terça-feira, 28 de agosto de 2018

"Su di me." A GUERRA SURDA DO VATICANO MOSTRA SUA CARA.





"A acusação de que Francisco sabia dos abusos sobre menores perpetrados pelo cardeal norte-americano Theodore McCarrick, tendo ocultado essa informação e até dado provas de confiança no acusado, fragilizou de forma inédita o atual chefe da Santa Sé, deixando-o na mira dos setores mais conservadores da Igreja." - Expresso 29/8/2018.





E, mostrando sua cara, fala evidentemente. E o que fala? Pede a demissão do Papa Francisco. Entre todos os despautérios desse mundo, mais este. Entretanto muito me alegro com isso, por varias razões, vamos aprecia-las? Sempre lembrando primeiro:

1º - Essa guerra surda na Igreja já tem mais de quatro décadas que surgiu nos jornais. Tudo em torno do Banco do Vaticano e o maior esquema de lavagem de dinheiro que alguma vez foi montado.

2º - A primeira vítima física desse esquema, a grande lavanderia da Máfia e de outras entidades semelhantes, foi um Papa.

3º - Todo mundo se acovardou perante o poder enorme da corrupção instalada na Cúria Romana.

4º -  Vários Papas sucederam-se sem que nada fosse feito, e o esquema continuou com a lavagem de centenas de milhares de milhões de Euros tornados legais através desse esquema fraudulento.

5º - Era um esquema de duplo poder, o de fato, que o dinheiro muito explicitamente proporciona, e o espiritual, porque instalou uma camarilha sórdida no coração da Igreja, envolvendo todos os que lá chegavam para se submeterem a eles; ou se juntando ao esquema, ou se calando. Essa segunda hipótese uma coisa fácil de se obter de um religioso que é treinado para calar-se, para guardar segredos, a começar pelos da confissão rapidamente se submetia.

6º - Esse esquema corrompeu todos os segmentos da Igreja, determinando nomeações, cargos, funções, transformando o Vaticano num grande arranjo dos servidores da corrupção instalada. Até as nomeações de cardeais ficaram submetidas ao esquema, tendo sido João Paulo II o único que manteve a nomeação de cardeais segundo seu critério, no entanto não conseguindo evitar totalmente as indicações vindas da Cúria (Cúria = esquema). Era uma coisa diabólica porque combater o esquema era, em grande medida, combater a Igreja, era expor seu lado mundano, roubando-lhe a espiritualidade, e, consequentemente, autoridade, uma verdadeira sinuca e dois bicos que encurralava tudo e todos.

7º - Passado meio século do sucesso do esquema funcionar seguidamente, submetendo vários Papas ao silêncio, por medo de não arruinarem a Igreja, se expusessem o esquema, acreditavam que nada, nem ninguém, se lhes poderia opor.


Aí é que se enganaram, SURGIU UM PAPA DO FIM DO MUNDO, conforme previam as profecias!



As razões porque me alegro:


1ª- A fé inabalável desse homem (E é preciso que hajam homens assim para que os valores superiores não faleçam.): Suas palavras ao aceitar a indicação, ainda dentro da Sistina, são: "Sou um grande pecador. Mas, confiando na misericórdia de Deus, no sofrimento, aceito." Sabedor do poço sem fundo, a enorme alhada, em que se metia.

 2º -Nessa guerra para a qual Francisco foi escolhido, sabendo desde o primeiro momento, quando aparece na janela depois do "Habemus papam", em que havia escolhido um caminho do qual não há volta, salvo a da suprema covardia de resignar, ele mostrou do que é feito já no primeiro minuto. Suas palavras são:
“E agora iniciamos este caminho, o Bispo com seu Povo… o caminho da Igreja de Roma que preside a todas as outras Igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de mútua confiança. Rezemos sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade. Espero que este caminho eclesial, que hoje começamos, com a ajuda do Cardeal Vigário, aqui presente, seja frutuoso para a evangelização desta Cidade tão bela!" E quem é o Cardeal Vigário ali presente? Bem o Cardeal Vigário é o primeiro ministro do Vaticano, ou seja, quem administra o governo temporal do país. Este é naquele momento Agostino Vallini que havia sido nomeado para o cargo por Bento XVI numa cedência parcial aos poderes da Cúria. Era já ali um primeiro aviso, como Francisco tem de tomar pé da situação, ainda demorará alguns anos em substituí-lo por Angelo de Donatis só em 2017. Mas estava demarcada a fronteira, não iria aceitar nenhuma imposição da Cúria. Francisco é pleno de coragem.

3ª - A história da ação de Francisco quanto ao Banco do Vaticano, o IOR, que se tornou bem conhecida, deu provas de sua determinação inabalável de limpar o Vaticano destes malfeitores, os quais não pode expulsar, tem de os tornar inoperantes até que morram. Os corruptos do banco foram todos afastados, porém em outros casos é mais moderado. O caso de Bertone é bem elucidativo do proceder de Francisco. Bertone era o Cardeal Secretário de Estado nomeado por Bento XVI para substituir o Cardeal Sodano, há quinze anos no cargo, e era também camerlengo. Como Bertone já estava perto dos 80 anos, idade em que os cardeais deixam de exercer funções, calmamente o retirou do cargo de secretário Estado, mas aguardou os seus 80 para escolher outro camerlengo. Francisco faz as coisas com prudência. Como devem se lembrar Bertone não era mafioso, era um vaidoso, fechou os olhos ao que se passava no banco, e apanhou lá uns quantos milhões para viver a grande e a francesa, um grande sorriso, e era ladrão, era, mas não era ativo um da corrupção, era apenas um solidário útil. Agora, muito velho, ainda está vivo, mas não será punido, e já não faz mais nada e irá morrer, será menos um.  

4ª - Como estamos vivendo a maior guerra que alguma vez se travou dentro do Vaticano, tudo tem de ir por etapas, mas urge dar seguimento cadenciado ao processo. Francisco do alto dos seus 81 anos mostra-se imparável, determinado, e empenhadíssimo em cumprir a tarefa para a qual foi escolhido, mesmo tendo de recorrer a gente fora do clero para seus ministérios (dicastérios) e instituindo ainda novo dicastério, e logo tendo já resolvido um problema, ataca logo o seguinte.

5ª - Depois de ter mencionado, como aviso do que a que vinha, o Cardeal Vigário, convoca, logo naquele momento de sua apresentação, o povo para que esteja a seu lado, o que é um outro aviso, dizendo: “Antes que o Bispo abençoe o povo, peço-lhes que rezem ao Senhor para que me abençoe: é a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração por mim”. Sabedor do quanto irá necessitar de apoio, apesar de saber que está absolutamente só a partir daquele momento. Simbólico, místico, pleno de fé, sabe pedir.

6ª - Passados quase seis anos, pois esse momento na sacada central da Basílica Vaticana, foi às oito e meia da noite (hora de Roma) em 13 de Março de 2013, Francisco ainda está vivo, porque Luciani, João Paulo I, durou apenas 33 dias por ter se oposto ao status quo sem cobertura mediática, e sem se precaver devidamente.  

7ª - Apesar de todos os dias surgir uma casca de banana para que Francisco possa escorregar, ele se vai desviando de uma após outra, certeiro, sem medo, indômito, e por mais que aprontem, nada conseguem contra a absoluta determinação do Papa Jesuíta. A última foi a carta aberta desse cretino do Núncio Carlo Maria Vigano, um instrumento do principal opositor do Papa, o mafioso cardeal Burke, a acusar Francisco, propondo-lhe que renunciasse. Isso vem provar que eles entraram em desespero, que nada podem contra Francisco. Não podem mata-lo, porque era o fim da Igreja, com o envolvimento do governo de Itália para apurar sua morte, pondo fim a independência do Vaticano, e quem sabe lá com que repercussões em todo mundo. Não podem cala-lo, porque nada o intimida, já tentaram todos os expedientes. Não podem envolve-lo em nada de errado, do passado, porque não encontram; ou nopresente, quando também já tentaram de tudo, e nada conseguiram. Pensaram então, agora, compromete-lo, tornando pública a guerra surda e muda que até então operavam, dizendo-o comprometido com McCarrick, o cardeal norte-americano envolvido com pedofilia, e abusos sexuais, que atribuem ter pedido a renúncia há 5 anos e que só agora Francisco aceitou, ou que Francisco tinha sido alertado e nada fez. Nem uma coisa, nem outra, só mais uma intriga. Na verdade Francisco esperou ver apuradas e confirmadas todas as acusações contra McCarrick, expondo vários outros envolvidos, e, sem precisar de usar de seu poder, viu McCarrick renunciar a sua posição de príncipe (cardeal) o que nunca havia se passado na história da Igreja em dois mil anos. Dessa forma Francisco conseguiu deixar marcas profundas de ensinamento, deixar patente que tudo será sempre apurado até às últimas consequências, doa a quem doer, e não precisou cortar nenhuma cabeça.

A reação do grupo de Raymond Burke, o mais retrógrado grupo dentro da Igreja, que envolvido com a máfia do dinheiro do Banco Vaticano, e com os interesses mais inconfessáveis da Cúria, vem agora revelar seu desespero por nada poder contra Francisco,  servindo esse pedido de que o Papa renuncie, como um ato que prova que perderam toda a paciência, e toda a esperança em derrotar, ou parar Francisco, e que eles por fim se considerem derrotados. Temos portanto agora é que orarmos ainda com mais força para que não recorram a nenhuma medida desesperada, e que possam esperar pelas suas morte quietinhos, vendo Francisco completar sua tarefa de salvação na limpeza total dos males da Igreja que governa.



segunda-feira, 27 de agosto de 2018

THE BRITISH VOICES - INGLATERRA NÃO SAIRÁ !










                                                                                                                  UK + EU.


No coro europeu os britânicos têm um lugar especial, não podem faltar. Rule Britannia. O Brexit foi um equívoco, ao ser questionado, um embuste ao ser debatido, um desgoverno, ao ser implementado. Rule Britannia, eu repito: Perguntem se o povo o quer, agora devidamente informado. Façam novo plebiscito!

The British voices songs together with the soul of a great country, they can not be out of the european chorus. O que se ouve do grande coro de vozes britânicas é que não querem sair da Europa, o que se passou na votação foi um momento de engano e de orgulho patriótico espicaçado. Eles que tanto preservam os valores de seu país, mal informados, estimulados por 'líderes' (Perdoem-me o uso do termo.) que apelavam aos grandes valores do 'Império', que apesar de não mais existir império, sua ideia mora nos corações ingleses como seu desejo de grandeza, forjando-lhes o orgulho. Grandes equivocados como Boris Johnson, ou mal intencionados como Nigel Farage do UKIP, mobilizaram emoções irrefletidas.

Em 23 de Junho de 2016 não tinham toda a informação necessária para decidir, e isso prova como podem ser equívocas as percepções de sim ou não, mesmo para uma grande democracia como a inglesa, onde tudo se discute todos os dias. Tendo David Cameron convocado THE UNITED KINGDOM EUROPEAN UNION MEMBERSHIP REFERENDUM que decidiu pela saída por uma margem muito pequena, com uma votação desinformada, dividindo o Reino Unido em áreas de conscientização política e de má informação, como fica claro na apreciação do mapa do processo de votação, onde as zonas rurais se opõem aos grandes centros urbanos, resultando numa incongruência eleitoral.

De momento a inteireza das instituições britânicas não davam margem para nenhuma outra alternativa que não fosse proceder ao Brexit, mesmo quando já no dia seguinte ao referendum a população percebera que se havia equivocado. Um fiasco, mas o erro estava feito, o logro consumado. Hoje, passados dois anos, com o nítido quadro do quão mau é para o Reino Unido sair da UE, há espaço para sanear dúvidas, quando estas não restam mais pelo clamor generalizado pelas ilhas, mas que só se poderão sanar com novo 'referendum'. Eu prevejo que o resultado será 7X3 (mais coisa, menos coisa) pela permanência.

Com a perspectiva do Brexit eliminada, a UE estará mais forte e apta para conversações mais profundas, que, com a força da presença do UK, fica restaurado o antigo equilíbrio, restringindo a proeminência alemã, circunscrevendo a importância francesa, prescrevendo uma Europa mais possível, com forças mais iguais, com mais democracia, e revigorada com fiéis que experimentaram a igreja do diabo e retornaram a igreja de Deus, como no conto de Machado de Assis.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

COMO OS PAIS DO SUPER-HOMEM.







A razão do Super-Homem ter chegado a Terra, deve-se ao fato, segundo sua história, de seus pais terem escolhido o enviar para salvarem-no da destruição eminente de seu planeta, Krypton de seu nome, numa outra galáxia, assim tornando o SH um refugiado inter-galático, arriscando a hipótese de sua nave chegar a local seguro. Agora vemos no norte d'África a história se repetir vezes sem conta, onde os pais vendem todos os seus bens, inclusive a casa onde moram, para poderem pagar aos traficantes do Mediterrâneo o custo da travessia, para arriscarem na hipótese de que seu filho seja um dos dois em cada três a completar a viagem, que é assassina para o outro terço. Assim temos crianças e jovens a tentar chegar a Europa, onde se põem a salvo das guerras, dos assassínios, da fome e das perseguições étnicas. Fugindo a uma vida desesperançada arriscam tudo, na busca de trabalho, alimento, e noites de sono tranquilo, sem o estigma constante das ameaças que pesam sobre suas vidas.

A busca da preservação genética é instintiva em todas as espécies, e a humana não foge a regra, pois  assim como fazem milhares de espécies animais que se sacrificam para preservar a vida de suas crias, procurando salvar seu legado genético a todo custo, procedem os humanos. Toda a mentira em torno do que se passa com estes que se lançam na travessia mediterrânea numa fuga provável, resume-se ao desconhecimento da genética ou da BD, como preferirem, que para o caso vem dar ao mesmo, porque como os conjurados do planeta Krypton não medem a meios para impedir o sucesso a uma solução redentora para a carga genética que tenta salvar-se, assim tem atuado a maioria dos políticos europeus da atualidade.

Esses Jor-Els africanos e seus filhos refugiados, são meus heróis, ídolos para mim como nunca foram os da BD, ou qualquer suposto SH (ou SM, se preferirem a sigla anglo-saxônica) posto que seus dramas reais têm uma conotação com a nossa realidade e nossas limitações e exclusões, o que nos compele a ação, esta mesma que se desenvolve por meio de muitos outros heróis tentando cruzar o Mediterrâneo, como ainda por toda reação feita face às políticas inoperantes que têm se praticado nos países de acolhimento a vários níveis, exigindo nossa participação para que haja a reformulação das pseudo-soluções encontradas, e para que se implante uma verdadeira política para que os refugiados cheguem ao destino pretendido. Também como os pais adotivos do SH que mantiveram o segredo, possuídos da intuição de todos os pais, e do entendimento da repulsa que gera tudo o que é diferente como fonte de sua exclusão, nunca revelaram a origem ET do SH; para que ele como refugiado pudesse ter um vida normal. Assim os países da rica UE deveriam ter tratado do assunto dos refugiados, acabando com o tráfico, indo os recolher diretamente em África, para receberem contentes essa rica herança genética, e a integrarem em seus países, tornando-os mais ricos.

O bravo sacrifício dos pais em ficarem despossuídos, ou inclusive com dívidas, para poderem enviar sua herança genética para local seguro, a coragem dos filhos em lançarem-se numa aventura que é muitas vezes fatal, não teve a felicidade de encontrar, como na BD, uma equivalente coragem e generosidade na recepção áqueles que conseguem chegar. Diferentemente dos bárbaros, e depois dos mouros, que vieram como invasores para essas mesmas praias em tempos recuados, esses vêm em busca de asilo que lhes proporcione vida decente, refugiados que são.

A falta de humanidade dos governantes europeus em sua maioria, as decisões estúpidas da UE em matéria de acolhimento, sendo preciso relembrar que paga bilhões a Turquia para essa reter a vaga migrante em condições sub-humanas do outro lado do Mediterrâneo em campos de concentração, eternizando o problema que não irá desaparecer, não se portando como os pais adotivos do SH, e destruindo o esforço de tantos pais que apenas tentam salvar seus filhos, pondo-os em segurança.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Feito para durar.






A ideia de pouca durabilidade, de descartável, de transitório, que domina nossa sociedade em nossos dias, contrasta fortemente com a ideia que a dominou, e está na gênese de nossa história, quando as coisas buscavam ter um caráter perene, eterno, como melhor solução alcançada que, portanto, devia permanecer. Não ser assim, aceitar a baixa qualidade, mudou tudo, e o pior é que nos mudou.

Hoje caiu uma ponte em Itália, nessa mesma Itália que construiu pontes por este mundo fora, e que passados milhares de anos lá estão cumprindo seu papel de unir dois pontos de um caminho onde falta chão por diversas razões (assim são as pontes). Lembro seus aquedutos, suas cidades, que foram feitos como obra máxima da civilização para que permanecessem como solução ótima alcançada. Os materiais, as concepções, as estruturas tinham a finalidade de serem as melhores, e eram, são!

Venceram o tempo. Essa ponte que caiu não tinha sessenta anos, quando conhecemos tantas outras em Itália que têm dois mil, dois mil e quinhentos anos, resistindo à tudo, desde o tráfego que se ampliou muitíssimo, até aos terremotos e outros fenômenos naturais "inesperados" que testaram sua capacidade de resistir.

O que as diferenciavam dessas outras que hoje caem por falhas estruturais? O que falha?

Falha aquilo em que nos transformamos, e todo um conceito de sociedade que ao abrir mão desse desejo de permanência, renunciou à qualidade, menos à qualidade dos materiais, e mais à qualidade do próprio conceito de sociedade que têm, onde antes se apropriavam do "eterno", hoje satisfazem-se com o aparente, não mais importando a qualidade, a perfeição, e a durabilidade. Todos os anos milhões de milhões são gastos pelo gosto que nós temos de apreciar a capacidade dos antigos, e os gastamos para irmos espreitar suas obras, ainda que sua civilização possa não mais existir, elas lá estão, assim vamos ver as pirâmides egípcias, maias e astecas, os templos gregos e romanos, as catedrais européias, a muralha da China. Sua existência é motivo de orgulho, é fator de cultura, é marco de conquistas alcançadas. O que nós perdemos muito foi esse orgulho, e isso transforma nossa cultura em ovo podre, aquilo que aparenta estar bem e ter valor, mas que, se formos olhar sua essência, é pouco válido, é essa a nossa civilização do plástico, do descartável, do efêmero, do transitório, onde essa transitoriedade se reflete nos valores espirituais, que é o mais grave que acontece. Escrevi certa feita uma crônica intitulada A árvore que caiu em Benfica, onde alertava para uma realidade que me ocupou toda a vida, a perda dos valores estruturais da sociedade (vou qualquer dia publica-la aqui no blog) que fala do começo dessa desestruturação que perpassa a sociedade quando abrimos mão de fazermos as coisas com vontade de que sejam as melhores, pois é quando não escolhemos o que é feito para durar.

EM QUAL DOS OITO MINUTOS E MEIO?





Já abordei esse assunto duas vezes nas crônicas pelo prisma político do tema, em  Que será do Brasil? e Terrível retrato do Brasil, no ano passado e nesse respectivamente, analisando os homicídios constantes, ilógicos, estúpidos, parecendo que seu absurdo número se fixou agora (*) nas 175 mortes diárias, como um paradigma da ocorrência da guerra que se trava no Brasil, expressando sua intensidade, entretanto, aqui, quero analisar o seu lado humano, com suas implicações sociais futuras, se esse número se mantiver.

Sou brasileiro, amo estar no Brasil, mas agradeço a Deus, hoje, não viver no Brasil. Não falemos por ora dos riscos, comecemos pelo incômodo da existência de uma mortalidade generalizada, que por azar pode nos atingir inesperadamente. Só o fato de convivermos com a possibilidade gera um mal estar danoso a nossa saúde psicológica. Como nas antigas ordenações dos tempos dos reis, quando o legislador afirmava que pelo só efeito da lei, ou seja em virtude da sua existência, todos estavam compelidos a sua observância, assim pelo só efeito dessa mortandade nos sentimos constrangidos de termos uma vida normal, o desgaste de termos de estar alertas, a energia nervosa despendida, a infelicidade dessa condição, rouba-nos qualidade de vida. Os reflexos dessa situação no turismo traz prejuízos reais (**), quem é o doido que quer ir passear num país onde se mata sete vezes por hora? QUEM DESEJA ESTAR SOB O STRESS DE PODER SER ATINGIDO POR UM HOMICIDA?

A vida no Brasil vale pouco, esta, o bem mais precioso, posto que dela, para todos e para cada um, deriva tudo o mais, a riqueza ou a pobreza, a sorte ou o azar, as alegrias ou as tristezas (sem o dom da vida cada um não existe, para o melhor e para o pior) e sendo assim, num lugar onde a vida pouco vale, nada mais tem valor. A razão de lutar por melhores condições se esboroa, como uma taça de cristal lançada com violência contra um bloco de pedra, tudo fica em cacos. E num país onde haja qualquer constrangimento ao ímpeto que move o mundo, que é nosso constante desejo de melhorarmos, como ocorria durante a ditadura, que criava uma realidade paralela, uma falsa sociedade, que apesar de gerar riquezas no país, apesar de impor a ordem, dois valores tão estimáveis que estão assinalados em nossa bandeira nacional, roubava a integridade ao Brasil, amputando-lhe partes indispensáveis. Essa condição de desassossego, de instabilidade social, de impunidade para quem a pratica,  gera um ambiente também desfalcado, que entrava o progresso, que limita as relações humanas e sociais, que empobrece o desenvolvimento econômico, que amesquinha a vida.

Num ambiente de comiseração constante, que para além da piedade é motivado pelo pavor de sermos a próxima vítima, onde a injustiça conflagra a ruína dos valores absolutamente necessários à vida cotidiana, valores que vão desde a tranquilidade emocional à expectativa de justiça, passando por outros sentimentos de expectativa dos mais diversos foros. Para quem não conhece outra realidade, ou para quem tem baixa consciência política, como para quem já perdeu a auto-estima se conformando com a perversão e a perversidade reinantes é o toca a andar, mas mesmo esses se sentem mobilizados quando o desvario lhes atinge, e protestam, e manifestam-se. Essas quase duas centenas de mortes diárias, que se fixaram na faixa de ocorrência de uma a cada oito minutos e meio, numa constante infinita, posto que se vão renovando a cada oito minutos, e vão envolvendo cada vez mais gente quando atingem o filho, a filha, o pai, a mãe, o amigo, a amiga, o colega de trabalho, o vizinho, onde ninguém está a salvo, como uma doença, uma peste que se espalha, um surto que a todos contagie.

Nessa situação de generalização que levou a existirem anormalidades que vão desde carros blindados e helicópteros para uso diário, seguranças pessoais, até grades em todas as janelas, e criou um Brasil feio, um Brasil cheio de medos, que acentua as desigualdades, que entrava o progresso com altos custos não contabilizados, que rouba a paz de espírito, que, em certas localidades, aterroriza, e que exclui, e o faz seletivamente, escolhendo aos mais pobres e desprotegidos como vítimas preferenciais, onde a cor da ele é determinante para o processo de mortandade, onde existem zonas, bairros e cidades sem lei, numa excepcionalidade inaceitável, gerando um país destroçado como se estivesse em guerra, fragmentando cada vez mais sua sociedade, nos cacos daquela taça partida que rouba o ânimo de progredir ao país como um todo, de melhorar aos cidadãos como partes desse todo, e de viver feliz a todos nós nesse ambiente em que não sabemos em qual dos oito minutos e meio poderá chegar nossa vez.

(*) Estatísticas dos últimos três anos. (Que indicará ter atingido o auge?)
(**) O peso na economia dessa situação ainda não foi mensurado. (É como as perdas de uma guerra.)

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

DA PERSISTÊNCIA À INCONVENIÊNCIA - A FALTA DE ESPELHOS.




Ser persistente geralmente é visto como algo positivo, como uma qualidade, não como defeito, porém a persistência excessiva, aquela que ultrapassa os parâmetros de uma insistência dada como sadia, com uma atitude tida como louvável, porque resiste às adversidades que surgem, indo então para além do razoável, para além da resistência a essas adversidades e oposições tidas como aceitáveis, indo empenhar-se para impor sua agenda, suas idéias, já quando uma maioria as considera inaceitáveis, deixa de ser bem vinda, para ser repudiada.

Trump, Bruno de Carvalho, Teresa May, Ricardo Robles, Constança Urbano de Sousa, são personagens que transitaram mais ou menos rapidamente dessa ação de uma persistência admirada para uma insistência inconveniente. Ultrapassaram limites por falta de espelhos, falta de auto-apreciação, não se dando conta que não resulta insistir para além de um certo ponto por mais razão que se tenham.

Figuras de diversas dimensões, e por motivos distintos, passaram da louvável condição de persistentes, para a indesejável de inconvenientes. QUANDO SE DÁ ESSA TRANSIÇÃO?

O que se passou com elas, e/ou com suas causas, para que sua condição se alterasse? E deixassem de ser vistas como admiráveis persistentes, para serem conotadas como indesejáveis?

Penso que a resposta reside em duas palavras que utilizei, e devem ser esquadrinhadas para nos revelarem o que se passa, o que se deu como mudança interpretativa, são elas: razoável e aceitável, que são a base para o entendimento do que deixa de ser conveniente. Os humanos têm marcas etológicas estabelecidas, assim como os animais por outras razões, que, apesar de invisíveis, estão muito definidas, e não podem ser ultrapassadas sem provocarem forte reação.

RAZOÁVEL - É antes de tudo qualidade da razão. E quem é a razão? Sendo a compreensão, a inteligência, é matematicamente uma quantidade que numa progressão opera sempre de um mesmo modo, é o fundamento.

ACEITÁVEL - É tudo aquilo que merece ser aceito, ser recebido.

CONVENIENTE - É o que bate e volta, ou seja o que corresponde, e corresponder é responder em simultâneo, e essa ideia de simultaneidade, o sentimento que gera sentimento de resposta homólogo, 'co', e nesse corresponder traz também a ideia de utilidade, de responder pela positiva, de atender às expectativas. Logo para que haja conveniência, para que haja correspondência, é mister ser razoável, posto que é a razoabilidade que traz entendimento comum, o que a matemática descreve como algo que opera de forma regular, sempre do mesmo modo. O que lhe dá aceitabilidade, pois é confiável, já que ninguém acolhe a quem desconfia. Ou seja é tudo uma questão de confiança, essa se perde quando a ação do agente opera de forma irregular, ou se essa ultrapassa os limites aceites por todos, não merecendo mais ser recebida (Aceite).

Voltemos às personagens que escolhi para exemplo dessa análise, e avaliemos que valores excederam, quais atitudes tiveram, que romperam sua aceitação, e, num dado momento se tornaram inconvenientes, ultrapassando os limites da persistência para ingressarem no âmbito da inconveniência.

Verão que todas, num dado momento, perderam a aceitabilidade por levarem sua insistência para além do razoável, excedendo limites, que apesar de não convencionados, estão estabelecidos em critérios naturais da resiliência de todos e de cada um, da elasticidade do caráter humano em aceitar uma oposição valente, que para uns terá maior âmbito, e para outros, menos, entretanto existe um ponto além do qual torna-se intolerável, tornando ao recalcitrante inconveniente. E ninguém jamais esquece uma inconveniência, como uma ofensa que lhes seja cometida.