quarta-feira, 23 de julho de 2014

O DINHEIRO TUDO PODE.



SINTOMAS


Agora sabemos que se a China entender fazer parte da CPLP preenche todos os requisitos. Um país de língua portuguesa com certeza...Aliás CPLP quer dizer comunidade dos países de língua portuguesa, nada mais óbvio! Outra condição é defender ( talvez não aplicar) os Direitos Humanos, não haver pena de morte por exemplo....E, claro, promover o uso da língua Portuguesa, nós já estamos mesmo a ver os 1.350.000.000 de chineses todos, sem nenhuma excessão falando Português e até dançando o samba ou cantando o fado, é claro...

Brincadeiras à parte, entendo perfeitamente que qualquer coisa que se crie, acaba por ultrapassar os propósitos de sua criação. É verdade que uma determinada entidade sempre será uma plataforma de onde se poderão lançar muitos interesses, e isto é a coisa mais normal do mundo e plenamente compreensível, mesmo um país transforma-se em plataforma para os interesses mais díspares. Então porque necessita a Guiné Equatorial, que já é um país (acreditem é quase, é mesmo quase , quase.) de uma outra plataforma, uma comunidade de países. É mais ou menos assim: Se você é por exemplo ladrão e está manjado (marcado) no espaço onde atua e quer continuar roubando, o melhor a fazer é mudar do lugar onde agora rouba para outro onde não se note tanto. Melhor ainda se puder-se confundir com um grupo de pessoas, de preferência sérias, no meio das quais possa atuar sem dar muitos nas vistas, e onde possa ter acesso, acesso que sózinho não alcançaria, a muitas carteiras. É mais ou menos isto que a Guiné Equatorial pretende ao entrar para a CPLP.

Que seja inevitável, e até interessante, que uma plataforma criada se expanda e vá se transformando em outra coisa que não aquilo de quando da sua criação, é coisa perfeitamente compreensível. O Condado Portucalense e os muitos Portugais que houve ao longo do tempo, foram as muitas realidades que resultaram daquele projeto inicial. Assim a nossa Terra brasilis também passou por muitas e diferentes fases até ser o que é hoje, e certamente ainda vai ser outros Brasís para além dos muitos que já foi. O que não é inevitável é que tudo esteja à venda pelo melhor prêço. Pelo melhor prêço se vendem as coisas em arrematação pública, em leilões e hastas onde as coisas não podem permanecer sem que sejam vendidas. Como se a dignidade não pudesse permanecer com a ascensão do dinheiro, estamos em hasta.( E para que nuestros nuevos hermanos lo comprendan: Hasta quando?) Se não estamos, o fato incontornável é que poucos valores  não tem caído face a esta ascensão. Quase nada tem permanecido frente a sanha ascensional do dinheiro que impõe-se a tudo e todos como solução última, como verdade absoluta, como posibilidade única. Destruindo todos os valores que a história da humanidade havia construído ao prêço de sangue, suor e lágrimas, para usar a expressão da última oferta de dignidade que se ouviu neste planeta, e pela qual acabou-se por pagar o prêço de 60 milhões de vidas.**

Hoje por, e com, outros meios se refinam os destinos da humanidade, delimitados e afeitos aos parâmetros da realidade superviniente das finanças economicas*, malbaratando todos os outros valores que se lhe contraponham. Vivemos crendo em que? O que realmente é impossível? Qual o valor imaterial que perdurará? Qual a última dignidade intangível? Qual o critério que não se ultrapassará? Em que nos transformaremos?

Tenho medo de todas e de cada uma das possíveis respostas a estas questões. Tenho medo porque quando não mais há valores superiores segundo os quais nos nortearmos, quando tudo é possível, sendo apenas tudo uma questão de prêço (Olhem o quanto venho aqui repetindo esta palavra!) como se nada mais restasse intocável, como relíquia respeitável, como valor incorrupto ( também tenho medo desta palavra, já não lhe vejo muita utilidade) como algo que soubéssemos que está acima do Bem e do Mal, tenho medo quando parece já não haver nada mais assim, tenho muito medo quando o deus é o dinheiro.

Pois voltemos a Guiné, não será demais repetir o que todos sabem: A Guiné Equatorial é a mais antiga ditadura do mundo, corrupta, assassina, corruptora, nefanda e destruidora. Veja lá que tem um PIB per capta maior que o português por exemplo, maior que o espanhol, duas vezes o do Brasil, tendo uma população igual à encontrável em alguns bairros de São Paulo ou Rio, e veja a qualidade de vida dos guieneenses equatoriais, se a pode comparar com a de qualquer bairro de São Paulo (PIB/capta 1X2) ou muito menos com qualquer cidadão espanhol ou português (PIB/capta 1X1)? Que país é este? A Guiné Equatorial de língua espanhola é uma ditadura odienta, com um sucessor à vista, como um Bashar Al Assad, sendo o pai pior que Hafez, Teodoro Obiang é como um Idi Amin Dadá, um Saddan, um Papa Doc. E em vez de se lhe cercearem os caminhos para que não hajam mais ditaduras, ademais assassinas e corruptas como esta, abrem-se-lhes os caminhos, ofertando-lhes a bela plataforma da CPLP, vendida sabe-se lá a que prêço. Bastava um membro se opor, só um,  pensei que o Dr. Cavaco, depois de tudo o que disse, poderia ser esta figura, mas nunca enganei-me: CORAGEM NÃO É PARA QUALQUER UM. Depois a suprema, não é humilhação mas revelação, o novo Senhor membro, faz questão de, quebrando o protocolo, se apresentar como quem diz: ' Paguei, aqui estou!'  Restar-nos-á, então, chamar o Legião Urbana, com seu som metálico forte, para em altos brados fazer a trilha sonora deste filme de horror.



* Note que não disse economia, pobre senhora há muito destronada.
** Lembrei Churchill porque sei como é necessário um líder como ele,
     leia o artigo: Que falta nos faz um Churchill.

sábado, 19 de julho de 2014

O Czar Putin decidirá da guerra.





Não hajam dúvidas: Ele deseja a guerra. Pudesse Putin e já haviam tropas russas em território ucraniano. No  entanto a política é mais que tudo um jogo de enganos: Há que saber simular e dissimular, há que saber fingir e fazer crer, há que saber insinuar e insinuar-se, há que dizer uma coisa e fazer outra. E a 'Real Politik' é um jogo de poder. Poder, pode-se muita coisa, no entanto depois a que se tirar as consequências, por isto antes devem-se tirar as ilações, muitas vezes por tentativas. Faz-se  isto ou aquilo para ver até onde engolem, até onde aceitam, e até onde o jogo de enganos do outro lado  realmente põe seu limite. ou seja o busílis é saber onde termina o engano e onde começa a realidade, aliás muito como quase tudo na vida.

Por enquanto Putin acredita que haveria, haverá, reação internacional contra a Rússia se ele avançar, isto pode traduzir-se em Terceira Guerra Mundial, é mesmo muito difícil saber até onde, até quando e, digamos assim  também: 'até como' se um está disposto a começar isto? Se não acreditasse haveriam tropas russas já há muito em território ucraniano, se é que não as há, mas quero dizer ostensivamente, declaradamente com fez na Xexênia, nada o impedindo de devolver à mãe Rússia este território que lhe foi retirado por Khrushchov numa noite de bebedeira. 

Porém esta sua crença não o impede de atuar no terreno dentro daquelas tentativas, avanços e recuos, para ver até onde o deixam ir, o que tem lhe permitido manter a situação na Ucrânia, sempre elevando o tom do que se passa no terreno, no entanto sem nada evidenciar. Até que se deu este erro ingrato:o avião abatido era comercial da Malasya, cheio de europeus e não um transporte militar ucraniano, o que, no entanto, causa uma indignação internacional generalizada ( que antes de mais devia causar a situação em que se mantém a Ucrânia) o que altera ligeiramente, pondo os holofotes no caso, a situação de ir reconquistando todo o espaço que puder na Ucrânia, até que retome todo o território.

Agora com os holofotes em cima a situação complica-se, e ambos os lados terão que mostrar sua determinação em começar a Terceira Guerra Mundial ( foi assim na segunda com a Polônia) para que a Ucrânia seja ou não seja russa. O problema real das intenções diplomáticas é que elas uma vez colocadas sobre a mesa, passam a ser um fator de probabilidade em vez de possibilidade, e mantendo-se a confrontação, acabam por se tornar uma inevitabilidade. é disto que se trata na questão ucraniana. Até onde irão? E sabedor disto e do altíssimo prêço a pagar, Putin permitir-se-á jogar o jogo com todas as suas possibilidades até o final. O terreno em que se movem os diversos atores é por demais arriscado parra que se posam cometer grandes erros, por isto lhes é sempre permitido puxar a corda, não direi à vontade, mas bem puxada, com força 'pero sin perder la ternura jamás' não é bem ternura mas o controle, para a situação não degenerar, porém ambos os lados vão podendo progredir porque sabem que o outro irá engolindo tudo que puder para não pagar o derradeiro preço altíssimo da Terceira Grande Guerra. Aí neste campo todas as vantagens são de Putin, porque só a ele é permitido progredir no terreno, o outro lado só pode sancionar.


Esta é a segunda fase do conflito, cuja primeira Putin ganhou. O primeiro artigo sobre esta matéria dava-lhes conta de que Putin empregara a política internacional como arma de arremesso contra a Ucrânia, o seguinte falava da evolução bélica na Ucrânia, que deixava a possibilidade de Guerra Civil para a possibilidade de uma Guerra, no terceiro lembrava a falta que nos faz haver verdadeiros líderes para resolver estes assuntos, líderes com convicção e dimensão histórica,  intitulando o artigo de: Que falta nos faz um Churchill, e por fim acentuando a postura dúbia americana, com um líder fraco e tíbio, o Sr. Obama que nunca tem prontidão em nada, o que leva a altos custos a sua tibiez, no artigo intitulado: Que se lixe a UE, e com isto estava encerrada a primeira fase do conflito, ficando entregue a si mesmo. Esse a si mesmo permitiu todo o avanço russo e a consolidação da segunda fase. Agora a queda do avião põe um ponto de interrogação na situação por mover os holofotes sobre ela, mas a segunda fase termina indubitavelmente com uma segunda vitória de Putin.

O mundo atrelado a Putin, um mundo sem vontade e parâmetros próprios, com atores fracos, com falsas determinações. Agora que se irá iniciar uma terceira fase, as expectativas são todas sobre o próximo movimento do 'tzar'. Estará ele mais ou menos disposto a, como fez na Xexênia, arriscar um conflito de maior dimensões internacionais, ou continuará dissimulando a sua guerra ucraniana com supostos agentes locais? É o que se está para ver. No entanto seu último comentário de que foi e é o governo ucraniano que toma a iniciativa, é bem demonstrativo de suas reais intenções. Como elas se manifestarão no terreno é o que estamos para ver.


















quarta-feira, 16 de julho de 2014

POEMA : “Et tout se remplace Sire.”


                                   




     “Et  tout se  remplace Sire.”( Interregno de existir.)
                                                                                                             
                                                                                                                             À Palmela e à
                                                                                                                                 Napoleão Bonaparte.







                          Impassibilidade mais que tudo.
                          É a postura recomendada
                          quando se percebe a transitoriedade
                          em que se está  imerso.

                                                                      Apercebe-se da inutilidade de lutar….
                                                                                  Porque  vai passar.
                                                                                      Tudo  passa.

 ……………”Tout passe, tout casse, tout lasse…………………………..


                                Porque  há um ponto  além do qual já não é.
                                É  asssim.
                                E vai sendo………
                                Até que já não é mais.
                     
                                                                                       Portanto  não  se aflija,
                                                                                       Há  sempre  uma  possibilidade.
                                                                                       Impossível é não haver.

                                E, mais  tarde, o intangível,
                                torna-se presente.
                                E um pouco mais tarde torna-se banal.
                                                                                             
                                                                                       E como tudo cansa,
                                                                                       esta banalidade também se vai.
                                                                                       E se esvai nesse ir-se.
                                                                                       E já não é.
                                                                                       Às vezes  nem é outra  coisa.

                                  E  não sendo outra  coisa,
                                  pode ser  a  mesma.
     
                                                                   E se assim é:
                                                                                         Viva  Madame  de Stael!


quinta-feira, 10 de julho de 2014

NINGUÉM CONHECE O BRASIL SEM IR A PORTUGAL.



                                                                                             
                                                                                                       O outro lado da sua alma.




A identidade de nomes, pessoas e lugares,  os traços humanos, comuns e originários, as desmedidas propenções fraternais e culturais, os hábitos alimentares e sociais, as manias, as vaidades, os orgulhos, as presunções, as medidas e as desproporções, as lógicas, superstições e místicas. As idiosincrasias, as pretenções, as crendices, o folclore, e... sobretudo a fé. Brasil é Portugal em tudo! De tudo que resultou nesta grande nação, cujo traço marcante de sua identidade original é lusitano, de bom e de mau, de miséria e grandeza, tem como vibrante presença ainda hoje, passados 125 anos que não temos um Bagança a nos governar, ou seja que a mão portuguesa retirou-se definitiva e ostensivamente do Brasil, e que o Brasil passou a ser outra coisa, em sendo a mesma, Portugal!

Os mesmos nomes de pessoas e lugares para pessoas e lugares tão diferentes, Óbidos a pequena vila medieval amuralhada da zona oeste junto das Caldas em Portugal, e a cidadezinha paraense, com feições do XIX, no meio da selva amazônica, à beira do rio Amazonas, tendo do outro lado Santarém na confluência com o Tapajós. Santarém que em Portugal é a capital do distrito do mesmo nome à beira do Tejo, exceto as margens que estão trocadas entre a Santarém do Tejo e a do Amazonas, direita e esquerda respectivamente. Tendo a mesma perspectiva de uma cidade/porto num grande rio, também fez a opção pelo nome. Não tendo sido moura por 432 anos como sua homônima portuguesa, a Santarém amazônica, sem lezírias, desempenha o mesmo  papel de porto de grande rio, como a Santa Iria de outrora num Tejo primitivo. Há também os nomes de pessoas que são de lugares, nomes que servem para apelidarem os Catanhedes, os Gouveias, os Lisboas, os Paivas, que há, tanto num como noutro país. São exemplos de uma lista bem grande que não cabe no âmbito de um artigo.

As mesmas peles trigueiras ou brancas, as mesmas bundas enormes nas mulheres para gosto e gáudio  de seus homens, os mesmos rostos bonitos de homens e mulheres com seus traços característicos, tanto nos louros como nos morenos, tanto nos celtas como nos mouros, tanto nos tipos de um país como nos do outro, vamos encontrar identidades de jeitos e trejeitos, de queixos e narizes, de braços e bigodes, de gente que se funde e se confunde, de gente  que se busca e se perde neste encontro.

O branco português, que no Brasil tem um expectro mais alargado, assim como o moreno, incluindo aí muito mulato, tem uma origem muito antiga, e que pelo seu caráter maleável, se fizermos uma pesquisa, vamos encontrar seu gen(e) em toda a gente no Brasil, inclusive em muitos contados como negros, e o contrário também é verdade. Só mesmo dizendo como Caymmi na sua "São Salvador" que esta é a terra do branco mulato, o que é visível, ou como podemos também comprovar invisivel e geneticamente, o Brasil é a terra do negro-branco, não o vemos, mas está lá, e não atende nenhum telefone. Colorações e genética à parte, temos este maravilhoso 'melting pot' que se chama Brasil, mas não se enganem, vão a Alcácer  do Sal do outro lado do Tejo, quase em frente a Lisboa e façam uma pesquisa, e verão quanto branco-negro está ali também, numa população pequena de treze mil almas. A afabilidade lusitana e o gosto pela cama, fez a mais prodigiosa miscigenação, raiz da ausência de ódios 'raciais' no Brasil. Lei Afonso Arinos à parte, o branco português ou a branca portuguesa, queria era se deitar com os negros e negras lindas que pudessem, inzoneiros ou não, bendito instinto que nos deu este Brasil brasileiro.

As mesmas bases  alimentares introduzidas aqui e acolá, importadas por ambos os lados atlânticos, em sentidos opostos, com imensos desdobramentos, resultando em estupenda culinária nos dois países. No Brasil guardando as bases da cozinha mediterrânica incorporada e modificada até não mais poder, e em Portugal importando produtos d'além mar, sem os quais já não podiam passar no dia a dia, africanizando ou abrasileirando uma culinária tão extruturada, eventualmente aqui e ali e ali e aqui. Gostos à parte, ambas as culinárias estão no 'top 5' mundial! O que quer dizer que juntos temos 40%, ou quase metade, da excelência gustativa à mesa.

Porém o mais curioso de tudo é a lógica, muita vez ilógica, comum às duas nações. Seu jeito autoritário, seus nacionalismos acendrados e regionalismos exacerbados, suas presunções, seu fatalismo e sua crença desmedida, fé, paradigma de esperança, ou, como queria o Vianinha ao brasileiro, sua profissão, podem incluir aí, sem receios, o português. Vaidades e superstições à parte temos um folclore de alma comum, e manifestações ainda que tão diferentes, tão iguais. Desde o círio da Nazaré, até à procisão das velas em Fátima, e desde as cavalhadas em Vildemoinhos(Vizeu) Monte Real, Azeitão, Ferreira-a-Nova, Ançã ou na Pocariça em Catanhede, como em Pirenópolis, Poconé, Corumbá de Goiás, Guarupava ou Vacaria, são a mesma festa, a mesma fantasia. Imenso Portugal como diria o Chico, não o rio que integra e une o país gigante, mas o Buarque de Holanda, de sobrenome tão ilustre, que de Holanda não tem nada, apesar de também 'pernambucano' e são tão como o rio, nos dois sentidos.

Encontro a mesma fé na Nazaré, paulista, paraense, bahiana ou portuguesa, com mais ou menos farinhas, que Fernando Cabral Ataíde, natural da antiga capital algarvia de Silves, nunca sonhara quando atravessou o Jaguaribe, certamente seu Rubicão, fundando aquela que iria ser terra morena como a Grândola  de seu Alentejo. Fé de fazer, fé de querer, fé de ser, a fé que nos une e nos iguala, e que, também, como o imenso mar "entre nós dois a nos unir e separar", pois nos separa com suas variantes dicotômicas óbvias, mas é a mesma, a da Nossa Senhora da Nazaré, ou doutra, de qualquer outra de suas muitas denominações, comuns ou não, aparecidas nos dois países pela força da contingência de crer, crer fortemente, que no falar lusitano crer é um querer apocopado, já que sempre algo se quer quando se acredita.

Esta mística de cruzes e destinos que nos inaugura e conflagra, bem como nos iguala, a ambos, e que nenhum dos lados se conhece bem sem conhecer o outro, sem se ver e se encontrar no outro, não só na magia do encontro, esta arte da vida como queria Vinicius, mas na magia de todas as magias, que é ser não sendo, e não ser sendo, num abraço de almas e desejos. Por isto na mesma medida que o sentir português se amplia, renova e define ao conhecer o Brasil, podendo-se mesmo dizer que não será total e pleno enquanto não se revê em sua maior obra, o Brasil, já que a obra maior dos portugueses é o Brasil certamente, maior e inigualável obra, pode-se então afirmar, ao mesmo tempo, que ninguém verdadeiramente conhece Portugal, sem ir ao Brasil, bem como NINGUÉM CONHECE O BRASIL, SEM IR A PORTUGAL!



http://revistaphilos.com/2017/03/31/ninguem-conhece-o-brasil-sem-ir-a-portugal-por-helder-parana-do-coutto/







terça-feira, 8 de julho de 2014

A Era do ecrã.



Assim como o século XX, pode, indubitavelmente, ser considerado no tempo histórico, como o século do automóvel, tendo sido o ideal de consumo preponderante e vetor da expansão da sociedade desde que Ford criou a linha de montagem e generalizou o acesso a este produto, sem o qual não se vive bem atualmente, podemos afirmar que, agora, entramos na Era do ecrã, sendo hoje o elemento dominante no cotidiano pelas mesmas razões que o automóvel o foi, porém, neste último caso, é mais abrangente sua utilização, sendo quase uma generalização, posto que com este produto em que sua utilidade tem várias vertentes e diferentes meios de uso, atinge expansões a domínios não pressentidos.

Pessoas com bastante idade têm uma média de seis horas diárias em frente a ecrãs diversos, podendo este número ascender às 11 no caso de certas faixas da população, em média. Em números absolutos há valores que são alarmantes. Estes números médios de 6 e 11 horas representam 25% (um quarto do dia) e mais de 45% (quase metade do dia) respectivamente, do número de horas de um dia pleno e  que se compararmos com as horas disponíveis dos dias úteis (16 em vez de 24, considerando só a vigília) estes valores representam mais de 37% e quase 70% respectivamente. Para os mais jovens que disponham dos diversos aparatos em uso, todos com ecrãs de diversos tamanhos, permitindo-lhes acessibilidades diversas conforme a circunstância, estes valores podem chegar a 80%, dependendo da faixa da população, e até 110%, o que significa que estará roubando parte do tempo diário do sono neste caso, e terá aplastrado todas as outras atividades diárias, desde a alimentação às fisiológicas, muitas delas feitas em frente a um ecrã. Isto é absurdo! É, mas é também um fenômeno de culto que está sutilmente alterando hábitos por toda parte, e criando outros que, com as suas componentes de não dição e sedentariedade são verdadeiramente perigosos, gerando uma nova angustia, diferente daquela de Álvaro de Campos, mas deixando-nos também doidos à frio, lúcidos e loucos, alheios a tudo e igual a todos, da mesma maneira. Estes números mostram-se surpreendentes, quando pensamos que as pessoas têm de comer, tomar banho, fazer suas necessidades, e, imagino eu, olhar a paisagem...o que em muitos casos significa que se alimentam em frente a um ecrã, vão ao banheiro, wc, levando um ecrã, se locomovem olhando para um ecrã, etc... etc...é assustador, mas é assim, sobretudo os mais jovens. Vemos bem isto nos shoppings.

A vida passou a ser o ecrã e o que ele nos traz. Os diversos ecrãs, o da televisão com sua programação destinada a várias faixas etárias em diferentes horários e dias, sua necessária informação diária, e seu leque de opções de entretenimento que inclui uma seleção diária de diversos filmes e documentários para variados gostos; o do computador com seus jogos, suas informações expecíficas, seus meios de comunicação atraentes e dinâmicos, suas músicas, e, mais que tudo, com suas rêdes sociais; o do telemóvel e telefone, utilitário no princípio, mas que reproduz todas as linhas do computador por acesso conjugado, além de estar disponível para a comunicação direta, ao vivo, em viva voz; o dos pads, diversos, os de caráter privado, e o dos diversos serviços públicos que os utilizam, e, seu acesso, se dá tanto na vida privada como na profissional e estudantil de cada um dos implicados, e o dos diversos serviços que os utilizam desde para informar quando chega o próximo meio de transporte à plataforma de embarque, a que você é o próximo da fila. A realidade, agora virtual, conta o que se está a passar na pracinha da aldeia, dispensando o deslocamento até ela, dispensando a inclusão real, desestimulando a ação e criando uma nova forma de estar e de sentir que, penso, perigosamente, está transformando lenta e imperceptivelmente uma maioria avassaladora em outros animais diferentes daquele primeiro Homo sapiens que evoluiu até a Era industrial. Na pós industrial assume uma condição e um 'essere' que o torna outro, menos 'mobilis', menos 'habilis' características fortes do 'sapiens' e muito mais omnisciente e com acesso infinitamente mais alargado, agora praticamente instantâneo e ilimitado (não pesam mais as restrições temporais, espaciais e econômicas preexitentes) podem estar em todos os lugares e saber de todas as coisas, sem pagarem nada e sem saírem de onde estão. Eis a era do ecra!

Graças à mágica do ecrã estamos, sem estarmos, em toda parte, participamos, sem participarmos, de todos os eventos, inclusive dos que não nos dizem respeito, pensamos interagir com um sem número de situações e acontecimentos, em que na verdade não tomamos parte, e somos, destarte, OS AUSENTES MAIS PRESENTES NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE! Aonde nos levará a Era do ecrã?




sábado, 5 de julho de 2014

As sementes do ódio





Pois foram dois advogados Sul-africanos de diferente cor, que marcaram o século XX com as suas posições de aceitação do próximo. Foram desobedientes, foram resistentes, foram Heróis, mas, mais que tudo, foram dois homens que ensinaram a tolerância e o perdão a um nível inaudito.

Ninguém é herói programadamente, mas sim circunstancialmente, como não poderia deixar de ser foi assim com estes dois homens. As condições de descriminação, segregação, domínio, imposição, maldade e arrogância, levaram a que ambas as situações se tornassem insustentáveis para seus respectivos opressores, e fizessem, por fim, ruir o edifiicio odiento, odiável e odioso que as mantinha. Um de pele cobreada e estrangeiro na África do Sul, o outro de pele negra e Príncipe segregado em seu próprio país.

No primeiro caso, quando retorna a seu país com a experiência sul-africana, confronta o domínio imposto a seu povo multi-milenar pelos ingleses de forma tão forte e excludente, que inconformado se opõe obstinadamente. Assim como se passou com Jesus, que seus seguidores esperavam se trasformasse num líder militar de uma revolução sanguinária, e não foi, Ghandi, a grande alma, Mahatma em hindu, revolucionou a Índia e saiu vitorioso, libertando seu povo, mas de modo absoluamente pacífico. A autoridade moral joga um papel tão transcendente que nos causa à todos impressão reverente. Ou seja todos, mesmo os que se opõem e se impõem, acabam por se curvar ante quem tem autoridade moral, ante quem tem razão.

No segundo caso os autoritários racistas segregaram, excluíram, prenderam, mataram, torturaram, com violência e sem outro critério, que não o da cor da pele, não que haja critério aceitável para segregar, excluir, matar, torturar, mas poderia haver algum fundamento, ainda que inaceitável. Não havia, os negros não o podiam ser, num país negro. A cor da pele os excluía de tudo, mesmo que eles fossem Príncipes. É que, como afirma Jorge Amado na Bahia de Todos os Santos, os príncipes eram escravos dos degredados, dos criminosos. Lá o mesmo, já que na África do Sul os brancos tornaram-se criminosos ao excluir os negros só por serem negros, usando os mais terríveis métodos. Mandela ao sair de décadas de cárcere, guardava intacta sua autoridade moral de líder, de Príncipe que era, e a usa na confraternização de um país destroçado, na união mais que improvável de partes tornadas injungíveis (bom neologismo para o que se não pode juntar.) pelo ódio, reúne as duas metades mutuamente excludentes de um país dividido, só com seu exemplo de perdão e tolerância, tudo o que não tiveram com ele.

Ainda não vi um branco capaz de tal grandeza!

Porém em ambos os casos havia uma origem comum desta rejeição, desta separação, desta exclusão, e, consequentemente, desta suposição de superioridade, de altanaria, de soberba estúpida, origem de todas as causas; as sementes do ódio, a semente de todos os ódios que é sempre a intolerância. Respaldados em seus privilégios intransigiram com os demais, mesmo tendo todos os mesmos Direitos sobre aquele país, todos iguais em seus Direitos e deveres, portanto não se justificava excluir ninguém. Eis que excluindo os mais fracos, esquecendo que a arte da política é a da  inclusão, abusavam do poder, e não praticavam política. Sempre que se exclui alguém não se está fazendo política, está se usando o poder.

Este perigo recorrente de uso da posição privilegiada de força de alguns, contra a posição de fragilidade de outros, quase sempre em grandes desproporções, desde a numérica até a moral, provoca sempre distorções e injustiças, que, como desajustamentos e descontentamento se traduzem, gerando posições perigosamente cheias de atritos, que degeneram, quase sempre, em conflito. Em sociedade o vício é o mais perigoso comportamento, que só pela força pode prevalecer, a política deve ser justamente o oposto da situação viciosa, porque, como regra primeira, ela deve atender ao todo e incluir todos, protegendo os fracos contra posições de força. Toda ação que não vá neste sentido não é política. Como disse o Papa Francisco é a mais alta forma de amor.

Ou todos entendemos que hoje o mundo não tem espaço para intolerâncias de nenhum molde, porque globalizado, ou todos nos afundamos na mesma injustiça. Parece que atingimos uma interdependência que não permite excluir ninguém. Maravilha das maravilhas: É um paradigma divino, e um paradoxo humano.

Faltam hoje no mundo lideranças políticas na acepção profunda do termo, que queiram fortemente arrancar estas sementes do ódio que grassam, como fizeram aqueles dois advogados sul-africanos. As primaveras árabes, as distorções européias, a insatisfação e as revoltas latino-americanas, as frementações asiáticas, entre outras, são sementes de ódio que lá estão manifestas pela intransigência dos que excluem muitos no corpo social. Há um desconforto perceptível em todo o mundo. Pode ser, tanto dos excludentes como dos excluídos, e estes podem ser pessoas, podem ser grupos de pessoas, podem ser classes sociais inteiras, podem ser países, como podem ser gupos de paises, que quando excluem estão perpetrando injustiças e semeando o ódio.


Pois que as sementes do ódio são estas duas manifestações do sentimento humano:  intolerancia e exclusão.







quarta-feira, 2 de julho de 2014

10 anos sem Sophia de Mello Breyner Andressen.

LUZ QUE NÃO SE APAGA
                                                                     A Sophia de Mello Breyner Andressen.


 Falar do espírito ou da luz de uma pessoa,
 falar da força e da voz de uma pessoa,
 não é coisa simples, não é coisa à toa.
 Para evocar alguém, o que se diz?... Ou: O que se diria?
 É muitíssimo mais complicado quando este alguém é Sofia!

Que espírito terá Sofia
pra esse seu enorme dizer?
Dizer é perceber, é entender e analisar,
é, sem nada iludir,
fluente, formalizar.


                          Transpor vales e montanhas,
                          descer no mais fundo do mar,
                          desvendar as artimanhas
                          e assurgente, em alarme, se elevar.


Que voz terá Sofia
pra esse seu imenso dizer?
Imenso que tudo envolve,
E tudo quer arrebatar….
Tão intenso que tudo move
e nada  deixa quieto,
tem mais força a arrastar.


                            Leva consigo sentimentos
                            com cores, cheiros, fermentos
                            da explosão da vida à calhar
                            nos seus bordados elementos,
                            trançados a nos enrredar.



Que força terá Sofia
neste seu poderoso  afirmar?
Poder que forma solidez
perene que se alastrou
e assumiu a sua vez,
presente em tudo que tocou.

                             Força que se fez em vento,
                             sopro cálido  de alento,
                             de busca, de grito, de garra,
                             de voz que nunca se cala,
                             que é presente a todo momento,
                             sem falha e com parra.


Que luz terá Sofia
neste enebriante brilhar?
Sua fragilidade o quanto podia,
fazia o que bem queria,
ardia sem se queimar.


                                   Fosse noite, fosse dia,
                                   da mais tenebrosa escuridão,
                                   do mais radiante e solar,
                                   algo mais percebia  Sofia
                                   e, clara, (…)nos vinha contar.



E lembremos o poema de José Carlos Ary dos Santos, que se eu soubesse dele nunca tinha escrito meu (1/9/21): Retrato de Sophia Senhora dona águia água égua inglesa num jardim de potros gregos mordiscando beleza rega cega do regador de inês em seus sossegos. De muitos anos colhes o magro fruito que depressa transformas em compota receita tão bem feita que de há muito nos açucara o travo da chacota. Porém quando por vezes és de pedra não mármore mas árvore mas dura do fundo do teu mar levanta-se a cratera da nossa lusitana sepultura



































                      Sofia e suas luvinhas brancas. (RETRATO)



   Veio a Senhora de corpo frágil, rosto sereno, pele morena, vestido impecável, bolsa de cromo e luvas brancas, perguntar-me, dizendo boa tarde: A B’lá ? Era uma das filhas do Sr. Martins Costa (Fernando)de quem era amiga. Sofia era um pouco despassarada, errara de corredor.
   Era  frágil no aspecto, olhos vivos, pisava pesado  e tinha esse ar irriquieto que têm todas as pessoas que são grandes, não têm muito com que se percam, só lhes importa seu objetivo. Sofia era um ser que olhava para além …. Quem sabe se além mar, além muito ou além mal? O fato é que era para além, muito além destas coisas  pequenas e mesquinhas das quais são feitas o mundo no dia a dia.
    Respondi-lhe: é no outro corredor e resolvi, instintivamente protetor, escoltá-la para que ela não errasse a loja. Não sabia quem era aquela Senhora ( não a conhecia, sou brasileiro e era recém chegado) e não fazia ideia nenhuma de Sofia, não sabia quem era aquela Senhora, mas gostava dela, logo assim ……..  Aquele jeito, aqueles olhos, ah….aquelas luvinhas brancas…como se o mundo todo fosse poluído e só ela higiênica e limpa, gostei dela logo de cara. Com uma classe e uma forma de estar que a diferenciava, mas com um calor que me aproximava dela, um não sei que de intenso e magnético, com o jeito certo e na dose certa....     Assim era Sofia!

    A B’lá que tinha fama de que era doida de pedra e penso que gostava de mim, era minha amiga e creio que de mais ninguém no shopping, disse-me que eu voltasse mais tarde pro chá. Logo aí, durante o chá, falei tanta coisa, contei tanta história, que fiquei amigo de Sofia e logo à seguir, passei a  saber  quem era Sofia – escritora, poeta, ativista política.Só não sabia que era esse gigante, este ser grandioso e radioso que brindou Portugal com a sua existência. Depois li alguns versos seus nas paredes do aeroporto e achei bem, pelo amor que já lhe dedicava, que fosse reconhecida (hoje sei que foi tão pouco) comprei todos os livros seus que encontrei e comecei a adorar Sofia.

   Passados muitos meses Ela voltou, aquelas visitas eram um ato de contrição de Sofia à  amiga que estava meio maluquinha. Belá tinha ficado bipolar desde há muitos anos. Pois Sofia voltava com alguma regularidade a visitar a amiga  e, indiretamente, a mim, que toda vez era chamado pro chá.  Uma vez Ela soube que minha filha ia nascer e resolveu trazer-lhe um livrinho seu, para crianças. Eu disse-lhe que Ela o daria no seu primeiro aniversário, que eu iria convidá-la para a festa. Parece que Ela sabia… morreu dois meses depois.

    Tinha naquele dia o mesmo ar, a mesma doçura no semblante e a mesma altivez majestática e a mesma distância cálida  que a tornavam sempre bem vinda e esperada onde quer que fosse. Aquele calor que nos aproximava mas nos impunha respeito.

     Eu aí, depois de lê-la, já tinha adoração por Ela, mas nossa relação nunca mudou, Ela não alterou em nada o seu estar, leu algumas coisas minhas, gostou, fez alguns comentários, fiz-lhe um poema do qual me pediu cópia, não deu tempo. (Pu-lo no final do texto.)
Gostou  muito  da parte  do  poema onde diz que   Ela é  reflexo de mar.  Como gostou. Soube que eu havia lido muito d’Ela e que havia adorado, mas Ela via no meu olhar o bem querer desde o primeiro instante e mais gostava ainda por ele ter-se manifestado sem que eu soubesse quem Ela era.  Ah! Isto Ela gostou mesmo..
  Tenho tido tanta sorte na vida, Deus me deu tanta gente grandiosa que ficou minha amiga, mas este modo como Deus me deu Sofia – D. Sofia como eu a chamei sempre, foi muito lindo…..
E então, ao chá, Ela tirou as luvinhas brancas, pousou-as sobre a carteira e com as suas mãozinhas pequenas e ágeis, segurou a chávena de porcelana, parou a meio e disse-me:
“ Gosto muito do Brasil, sempre quis estabelecer uma ponte com o Brasil. Entre o Brasil e Portugal.”
 Eu também e a ponte para mim vai ser minha filha – luso-brasileira – e disse a D. Sofia :
'Ela será a menina da ponte.' Em memória de Sofia que tinha esta grandeza de ver para além das coisas, das circunstâncias, poética e politicamente entendia que Portugal e Brasil deviam estar próximos. E eu achei isto lindo, muito lindo ………………………. Como linda era D.Sofia.

Penso que as pessoas verdadeiramente grandes vêem pra além das circunstâncias, pra  além dos  momentos, pra  além das  situações  …..  Seu tempo não é deste mundo, suas balizas  não são as correntes, as vigentes, por isto, às vezes, cometem  transgreções.
As leis, as regras são feitas para a média e estas pessoas estão acima da média, distantes  da realidade pequenina e sombria do dia a dia que precisa de muito governo e muita polícia para manter a ordem para fazer vigir as leis. Estas pessoas que estão acima do bem e do mal, também não fazem mal a ninguém, às vezes a elas mesmas. Estas pessoas trazem consigo o signo da eternidade, por isto não se perdem na pequenez da existência cotidiana, estão noutra onda, noutra frequência. Preocupam-se com outras realidades que, em geral, não ocorrem aos comuns dos mortais.

                  Quando penso em D. Sofia tenho a forte intuição desta realidade, entendo seu ar majestático, entendo porque era despassarada, entendo seu extremo cuidado no vestir e, mais que tudo, entendo suas luvinhas brancas.º-º-


                                                      POEMA DE SOFIA.


Sofia quer dizer saber,
a sabedoria traz esta convivência
dos antagônicos e dos mutuamente excludentes,
traz esta aparente incongruência,
de opostos conviverem pacificamente.


Altiva e humilíssima,
complexa e simplicíssima.
‘Racé’e acessibilíssima
no ser, no estar, no escrever.
Não aceita o brutal nem o ocasional,
nem a pequenez ou a incensatez.

Reflexo de mar,
onde é preciso dar sempre nome  às coisas,
para as amar,
não devemos esquecer:
Sofia quer dizer saber !

Fio de Ariádne que descortina a existência,
segue o destino da ciência,
que é sem ser.
É preciso não esquecer:
Sofia quer dizer saber.

É visão, é empírica,
permanente evocação,
arquétipo de excentricidadade
é  solução, é satírica,
jardim da recordação,
onde só brota novidade.

Às  vezes é maior pecado a omissão,
que a poetiza combate em todas as frentes.
Educando os pequenos para não se omitirem,
numa vida tão colorida e numa presença a preto e branco,
Sofia é um divisor de águas impossível de esquecer.
Lembre-se Sofia quer dizer saber.

Um saber assim tão fidedigno
não se adjetiva.
É saber somente.
Que volta sempre como a brisa que sopra
do mar constantemente,
sem faltar nenhum dia,
suavemente presente,
no saber, que quer dizer Sofia.



Depois eu ajuntei estas duas estrofes:



Foi-se de mim D. Sofia,
foi tão pouco…
Foi-se pro seu mar,
navegar.
Foi-se e é tão presente!
Quem diria?





Deixou em mim seu rastro, com força,
força que nunca acaba,
pavio que, mesmo que não se  torça,
dá luz que nunca apaga.