quinta-feira, 3 de junho de 2021

Como diria Marquês de Maricá...

 "Um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto."


Muitas são as caras dos governantes brasileiros, e não há um que fuja a pecha da corrupção, porque será?

Quem conhece o processo eleitoral do Brasil sabe o quanto de clientelismo e corrupção comporta, o que nos leva a incontornável frase do MARQUÊS DE MARICÁ, enquadrando o inescusável comportamento do eleitor brasileiro. Enquanto não descobrirem o que é cidadania, e que esta implica compromissos para além do momento, para além de qualquer necessidade sua, para além de qualquer contingência, para além de qualquer interesse seu, não serão nada além de um bando de iludidos oportunistas. Oportunismo que alimenta a corrupção, como naquela história do deputado pernambucano que fui visitar no Recife, quando havia um grupo grande querendo falar com ele. O secretário veio dizer que estavam a porta muitas pessoas para falar-lhe. Ele mandou dizer que não estava. Eles tendo o visto entrar, insistiram. Ele mandou dizer que não podia os atender. Então alegaram que eram seus eleitores. Ele chateado com a insistência, foi até a sacada que estava em frente ao portão onde se encontravam as pessoas, e proclamou aos berros: "Eleitores? E batendo com a mão espalmada no bolso da calça, gritou mais alto ainda: Estão aqui os meus eleitores! 

Cidadania importa o entendimento dos Direitos civis, algo que sempre ultrapassa a pessoa, e ela só será cidadã, quando compreender que o colectivo se impõe a todo e qualquer presumível direito a que se arrogue, que, como parte de um todo, só terá progresso e avanços, se o todo tiver. Que só o Direito de todos é que conta, só o colectivo propõe uma verdade que se impõe para além de qualquer condição, ou situação. A anulação da pessoa pela força da colectividade, em virtude do todo, é o que a torna cidadã, na medida que pugne pelo interesse geral sem nunca privilegiar o seu.

Todo aquele que se presume ator no processo colectivo, só o é na medida que não tenha vontade própria, não proponha interesse particular, mas só pretenda o interesse comum, aquele que alça todos, formando uma nação, uma sociedade de cidadãos na busca de dias melhores, que agem movidos por valores insofismáveis. O Brasil, tristemente, é um país apenas, e só chegará a Nação quando cada um entender que ele só ganha se todos ganharem. A telha que cobre sua casa, "oferta" do político para o qual votou, falta, e faltará sempre na escola, no hospital; o cabo eleitoral de carro novo com o trabalho de arregimentação que fez, está roubando uma ambulância, transporte público, pois será cobrado a multiplicar. O saco de cal ou de cimento no emboço do barraco à troca do voto, fará por desmoronar a parede da escola, fará faltar remédios nos hospitais, fará acabar com o sistema, fará ruir a democracia, porque institucionaliza a corrupção, e com efeito reprodutivo cria, elege e segue, um após outro, governos corruptos, o que responde a questão com a qual iniciei esta análise, e nos faz encalhar na frase do Marquês, sem saída, porque cada qual com seu igual, onde todos são leitores do manual de Maquiavel, editado há 500 anos, e que visam só as vantagens do poder, este que se existe sempre pela vontade ou inação da maioria. O livro de Maquiavel, publicado a meio milénio, contém instrução/alerta contra, ou a favor, escolham seu lado, da corrupção pelo, para e no poder.

3 comentários:

  1. Oi Helder. Que texto interessante, bem escrito e muito pertinente. Eu apenas penso que o bem estar coletivo deve sobressair não pela anulação da pessoa, como você menciona, mas pela inclusão da diversidade de indivíduos e coletividades em convivência e respeito mútuos.

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  2. (Pois é, ganhamos no final, né? 😉) É possível superar esses imensos óbices ao progresso e ressignificar a nossa trajetória

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  3. Eu em momento algum disse, sequer insinuei, que o Bem (estar ou qq outro)se sobreponha (não é sobressair que se diz) ao indivíduo, muito menos para o anular. Sugiro uma re-leitura atenta do texto.

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