segunda-feira, 16 de setembro de 2019

O que temo em Hong Kong.







O sonho mais desejado é que a certeza e fortaleza dos protestos de Hong Kong possa contaminar toda a China. E, certamente, ao mesmo tempo, esse é para o Partido Comunista Chinês, e para a ditadura que esse mantém por décadas, o pesadelo mais temido. Onde estes dois extremos tocam-se é na reação provável do governo da China, para acabar com o pequeno aroma de liberdade que se respira no território.

Tem se mantido calada e expectante ao longo destas 24 semanas, sobretudo para mostrar-se cumpridora da autonomia pactuada na devolução do Território pela Grã-Bretanha, onde, à cada final de semana, voltam às ruas os manifestantes, o sentimento de truculência visto claramente em Tiananmen, tem se controlado, é verdade, mas sabe Deus até quando.

No entanto a força dos que se opõe, muito para além do espectável, mesmo já tendo conseguido, há duas semanas, a revogação da legislação que originou o conflito, a Lei de  Extradição, mantém os protestos, com a mesma intensidade e vigor, perseguindo as outras reivindicações que surgiram durante o conflito, com uma lista de medidas pretendidas.

Há uma fermentação em Hong Kong, visível desde o Movimento dos Guarda-Chuvas em 2014, cidade que pouco mais de duas década completou desde ter sido britânica, (devolução em 1979) e que marcado, sobretudo pelas gerações mais novas, o sentimento de independência e autonomia manifestos em expressão popular, vem demonstrando o que será uma China cada vez mais culta e capitalista, na mão de um partido comunista maoista e anti-democrático.

Enquanto a balança pende para o lado do poder, nada mais serão que registos revigorantes de uma busca de liberdade tão almejada, como a cantar: "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós..." mas como se passou em Tinanmen, tudo pode acabar de um momento para o outro, como se Xi disser: 'Isso já foi longe demais, ponham os tanques na rua'. Porém a liberdade é construída com esses fugazes e voláteis momentos em que se manifesta plenamente, como um motor que quer arrancar, e se pôr em marcha, dá-se a manivela, uma e outra, e ainda outra, e mais outra vez, até que ele pega, e entra em funcionamento, e já não mais para enquanto houver combustível.

Esperemos que os bravos meninos e meninas nas ruas de Hong Kong dêem com força à manivela.

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