Pois foram dois advogados Sul-africanos de diferente cor, que marcaram o século XX com as suas posições de aceitação do próximo. Foram desobedientes, foram resistentes, foram Heróis, mas, mais que tudo, foram dois homens que ensinaram a tolerância e o perdão a um nível inaudito.
Ninguém é herói programadamente, mas sim circunstancialmente, como não poderia deixar de ser foi assim com estes dois homens. As condições de descriminação, segregação, domínio, imposição, maldade e arrogância, levaram a que ambas as situações se tornassem insustentáveis para seus respectivos opressores, e fizessem, por fim, ruir o edifiicio odiento, odiável e odioso que as mantinha. Um de pele cobreada e estrangeiro na África do Sul, o outro de pele negra e Príncipe segregado em seu próprio país.
No primeiro caso, quando retorna a seu país com a experiência sul-africana, confronta o domínio imposto a seu povo multi-milenar pelos ingleses de forma tão forte e excludente, que inconformado se opõe obstinadamente. Assim como se passou com Jesus, que seus seguidores esperavam se trasformasse num líder militar de uma revolução sanguinária, e não foi, Ghandi, a grande alma, Mahatma em hindu, revolucionou a Índia e saiu vitorioso, libertando seu povo, mas de modo absoluamente pacífico. A autoridade moral joga um papel tão transcendente que nos causa à todos impressão reverente. Ou seja todos, mesmo os que se opõem e se impõem, acabam por se curvar ante quem tem autoridade moral, ante quem tem razão.
No segundo caso os autoritários racistas segregaram, excluíram, prenderam, mataram, torturaram, com violência e sem outro critério, que não o da cor da pele, não que haja critério aceitável para segregar, excluir, matar, torturar, mas poderia haver algum fundamento, ainda que inaceitável. Não havia, os negros não o podiam ser, num país negro. A cor da pele os excluía de tudo, mesmo que eles fossem Príncipes. É que, como afirma Jorge Amado na Bahia de Todos os Santos, os príncipes eram escravos dos degredados, dos criminosos. Lá o mesmo, já que na África do Sul os brancos tornaram-se criminosos ao excluir os negros só por serem negros, usando os mais terríveis métodos. Mandela ao sair de décadas de cárcere, guardava intacta sua autoridade moral de líder, de Príncipe que era, e a usa na confraternização de um país destroçado, na união mais que improvável de partes tornadas injungíveis (bom neologismo para o que se não pode juntar.) pelo ódio, reúne as duas metades mutuamente excludentes de um país dividido, só com seu exemplo de perdão e tolerância, tudo o que não tiveram com ele.
Ainda não vi um branco capaz de tal grandeza!
Porém em ambos os casos havia uma origem comum desta rejeição, desta separação, desta exclusão, e, consequentemente, desta suposição de superioridade, de altanaria, de soberba estúpida, origem de todas as causas; as sementes do ódio, a semente de todos os ódios que é sempre a intolerância. Respaldados em seus privilégios intransigiram com os demais, mesmo tendo todos os mesmos Direitos sobre aquele país, todos iguais em seus Direitos e deveres, portanto não se justificava excluir ninguém. Eis que excluindo os mais fracos, esquecendo que a arte da política é a da inclusão, abusavam do poder, e não praticavam política. Sempre que se exclui alguém não se está fazendo política, está se usando o poder.
Este perigo recorrente de uso da posição privilegiada de força de alguns, contra a posição de fragilidade de outros, quase sempre em grandes desproporções, desde a numérica até a moral, provoca sempre distorções e injustiças, que, como desajustamentos e descontentamento se traduzem, gerando posições perigosamente cheias de atritos, que degeneram, quase sempre, em conflito. Em sociedade o vício é o mais perigoso comportamento, que só pela força pode prevalecer, a política deve ser justamente o oposto da situação viciosa, porque, como regra primeira, ela deve atender ao todo e incluir todos, protegendo os fracos contra posições de força. Toda ação que não vá neste sentido não é política. Como disse o Papa Francisco é a mais alta forma de amor.
Ou todos entendemos que hoje o mundo não tem espaço para intolerâncias de nenhum molde, porque globalizado, ou todos nos afundamos na mesma injustiça. Parece que atingimos uma interdependência que não permite excluir ninguém. Maravilha das maravilhas: É um paradigma divino, e um paradoxo humano.
Faltam hoje no mundo lideranças políticas na acepção profunda do termo, que queiram fortemente arrancar estas sementes do ódio que grassam, como fizeram aqueles dois advogados sul-africanos. As primaveras árabes, as distorções européias, a insatisfação e as revoltas latino-americanas, as frementações asiáticas, entre outras, são sementes de ódio que lá estão manifestas pela intransigência dos que excluem muitos no corpo social. Há um desconforto perceptível em todo o mundo. Pode ser, tanto dos excludentes como dos excluídos, e estes podem ser pessoas, podem ser grupos de pessoas, podem ser classes sociais inteiras, podem ser países, como podem ser gupos de paises, que quando excluem estão perpetrando injustiças e semeando o ódio.
Pois que as sementes do ódio são estas duas manifestações do sentimento humano: intolerancia e exclusão.
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