O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020
O vírus que está no ar.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", é sabido. Há uma vontade anti-política, uma vontade que não quer as formas, nem as fórmulas, nem os tempos da Democracia. E é violenta, racista, preconceituosa, má, agressiva, truculenta, e é uma doença que se espalha. Para os que não sabem, a opção ao império da ordem, e à democracia, é a pior possível, e atende pelo nome de ditadura. E estas começam com a personalização do poder nacional, que deve ser ação de uma estrutura, nunca de uma só pessoa. Não suponham que haja outras soluções, não há, não há. Portanto há que escolher! Democracia ou ditadura, a escolha é sua. E os ventos da atual mudança levam essa infecção pelos ares que, livremente, sob a capa protetora da Democracia, podem ir a toda parte. Ou seja, está autorizado o contágio, está liberada a propagação. É o preço a pagar pela Democracia. E, como n'"A Igreja do diabo" do Machado de Assis, até que tenham cessado os sintomas da doença, esta se vai propagar até infectar a grande maioria das pessoas. Muito fortemente vimos essas cenas na Alemanha com Hitler, que foi eleito democraticamente. Na França com Napoleão, o I e o III, tendo ambos sido eleitos para uma coisa e terminando em outra, e em muitos, quase todos os países do Mundo, aconteceu o mesmo.
Este contágio é mesmo desejado por algumas faixas da população. E por mais doses massivas de Democracia, o único remédio possível, que por mais que se injecte, haverá sempre uma quantidade de doentes infectados, sem opção de cura, porque amam a doença, e cometerão crimes, descriminarão, agredirão, e farão o discurso da defesa desses pretensos valores, que querem seus, só seus, como se o dos outros não existissem. E estarão por toda parte, das portas dos bares, aos parlamentos e cadeiras ministeriais, passando pelas aglomerações, grupos religiosos e estádios de futebol.
Teremos sempre os Salvini, e os e as Le Pen, os Orbán, os Trumps, assim como tivemos Mussolini, Metaxás, Salazar, Franco, Horthy, Stalin, entre outros, sempre a mesma infecção, motivada pelos mesmos sentimentos de repulsa e insegurança, de desejo de uma mão forte, porque nas democracias temos de aguentar uns quantos idiotas que chegam ao poder, como viu-se recentemente no Reino Unido, numa sucessão que prossegue, posto que não há muitos Churchill disponíveis, infelizmente. Mas este é o preço a pagar pelo Bem maior que nos traz a Democracia, que se chama LIBERDADE.
Como a História se repete, e já se repetiu como tragédia, estamos agora no tempo da farsa, como queria Marx explicando o antigo provérbio. Porém nessa perigosa ciranda onde não há avanços, só recuos, estamos todos sujeitos aos ventos da História onde se sucedem mandriões e histriões, com ocasionais estadistas, numa rotatividade fruto da incúria e estupidez vigentes.
Hoje os farsantes, adequados ao entendimento do povo que iludem, vão, em distintas gradações, fazendo seu proselitismo alicerçado em mentiras, impossibilidades, delírios, falsidades, e outros primores do elenco das promessas políticas, que servem bem aos seus interesses de poder que ambicionam, convocando os crédulos e ainda outros ingénuos, consolidando estas suas ambições e delírios, únicos verdadeiros motivos de sua farsa.
Temos assim uma segunda geração em França, a eterna cruz gamada na Alemanha, felizmente sem encontrar outro psicopata com as capacidades oratórias para iludir que criou o mais tenebroso momento da História da Humanidade, que os vá liderar outra vez, mas lá estão, não aprenderam nada da desgraça que cometeram; também há vários pequenos duces em Itália, ditadores por toda parte, e por aí fora em todos os países, até no pequenino Portugal, onde o mais curioso farsante ascendeu a Assembleia da República, onde havia um Portas, que ainda há, mas um tanto recheado já, aposentado talvez, e que tinha em si mesmo um empecilho a seus delírios, por ser culto e informado, mantinha dentro de parâmetros da inteligência a sua peroração, porém agora emergiu um filho das causas populares, ignorante e estúpido, perigoso portanto, como ficou bem visível no futebol, sua mais perfeita manifestação de estupidez crua, onde, desde os desvios de dinheiro, passando pelo próprio furto do presidente do Benfica, até às insanidades recorrentes no Sporting por toda parte, com loucos mal formados a geri-lo, que se traduziram na desagregação, violência, e prejuízos vultuosíssimos para o clube, desgraças que até distrairão aos aficcionados dos clubes rivais, mas que são a perfeita miséria para os adeptos do Clube que foi entregue à sanha estúpida desses pretensos líderes de ocasião e seus prosélitos degenerados, criando um ambiente cada vez mais incontrolável e explosivo, de negação e violência, as duas supremas formas de manifestação da estupidez vigente, o vírus.
Com sempre um maior ignorante, pois que a gradação está a subir, assim como os postos que ocupam estes desorientadores, que vão manipulando a cegueira característica do populacho, bem como seus instintos irracionais, com isso o perigo avoluma-se, temos de momento este vírus no ar, que aos ventos, como mostram os inquéritos, se vai espalhando um pouco por toda parte, contaminando maior número de inocentes, úteis e inúteis, propagando sua infecção oportunista, fazendo crescer o contágio, doença que, como ensina Machado em seu conto, só sarará após sucessivas febres.
Como um país não se divide em adeptos, somos todos nacionais, e a desgraça de cada um, ou sua estupidez, afeta todos, tristemente sem exceções, sem misericórdia, vejam o atraso em que lançou Portugal o salazarismo, este defunto benquisto que arrebanha milhões de viúvas chorosas, carpideiras de sua própria incapacidade, apáticas, sem a força de vontade para aceitar as liberdades estimulantes do combate cívico, que nos dá a Democracia, como vemos no que se passa com os filhinhos da mamã, que não alçam voo para longe da casa materna na busca de horizontes alargados, posto que estão prisioneiros de um poder forte e superior que desejam que os orientem e mantenham, pelo qual estáticos sempre esperam. E nessa triste condição há milhões, que agregam-se eventualmente em grupos que se põem sob o suposto guarda-chuva protetor desses que propõem mão forte, um governo forte, e que vão disseminando o vírus, que é o mesmo que não atende por outro nome que o de Ditadura, e que a Democracia, para poder existir como é, tem de tolerar, pois é o anti-corpo com todos os agentes patogénicos inoculados, como sói ser, porém estes, antes ou tarde, extinguir-se-ão no caldo de cultura da Liberdade. Até lá, ou tristemente até que venha recidiva, pagaremos todos pela infecção imposta pelo vírus que está no ar.
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