terça-feira, 29 de maio de 2018

O Bloco dos retrógrados. UMA VISÃO D'ALMA.








"...públicas de figuras do PSD a apelar ao voto contra. Pedro Santana Lopes, Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque, Hugo Soares, Mota Amaral - todos juntaram argumentos para chumbar a legalização da" EUTANÁSIA. (*)

Não importa aqui o sentido de voto, sua legitimidade, ou mesmo as razões políticas desse sentido, mas sim algo mais profundo que faz parte dos 50% com os quais se debate a alma portuguesa, mesmo com argumentos fúteis, contra os outros 50% que quer avançar, muitas vezes também só pelo avanço. E dessa dicotomia um desassossego, uma conflagração, que tem sido desde sempre o desespero ebuliente da formação da sociedade lusitana fundado em crenças controversas que nos deram Aljubarrota, a Usurpação com Miguelistas contra Cartistas, o país velho contra o novo, e tudo que tem sido sempre Portugal, duas metades de uma mesma laranja com sabores tão diferentes.


E então agora no debate e votação da eutanásia se juntaram essas almas apartadas, que foram apeados do poder pela primeira conjugação, quase conflagração, das esquerdas, na história da terceira república portuguesa, como todos os escolhos que elas configuram, a apregoarem argumentação contra a aprovação da lei da introdução da morte medicamente assistida no país. É absolutamente um direito de toda a gente ter opinião, contra ou a favor, não julgo melhor, nem pior, ter opinião num sentido, ou noutro, não defendo, nem ataco, nem a uns nem a outros, sobretudo por ser matéria do foro íntimo, de crenças profundas, baseadas e lastreadas em valores que ultrapassam a argumentação lógica, tendo mesmo laivos míticos, paranormais, sagrados, transcendentais. Não me admito o direito de julgar quem quer que seja por suas crenças espirituais. Ponto parágrafo.

Entretanto as razões da argumentação empregada pelas figuras reunidas as quais o Expresso menciona na notícia, as quais busquei ler para encontrar pontos de seu argumentário que me convencesse no sentido da rejeição, posto que minhas crenças espirituais põem obstáculos grandes a eutanásia, na mesma medida que minhas convicções filosóficas aprovam o direito a por um ponto final na existência em determinadas condições extremas. Nesse trânsito fui buscar argumentos de um e de outro lado. E o que encontrei? Encontrei um rosto de Portugal, cruel, duro, insípido, abastardado, ridículo às vezes. Desde a querela miúda, da que costuma se 
conflagrar entre adeptos de torcidas adversárias, ou entre vizinhos que não se toleram, até aos partidários de valores mais universais e amplos que ao serem discutidos postulam por uma elevação que infelizmente nem sempre está presente, e esta divisão do país demonstra uma pequenez de espírito, uma tergiversação perene de facções beligerantes convictas de sua superioridade intelectual, ou espiritual, poderemos dizer ainda filosófica ou política, seja em que plano for, revelam sempre os equívocos da presunção da posse da verdade, quando esta está um pouco por todo lado.

Então esses donos da verdade, em vez de escolherem argumentos lógicos para, mesmo tendo uma motivação espiritual, promoveram suas opiniões na matéria, seu direito, NÃO! Escolheram foram os mais preconceituosos argumentos, desde terem chegado mesmo alguns a dizerem que só por ser iniciativa apresentada pelos blocos parlamentares da esquerda deve ser rejeitada, até a alma danada que não tendo mais nenhuma responsabilidade política começou a campanha eleitoral mais cedo, destorcendo a realidade, como é seu estilo, para não discutir a eutanásia, mas as próximas eleições.  

Terminado meu périplo pelo argumentário das figuras gradas que se opõe a aprovação da lei que admite o direito de morrer com assistência médica, encontrei-me tão ignorante de ideias que me convencessem de ser contra, como a favor da aprovação de semelhante legislação. Entretanto tinha alcançado uma visão da alma deste bloco de retrógrados, que acham bonito se oporem para poderem fazer política, mesmo aqueles que não tenham, ou não irão ter, mais participação política de espécie alguma, a não ser o voto, pondo esses sentimentos tortos, diria mesmo torpes, sempre a serviço de suas facções, sem se importarem com a matéria que se discuta, com os interesses gerais de orientação requeridos seja em que nível for. 

Triste visão tive de suas almas.


(*) Retirado de uma notícia do Expresso.

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