terça-feira, 12 de junho de 2018

Um bocado de nada a respeito de coisa alguma.




O Fronteiras XXI de 6/6/18 com o título" Em português nos entendemos" juntou gente inteligente, como quase sempre faz, Ivan Lins, Pedro Mexia e Germano Almeida para analisarem a força da língua portuguesa, e espremido, como gostava de perguntar minha avó, o que ficou ? A resposta está no título dessa crônica.

Eu até deixaria passar a discussão não atingir seu propósito, não fosse uma frase muito correta de Pedro Mexia que é contra muitos pontos do acordo ortográfico, que foi o substrato não declarado do debate, e a declaração de Luís Pedro Nunes, dias antes no Eixo do Mal, que juntas dão o retrato triste do que é a língua como patrimônio comum, e a estupidez que grassa é culpa dos governos, mas estimulada por afirmações tontas como se pode ver nos depoimentos no começo do programa em tela, onde perseguem a campanha contra o acordo ortográfico, acordo que se mostra uma evidente mais valia nas palavras lúcidas do escritor cabo-verdiano Germano Almeida, e que se contrapõe ao encontro de Luís Pedro Nunes no Brasil com algum desqualificado que lhe pôs questões sobre o idioma, sofismando, e o que ninguém disse é da importância dessa homogeneização da língua, a resposta à pergunta (que ficou sem resposta) do Ivan Lins, outro participante da discussão, ao referir-se aos mentores do acordo ortográfico: "Porque eles resolveram fazer isso?"

A tolice da oposição ao acordo, para ficar-me por uma qualificação branda, porque a campanha que tem sofrido o acordo em Portugal é algo inédito, à conta de estarem insatisfeitos por terem de modificar velhos hábitos de escrita reúnem uma meia dúzia de casos mais confusos para tentarem desmontar o acordo, bando de inconsequentes que são, e mais, porque estão desrespeitando a lei, o acordo é lei aprovada, se opor a ele é desrespeitar a lei, infelizmente nenhuma sanção está prevista, e o debate do Fronteiras XXI, foi desde o início um processo contra o acordo, e, salvo Ivan Lins e Pedro Mexia que vêm pontos  positivos e negativos no acordo, a grande maioria dos que se manifestam só vêm pontos maus, são sempre contra o acordo, não havendo quem o defenda, e suscitam um clima de beligerância que não pode, nem deve, existir contra a letra da lei, razão porque essa discussão nos leva, em outra perspectiva, novamente ao título desse artigo.

Pedro Mexia diz: "Não é uma relação normal" a que Portugal tem com o Brasil. Pois não é, e está se transformando em algo quase rancoroso, o que é uma lástima, promovida essa distorção por esses tolos de quem vos falei.  Depois Mexia lembrou o câmbio livreiro, os grandes autores brasileiros excluídos do ensino em Portugal, a não existência de livros brasileiros (com o português do Brasil) que sejam vendidos aqui, o menosprezo português ao cinema e à literatura brasileira. Concluindo com essas assertivas Mexia pede então a Portugal um décimo do interesse que o Brasil tem na literatura portuguesa, em reciprocidade. E é um português que está falando: "Portugal está de costas viradas ao Brasil." E esse desencontro histórico sobre o qual já escrevi, e que tem presentemente uma boa onda para uma aproximação, vai perdendo a oportunidade do encontro à conta desses tolos que se põem contra o acordo apenas na defesa de seus velhos hábitos de escrita. Os jornais portugueses estão cheios de avisos de gente que escreve desrespeitando o acordo, o que devia ser proibido. No Brasil, onde os portugueses entram com força, e em Portugal, onde há uma nova consciência em relação aos brasileiros, e onde se juntam o incômodo que o acordo tem causado, e que deve ser resolvido, com uma nova perspectiva sobre o Brasil atemporal, para além das momentâneas mazelas políticas, conformando um momento ótimo para uma aproximação definitiva, e toda essa vã discussão fútil  promove afastamento e leva-nos mais uma vez ao título dessa crônica.

A grafia comum num "português mais plástico" onde 'a língua é (sempre) uma possibilidade' em que a política da língua possa ter diferentes percepções e aplicações, é a única via para formarmos um bloco com força, para concertarmos um todo linguístico, com suas diferenças e colorações peculiares a cada povo usuário do idioma, claro, mas com uma unidade linguística que nos torne universais, que é o único caminho de existirmos como uma grande nação linguística, como uma presença forte e visível no cenário mundial, bem como formando um grande mercado comum, onde toda a produção literária, em qualquer país, possa ser visitada por outro qualquer país signatário do acordo, sem conflitos e sem dissensões, tornando todos e cada um mais forte por ter a mesma escrita, essa a razão do acordo, a resposta à pergunta do Ivan Lins, que deveria ser o interesse primeiro de todos, que foi o bom juízo dos autores do acordo, discutido por duas décadas, e, que depois de celebrado, uns quantos tolos descontentes, até por quererem visibilidade, e também por picuinha contra o novo, apegados que são a seus velhos hábitos, vêm fazer oposição. Não se dão conta que felizmente as engrenagens do acordo são imparáveis, e que a barulhenta ação que fazem, é apenas um bocado de nada a respeito de coisa alguma.


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