Detesto vulgaridade, mas há certas colocações rudes que, beirando a vulgaridade, são necessárias para a compreensão, e muitas vezes a solução, de determinadas questões.
Com a sucessão de tolices e falsas questões que correm hoje por todos os países, deixando-se perder as coisas que verdadeiramente importam, deixando-se passar o tempo e as oportunidades que não se repetem, pela tibiez e inoperância dos políticos em toda a parte, exceção creio que deva ser feita à China, que vem obstinadamente perseguindo seu caminho rumo a se tornar a primeira potência econômica mundial. Como já coloquei no artigo: Que falta nos faz um Churchill, não há presentemente lideranças com uma visão abrangente, que permita-lhes saber de onde vêm e para onde vão, com o entendimento do momento, da situação, e ter as respostas que a hora exige. As coisas têm de ter pés e cabeça. Como Bocage, quando a ronda da noite lhe coloca esta questão, na praxe do questionamento sob a pontaria das armas aos que caminhavam na noite, e que começa com a pergunta mais difícil: Quem és? Porque a resposta para ser perfeita tem de reflectir não só a sua verdade íntima, como a pública, e nisto a resposta do Bocage é perfeita. À pergunta :« Quem és, de onde vens, para onde vais? » responde com graça, prontidão e certeza: « Sou o poeta Bocage, venho do café Nicola, vou para o outro mundo, se disparas a pistola. » As coisas têm de ter pés e cabeça!
Num julgamento, em que a titular Juiz era uma Senhora experiente, mãe de família, com perfeita noção de seu ofício, que é esclarecer a verdade, e, em presença desta, julgar; apreciava-se um caso de estupro, onde a vítima, acusando seu ex-namorado, alegava, contando como a ação se passou: « Pois depois de me derrubar, colocou-se entre as minhas pernas, afastando-as violentamente, e agarrou-me pelos pulsos e me violou. » A Juíza indaga: A agarrou com as duas mãos, uma em cada pulso? E a vítima confirma entusiasticamente, feliz do entendimento da Juíza a sua explicação do ocorrido. Quando a Juíza faz, ato contínuo, a pergunta decisiva, que ficará sem resposta. « E quem guiou o ceguinho? As coisas têm de ter pés e cabeça.
Antigamente quando, pelo mundo fora, se construía um edifício destinado a uso comercial, era costume se por junto às ombreiras do telhado as estátuas do Comércio e da Fortuna, estas cobiçadas entidades, com capacidades quase mágicas de fazer progredir e desenvolver os homens que se colocavam sob sua proteção. Desde tempos imemoriais a Fortuna, esta tão desejada deusa, que o dinheiro romano já retratava como sendo símbolo de prosperidade, com sua cornucópia plena a despejar todas as benesses, e o Comércio que era retratado na figura de um deus, mensageiro dos deuses, com seu caduceu e as suas asinhas na cabeça e nos pés, Hermes Trismegisto, o Mercúrio romano, são os mentores das práticas do enriquecimento legítimo, às quais veio se juntar a Indústria, conformando uma tríade, então imbatível. Hoje, se alguém se lembrasse de superpor a um edifício seu, deuses que lhe pudessem trazer prosperidade, certamente escolheriam a Finança e a Política, essas deusas benfazejas que tanto têm bafejados uns quantos sem os escrúpulos necessários em recorrer a elas com este fim, a entidade terceira para compor a tríade contemporânea, pela razão que declarei ao começar este artigo, evitarei referenciá-la. Lembro a estes, que atuam dentro e uma lógica completamente diversa, que o Comércio, que não há corpo hermético que não conheça, assim como a Fortuna, que não há 'tique' que não conheça, e destino que não governe, diferentemente da Justiça, que é cega, têm os olhos bem abertos.
Neste grupo de tolos que temos hoje nos cargos máximos, nos diversos países, a pretenderem que colocam soluções bem concebidas que irão resolver os graves problemas da crise que atravessamos e se vai prolongando pela sua incúria e falta de respostas consequentes, pela falta, contrariamente à resposta do Bocage, de visão de conjunto para ser perfeita e conclusiva. Quando surgem tontos como o Sr Hollande em França, este embuste monumental, que vem com sua comédia de erros acoitando um Primeiro Ministro que é uma comédia de horrores, e, sem resposta, contradiz tudo o que havia proposto. E estes tontos estão em toda parte. É raro o país que não os tenha, e quando não os tem tolos, os tem refinados ladrões, que outra coisa não fazem que governar suas finanças pessoais mais ou menos escandalosamente, dependendo da afoiteza do 'líder' em questão. Quando está tudo sem resposta, e as respostas e propostas são ideias inverossímeis de quem, sem prática das coisas da vida, pensa poder fazer vingar suas histórias faltas de verdade, resta-nos perguntar-lhes, como a Juíza fez à moça' vítima' no caso de estupro, e que no nosso caso tem de ter resposta: E quem guia o ceguinho?
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