sábado, 30 de setembro de 2017

Da Insubordinação Civil. "Todo el pueblo, a una."






A insubordinação civil destrói o Estado de Direito, mas não como a guerra o faz, onde por sua ação deixa de haver o próprio Estado, e deixa de haver Direito, podendo, terminada a guerra, haver qualquer outra coisa que os vencedores queiram que haja; nem o destrói como o crime, que corrompe o Estado de Direito, se o destruir, ao menos na aparência, e nem o desmonta, ou o anula, onde se manifesta, sendo mais como uma mancha punctual que logo desaparecerá, porque as forças da ordem e da legitimidade do Estado de Direito são mais poderosas que as do crime. Com a insubordinação civil temos igualmente a derrocada do Estado de Direito por sua ação, mas não como crime porque não sendo individual como é no crime, o Direito que questiona tem uma abrangência mais ampla, e que não é corruptora, mas efetivamente destruidora, portanto, mesmo com sua punição, é alvissareira e não como a guerra porque depois de  realizada não implantará novo Estado de Direito, como podem fazer os vitoriosos da guerra por terem força para tal. Aqui, com a insubordinação, sua força extingue-se em si mesma, como a vida, no ato de realizar-se, não indo para além disto; no entanto esta simples manifestação heróica é suficiente para alterar o Estado de Direito definitivamente, e qualquer perseguição que se lhe façam, a legitima ainda mais. Portanto é como um furacão que muda a paisagem definitivamente, já nada será como dantes, posto que houve aquele ato de insubordinação, alterando mesmo o próprio Estado de Direito.

Gandhi viu isto com clareza, advogado que era, e, com sua formação jurídica, foi destruir a supremacia do Império Britânico ao fazer sal. O Império decretara sua exclusividade na Índia em poder fazer sal, esse bem diário tão precioso e necessário à vida humana. Pois Gandhi com um grande número de seguidores foi ao mar, apropriou-se de uma quantidade de sua água e deixou-a evaporar ao calor intenso do Sol indiano, produzindo, destarte, sal, o que era proibido pelas leis do Império que governava a Índia. Era a insubordinação civil, a arma pacífica que Gandhi escolhera para derrubar o Império Britânico e libertar seu país. E derrubou-o! Sabia que corrompera a essência de uma supremacia iníqua, sabia que depois nada mais voltaria a ser como dantes, e sabia mais, que se os ingleses o perseguissem ou o prendessem, como aconteceu, mais ainda estaria legitimada sua causa.

Esta ocorrência ocasional em Catalunha, posto que os catalães, diferentemente de Gandhi, que o fez conscientemente como ato de insubordinação, foram levados por força da estupidez de Madrid, consubstanciada na posição de um homem sem grande visão, o sr. Rajoy, a cometerem a insubordinação, ou seja,  realizarem o Referendum contra a vontade espanhola, contra a letra dos dispositivos constitucionais, e contra a decisão do Tribunal Constitucional que a confirmou. É um ato de insubordinação civil que destruirá o status quo do Estado de Direito, criando nova realidade, um novo modo de estabelecer as coisas pela vontade, vontade renovada e modificada diferentemente do que tem prevalecido em Espanha até então. Tudo será diferente, ainda que Madrid creia impor sua vontade, punindo exemplarmente os líderes da revolta. A insubordinação civil, assim como um vírus para o qual não se conhece remédio, infectará o Estado de Direito, comendo-o vivo por dentro, e pondo em seu lugar algo diverso, uma realidade absolutamente diferente que revelará possibilidades infinitas, que, para quem as souber conduzir, serão as obreiras do futuro desejado, onde Novo Estado de Direito se irá assentar.

Diga-se como Lope de Vega: "Aqui a vontade do povo é só uma: Fuenteovejuna, Fuenteovejuna."

Está cada vez mais perto o dia de uma autonomia Catalã, que só poderá ser evitada com a oferta de a transformar em Reino-Unido, como foi com o Brasil, reino unido de Portugal quando D. João (que depois será o VI de Portugal) lá foi morar no Rio de Janeiro. Esse anseio Catalão tem muitos séculos de luta, e não desapareceu. Quando em 1640 Portugal era espanhol, a Espanha perdeu Portugal, e a sua outra metade do Império mundial, para manter Catalunha, não evitando a Restauração portuguesa com a aclamação de D. João IV, quando ficou muito evidente o quanto estava disposta a pagar para manter a província catalã. Porém a insubordinação civil que agora se deu, abre novas e inesperadas perspectivas imponderáveis.

A insubordinação Civil tem um poder desalentador, roubando mesmo o fôlego de quaisquer outras ações, porque além de desmoralizar o dito estado de Direito, expondo que não há esse Direito pretendido a manter o Estado, como faz desmoronar todo o edifício do Estado (do Governo) como até então estava estruturado, e desqualifica qualquer nova ordem pretendida a ser instituída. A combinação desses três fatores, mais, como nos lembra Lope de Vega, o de juntar as vontades populares, é fatal, derrubando total e  absolutamente o Edifício do Estado, que só poderá ser reerguido com outras pedras.




terça-feira, 26 de setembro de 2017

Agência Europeia de Segurança Digital.






Dentre todos os pontos do discurso do estado da União do presidente da União Europeia no passado treze de Setembro, onde abordou pontos tão importantes como a política financeira, e econômica, o crescimento da união, terrorismo, defesa. etc..., Jean Claude Junker tocou num ponto crucial para a UE, a Agência para a Segurança Digital, que sendo uma iniciativa transnacional ganha contornos de uma importância vital para o futuro da união, primeiro porque a consolida como tal, sem fronteiras virtuais, segundo que a abrangência da ação de uma agência europeia, permitirá que os mecanismos de defesa se alarguem e formem um sistema de defesa informática que se traduzirá na efetiva defesa de meios que já são interdependentes como os oleodutos, os gasodutos, as refinarias, as linhas de transmissão de energia transfronteiriças, as bolsas de comércio, e tudo o mais que se tem integrado Europa fora, para além da integração territorial num espaço 'sem fronteiras'.

O Sr. Junker acerta na mosca com essa proposta, muito mais porque o espaço virtual é hoje o primeiro campo de ataque onde se desenvolvem as ações básicas a qualquer guerra que pretendam desencadear, e é ao mesmo tempo plataforma para qualquer ação de terror que se esteja a fermentar. O Mundo hoje é algo tão diferente do que era há três décadas, que não pode ter como referência esse tempo, muito menos o que foi a última guerra mundial já tão distante segundo esses rápidos critérios, pois foi já há mais de sete décadas, e os tipos de respostas que se davam então, não são os necessários hoje. Portanto há que se equacionar novos critérios.

Como a maioria do que se passa nessa área é mantido em segredo, pouco se sabe dos malfeitos dos ciber-ataques perpetrados, e dos desenvolvimentos alcançados pelos hackers em conseguir penetrar as instalações mais protegidas por um lado, e a integração digital dessas instalações e seu controle por outro, como busca de se defenderem, mas que as tornam vulneráveis numa medida nunca antes possível. Vejamos alguns dos perigos:

1. O ramsomware - Software que invade o sistema e o bloqueia, e que para liberarem o sistema, os que implantaram o ramsomware exigem pagamento de resgate. Hoje são milhares de ataques desse tipo que andam pelas redes de empresas cujo bloqueio do sistema gera milhões em prejuízo.

2. O malware - É um sistema malicioso destinado a se infiltrar em redes de computadores para causar danos, alterações ou roubos de informação. Uma vez havendo proteção contra o malware, cria-se outro que ultrapasse essa barreira de proteção, por isso são comparados, e mesmo intitulados, virus, pois geram outras estirpes mais 'capazes' à medida que evoluem.

3. O Spyware - Programa que recolhe informações sobre o usuário e seus costumes. As informações recolhidas têm grande clientela que, na posse delas, pode dar uso legal ou ilegal às informações adquiridas.

4.  O rootkit - Funciona como um bloqueador de anti-virus, desta forma protegendo o malware que se queira instalar.

5. O adware - É um malware que gera anúncios para influenciar o consumo do usuário.

Bem, há muitos tipos de ciber-ataques que andam pelas redes, assumindo identidades, se infiltrando nos sistemas e nos computadores, mesmo os domésticos, quem esteve ou está ligado a internet sabe bem do que eu falo, e sabe dos perigos que corre. Isto demonstra a criatividade do ser humano, sua capacidade nociva, bem como de outros seres humanos e suas capacidades defensivas. E isto nos leva a evidência da necessidade de proteção, porque a frequência cada vez maior com que ocorrem tais ataques, a capacidade criativa dos que se dedicam a isso, a formação de redes de ciber-criminosos, que vêm atuando, e que, com as mais diversas formas de ação criminosa, que vai desde o recebimento de chamadas com valor acrescentado, até a penetração e posse dos dados pessoais que alguém tenha no computador, passando por contas bancárias e ativos de negócios, mantêm um alto grau de impunidade.

Estamos todos nas mãos desses bandidos! Desde aqueles que não sabem que têm de pedir às empresas de comunicação por telemóvel que bloqueie o acesso de seu telemóvel aos diversos tipos de chamadas de valor acrescentado, ou de serviço indesejado, com grandes custos para quem as recebe, e que os criminosos, antes de perpetrarem o crime, fazem um estudo do nível do usuário para saberem o tamanho da mordida que podem dar, e que atinge até as grandes corporações com os melhores sistemas de proteção, que são invadidos e se vêm obrigadas a pagarem resgate, pois esperarem pela resolução do problema lhes será muito mais caro, como ainda os sistemas governamentais estão expostos a estes criminosos.  

O grande problema de sua ação criminosa, é que é transnacional, e, como tal desconhecendo fronteiras, podem repetir seus crimes em diferentes países, após haver proteção contra eles num determinado país, encaminham-se para outro, sempre escondidos sob a capa de um programa que os encobre, e lhes dá impunidade, tornando difícil sua punição. Na Europa só há dois organismos transnacionais que atuam nessa área, um é o gabinete europeu da Europol que está habilitado a desenvolver investigações internacionais no ciber-espaço, o que se dá sempre depois da casa arombada, e o EC3 - Centro de proteção contra a ciber-criminalidade, que é preventivo, mais ainda tem uma dimensão muito restrita. Com a criação de uma Agência a nível europeu, como agora é proposto, e o envolvimento dos governos de todos os países com suas agências de informação, que presentemente são estanques, e que com a criação da agência europeia estabeleceriam cooperação entre elas, e passariam a atuar como um bloco, alcançando uma dinâmica mais abrangente com maior capacidade de enfrentar os ciber-ataques e podendo indiciar aos ciber-criminosos, e leva-los a condenações, prevenindo o crime.



sexta-feira, 22 de setembro de 2017

E o mar vai virar sertão. . .



Por fim um jornal de  grande circulação acolhe o tema. Eu já há alguns anos venho alertando, mas ninguém se preocupava, nem nenhum órgão de comunicação se interessou em publicar minhas crônicas sobre esse assunto, Agora com o agravamento da seca na península ibérica, particularmente com zonas muito afetadas no sul de Espanha, sai uma reportagem no El Mundo. Vamos analisar o mapa que prevê a extensão do fenômeno e as zonas que virão a ser atingidas:



Como podem ver meio Portugal vai virar deserto, e é por isso que tenho insistentemente avisado para que comecem a replantarem os Sobreiros se não quiserem perder o negócio da cortiça. Na crônica intitulada 'Está na hora de mover os sobreiros . . .' dou conta de que com a progressão da expansão da área que irá ser afetada pela seca, desertificando-a, onde todo o Alentejo será Sahara, e as zonas de montado acabarão, portanto esta solução econômica tão importante para as populações, e que representa cinco por cento da economia portuguesa, deve ser imediatamente transplantada para além Ribatejo que passará a dispor das condições adequadas para os sobreiros nas zonas com altitude inferior aos trezentos metros,a pouco e pouco, com o progredir das alterações, e, por outro lado, dando o tempo necessário à sua recomposição, não se esqueçam que deverão se deslocar milhões de animais selvagens que compõem a sua fauna, que toda a flora deverá evoluir, e para os humanos, negócio complicado, serão propriedades que dever-se-ão alterar os seus donos.


A alteração da inclinação do planeta.

A solidariedade europeia será posta em xeque, posto que países inteiros afetados pelas alterações climáticas exigirão respostas econômicas para dar horizonte às suas populações que serão gravemente  restringidas em seu modelo sócio-econômico de vida e na possibilidade em altera-lo, o que demandará muita ação governamental para se re-estabilizar, para em breve tempo tentar recompor a vida dos cidadãos, em muitos casos se a ação para essa finalidade não tiver começado com décadas de antecedência, seus modelos de vida e sua soluções econômicas sucumbirão, lançando largas faixas da população na miséria absoluta, o que não nos parece um cenário propriamente europeu.

Assim fica claro essa acertava de que o sertão vai virar mar, mar de areia, deserto, agora o mais complicado é este paradigma contra a fraternidade dos povos que nos impõe "com medo" a ideia de "que algum dia o mar vai virar sertão". . .  valendo-me dos versos  de Sá, Rodrix e Guarabira neste fabuloso xote "Sobradinho".


Referência publicada no face junto com esse artigo: Falam da seca como se esta fosse eventual, informo que este será o novo normal. Também o disse na SIC num debate televisivo. A visão governamental dos países implicados, Portugal e Espanha, não vai para além do que se está a passar, a seca, como se ela não fosse voltar o ano que vem. Em Espanha, em Guadalajara, estão fazendo uma praia pluvial, fazem transferências de caudais entre diferentes bacias pluviais desestabilizando ainda mais a relação alterada em varias bacias. Medidas de contenção que são tomadas vêm só o amanhã de manhã, nenhuma medida a longo prazo que denote que sabem qual é o problema verdadeiramente foi até agora (Novembro de 2017) indicada ou tomada.


terça-feira, 19 de setembro de 2017

A bolha da embaixada do Ecuador. "PRIVAÇÃO É MORTE!"




As embaixadas, como sabemos, são solo estrangeiro nos países onde se encontram, o que equivale a dizer que sendo território do país dono da embaixada, é este país que ali manda, e não o país onde se encontra, são ilhas de excessão pelo mundo fora, que têm dado  muito jeito na defesa da vida de gente que perseguida localmente, tem apoio e respaldo internacional, muitas vezes contra as ditaduras desses países onde se encontravam, por terem se asilado numa embaixada, os permitiu se protegerem e manterem-se vivos mor das vezes.

Sendo o mais comum prestarem proteção a gente de um determinado país perseguida por um regime truculento deste, que conseguindo se abrigar numa embaixada que os acolha, conseguem negociar sua saída para uma nova vida longe do país que os persegue, fora do jugo que os limita, aqui temos uma contradição, uma bolha de excessão na embaixada do Ecuador em Londres, algo tão surrealista que requer uma análise detalhada, e exige que ponhamos os olhos nesse evento desprovidos de qualquer preconceito, imbuídos apenas da vontade de analisar uma situação inaudita.

Há mais de cinco anos Julien Assange, um cidadão australiano, que teve a cidadania sueca, da Suécia onde vivia, encontrando-se em Inglaterra, foi acusado pelo governo dos EEUU, foi preso, perdeu a cidadania sueca para onde tinha sua vida, e se retornasse de sua estada em Inglaterra, corria o risco de ser extraditado para os EEUU, que mantêm com a Suécia amplos acordos de extradição, vendo-se encurralado, consegue, fugindo à polícia metropolitana londrina, esgueirar-se para a sede da embaixada do Ecuador, que lhe dá asilo, e onde se encontra numa 'prisão' posto que a Inglaterra recusa o passo para que ele vá para o Ecuador, tomando um avião em Londres,  criando-se uma bolha muito conveniente às autoridades que o querem ver preso. Vamos á história.

Considerado um alvo a abater nos EEUU, exilado numa embaixada situada em território que lhe é  hostil, o inglês, com o fraco país que lhe dá asilo, o Ecuador, pressionado de todas as maneiras para entrega-lo às autoridades britânicas, que inclusive ameaçaram invadir a embaixada, e que, por decisão já tomada da corte suprema inglesa, prontamente o entregariam à Suécia, que o extraditaria para os EEUU, que o prenderiam e condenariam por espionagem, e onde seria morto, segundo uma crença generalizada, numa prisão americana, esta é, de forma resumida a situação em que se encontra o Sr. Julien Assange, um dos nove membros do conselho executivo de uma associação que fundou, chamada Wikileaks, que com suas habilidades de 'hacker' conseguiu obter milhares de informações secretas que comprometem a ação de vários países dito democráticos, revelando-lhes uma face obscura e comprometedora, que pretendem manter oculta.

Penso que pretendem matá-lo lentamente com o confinamento, o Sr. Assange, pela pouca mobilidade, não pode caminhar, vê pouco o Sol, já vem demonstrando uma serie de doenças neurológicas que se vão agravando sem tratamento adequado, posto que o governo inglês sistematicamente recusa a sua ida a qualquer hospital seja para o que for, não atendendo a nenhuma das solicitações médicas, sendo mantido ilegalmente detido pelas ação combinada das autoridades britânicas e suecas, e o ilegalmente está a negrito porque a afirmação não é minha, é da ONU, que, analisando o caso, assim o declarou, nesta absurda condição o vão mantendo dia após dia, sabe-se lá até quando, ou, como podemos imaginar pelas decisões prolatadas ao mais alto nível pela 'justiça' dos países mais civilizados deste mundo, indeterminadamente.

O curioso nesta bolha que se criou para o Sr. Assange, esse mundo a parte onde o colocaram, na impossibilidade de o prenderem e condenarem, e mesmo o matarem, é que estamos a falar de países com uma tradição de liberdade, de justiça, e de liberalidade democráticas preponderáveis, de povos com altíssimo estado de avanço civilizacional: Suécia, Inglaterra, etc.. os EEUU com uma democracia sólida, dos quais não esperávamos de forma nenhuma que tratassem um ser humano como vem sendo tratado o Sr. Assange, pelo crime de divulgar segredos que assim, como segredo, queriam ser mantidos. Para contrariar este deplorável entendimento cito aqui as palavras de Thomas Jefferson, um dos 'founding fathers' americanos, mentor dos valores essenciais do país que se criava, e dos quais parecem se terem tanto afastado: "É mais seguro manter toda gente respeitavelmente esclarecida que uns quantos em alto estado de consciência e os muitos na ignorância."

Retornei a este assunto que já havia tratado no texto intitulado 54 meses de estupidez, Wikileaks... lembrado pelo The New Yorker no excelente artigo "Privacy and surveillance", de que a situação do Sr. Assange vem se deteriorando, e o faço pelas mesmas razões que denunciei um vizinho que mantinha seu cão confinado a uma varanda, onde o pobre dispunha de poucos metros para se movimentar, e estava se atrofiando vivendo ali naquelas condições. São desumanas as condições em que se mantém o Sr. Assange, e em suas próprias palavras que serviram de subtítulo a este artigo do The New Yorker, quando diz que devemos entender a realidade de que privação é morte, e que, pela ação cominada das nações mais evoluídas do planeta, vai sendo mantido na miserável bolha da embaixada do Ecuador.














quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O plagiário.





Todos os que escrevemos, compomos, desenhamos, pintamos, etcétera, sabemos que muitas vezes quando abordamos um tema que já foi muito trabalhado, sofremos grande pressão dos bons textos, melodias, desenhos, pintura, etcétera, anteriormente realizados que certamente influenciam o autor,  mas que de modo algum podem representar o caminho, o rumo, a linha percorrida pelo autor, compositor, desenhador, pintor, posto que se assim fosse, seria repetição, consequentemente inútil como manifestação artística, e, ademais desnecessária como análise, posto já existir (a outra), e resta, portanto,  apenas a prevalência da má-fé, esta situação fraudulenta, a que, nesta abordagem, designamos por plágio.

Se alguém não tem nada a acrescentar a um tema que aborde, seja por que meio for, não o deve abordar simplesmente, deve procurar outra matéria, outro assunto, em que se ocupar; entretanto quando na vida cotidiana alguém, por fé de ofício, tem de escrever um texto, ou uma canção ou uma música, ou tem de ilustrar ou desenhar uma temática, ou mesmo produzir uma pintura ou escultura para que essas tenham curso, vale dizer, produzam rendimento para o autor, muitas vezes recorre a temáticas dominantes, já bem difundidas que têm recepção garantida entre o público consumidor, o que é perfeitamente compreensível, desde que o faça de forma própria e inédita, não só para que esta valha  a pena, bem como para que não incorra no mais lamentável de todos os desvios, o do plágio.

Nada, penso, pode ser mais humilhante, minorativo, depreciativo de um artista, seja de que arte for, escrita ou visual, que o fato de uma obra sua ser semelhante a de outrem, quanto mais se o for coincidente. Pode até não representar plágio, pois poderá ter sido involuntária a ocorrência, mas é absolutamente um descrédito que envergonhará o artista, desde que esse tenha a menor vergonha na cara.

Um caso fortuito é uma triste ocorrência, uma casualidade, uma infelicidade a que todos estamos sujeitos, a repetição frequente, para alguns mesmo corriqueira dessa 'coincidência' é uma desonra, uma total falta de escrúpulos, posto que das muitas coisas que se podem roubar, e o roubo e seu autor, o ladrão, são sempre abjetos, a obra de autoria intelectual é o mais revoltante e desprezível dentre os roubos possíveis, tornando essa abjeção miserável, nojenta, revoltante; porque para além dos lucros materiais que esse furto terá proporcionado, ao mesmo tempo criou uma áurea, deu um valor, gerou um brilho imerecido, tornando indigno e vil todo aquele que se valha desse recurso ao plágio.

Enojado, com engulhos pela existência de quem possa por ventura valer-se desse expediente com a intenção de auferir lucro, ou mesmo por simples vaidade, reafirmo que dentre todos os atos mesquinhos que o homem pratica, considero o plágio entre os mais miseráveis, entre os mais torpes.



domingo, 10 de setembro de 2017

O clima estará maluco?









Será que ninguém se dá conta que estamos vivendo um momento excepcional em sua acepção plena de anormal e excêntrico quanto ao clima, desde o princípio do novo milênio? Às vezes até parece que as estações estão trocadas. Ondas de calor na época do tempo frio e vice-versa, ventos anormais, seca, falta d'água, enchentes e chuvas torrenciais.  E o pior, e que deviam saber, é que isso vai se agravar. Porque será que os governos não vêm a público, usando todos os meios de comunicação, para avisar às populações que estamos vivendo um momento muito especial da nossa vida no planeta, nos alertando para o que vai acontecer, preparando-nos para o futuro que já nos bate a porta. Alarmismo? Será alarmar alguém dizer-lhe dos problemas que tem, ou irá ter, com a devida antecedência para que se prepare, ou isso é ser responsável e previdente? E mesmo será uma ajuda?

Penso que os governos estão cometendo um crime, já veremos porque, e que essa posição mole, tíbia, remissa, descuidada, acarreta uma responsabilidade social, e mesmo criminal, para com aqueles com que têm a responsabilidade de governar, desgovernando suas vidas, com veremos. Há muito já deveriam ter sido impressos e distribuídos manuais sobre as alterações climáticas e as respostas adequadas.

A realidade das alterações climáticas no mundo entra pelo olhos dentro, são secas, incêndios, desertificação, tempestades, furacões, enchentes, avanço das águas costeiras, nevões, derretimentos por toda parte do gelo acumulado, e diversos acontecimentos em épocas impróprias que estão ocorrendo por todo o planeta, evidenciando que algo não está bem. Mas o que? Primeiro temos um evento que acontece a cada 25.800 anos (em número redondos) a alteração da inclinação do eixo da terra, sua precessão dos equinócios. Isso, como se sabe vai alterar a insolação em várias zonas do planeta, e vai, com isso, modificar o clima nessas zonas, alterando suas adequações às diversas vegetações em cada área do planeta, tornando-as inóspitas para certos tipos de cobertura vegetal, sendo mister mover as áreas cultivadas para zonas mais propícias, etc. Esse assunto está bem analisado nos artigos E o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão, e no Está na hora de mover os sobreiros. Depois temos que o aquecimento global, para o qual tomaram-se medidas já tardias e sem a intensidade devida, e com prazo demasiado largo, apesar dos avisos dos cientistas, e da iniciativa de alguns governos, muitos outros tardaram e tardam, havendo inclusive imbecis que não acreditam no aquecimento, em suas causas, e em seus efeitos, não aplicando as medidas necessárias a evitar sua progressão e agravamento. Esta segunda ocorrência é inédita, culpa do avanço existencial de uma espécie no planeta com seu modo de vida excessivo, a espécie humana, da qual tragicamente faço parte. Sendo absolutamente incompatível com a estabilidade existencial da Terra a manutenção do modo de vida dos homens como tem sido praticado até hoje, em excessivo consumo, e absurdo uso dos rescursos, esgotando todos os anos os que anualmente se renovam, pela metade do ano, roubando pela outra metade o futuro, que não lhes [nos] pertence exclusivamente. Sendo, portanto,  exigível rápida e profunda mudança para que o planeta possa estabilizar, porém agora vai demorar e o preço a pagar vai ser alto.

Esqueceram-se dos furacões.

Em meio a todas as previsões e medidas ajustadas para responder às consequências do aquecimento global, esqueceram-se dos furacões, estas tempestades ventosas de abruptas forças que ocorrem de junho a novembro no Atlântico, chamadas tufões no Pacífico. Esqueceram-se que uma das componentes do aquecimento global é a subida das temperaturas das águas do mar em certas zonas, tendo por convecção um efeito devastador na estabilidade dos oceanos, e alimentando nessa época de suas ocorrências, com uma ação de forma violenta aos furacões que se formam, pois que recebem em sua passagem pela zonas de mar agora mais quentes, mais energia, aumentando-lhes a intensidade e alterando-lhes a categoria, tornando-os ainda mais destrutivos. Doravante iremos ter tufões e furacões cada vez mais poderosos e avassaladores, criando mais e maiores danos por onde passem, posto que só com o destruir em terra tudo que encontrem é que eles abrandam e se desfazem. Não há nada a fazer, eles são assim, e até que as águas voltem a esfriar, o que demorará ainda muito, iremos conviver todos os anos com desgraças de alta magnitude, provocadas pelas passagens dos furacões, furacões com categorias sempre mais elevadas, muitos deles com 5 na escala de Simpson, e, como um efeito esquecido do aquecimento global, que, entre suas muitas outras consequências, lembrou-se do aumento do nível das águas dos mares, atingindo todas as linhas de costa, do desaparecimento de zonas inteiras que estão sendo engolidas pelas águas que sobem, do aumento da pluviosidade, da maior ocorrência de enchentes e tempestades tropicais, etcétera, mas esqueceram-se do devastador efeito do aquecimento como elemento alimentador das forças de escape emergenciais, dos furacões e tufões em última análise.

Por fim a responsabilidade criminal.

O cidadão comum não tem nenhuma obrigação de saber dessas coisas, por isso paga impostos para financiar governos que têm por obrigação os defender, e entre os meios de defesa, o mais eficaz é informar das ameaças que virão, para que aqueles que a elas estejam expostos, possam, com tempo, tomar as medidas necessárias à sua proteção. Os governos foram negligentes e pouco responsáveis nesse seu dever de prevenir, de orientar, não trazendo para a ribalta os agentes conhecedores da matéria, cientistas de várias ordens, que explicariam o que irá suceder, prevenindo a população de suas vulnerabilidades e dos perigos a que estão expostas. E assim se mantém por ignorância e irresponsabilidade. Negligenciar a difusão dessa informação, e o alerta mister para se tomarem medidas que defendam a vida e a propriedade, e a Natureza, muitas vezes pelo medo do alarme social, constitui um crime de responsabilidade, que os diversos governos cometeram, a não tomarem atempadamente as medidas com vista a evitarem várias tragédias que por fim aconteceram, estão acontecendo, e irão acontecer, o que constitui crime de negligência e falta de prevenção [©rimes de ação continuada, puníveis na conformidade dos códigos vigentes nos diversos países.]. Os governos podem ser responsabilizados por sua incúria, mas quem pagará as condenações será, afinal, o dinheiro dos contribuintes, não penalizando os verdadeiros responsáveis, mas as próprias vítimas. É um absurdo jurídico que se verifica.

Conclusão.

Para os que passaram a tomar conhecimento com esse meu artigo de que o mundo está mudado para sempre, e que ainda a alteração da inclinação do eixo do planeta em ocorrência, vai criar maiores problemas, temos que eu cumpri meu dever de alerta, que cabe seja explicitado e difundido a todos. Para os que já sabedores dessa realidade sem se darem conta de sua abrangência, temos aí sua informação, e sua necessária atenção; e, finalmente para os que de tudo sabiam em extensão e profundidade, e que não denunciaram e alertaram, nem denunciam essa situação, temos a necessidade de que o façam, que previnam, que alertem, que informem, para que, na medida do possível, tomemos atempadamente as medidas capazes de evitar os danos maiores que virão.


ESSE ARTIGO PUBLICADO HÁ MAIS DE DOIS ANOS, PARECE QUE, PELA IGNORÂNCIA DE MUITOS, MANTEM-SE ATUAL, POR ISSO ENTENDI QUE DEVERIA RE-PUBLICÁ-LO NOS DIVERSOS MEIOS DE DIFUSÃO AO QUAL TENHO ACESSO, EM ESPECIAL NO JORNAL A PÁTRIA, AO QUAL RETORNO COM AS CONTRIBUIÇÕES SEMANAIS, DENTRO DE MEU APOUCADO UNIVERSO DE CONHECIMENTOS.  

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Sesquicentenário de Camilo Pessanha.








Dos  amores de um aristocrata por sua empregada, nascia há 150 anos o poeta Camilo de Almeida Pessanha, recebendo os apelidos do pai que não o renegou, ilegítimo que era, essa figura absurda para designar os filhos não advindos de um casamento formal, no entanto sabemos que todos os filhos são legítimos, e legitimamente nascem de uma união carnal, os múltiplos fatos que levaram a esta união, nada importam, e a criança nada tem a ver com eles para nascer, e não deve ficar estigmatizada.

No tempo de Pessanha, a segunda metade do XIX, esse entendimento era muito mais precário que é hoje, a estupidez humana demora em se aclarar, mas o fato não impediu que se graduasse em Direito por Coimbra, mas talvez tenha sido o moto de sua partida para o ponto mais afastado do Império português então, Macau, onde irá viver a maior parte de sua vida, e onde irá morrer.

Sem maiores pretensões literárias, posto que nunca editou livro, e teria sido esquecido, mesmo tendo sido o representante  maior do simbolismo português, tendo sua obra dispersa por jornais e revista onde contribui publicando seus poemas, até que em 1920 a  feminista republicana Ana de Castro Osório, a criadora da literatura infantil portuguesa, e co-autora da lei do divórcio, reune os poemas dispersos de Camilo Pessanha, e os publica no famoso livro Clepsidra, dando como título o nome desse relógio d'água que por vasos comunicante registrava o tempo, salvando do anonimato o poeta, e preservando sua memória, obra que seu filho João de Castro Osório continuaria.

Lembrança de dois mundos, Camilo Pessanha será recordado tanto na China como em Portugal neste 7 de Setembro; como em seu 'imagismo' terá o poeta como símbolo de uma construção antiga, penetrando as enormes muralhas da China, entre as quais a  mais poderosa é o idioma, mas que edulcorado com o sentimento e a forma de estar chinesas, conformam barreiras quase que intransponíveis, mas que o poeta soube romper, tendo em seu estilo de vida oriental em Macau, atingido um alto grau, morre inclusive do consumo de ópio, seu vício. Camilo Pessanha é uma sensibilidade rara, diferente, especial, que será ainda pouco compreendida, para terminar escolho esse poema seu, um dos muitos do espectro de suas constantes preocupações:

Floriram por Engano as Rosas Bravas

Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze _quanta flor! _do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'