sábado, 21 de setembro de 2024

Os 75 anos do 1984.

O famoso livro de George Orwell, cujo título é um ano, o de 1984, completou três quartos de século de sua publicação neste oito de junho, último romance do controverso autor, traz à discussão a realidade desde sempre pretendida por algum poder que governe, controlar a sociedade em nome de uma suposta 'paz social', para a qual a única resposta possível é a ação guerrilheira (uma vez que a guerrilha é a derradeira forma de reação aos instrumentos pervertidos dos poderes instituídos) portanto uma ação como tentativa de se contrapôr, resistência ativa aos meios de manipulação em que se converteu, conformou, e se consusbatanciou o Estado e seus instrumentos, manipulação a muitos e diversos níveis para controlar as pessoas, intervindo e manipulando: A informação, a linguagem, o controle do passado, a promoção do negacionismo, a guerra, a alienação de largas franjas da população, a ação psicológica, o uso de tecnologias e legislação propícias, a vigilância - individual e em massa, a mistificação da verdade, fake news, "duplipensar", 2+2=5, "crime de pensamento" e, no topo, o totalitarismo. ONDE JÁ VIMOS TUDO ISTO? Hoje, em toda parte, com maior ou menor amplitude e incidências, onde se encontram infiltrados em todos os países estes diferentes meios de domínio da sociedade, mesmo a mais instruída. 1984. Esse ano bissexto e olímpico não teve grandes ocorrências políticas ou históricas, mas fica para a História por sua marca ficcional. Orwell escolheu uma data que se aproximava, não muito próxima, não muito distante, 35 anos adiante do tempo em que escrevia, visando demonstrar que nos encaminhavamos para uma instrumentalização social, que, com os novos e mais capazes meios tecnológicos, atingiria níveis de eficiência desconhecidos na Historia até então. E vimos isso acontecer, não em 1984, se não um pouco antes, e também depois, e sempre, e agora, em exercícios de subjugação e controle cada vez mais eficientes, até o absurdo.(Sugiro a leitura da crônica: A nota social, a cidadania e a liberdade - 31/03/2018.) 1949. Saídas da Segunda Guerra Mundial, as pessoas aterrorizadas por tudo que se passou com a tentativa nazi de instrumentalizar o mundo, e como fizeram com os alemães, pretendem fazer os diferentes grupos de poder, só não o fazem aqueles que, obstaculizados pelas forças sociais impeditivas a tais pretenções, vêem-se obrigados a refrear suas intenções, que, com raríssimas exceções, buscam um poder maior que a Democracia lhes concede. Expor à evidência essas intensões é a reação política primeira de uma imprensa, de partidos e de uma sociedade em regime democrático. Do confronto que então se estabelece vemos caminhos e descaminhos para atingirem seus fins, desde lutas intensas de opiniões, como as que vemos nos jornais e noticiários televisivos, até encarniçadas redes sociais defendendo e contrapondo pontos de vista, tanto normais e verdadeiros, quanto mentirosos (fakes) e inventados. Passa essa confrontação por ações mais vis, onde se estabelecem ações públicas ou nas sombras - Ataque ao Capitólio, Washington; Ataque aos Três poderes, Brasília; Watergate, Washington - bem como por inúmeros golpes palacianos, tudo pretendendo asumpção de poder que não corresponde aos conferidos pela situação vigente. Orwell terá pouco de oráculo, de Nostradamus, ou advinho, mas não deixará de ter seu que de profeta, ainda que suas previsões se assentem na observação da natureza humana e suas tendências desvirtuadas, e não em poderes ocultos. Seu livro é uma transcrição ficcional dos aparelhos que se formam visando alcançar poderes qwue não têm. "Big brother is watching you." Nada mais eficaz que o temor generalizado. Quanto a Gestapo terá alcançado pelo simples fato de existir? As pessoas temendo comportam-se como espiões de seus vizinhos, agentes do totalitarismo, fontes copiosas de informação e delação, estabelecendo uma rede de terror e vigilância, e em miseráveis denunciadores de comportamemntos supostamente contra o regime. Pela força, pelo medo implantado, pelas ações de inteligência e espionagem, os meios que se traduzem no que chamamos genericamente de Big brother, têm comprovado sua eficiência como ação autoritária, repressiva, fascista, ditatorial, numa tradução próxima de algum modo das ações para as quais Orwell nos alerta. 2024. O poder sempre busca uma forma de controlar, moldar e enganar a Sociedade, da forma mais restritiva que consiga, bem como da forma mais manipuladora possível, criando narrativas que induzam a crença nos valores que propagam, pouco importando se existem ou não as coisas que afirmam, buscando unicamente convencer tudo e todos de que sua ficção é a realidade. Vemos hoje essas fábulas narradas como recurso de instrumentalização por toda parte, com destaque para as redes sociais. Parece que voltamos aos tempos das quimeras mitológicas, com seus meios de assustar as crianças e controlar as populações. E tristemente verificamos que as fábulas resultam e alcançam seus propósitos, como sempre as pessoas gostam de crer em ilusões e invencionices. Tanto no livro como na realidade, tanto outrora como hoje, estamos e creio que estaremos sempre sujeitos a essas ambições de poder inevitáveis, posto que o poder corrompe. O alerta orwelliano é uma lembrança constante que faz-se sempre necessária para que deixemos de ficar pela rama na observação e análise das ações que nos afetam.

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