O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
quinta-feira, 13 de outubro de 2022
"Como el musguito en la piedra..."
Em respeito a Violeta Parra e Mercedes Sosa, mestras do sonho.
Mesmo em pedra dura As coisas que são tenazes
À mínima fissura
Põem lá suas raízes.
Há sempre uma outra dimensão, se não fosse assim, eramos lixo, ou eramos apenas pedra, dura e sem valor, mas a outra dimensão nos abre a porta do infinito, e nos torna melhor, porque conseguimos sentir, porque conseguimos sonhar. Em nós, para além de nós, esta impossibilidade constante tornada possível, pela simples razão de irmos além, de nos lançarmos face ao infinito, na medida em que nos acreditamos ser maiores que as misérias, maiores que as circunstâncias, maiores que as necessidades, voltados ao infinito em todas as suas dimensões.
Em Itaipu, Niterói.
Nunca esquecerei a promessa. Lutava contra a destruição da Laguna de Itaipu, loteada pela Veplan-Residência, lotes sub-aquáticos, na busca do puro lucro, a querendo transformar em um monte de ilhotas com mansões de milionários em cada uma. Nada contra os milionários, nem contra suas mansões, mas não ali, ali não. A laguna de Itaipu é um criadouro natural de peixes, não podia ser destruída para gozo de esportes náuticos e habitação de uns poucos. Tinha dezessete anos. Dava uma entrevista à beira da laguna, à Folha de São Paulo, um dos poucos jornais que compraria essa briga contra o imobiliário. E alguns anos depois me foi dito, um pouco em forma de afirmação: "A vida, o trabalho, os compromissos, nunca mais se faz a revolução... Não é?" foram as palavras. E eu respondi, comigo só quando eu estiver morto. Mas a gente morre de vários outros modos além do físico, eu talvez não soubesse, mas mantive a promessa de nunca desistir, nunca abandonar a causa da Natureza e dos excluídos, passado meio século ainda estou nisso, e espero morrer lutando. Mas para isso há sempre que se voltar aos dezessete.
"VOLVER A LOS DIECISIETE"
Porém aos dezessete é de maneira diversa dos 67 e não é, pois para quem luta com convicção, a luta é a mesma, a energia é a mesma, só não é a resposta do corpo desgastado, mas a maior sabedoria compensa isto um bocado. Tudo depende dependerá sempre da opção de vida, e da promessa.
"Brotando"
Santo Tomás de Aquino dizia que "a santidade se renova a cada dia". Digo eu que assim como a sede e a fome têm que ser saciadas a cada dia, para que vivamos, toda nossa obra também tem de ser guarnecida todos os dias, provendo-lhe o necessário para que se mantenha, ou irá ruir, uma vez que é frágil e imperfeita, posto que obra humana. Assim é o que se passa com a democracia, obra humana feita de ideias e ideais, mas que se mantém viva e ativa, como corpo material e social, na medida em que se realiza, mas que muitas das forças da matéria e da sociedade, com interesses egoísticos, autocráticos, populistas, enganadores, contra o que é mundano e verdadeiramente burguês e popular, atacam-na todos as horas. Carece de nossa ação e vigilância para que se mantenha viva, posto que a democracia é muito frágil e necessita de nossa ação para que se renove e sustenha-se a todos e a cada dia.
Como uma planta, a Democracia tem de crescer para se renovar, como o "musguito" que vive o dessafio constante de brotar, e brotar sempre, para resultar e ser efetivo, assim como o amor e a santidade que se não se renovarem, desvanecem, morrem e desaparecem.
"Como el musguito en la piedra, Ay, ay si si si"
Se entendemos e concordamos que é assim, o que devemos fazer? Sim sim sim, como o musgo na pedra, brotarmos! Mas como se brota? Velando, como a uma criança pequena de quem cuidamos a cada hora, e vigiamos para que não sofra nenhum dano. Velando os sonhos, as expectativas, os valores, mesmo o amor, verdades muito fáceis de serem corrompidas ou destruidas, se não cuidarmos. Para isso falamos, atuamos, participamos, prevenimos, e mais que tudo expressamos nossa convicção, que, como nosso amor que vai tocar o coração do ente amado, nossa convicção vai inundar a sociedade com toda a certeza, e vai espalhar a força da verdade, para que ela prevaleça ante tudo que seja engano ou mentira, e seja nossa solidariedade, para que ela bloqueie o que quer que haja de egoísmo, de tirânico ou de autoritarismo, posto que esse mundo é de todos e de cada um, e temos que preservá-lo, todos e cada um. Essa é uma ação que exige repetição e persistência, como "el musguito en la piedra".
É dificil, eu sei, é cansativo, pois é, lembremos, e tinha de ser um poeta, Gonçalves Dias, na sua "Canção do Tamoio" quando diz. " A vida é luta renhida que aos fracos abate, e aos fortes só faz exaltar." e vá brotando, brotando...
Em respeito a Violeta Parra e Mercedes Sosa, . mestras do sonho.
. As coisas que são tenazes
. Quando mesmo em pedra dura
. À mínima fissura
. Põem lá suas raízes.
Há sempre uma outra dimensão, se não fosse assim, éramos lixo, ou éramos apenas pedra, dura e sem valor, mas uma outra dimensão nos abre a porta do infinito, e nos torna melhor, porque conseguimos sentir, porque conseguimos sonhar. Em nós, para além de nós, esta impossibilidade constante tornada possível, pela simples razão de irmos além, de nos lançarmos face ao infinito, na medida em que acreditamos ser maiores que as misérias, maiores que as circunstâncias, maiores que as necessidades, e voltados ao infinito em todas suas dimensões.
Em Itaipu, Niterói.
Nunca esquecerei a promessa. Lutava contra a destruição da Laguna de Itaipu, loteada pela Veplan-Residência, lotes sub-aquáticos, na busca do lucro rápido, a querendo transformar em um monte de ilhotas com mansões de milionários em cada uma. Nada contra os milionários, nem contra suas mansões, mas não ali, ali não. A laguna de Itaipu é um criadouro natural de peixes, não podia ser destruído para gozo de esportes náuticos e habitação de uns poucos. Tinha dezessete anos. Dava uma entrevista à beira da laguna, à Folha d São Paulo, um dos poucos jornais que compraria essa briga contra o imobiliário. E alguns anos depois me foi dito um pouco em forma de afirmação: "A vida, o trabalho, os compromissos, nunca mais se faz a revolução…" foram essas as palavras. E eu respondi: Comigo, só morto. Bem que tentaram. Mas a gente morre de vários outros modos além do físico, eu talvez não soubesse, mas mantive a promessa de nunca desistir, nunca abandonar a causa da Natureza e dos excluídos, passado meio século ainda estou nisso, e espero morrer lutando. Mas para isso há sempre que se voltar aos dezessete.
"VOLVER A LOS DIECISIETE"
Porém aos dezessete é de maneira diversa dos 67, e não é, pois para quem luta com convicção, a luta é a mesma, a energia é a mesma, só não é a resposta do corpo desgastado, mas a maior sabedoria compensa este handicap. Tudo depende da opção, e da promessa.
"Brotando"
Santo Tomás de Aquino dizia que "a santidade se renova a cada dia". Digo eu que assim como a sede e a fome têm que ser saciada a cada dia, para que vivamos; toda nossa obra também tem de ser guarnecida todos os dias, provendo-lhe o necessário para que se mantenha, ou irá ruir, uma vez que é frágil e imperfeita, posto que obra humana. Assim é o que se passa com a democracia, obra humana feita de ideias, mas que se mantém viva e ativa como corpo material e social, na medida em que se realiza, mas que muitas das forças da matéria e da sociedade, com interesses egoísticos, autocráticos, populistas, enganadores, contra o que é mundano e verdadeiramente burguês e popular, a atacam todos as horas. Carece pois de nossa ação e vigilância para que se mantenha viva, posto que a democracia é muito frágil e necessita de nossa ação para que se renove e sustenha-se todos e a cada dia.
Como uma planta, a Democracia tem de crescer para se renovar, como o "musguito" que vive o dessafio constante de brotar, e brotar sempre, para resultar e ser efetivo, assim como o amor e a santidade que se não se renovarem, desvanecem.
"Como el musguito en la piedra, Ay, ay si si si"
Se entendemos e concordamos que é assim, o que devemos fazer? Sim sim sim, como o musgo na pedra, brotarmos! Mas como se brota? Velando pelos nossos valores, como fazemos a uma criança pequena de quem cuidamos a cada hora, e vigiamos para que não sofra nenhum dano. Para isso falamos, atuamos, participamos, prevenimos, e mais que tudo expressamos nossa convicção, que, como nosso amor, irá tocar o coração do ente amado, nossa convicção irá inundar a sociedade de certeza, vai espalhar a força da verdade, para que ela prevaleça ante tudo de engano ou mentira, e nossa solidariedade alastrar-se-á, para que ela bloqueie o que quer que haja de egoísmo, de tirânico ou de autoritarismo, posto que esse mundo é de todos e de cada um, e temos que preservá-lo, todos, e cada um.
É difícil, eu sei, é cansativo, pois é. Lembremos, e tinha de ser um poeta, de Gonçalves Dias, na sua "Canção do Tamoio" quando diz. " A vida é luta renhida que as fracos abate, e aos fortes só faz exaltar." e vá brotando, brotando…
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