O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
quarta-feira, 28 de maio de 2025
Shiva
Como crê o hinduísmo: "É preciso haver destruição para haver renovação." entretanto o desempenho desse papel de destruidor, quando não é feito por um deus, tem consequências graves devido ao retorno. As reações expectáveis ao processo de destruição que ninguém deseja, processo que só mais tarde revelar-se-á útil, talvez até mesmo necessário, mas como é doloroso, é indesejado e indesejável, e causa enorme sofrimento, suscitando fortes reações contra.
Nesta perspectiva, Donald Trump, o nosso Shiva de plantão, presta enorme favor ao mundo com sua imensurável estupidez, papel que desempenha brilhantemente por sua cegueira quase absoluta, total falta de empatia, fruto da ignorância e do narcisismo, onde nada mais vê do que a si mesmo: Herói do universo, posto que o mundo será pouco certamente para tanta presunção. Cabe aqui lembrar Eclesiastes 1:2, 'Vanitas vanitatun et omnia vanitas', tendo em vista que de sua presença, como de sua passagem, resultará a vacuidade de sua existência oca, esta mesma que o obriga a marchar. Criar delírio, irritação, demonstrar contradição, bizarria, excentricidade, fraquesa psíquica, como método, ser agressívo, provocatório, torcido e retorcido, cabuloso, discricionário e ofensivo, para gerar irritação e constrangimento generalizado, e mentir, mentir, mentir, gerando suspeitas e instabilidade até atingir o estágio dito de podridão cerebral, onde o indivíduo perde os critérios de análise, sendo este o modo de instaurar o caos.
Entretanto a destruição.
Como eu havia assinalado ainda durante a primeira campanha eleitoral (2016), trata-se de um psicopata perigoso (título mesmo do artigo disponível na net). Durante seu primeiro mandato não conseguiu, graças à forte estrutura do poder executivo americano, criar o caos, sua constante intenção. Porém agora retornou preparado, industriado, com companhia adequada, lançado em 'Ordens Executivas' às centenas, que vão desregulando, desfazendo, destruindo. Desregulando porque toda ordem é contra o caos, portanto é preciso atacar a ordem, o que faz com essas 'ordens' executivas, um recurso extraordinário da presidência dos EEUU, em caso de crise. Desfazendo, posto que o grande edifício da Democracia necessita ser partido aos pedaços, desfeito aos bcados, para que o caos sobrevenha. É pois a obra de Shiva, só que o deus indu tem uma intenção que, apesar de destrutiva, é renovadora, como quando se derruba um edifício para construir outro. Trump só deseja os escombros.
Em todo o caso, em defesa de Trump.
De facto o que parece estar por detrás das ações de Trump, é a falta de dinheiro da administração central americana que, como sabemos, desde há muito é deficitária, se financiando ora com a emissão de papel moeda, ora com o aumento da dívida pública, que há muito atingiu valores impagáveis, e que tem a China como maior detentora dos valores em débito. Trump como comeriante-merceeiro, viu que não é nada bom esse endividamento, e a constante derrapagem da dívida pública com aumentos anuais do déficit resultando em mais dívida, vendo uma incontornável tragédia no horizonte, patrocinada por uma dívida impagável. Desde há muito que a China, do enorme estoque da dívida americana que detém, só recebe pagamentos em Yens, ou em ações de empresas sólidas americanas, o que evidencia o nível de descrédito a que chegou o débito e seu meio de pagamento, o dolar (Com o Euro a situação piorou muito, se os BRICS lançarem sua moeda, será ruinoso para os EEUU.). Se a situação chegou ao ponto de não haver voltas a dar, e ele está cortando em tudo, está certo, se o faz preventivamente, está certo. Se o faz por qualquer outra razão, como por exemplo atender os interesses dos milionários que o elegeram, com diminuição de seus impostos, terá de arranjar a falta, o buraco que vai gerar no orçamento, em algum lugar. Se o faz por boas razões, seu único erro verificável é a violência com que o faz, como mereceiro insandecido. Lembra-me uma história do interior de Minas Gerais, onde um merceeiro de nome João, sem recursos para pagar suas dívidas, resolveu dobrar os preços de toda a mercadoria de sua mercearia, em cidade pequena, muita da freguezia não teve outro remédio se não pagar, por não haver lá outra mercearia. Mas um belo dia, quando ele chegou a loja, havia um rato pendurado à porta com um cartaz que dizia: "Chamaram João de rato, João não importou-se. Chamaram o rato de João, o rato suicidou-se." Para além do divertido da história, ela revela a reação que provocam as decisões unilaterais, e que elas não são solução para os problemas. É assim como alterar os nomes das coisas, não muda nada, só causa desorientação.
Faz porque faz, e porque faz.
Milhares de despedimentos, o fim de muitas agências, o corte em muitíssimos subsídios, e as absurdas tarifas, evidenciam algum problema grave de caixa. Para além de Trump ser um psicopata, que o é, não é estúpido o bastante para promover o caos que promoveu sem que algo efetivo o afligisse, e menos ainda a administração norte americana o permitiria se não houvesse um efetivo problema a os atingir. O enorme mistério, como sempre, acabará por ser sabido, entretanto o caos disseminado terá destruido a força da sociedade norte-americana, tanto mais quanto mais Trump atuar nesse sentido.
Ao espelho.
Uma pessoa que não fez curso superior não tem nem respeito, nem tem estima, pelas Universidades, pela Academia, pelos elementos do saber e da cultura, há nobres excessões, é verdade. Uma pessoa que não tem formação não tem respeito pelas instituições, sem excessão, aqueles que não atendem às ordens judiciais, aos conselhos de Estado, às sugestões e evidências técnicas e científicas, pensam que tudo se reconstrói, não importa o tempo, os custos humanos e as vidas destruídas. É Shiva que dissemina o caos sem renovação. Ser que só valoriza os elogios. Ignora as críticas. Não tem noção da realidade.
O MEDO COMO ARMA.
A arte do medo, de seu emprego como instrumento de coerção social, desde as mais remotas épocas, traz resultados imediatos, ao mesmo tempo que gera um altíssimo poder de reação, pressão que se vai acumulando, que uma hora certamente arrebentará. Desconhecendo outro meio mais refletido, e despido da camisa de força que lhe impôs a primeira administração, grande embusteiro, age indiscriminadamente com as armas mais eficazes que conhece, sendo o causar medo e espanto a todos, a mais efectiva.
Megalomania pre-ditatorial.
Só os reis comemoram nacionalmente seus aniversários. Os faraós queriam ser deuses, e se proclamavam. Esse desejo incontrolável de se ver reconhecido leva o senhor Trump a cometer os maiores despautérios, mas poderemos delinear uma intencionalidade dictatorial nessas atitudes, que veremos se agravar com o desenrolar do mandato.
A autocracia.
Tivemos o 'Shiva' francês do princípio do XIX, depois no princípio do XX, o da Alemanha, instrumentos encarnados do mal, agora o 'Shiva' do princípio do XXI, americano, irá também deixar um mundo diferente, e também pelas piores razões, sendo o traço comum, o desejo de poder absoluto, poderes como aqueles que tiveram outrora os reis, e que só a componente bélica o permite. A tentativa feita no Capitólio é o mais rematado exemplo de suas intenções. Posto que o princípio desestabilizador é o veículo para sua deflagração, só o efetivo poder das armas permite que se instaure e permaneça enquanto durar esse poder.
O triste fim.
Disseminar o pânico. Reindustrializar o país, quando este período já foi ultrapassado, apesar de ainda possa ser possível repetir, são retrocesssos para o "again", trazer de novo o passado para evocar o futuro, quando sabemos que a realidade é e será sempre outra. O poder de destruir as instituições, que é um poder avassalador, configura uma capacidade de realizações, que primeiro o que subjuga é a alma de quem a tem, de quem tem essa capacidade, tornando a alma do poderoso priioneira deste poder, corrompe-a de tal modo que Shiva nada mais vê que seus feitos destrutivos, sempre mais, até quando for muito tarde para qualquer ação de renovar, refazer, restando escombros por toda parte.
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