profundo conhecimento da economia, sua enorme articulação internacional, domina o inglês com perfeita amplitude, o que ajuda muito, e sua presença cortante que inspira exatidão, seu timbre que reflete certeza, bem iremos ver se terá resultado ou se será novamente 'aplastrado como incômoda cucaracha...' para dizermos como os maiores interessados no êxito das ideias de Varoufakis, 'nuestros hermanos' de península.


Dois anos depois (menos um dia) dá prova de vida:

Ex-ministro das Finanças lança em março partido helénico ligado ao DiEM25. E pede ajuda para obter 93 mil euros para o projeto
Após cerca de um anos e meio de ausência, Yanis Varoufakis está de regresso à vida política na Grécia com o lançamento de uma campanha de financiamento para um futuro partido helénico, que ainda não tem nome, mas será apresentado a 26 de março sob o lema do "regresso da Primavera Grega". Esta nova força política está integrada Movimento Democracia na Europa 2025 (DiEM25), fundado pelo ex-ministro das Finanças há precisamente dois anos.
"Nos últimos dois anos, o DiEM25 tem preservado o espírito da Primavera Grega de 2015 por toda a Europa. Agora, à medida que nos preparamos para apresentar o nosso programa progressista aos europeus em toda a União, através das urnas, chegou a hora de fundar a filial grega do DiEM25, que devolverá o espírito da Primavera Grega ao país que lhe deu origem!", refere o comunicado divulgado ontem no site oficial do movimento. O novo partido irá participar nas eleições locais e nacionais gregas, mas também nas europeias - todas elas com realização prevista para o próximo ano.
Esta Primavera Grega de que falam diz respeito aos cerca de cinco meses que vão desde a eleição do Syriza nas legislativas de 2015 até ao referendo de julho sobre a aceitação ou não das condições de um terceiro resgate (ganhou o não, mas Alexis Tsipras decidiu aceitar na mesma as condições dos credores). Os mesmos cinco meses em que Yanis Varoufakis foi ministro das Finanças e durante os quais liderou, sem sucesso, as negociações sobre a crise da dívida com os credores.
Varoufakis demitiu-se do cargo no dia seguinte ao referendo, consumando o seu afastamento definitivo de Alexis Tsipras, mas manteve-se como deputado do Syriza. A 24 de agosto, votou contra o terceiro resgate e, nas legislativas antecipadas de 29 de setembro, não se apresentou à reeleição.
Desde então, tem-se dedicado à participação em palestras e debates, aos livros, tem dado entrevistas, mas também trabalhado como conselheiro de Jeremy Corbyn, o líder dos trabalhistas britânicos. E um grande crítico da linha seguida por Alexis Tsipras.
O seu regresso à política começou a desenhar-se a 9 de fevereiro de 2016, com o lançamento do DiEM25, um movimento político pan-europeu de esquerda que tem como objetivo democratizar as instituições europeias. Entre os seus apoiantes estão Julian Assange, Noam Chomsky, Stuart Holland, Brian Eno e Rui Tavares.
Agora, Yanis Varoufakis está de volta à vida política grega e o primeiro passo foi apelar a que os cidadãos apoiem financeiramente o futuro partido, pois "todas as ações eleitorais têm custos". "E, ao contrário dos nossos opositores e titulares do establishment, o DiEM25 recusa o financiamento corporativo e institucional", refere o mesmo comunicado, cujo título é "Apoiem a desobediência construtiva na Grécia".
Segundo as contas do movimento, precisam de 93 mil euros: três mil euros para o site do partido, 20 mil para vídeos e publicidade, outros 20 mil para o evento de lançamento a 26 de março, 20 mil para levar à Grécia oradores e 30 mil euros para a equipa grega do DiEM25 viajar pelo país e formar células do novo partido.
Listas transnacionais
As ambições europeias de Varoufakis não ficam em suspenso com este novo projeto. A 21 de janeiro, o grego esteve em Paris com Benoît Hamon, o candidato socialista nas presidenciais francesas do ano passado, para o lançamento de uma campanha para as eleições europeias do próximo ano. Na altura, os dois afirmaram que pretendem constituir listas que partilhem um programa comum e que defendam uma Europa em rotura com a austeridade. Varoufakis adiantou que estas listas iriam apoiar um candidato comum para a presidência da Comissão Europeia. "Para ter uma agenda, um quadro político, também precisamos de uma lista transnacional", declarou o ex-ministro grego no evento.
Na quarta -feira, o Parlamento Europeu chumbou a proposta de criar listas transnacionais, tendo a ideia sido eliminada do texto sobre a composição do hemiciclo no pós-brexit que será enviado ao Conselho Europeu. "O Parlamento Europeu rejeitou as listas transnacionais. Mas não chorem! O DiEM25 está a reunir a 1.ª Lista Partidária Transnacional, em conjunto com movimentos progressistas & partidos de toda a Europa, para disputar as eleições europeias de 19 de maio", tweetou Varoufakis anteontem.
PROGRAMA
New Deal
As bases do chamado New Deal para a Grécia são reduzir drasticamente todas as taxas dos impostos e o custo fixo das atividades financeiras, mas também reestruturar a dívida pública e privada, refere o programa do DiEM25.

Seis reformas
Estas bases para serem cumpridas precisam da aplicação de seis reformas nas seguintes áreas: taxação, objetivos fiscais, criação do sistema digital de pagamentos públicos, gestão dos créditos malparados, investimento e respeito pelo trabalho assalariado e empreendedorismo.

Credores
O programa do DiEM25 para a Grécia mostra-se certo de que a troika e o Eurogrupo "irão rejeitar estas reformas". Sugerem, por isso, que até estas serem aceites "a Grécia manter-se-á no euro usando os seus próprios meios e com o governo a seguir a política da "cadeira vazia" do De Gaulle.

Não negociáveis
Fica claro que estas seis reformas, descritas como condição sine qua non da recuperação grega, não são negociáveis e serão implementadas unilateralmente por Atenas.
















sábado, 6 de fevereiro de 2016

A Maldição do milênio.







Há muitas maldições pervagantes neste século XXI, desde a luta do dinheiro em se manter nas alturas que atingiu, que asfixia toda a economia, e esmaga os menos possuidores, excluindo ainda mais aos excluídos, num processo de ruptura sócio-econômica, até o impossível Daesh que se proclama um Estado Islâmico, mais que isso, se pontifica como o Estado Islâmico, em detrimento dos muitos que o são no plural, presumindo uma posição dominante que já provocou refugiados que se contam na casa das dezenas de milhões. Porém creio que a que marcará essa época como a suprema maldição é o aquecimento global, e essa maldição ainda mal começou.


A pegada carbônica.

As árvores que atingiram neste 2015 a metade de seu número original, o que implica não haver já metade dos elementos que retiravam o carbono da atmosfera com tudo que isso implica, respondem como um anti-fator, por não mais existirem, e que após essa metade, cada árvore, cada uma, é o descer da ladeira rumo ao precipício, diminuindo cada vez mais a possibilidade de diminuição da pegada carbônica. Leia o artigo: Metade delas já não existe,. A extinção dos vegetais é o começo da nossa. 

Porém o que parece grave é termos ultrapassado o ponto de não retorno  como provam as medições climáticas por toda parte, quando temos 14 dos 15 anos do milênio como os mais quentes da história da humanidade pelo que se conhece. Não são os 5 anos mais quentes de todos nesses quinze que já levam completos o milênio, seria o 'top five', não são também os 10 mais quentes que se conhecem, o que seria o 'top ten', compreendido num curo período de quinze, mas são, e isto mostra a maldição completa, quatorze em quinze,  não é apenas uma tendência, é uma condição, nova e aterradora condição, é mesmo quase a totalidade, 93,333%, o que significa que algo virou nesse milênio, que existe algo no clima que, imponderável, está mudando toda a realidade, que promovia a estabilidade na natureza, criando um outro mundo que desconhecemos. Porque a agricultura, e ela é tudo o que comemos, porque se não diretamente, indiretamente representa a relação com todos os alimentos que consumimos, irá mudar de terrenos, irá caminhar para outras áreas, onde os solos, não sabemos, poderão revelar-se inadequados, porque o clima nas áreas tradicionais já não permitirá o cultivo. São os animais que seguirão com elas. São as instalações que terão que ser reconstruídas, é a posse e propriedade das terras que terão de ser alterada. São mudanças muito drásticas e preocupantes porque não sabemos no que irão redundar. Imagine você alterar 93 por cento de seu caminho, é mudar tanto de direção que é mesmo retroceder, e os primeiros tempos do planeta, para o qual estamos voltando, foram inóspitos, e a sobrevivência neles uma dificuldade, mesmo para os poucos humanos que existiam, com  a atual população mundial a vida naqueles termos é impossível, será impossível para uma alta percentagem da humanidade, eis a maldição.

O fim dos tempos.

São na verdade o final dos tempos que conhecemos, onde o planeta com baixas temperaturas permitia o equilíbrio ecológico que se vai perdendo, e que ocasionará desertificação, enormes instabilidades climáticas como chuvas torrenciais, tufões, ciclones, secas e desertificação por toda parte. O Al Gore numa atitude de alerta andou por todo o mundo avisando do que iria sobrevir, tentando antecipar medidas, nada ou quase nada foi ouvido, e só neste mesmo fatídico 2015 é que foi assinado o acordo das modificações climáticas na cimeira de Paris que prevê  uma meta de dois graus celsius para o abaixamento da temperatura global. Se vamos tarde demais ainda não sabemos, mas que vamos tarde, vamos, e qual será o preço desse atraso, veremos, e o veremos da pior maneira, porque o impacto desastroso dessas alterações se farão sentir no planeta de forma desastrosa por toda parte, como já começou.

O ponto de não retorno.

Não é conhecido esse ponto, é mais ou menos como um animal feroz que a gente não conhece e pergunta ao dono se pode lhe fazer festinhas. Aqui não há dono para se perguntar, é uma jogada no escuro. Defrontados como animal fizêmos-lhe festinhas, resta saber se ele arranca-nos o braço, ou as aceita ou da-nos só uma mordida de aviso, veremos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

As estatuas do Capitólio. À sombra...





Luz.

Havia uma luz antiga que brilhava intensamente, que forjou nações, criou identidades, demarcou continentes, postulou presenças eternas, gerou identidades perenes. Seu brilho manteve-se por séculos como clarão de vontades, como facho indicador de caminhos, como raio gerador de meios e presenças, que possibilitavam tudo, porque criavam padrões, estabeleciam valores, projetavam entendimentos e sensibilidades aclaradas em sua verdade imorredoura. Vacilante essa luz deixa de ser centro de convergência, perde seu fulgor, não mais agrega, porque seu poder de atração reside no fato dos homens que nela se projetavam, estarem dispostos à tudo para manterem seu vigor, a luz, porque essa era seu próprio vigor, sua verdade, porque pregando o que acreditavam, eram isso em que acreditavam, eram isso que eram, e brilhavam intensamente, não faziam cedências, e projetavam suas verdades no infinito das possibilidades.

" O caráter é como uma árvore e a reputação como uma sombra. A sombra é o que nós pensamos dela; a árvore é a  coisa real." dizia Abraham Lincoln, portanto quando para valorizar a reputação cedemos ante a possibilidade de podarmos um pouco da árvore para que a sombra tenha melhor aspecto, entregam-nos às aparências, e assim acabaremos por perder tudo... É a eterna luta entre a forma e a substância, Maquiavel afirmava que a substância determina a forma e a forma determina a substância, logo ceder em uma é amputar a outra.

Sombra.

"A vida é uma simples sombra que passa (...) é uma história contada por um idiota, cheia de ruído e de furor e que nada significa." William Shakespeare - Macbeth. A fugacidade da sombra depende da permanência da luz, posto que não há sombra sem luz. Logo quando aquela luz antiga  da qual falava, afasta-se a sombra se vai com ela, e a vida que é sombra, deixa de existir, porque  para que uma vida tenha consistência e significado, e passe projetando sua sombra, ainda que fugaz, é necessária a presença da luz, o que equivale a dizer que sem aqueles valores mais permanentes que aclaram a existência,  a vida, fica sem significado, como a vê Shakespeare. E é de um rei, Macbeth, que fala o imortal bardo, na circunstancia em que o rei está morto, e o outro vate imortal do mesmo sangue celta alertava que "o fraco rei faz fraca a forte gente", somos todos reis de nossas vidas e elas dependem de nossas escolhas.

A vida depende da luz para ser sombra, para existir como aquilo que é, e se manifestar como pode, se fosse autônoma, como o Sol, não conheceria essa relação, pois "Jamais o Sol vê a sombra" como ensinou Leonardo, pois a dimensão solar é outra, é a da luz somente, conosco não é assim, necessitamos de luz.

Luz e sombra.

"Não podes ver o que és, o que vês é a tua sombra" ensinava Rabindranath Tagore, e para que essa sombra se manifeste é preciso luz, esse binômio interdependente, pois para que se faça a luz, como no princípio, foi necessário haver escuridão, e mais que ela uma vontade, pois luz é feita dessa substância. E a luz se fez!  Sim a escuridão é em si mesma uma existência, a luz é uma manifestação, cedermos a escuridão é não nos manifestarmos. Assim quando cobriram-se as estátuas do Capitólio, símbolos daquela luz antiga, prenhe de vigor, que eram porque eram, como o Sol, e não faziam cedências, brilhavam tão somente, e nesse seu brilhar davam sentido a nossas vidas, sombras manifestas, sem princípios não somos nada, nem sombra, perdemo-nos na escuridão de todas as noites, a da ignorância e a da insensatez. Aquelas estátuas cobertas são a cedência à ignorância, e, portanto, são ação da insensatez. No jogo de luz e sombra há que se ter lealdade a fundamentos, aquela velha lealdade, manifestação da luz antiga, geradora dos princípios e das nações, geradora de verdade eterna, que, se se apaga, restará só a escuridão, e na escuridão não há lugar para sombras, não há lugar para nós.

Combater o bom combate.

Desses  valores que nos foram legados, há um que ficou pelo exemplo, a melhor forma de ensinar, que dentro em pouco, 2019, completará dois milênios e meio que reluz naquilo que foi. No contexto das guerras Médicas, deu-se num desfiladeiro à sombra do monte Kalidromo, uma batalha desigual onde trezentos enfrentam dez mil, dez mil e sempre dez mil, porque suas reservas re-completavam esse número, parecendo que eram imortais, pois seriam sempre dez mil. Porém as doris desconhecem a imortalidade, e fisgam e trespassam e matam, porque a guarda de Leônidas desconhecia a escuridão e não temia as sombras, iluminados pela luz de seu dever, defender seu país, e com ele,  defender os princípios em que criam, e que nos legaram para sempre, pois somos tributários dessa cultura, grega, e logo greco-romana, porque os romanos a quiseram, e souberam respeitá-la em tudo, na filosofia e na coragem, no saber e nos princípios, que é tudo que resta a uma pessoa quando ela está nua, como as estátuas, que só brilham pelo valor que representam, despossuídas de tudo o mais.

Quando o emissário do mais poderoso exército que o mundo conhecera até então, por coincidência também um persa, como o outro de agora, em virtude da qual presença se taparam as estátuas, aquele, evidenciando a impossibilidade de vitória a seus oponentes, em face da desproporção numérica entre as forças beligerantes, uma diferença abismal, propõe que estes entreguem as armas, os gregos desafiantes respondem: "Venham busca-las." O que motiva o aviso que, eterno, soará para sempre em nossas almas, não pelo temor que infunde, mas pela clareza da resposta, dissera então o emissário: "Estejam prontos para morrer. Nossa flechas são tantas que escondem a luz do Sol."E no destemor, consciente do papel que desempenhavam, pois eram herdeiros de Hércules, herdeiros da civilização em que Heracles pudera existir, traz a altiva e pronta resposta, que ressoará para sempre: "Melhor, combateremos à sombra!"


A sombra não é luz.

Diferentemente do que afirmava uma personagem de Susane Tamaro no seu "Um companheiro inesquecível" pedindo para que não tenham medo: "Não receiem, a sombra é apenas uma outra forma de luz." Que, acertando, erra, porque a sombra embora tenha aquele quanto de luz, tem uma quantidade de escuridão que a inviabiliza como luz, porque a luz existe como contra-elemento da escuridão, e por oposição a esta se manifesta, já a sombra existe como decorrência da luz, e só se opõe a ela parcialmente, manifesta-se e existe como decorrência da vontade da escuridão em se manifestar, não o conseguindo totalmente, gerando a sombra, pela presença forte da luz. Assim é com a ignorância, que é a falta de saber, na sua forma total é escuridão, na sua forma pontual é sombra, mas em ambos os casos é falta de luz, neste caso daquela luz antiga, quase uma proto-luz, que aclarava os espíritos, e o fazia  de forma demarcada, de forma vincada,  separando luz e sombra, e eliminando a escuridão. Quando, por qualquer razão que seja, abre-se mão de seus valores, escondendo seus signos, suas manifestações, está-se apagando aquela luz antiga, primeva, que nos deve guiar, porque dela advimos. Se se faz isso por vinte e três dracmas ou vinte e três mil milhões de euros, tanto faz, é igual crise cultural, é perda de identidade, é dispensa do orgulho de se ser quem é. Orgulho que não é soberba, e não é pecado, é dignidade. Seja com Rohani ou Khamenei, seja em Itália ou na Polônia, ceder princípios é perder a dignidade.

À sombra.

Quem não buscar a claridade, e se deixar enganar por concessões a valores que não são os seus, não combate o bom combate, está entregue à ignorância, perde-se na escuridão, e embrenha sua alma na mais tortuosa vereda, desconhecendo a grande lição das Termópilas, que nos ensina nunca ceder, por nada, por nenhuma razão, que é melhor combater à sombra.