domingo, 13 de maio de 2018

A Arrogância ao morrer.






                                                     A ÚNICA SOLUÇÃO PARA A VIDA É A MORTE.
                                        RESPEITAR O ADVERSÁRIO É MAIS QUE TUDO REPEITAR-SE.
                                               A GRANDEZA DE EXISTIR ESTÁ NA SUA INCERTEZA.
                                        PACTUAR COM A VIDA É ACEITAR SUAS IMPOSSIBILIDADES.
                                           A CADA INSTANTE SOMOS FÉRTEIS POR SERMOS NULOS.
                               O TODO E O NADA SÃO O VERSO E O REVERSO DA MESMA MEDALHA.
       


Pode alguém ser arrogante na morte? Sim pode! Ao dizer basta, escolhendo-a como opção, agimos com extrema arrogância, com a total presunção da altivez.

Botânico e ecologista, Dr. D. Goodall certamente não amava a Natureza, nem a vida em sua inteireza. Cansado de viver, aos 104 anos resolveu por fim à vida, não porque essa estivesse terminal, mas porque não tinha a qualidade que ele esperava dela. A vida e todas as suas condicionantes, as que as tornam tão rara no universo, bem como as outras que estabelecem os padrões de sua manifestação, são em si mesmas um dom, dádiva absoluta a ser gozada, e, bem mais, a ser entendida e aceite com todas as suas condicionantes e limitações, para que o espírito mergulhe na universalidade infinita de sua manifestação como aquilo que é: uma presença! Essa presença que deve ser aceita e recebida com seu quanto de eternidade e brevidade juntos ao mesmo tempo, no supremo antagonismo dos extremos que se tocam. Só essa verdade concilia, une, e abre o universo de encantamentos a que chamamos vida. E no processo de aceitação encontra-se a inteireza daquilo que podemos entender por viver!

Receber a presença basta para a plenitude de a podermos, e de a estarmos, a receber, porque ela é dadivosa, e se dela nos damos conta, é porque ela já foi generosa conosco, dando-se a nós. Querer qualifica-la e determinar quais suas qualidades devo aceitar ou receber, como faz quem compra um bem, um utensílio, uma utilidade para seu uso, é desprezá-la como dom, é diminuí-la, é restringir seu contesto infinito para malbarata-lo como se fora algo mesquinho e diminuto na ambiguidade de sua grandeza, e roubando-lhe a dimensão infinita a querer pôr um ponto final que só ela mesma pode e deve por em sua etapa de manifestação, assim re-dimencionando sua perspectiva, é algo como o que se passa com quem se lança ao mar, pois sabe-se nas mãos de forças descomunais que, em muito, ultrapassam as possibilidades de quem nelas se lançou, e, portanto, deve-se cingir a elas. Querer governa-las, é um ato de estupidez e impossibilidade. E todo aquele que estupidamente deseja o impossível, viola o que de mais sagrado há na existência, o pacto do possível, esse que nos é dado como dádiva, nos é favorecido como entendimento, e que se manifesta como amor, mas dentro de parâmetros, porque mesmo o amor que é infinito em suas possibilidades, sabe que só existe dentro de parâmetros. Alguém que aceite morrer para dar a vida a outro sabe que não pode, alguém que deseje ser ele a sofre para dar a alegria a outro, sabe que não pode, ainda que, não obstante o possa desejar.  Violar o pacto? Só mesmo com a morte, e nessa o fim do pacto e o começo da miserabilidade, essa condição esdrúxula da existência que nos rouba a beleza, e que nos exclui, mesmo antes de manifesta, pois só em sua intenção já somos miseráveis, além do ato de extrema covardia que isso representa.

Como podem perceber essa apreciação não é em absoluto, não é aplicável a todos os casos, eu posso entender a eutanásia para alguém que em fase terminal, sem solução, onde e quando o pacto do possível já foi quebrado pela própria vida, queira se evitar enorme sofrimento, imensa dor, eu não o faria, mas entendo completamente, mas fora desse parâmetro, determinar a morte é apenas um ato de arrogância, de pretensão, o mesmo de quem compra um relógio cravejado de brilhantes, quando a intenção ao se comprar um relógio é possuir sua capacidade de dar as horas, que, é suposto se desejar seja a mais acurada possível, que tenha alguma graça estética o relógio, é acessório, mas é aceitável, mas que seja uma jóia caríssima, é apenas pretensiosidade.

Quem tem a arrogância da morte, de determinar a morte, está a mergulhar na negação do pacto do possível por achar que é seu direito pôr o ponto final, dispor do entendimento recusando o favor, como alguém que pudesse dominar o contesto, fugindo ao pacto, menosprezando o favorecimento que lhe foi dado, e é também recusar o amor, pois que o amor é vida, e a morte sua negação. Nessa situação, ultrapassando a situação de vida, que é sempre limitada por algum fator, e que temos de aceita-la como é, e dispor-se a termina-la, ÚNICA ARGUMENTAÇÃO POSSÍVEL À SUA NÃO ACEITAÇÃO COMO QUER QUE ELA SE APRESENTE, É AO MESMO TEMPO FUGA ABSOLUTA, SUPREMA COVARDIA, E DERRADEIRA ARROGÂNCIA!

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