O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
terça-feira, 14 de agosto de 2018
Feito para durar.
A ideia de pouca durabilidade, de descartável, de transitório, que domina nossa sociedade em nossos dias, contrasta fortemente com a ideia que a dominou, e está na gênese de nossa história, quando as coisas buscavam ter um caráter perene, eterno, como melhor solução alcançada que, portanto, devia permanecer. Não ser assim, aceitar a baixa qualidade, mudou tudo, e o pior é que nos mudou.
Hoje caiu uma ponte em Itália, nessa mesma Itália que construiu pontes por este mundo fora, e que passados milhares de anos lá estão cumprindo seu papel de unir dois pontos de um caminho onde falta chão por diversas razões (assim são as pontes). Lembro seus aquedutos, suas cidades, que foram feitos como obra máxima da civilização para que permanecessem como solução ótima alcançada. Os materiais, as concepções, as estruturas tinham a finalidade de serem as melhores, e eram, são!
Venceram o tempo. Essa ponte que caiu não tinha sessenta anos, quando conhecemos tantas outras em Itália que têm dois mil, dois mil e quinhentos anos, resistindo à tudo, desde o tráfego que se ampliou muitíssimo, até aos terremotos e outros fenômenos naturais "inesperados" que testaram sua capacidade de resistir.
O que as diferenciavam dessas outras que hoje caem por falhas estruturais? O que falha?
Falha aquilo em que nos transformamos, e todo um conceito de sociedade que ao abrir mão desse desejo de permanência, renunciou à qualidade, menos à qualidade dos materiais, e mais à qualidade do próprio conceito de sociedade que têm, onde antes se apropriavam do "eterno", hoje satisfazem-se com o aparente, não mais importando a qualidade, a perfeição, e a durabilidade. Todos os anos milhões de milhões são gastos pelo gosto que nós temos de apreciar a capacidade dos antigos, e os gastamos para irmos espreitar suas obras, ainda que sua civilização possa não mais existir, elas lá estão, assim vamos ver as pirâmides egípcias, maias e astecas, os templos gregos e romanos, as catedrais européias, a muralha da China. Sua existência é motivo de orgulho, é fator de cultura, é marco de conquistas alcançadas. O que nós perdemos muito foi esse orgulho, e isso transforma nossa cultura em ovo podre, aquilo que aparenta estar bem e ter valor, mas que, se formos olhar sua essência, é pouco válido, é essa a nossa civilização do plástico, do descartável, do efêmero, do transitório, onde essa transitoriedade se reflete nos valores espirituais, que é o mais grave que acontece. Escrevi certa feita uma crônica intitulada A árvore que caiu em Benfica, onde alertava para uma realidade que me ocupou toda a vida, a perda dos valores estruturais da sociedade (vou qualquer dia publica-la aqui no blog) que fala do começo dessa desestruturação que perpassa a sociedade quando abrimos mão de fazermos as coisas com vontade de que sejam as melhores, pois é quando não escolhemos o que é feito para durar.
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