sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Os três mundos.




                                                                                   Em homenagem a Web Summit - Lisboa.


Sempre houve mais que um mundo no nosso planeta, desde sempre, mesmo quando era pré-histórico, havia o mundo sapiens e o neandertal, o humano, desses dois grupos, e o animal, ou natural, que eles combatiam diariamente. Entretanto eram mundos muito próximos, o que agora não acontece, a divisão que hoje se apresenta, é para além da advinda das realidades materiais, que determinam quase tudo nesse mundo, ter recursos é o que permite condições de acesso a 'tudo' e a qualquer coisa a que se queira aceder, e divide o mundo, tanto em efetiva minoria, como em enorme maioria, desproporção desequilibrada e que afasta totalmente os dois grupos, porque dentro dessa divisão prevalecerão viabilidades, e possibilidades, que recambiarão grande número para o momento anterior à divisão, podendo alterar a constituição dos dois grupos. Por exemplo, muitos dos sem recursos hoje, têm outras condições que lhes permite imensos acessos, e lhes abrem inúmeras portas, visto que há outros aspectos muito mais determinantes na existência desses universos paralelos, vamos tentar escrutina-los.

A maior divisão que se pode ver no mundo hoje é a daqueles que têm acesso a informação, e dos que não têm. E por onde é que transita a informação em nossos dias? Resposta: Primeiro na Net. Instantaneamente a um toque/acesso nosso, na Net imediatamente. E um pouquinho mais distante, nas telefonias, televisões, e medias direcionadas. Depois, um pouco mais distante ainda, nas medias impressas que possamos adquirir.

Para demarcar a imensa divisão de nosso mundo hoje em dia, pensemos no que representa uma pessoa sem acesso à informação instantânea. Quanto tempo irão necessitar até obter uma informação que necessite? Sem televisão a cabo(=Net) terão de esperar a hora das notícias, e não as poderão alcançar quando bem entenderem. No rádio também. Nos Jornais, terão que esperar pelo dia seguinte, nas revistas por uma semana ou mais. Quem tiver Net, irá saber no mesmo momento que o fato estiver acontecendo. Isso pode representar a diferença entre a vida e a morte, mas não sejamos alarmistas (que não o somos) apenas saibamos, tomemos consciência, de que corremos o risco de podermos nos envolver em algo que não queiramos, se não tivermos a informação com uma antecedência devida, que nos permita evitar, e nos afastarmos da situação indesejada. E para tudo o mais a informação é vital, desde para o agricultor que pretende proteger suas colheitas, até para o investidor que quer proteger seu capital, e entre esses dois extremos, todo um mundo, porque tudo, mas mesmo tudo, demanda informação atempada, incluindo nisso o reconhecimento dos sintomas que nos permitam tomar medidas em tempo útil para prevenir uma doença, ou trata-la enquanto ainda valha a pena, ou mesmo possamos reagir, fugir, aos inesperados acontecimentos do clima.

Visto que metade dos habitantes do planeta não têm acesso a informação instantânea, por exemplo não lerão essa minha crônica, e continuarão na ignorância de sua situação ignorante. E com essas duas metades, temos aí os dois mundos, no que ficou bem dividido ao meio.

Porém entre a metade dos que têm acesso, ainda temos os info-excluídos em diferentes gradações, por não saberem lidar, de alguma maneira, com o universo das redes, essa fabulosa Net de que vos falo, o grande divisor de águas do mundo presentemente. Então esses info-excluídos, estarão expostos às fake-news, não sabendo como filtra-las, estarão afastados das informações mais detalhadas, como, por exemplo, as da evolução do clima, por não saberem como as acessar. Não irão conhecer as diversas possibilidades de se protegerem, investindo de maneira mais segura e lucrativa, já que o balcão do banco provou ser inadequado como fonte de informação segura para quem quer investir, não evitarão uma pandemia que se aproxime, não farão economia, conhecendo as boas aquisições de produtos mais em conta. Hoje tudo isso é fundamental para viver melhor. O mundo se tornou, e se vai tornando, cada vez mais complicado, e toda e qualquer sorte de info-exclusão, mesmo de pequeno grau, propicia algum tipo de desabilitação, que cobrará seu preço, maior ou menor que ele seja.

E entre os mais ou menos info-incluídos, temos dividida a outra metade do mundo, a daqueles que tendo acesso a Net, mas que, por sua própria inabilidade, e só por essa sua condição pessoal, serão mais ou menos informados, mais ou menos hábeis, ou habilitados. Posto que é no acesso a informação onde reside todo o futuro de cada um de nós, seja ele mais longo, ou seja mais curto, não importa, temos de saber, temos de conhecer, posto que esse acesso determinará nossa qualidade de vida, ou mesmo a própria vida, em alguns casos. Para aqueles que souberem, mais competentemente aceder à informação com a qual devam lidar, essa capacidade determinará seu futuro.

Isso é op que tem determinado, ao longo da História, a manutenção do poder em mãos mais ou menos inadequadas, que, dependendo de sua capacidade beligerante ou operacional, juntamente com as informações e recursos que dispunham, alcançaram, ou mantiveram o poder. Entretanto essa manutenção do poder em determinadas mãos, mudou. O poder governativo, dispondo de todos os meios para exercer esse poder, já não é mais quem detém o verdadeiro poder, posto que esse transitou para outras realidades. Já não importa quem tenha conquistado esse governo (atingido o poder) por que meio for, não, agora o efetivo poder está em outra parte, em outras mãos, mãos que não querem mais exerce-lo com visibilidade, preferem as sombras, pois o poder ganhou cada vez mais diversas características imponderáveis, e, se por um lado se desmaterializou, por outro foi residir em outras mãos que nunca tiveram poder efetivamente, e que com isso não sabem bem como exerce-lo, sobretudo por via de sua acentuada fragmentação, com a tal desmaterialização ocorrida. O que é importante nas circunstâncias, porque mantém a democracia, ou sua aparência, enquanto cria uma oligarquia invisível. E, para esses que o têm dispersamente, mor das vezes tentam destruir o poder, não utilizando o que dispõem, porque repudiam sua institucionalização, negando seu exercício, recusando, desde votarem numa representação, até se organizarem em grupos que façam valer suas opiniões e vontades. É o poder inútil, ou anulado. Como a nulidade do poder hoje atingiu níveis altíssimos em muitas frentes, joga-se fora imenso poder!

Mas a história não termina aí, pois esses três mundos evoluirão de forma consentânea a que se torne um. Posto que o acesso, mais cedo ou mais tarde, irá se generalizar, e, então dependerá só da capacidade das pessoas, e de sua determinação em ter acesso a boa e qualificada informação, para tomarem suas decisões, sejam elas quais forem. E esse processo irá refundir grupos afastados. O mundo mudou, aquele mundo de irmos buscar apoio a entidades, a grupos de ação, e a centros de convergência, onde haviam condições de orientação, já quase não existe mais, sendo só para velhos. As novas gerações safam-se a si mesmas. E terão de se safar por si mesmas, sempre mais, o que as qualificará, e será pela qualidade da informação a que tiverem acesso, e essa condição dependerá cada vez mais da capacidade de cada um em saber obte-la, que se determinará a história de seu poder, daquele que venham a exercer, que é, afinal, a História da Humanidade.

Quando esse mundo for um, todos os inadequados serão esmagados, pela força do nível de consciência (informação) que possam atingir, e todos estarão expostos apenas às divisões interiores de suas esferas, como reflexo de suas incapacidades, ou ao contrário, se preferirem, e estas serão as que permanecerem, ainda, como herança desses três mundos.

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