O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
quinta-feira, 30 de junho de 2016
William Shakespeare: Foram 400 anos, podiam ter sido 2 minutos.
Sabem o que é eternidade para aquém da lógica divina? É estar-se hoje sendo representado em dezenas de teatros, é estar sendo lido por dezenas de milhares de pessoas em todo o mundo, todos os dias ao longo de quatro séculos. É suas palavras terem forjado o mundo depois de si, é ter uma universalidade absoluta, algo que diferencia nos dois sentidos aquilo que se diz, na forma e no conteúdo, porque seu legado é algo que se entranhou no humano. Nos tornou a todos diferentes, outros.
E deste humano se forjou a Humanidade! Vivemos uma Humanidade Shakespeareana, e é um mundo melhor à sua conta. Seu entendimento da transitoriedade da vida, sua percepção do mundo instável, sua dição dessa instabilidade, mostrando a relatividade das coisas, é a presença da eternidade, porque ser eterno é entender as coisas como elas são, e rir-se delas, o que nos leva de novo ao divino! Já imaginaram se Deus nos levasse mesmo a sério?
Os links para quem quiser ler mais sobre Shakespeare:
http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/03/iremos-louvar-quem-merece-ser-louvado.html
http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/03/em-um-mes-sir-william.html
http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/03/1616-1973-grandes-perdas.html
http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/02/comeco-de-uma-homenagem-uma-ausencia.html
http://hdocoutto.blogspot.pt/2015/11/william-quatro-seculos-de-um-legado-de.html
segunda-feira, 27 de junho de 2016
A portugalidade: comemorando 7 Séculos de uma forma de ser.
Sou brasileiro, como a maioria de meus leitores sabe, entretanto já se vão completar duas décadas que encalhei em Portugal, adorável encalhe no mar da língua, numa praia ensolarada duma Europa cinzenta, linda praia ocidental que os lusitanos, depois tão modificados, forjaram o território que os forjava, com sua claridade, com as amenidades do clima, com a pujança agrícola, com as características do meio, com bom e abundante peixe, alguma presença africana no ar, vinda do outro lado do canal, boca do mar do meio da terra, que os romanos dominaram tanto que o chamaram deles, eles que nos deram esta língua mítica e complicada na qual me expresso facilmente, mas que a maioria dos que vêm a tê-la como segunda encontram enorme dificuldade em entendê-la. Apesar das muitas capas a alma celta e cônica, romance galego barbarizado, perdura nessa"Última flor do Lacio, inculta e bela..." como a queria Bilac, ganga impura, ouro acrisolado de fojos remotos que herdei, esplendor realizado, amálgama de perdido cadinho partido, que não forjará outra tão bela outra vez.
No entanto só existe como verdade autônoma e partilhada essa riqueza vernácula, porque o povo bravio que a falava quis ser senhor de si mesmo e um rei guerreiro realizou o sonho. No entanto é ainda sonho que só se individualiza, deixando o galaico, livrando-se do castelhano que devorava o leonês, assumindo uma literatura, uma identidade, e, pleonasticamente, uma narrativa sua de si mesmo. Oficializada em 1297 por D. Dinis que, ilustrado, entendeu a importância do idioma para ter uma nação, mas é pouco depois, ainda não se tinham passado duas décadas, quando este mesmo rei da dinastia Borgonhesa, o poeta, o trovador medieval, que ainda quase reinará outra década, e que terá suas cantigas recolhidas, junto das de seus avós, Alfonso X e Sancho i, no livro perdido na qual as reune D.Pedro, seu primogênito bastardo, Conde de Barcelos, também trovador, que chega até nós nas suas cópias prováveis, os Cancioneiros da Vaticana e o da Biblioteca Nacional e de sua cópia muito posterior na 'Bancroft Library' que viu aos dois para os copiar, como, ninguém sabe (1).
Começa a gesta portuguesa neste 1316, a espanhola e do princípio do século anterior c.1200, com "la canción del mio Cid", porém ambas começam sob a forma de poesia.
Pois o que comemoramos agora neste 2016 é o sétimo centenário da literatura portuguesa que começa com essas cantigas. E o que pode mais conter a maneira de ser e estar de um povo que sua literatura?
(1) O da BN, também conhecido como Colocci-Brancuti, é de 1525/6, o da Bancroft de 1600, e o da Vaticana também 1525, terá sido copiado à mesma época do da BN. O original de D. Pedro é do primeiro quartel do XIV, e as 1205 canções do XIII e princípio do XIV. O da Ajuda também será posterior ao de D. Pedro, e foi escrito em gótico.
sexta-feira, 24 de junho de 2016
E a Inglaterra segue sozinha. Orgulhosamente sozinha sob os ecos de seu passado glorioso de Senhora do mundo pós napoleônico que cavalgara a revolução que se disse naturalmente gaulesa, a Inglaterra cavalgara a sua, a sem sangue, a dos lucros, a da indústria, sua indústria, sua revolução.
Hoje faz uma revolução política, que, exatamente, contra todas as expectativas dos que foram acreditando na permanência, falou a Inglaterra profunda, zelosa de seu passado e de suas conveniências, e a Europa não lhe convinha. Apesar de ter sido uma experiência parcial, nunca abdicou da moeda, já durava há mais de quatro décadas, tendo-lhe aberto as portas do mercado comum e dos financiamentos estruturais.
Se a Europa não convém a Inglaterra, não há Europa sem Inglaterra, porque a Inglaterra é o coração de um poder indispensável à Europa, poder a que eu chamo de 'British overseas' que foi historicamente sua força, a grande armada que sempre se impôs com sua presença em todos os mares, isto junto com sua pujante economia, e o jeito britânico de estar no mundo, eram peças indispensáveis da construção europeia. Acabou, e isto é o princípio do fim do sonho europeu. Infelizmente o tinha previsto no artigo http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/06/um-sonho-de-uma-noite-de-verao.html que aqui fica o link (uma palavra inglesa) para quem quiser conferir, no artigo explico que esse divórcio acaba com a família europeia, que se desintegrará, pondo fim ao sonho.
Fizeram os ingleses o que os gregos não tiveram a coragem de fazer por mais que desejassem! A família não lhes serve de nada, não que não ajude materialmente, sim, ajuda, mas exatamente como numa família isto não é o bastante. Numa família impera o espírito de pertença, e essa fumaça, esse perfume, imaterial que é, é mais importante que todo o dinheiro do mundo, para que haja uma família o membro dela tem que sentir que pertence à família, não porque está na família, ou porque é de sua vontade fazer parte dela, não, não. . . É necessário sentir-se acarinhado, são necessárias aquelas palavras que se diz a meio tom que dão toda a certeza da pertença, da integração, da união do grupo, a Europa em seus sessenta anos que completa ano que vem, não aprendeu que o interesse do todo é sempre superior ao individual, essa coisa simples e banal que toda a família pelos mais recônditos recantos do planeta sabe, e que a Europa não aprendeu a praticar, e nunca fez seus membros se sentirem como parte da família, compaixão que negou cruelmente a uma Grécia destroçada por uma crise mundial, e que fez muitos de seus membros serem cães sem dono, num mundo inóspito e em crise, até que o italiano Dragui usou seu poder, mas era tarde, bem tarde no emocional e no conjuntural, para recolher os cacos de uma Europa partida, de uma Europa individual e individualista. Nunca houve Europa com a Alemanha, essa criação napoleônica contra o sacro-império, quem sabe de história entende a que me refiro, e penso que as provas históricas que deu esse país ao longo de sua curta história como estado-nação são bem mais que eloquentes para demonstrar seu pendor individualista, por isso creio que nunca haverá Europa com a Alemanha, mas a Alemanha é o gigante europeu, seu coração pulsante, sua maior identidade econômica e industrial, um coração de ferro e de aço, onde arde o carvão do Ruhr, onde vibra o gênio germânico de bem fazer, de bem regular as coisas, maravilhosas habilidades imprescindíveis a uma Europa que se queira Europa, e, como sabemos, razão maior de sua construção, chamar o inimigo para com ele pôr fim a todas as guerras. Mas o alemão-germânico sente-se primeiro, sente-se superior, e o é mesmo em larga medida, porém não há família com gente de primeira e gente de segunda, há família, e família é um sonho bom, um sonho de renúncia e resignação, duas palavras confusas em alemão, porque resignação lhes soa como retirada, abandono, derrota, e renúncia que é para os alemães uma perda de direitos e nunca abnegação, pois crêem a abnegação um sacrifício, e o é também, mais se não o entendemos útil, ou de maior monta, para que sacrifício? O admirável espírito alemão tem essa vertente de liderar, 'lead the way' como querem nosso irmão ingleses que agora nos abandonam, e a Europa se esfacela porque a Alemanha, com o peso de seu passado, nunca assumiu o lugar que lhe cabe de cabeça da Europa, para que haja Europa, e que explico as razões porque não o faz no artigo que levou ao Google a bloquear esse blog por uma semana devido a denúncias, mas que pode ainda ser lido nesse blog ou na net, aqui o link para quem quiser lê-lo: http://hdocoutto.blogspot.pt/2013/09/alemanha-infeccao-perdura.html.
Por outro lado o contraponto econômico que a Inglaterra representa dentro da UE termina, permitindo desequilíbrio mais acentuado no projeto chamado Europa dos 28-1=27, porque na Europa ficou evidente a importância do dinheiro, como analisei em (link) http://hdocoutto.blogspot.pt/2014/03/ue-so-o-dinheiro-impoe-se.html, que estabelece a terrível contradita da importância relativa das nações
(http://hdocoutto.blogspot.pt/2015/12/a-importancia-relativa-das-nacoes.html) que destrói a convivência e transforma a Europa numa não solução como já dizia em outro artigo (link: http://hdocoutto.blogspot.pt/2015/07/europa-uma-nao-solucao.html) que pela culpa de suas atitudes se irá destruir, e não é só culpa da Alemanha, como alertava dizendo que ultrapassaram, no caso da Grécia, todos os limites (link: http://hdocoutto.blogspot.pt/2015/06/ultrapassaram-todo-e-qualquer-limite-do.html) acresce a isso o interesse americano e chinês da não existência de uma moeda forte que façam concorrência às suas, em breve guardaremos iens, e não dólares ou euros, leiam um artigo do princípio de 2014, onde já alertava para isso, link: http://hdocoutto.blogspot.pt/2014/02/que-se-lixe-ue.html. Agora inicia-se o fim dessa noite de verão.
Quem se der ao trabalho de ler esses meus artigos dos últimos três anos verá que tudo se encaminhava para isto, isso que o BREXIT determina, o fim da Europa, era tão claro como é hoje, e eu não sou nenhum profeta ou iluminado, só sei um pouco de história e não sou estúpido, é de lamentar que estes senhores e senhoras que nos governam tenham uma visão mais limitada que a minha, mas relembrando Churchill, esse farol que iluminou a vitória aliada, que no momento certo soube se colocar contra os que deixavam que Hitler fosse fazendo o que pretendia, e se opôs, e lutou e afirmou posição ("We will never surrender! They will never put their feet in our island.") é os ingleses são decisivos, e agora perdemos os ingleses.
terça-feira, 21 de junho de 2016
A letter from another world.
A letter of another world too. Truly is a letter from another world, but this world is so far, that look like a letter from another world.On the top of the box:
Duty is Deity and Love is
Life.
The letter from the Raja of
Lunawada:
Lunawada
Palace
3rd May 1899
Dear Miss
Katerine Pollen
I
send by to day’s
host a small
parcel
containing a
sandal-wood
box for your
kind
acceptance.
It is not
as pretty
as I could wish,
yet it
is lovelly
made and will, (*)
I trust,
be acceptable
to you as coming
from a
personal
friend of
(no verso)
your dear father.
Pray
give my best
compliments to your mother
and your brothers
and
sister and let
me re-
main
yours Sincerely
Wakhalse
Raja of
Lunawada. (**)
(*) lovely erradamente com
dois eles.
(**) A assinatura é
de próprio punho, e vê-se que ele só sabia assinar. A carta é escrita por um
secretário, inclusive o título depois do nome.
Rei de Lunawada. (Rajá é rei.)
Wakhat (ou Wakhatse ou
Wakhalse) Singh hji (1867 – 1919)
Foi o mais importante
rei/rajá do Estado principesco de Lunawada. (ainda hoje tem um rajá *) começa
com a dinastia Solanki (950/1300) de alta linhagem – Solanki Rajput Maharama
que governou todo o Gujarat e Kathiawar, com o maior comércio no oceano Índico.
Os rajás são Rajput do Sânsato do Raja-putra (filhos de um rei) do clã
patriarcal do subcontinente indiano. É um Maharaja.
(*) o atual Rajá é Vir Bhadra Singh.
Lunawada é um principado
Talma (ou Tehl) e cidade em Mahisagar,
antigo distrito de Panchmahal, no nordeste do Gujarat ( um Estado da Índia)
fundado em 1434.
This box was acquired at sale
where it is classified like unit 45, with the following description.
“ C19th Indian carved box,
containing many secret drawers and spice or scent pots. The lid reads “Duty is
deity and Love is life” .
The box was a present to a lady from the
Maharaja of Lunawada in 1899. A photograph of the Maharaja is contained within
the inner lid.The box comes complete with the original letter from the
Maharaja himself and is dated the third
of May 1899.”
Comentários à carta.
Diz no primeiro parágrafo que
envia pelo hóspede do dia, uma pequena
parcela contendo uma caixa em madeira de sândalo para sua gentil aceitação.
Parcela de que?
Contendo ou em que está
contida?
Não se esquecer que a caixa
contém toda uma parte secreta, onde tudo poderia estar escondido, desde pedras,
ouro, drogas, etc...
No segundo parágrafo
refere-se a caixa, que poderia ser mis bonita e que é adoravelmente elaborada,
Declara-se amigo pessoal do
pai de Katherine, e no parágrafo seguinte, o último, recomenda-se à família,
mostrando conhecer todos os seus membros, o que leva-nos a crer que viveram na
índia todos. (Deve ser uma carta ditada pela forma como está o texto.)
Há um envelope em muito mal
estado, que continha a carta, enviada pelo correio, em separado da caixa que
foi por portador anônimo, algum inglês que voltava à Inglaterra, certamente.
Pois a Senhorita Katherine Pollen, se
encontrava em Kent.
Lê-se no sobrescrito do
fragmentário envelope:
Katherine Pollen
Ton Bridge
(*)
Kent
England
England
(*) Tonbridge assim separado, com uma caligrafia,
a da carta, para o Ton e o resto:
Bridge, Kent e England em
outra – provavelmente do post office. Daí se conclui que o secretário não fosse
Inglês, mas ocidental, tvz americano.
Selado no fecho do envelope
com o selo tipo 25 Stanley Gibbons, da Índia Inglesa, de 1882/1888 da Rainha
Vitória, de 1 anna carmim (Brown purple) . É o 37 do Yvert &Tellier e o 88
do Gibbons, destruído pela abertura do envelope.
Caixa.
Em madeira de sândalo toda
entalhada, retangular nas medidas
tendo exteriormente na frente e ao fundo, que são os lados
maiores, seis rosáceas quadrifoliadas, entrelaçadas por vegetação, ramos,
flores e folhas, e nas laterais com dois quadrifólios, decoração idem, circundadas por barra estilo gregas, com losangos sucessivos contendo pequeno
círculo, em gravado leve. Tem fechadura cuja entrada da chave está em meio a
talha na parte frontal da caixa. A tampa é baixa toda abaulada com entalhes
fitológicos, tendo nos lados menores estes saindo de um vaso. No topo a mesma decoração com flores maiores
encolvendo uma oval frisada onde se lê:
DUTY is DEiTy AND LOVE iS LiFE ,
Estando essa oval um pouco distorcida como se tivesse sido feita apressadamente.
As dobradiças e os quatro pés em forma
de garra de leão são em prata fundida e cinzelada. No interior da tampa forrado
a veludo verde com grande espelho circundado por moldura de madeira com os
mesmos frisos decorados com losangos, tendo uma reserva retangular no vidro do
espelho emoldurada a vermelho onde está uma fotografia do Rajá Wakhalt, sentado
em traje típico, segurando um bastão junto a uma mesa sobre a qual se vê uma
estatueta de um veado em bronze.
A caixa é cheia de um miolo
na mesma madeira, todo recortado, onde há seis frascos em madeira, quatro
pequenos hexo-lobulados e dois redondos maiores, torneados, todos com tampa,
sendo pequeno o orifício dos mesmos, por onde passam matéria em pó ou líquidos. Há ainda um rolo para amassar algo, e uma
colher tamanho das de chá, tendo este miolo do escrínio, por debaixo em
segredo, outro miolo com diversas gavetas.
Katherine Pollen- dos
‘Baronets’ de Pollen de Redenham (Southhampton) provavelmente filha do
Capt. Francis Gabriel Hungerford Pollen (1862 – 1908) e irmã do
Lt-Cdr. John Francis Hugerford Pollen, neta do irmão mais novo do 3º ‘Baronet’.
Avó da famosa viva e atuante ceramista
homóloga de Bath.
Observação:
Penso não ser
conhecido fora das coleções reais, nenhum outro ‘cofret’ como este com
documentação de origem que o acompanhe. Este fato gera enorme raridade à peça,
tornando-a única e inigualável. Os comentários do próprio maharaja sobre a
caixa dá uma excelente ideia de sua grande qualidade da mesma.
Será uma spice-box ou uma
writting-box.
sexta-feira, 17 de junho de 2016
UM SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO.
O Brexit será o começo do fim. É uma afirmação, absolutamente uma afirmação, tristemente uma afirmação. Numa família quando um filho deixa a família, seja por que razão for, deixa de fazer parte, não é mudar de casa, ou deixar o convívio temporariamente, é deixar a família, romper os laços, deixar de fazer parte. Para aquele que deixa é o fim, para a família é começo do fim, porque uma família amputada, não é mais uma família, poderá até ser outra família, mas o mais certo é ser outra coisa.
A família europeia foi composta como foi, por vontade dos que quiseram fazer parte dela, logo, quando alguém a deixa, ela deixa ser a família que era, passando a ser outra coisa qualquer como disse, talvez até uma nova família, mas nunca a mesma, e será sempre uma família amputada.
Usei este título de uma peça de Shakespeare, "A midsummer night's dream", para intitular esse artigo, pelo simples fato de que apesar das fadas que controlam certos atores serem imponderáveis, e a vontade de viver o sonho, assim como na raiz da peça, era uma vontade que se impunha, e, aquela sendo uma comédia, aqui se demonstra a mais triste tragédia, porque não se tratando de um casamento, mas de um divórcio, a Saturnália que se seguirá será tão inesperada e comprometedora como a da peça, mas absolutamente diversa. Ou seja pagaremos preço idêntico por termos sonhado uma Europa, por termos sonhado uma união, que, como a união da peça, não passa de um sonho, isso mesmo, porque as partes não querem o dia a dia doloroso que consolida todas as relações, querem só a Bacanália que sucede o enlace e que degenera sempre em desordem.
A Europa está podre no miolo, e os ingleses com seu bom faro não querem consumir o amargo fruto. Sem um tratamento eficaz, esse é o primeiro de muitos 'exits' que se irão seguir esfacelando a família, matando uma linda ideia que só se salva como nação. Porém numa nação, assim como numa família paga-se sempre o preço da pouca saúde de alguns de seus membros menos saudáveis, paga-se sempre o preço dos seus tratamentos, o preço de serem um todo e não partes. Isso não se verifica na Europa, e o resultado será a sua morte. Além do mais uma família onde a mãe tem a culpa de ter sido a algoz de todo o mundo, e que nunca assume seu papel de mãe, por mais rica que seja, nunca haverá força para manter coesos todos os membros da família. Foram mexer num vespeiro.
Este artigo foi escrito horas antes do brutal assassinato da deputada Jo Cox do labor, tudo agora poderá mudar, mas fica a reflexão sobre o sonho. Esta picuinha preciosista da convocação do referendo de David Cameron está agora manchada de sangue, nunca deveria ter sido convocado, é o sangue inglês depois do sueco na mesma vertente, a diferença é que Jo Cox era uma libertária contra mentalidades abstrusas e retrógradas em várias áreas, suas opiniões contra a xenofobia são exemplares, fica-lhe o sangue derramado.
domingo, 12 de junho de 2016
NÃO BLASFEMEM CONTRA DEUS, NEM AMALDIÇOEM UMA AUTORIDADE DE SEU POVO.
Deu-se à porta do XXI Congresso do PS, na FIL em Lisboa, no sábado 4, desse mês que corre, o Junho de 2016, e, era de se esperar a análise profunda do episódio negro, que acabou por ultrapassar o limite da dignidade, por razões já sedimentadas desde os mais remotos tempos da vida em sociedade, pois quando um homem ascende à líder, ele deixa de ser só ele, e passa a ser ele e os que representa, atinge uma dimensão que será tão maior, quanto maior for o número de quem representa. Não houve nenhuma análise profunda do ocorrido. O Dr. António Costa, neste momento, como primeiro ministro, representa todos nós, inclusive eu que não sou português, mas que aqui vivo. Quando esta abjeta criatura que nos (des)governou no anterior governo, e sobre quem tenho a pior opinião possível, e a quem critiquei duramente durante todo seu mandato, tinha o cargo, representava-me também, e por isso, por mais vontade que tivesse, nuca o ofendi, ou ataquei fora da esfera política, até o admirei como bom marido que é. Chamarem António Costa de rameira, é, no mínimo, cruzarem uma linha vermelha que não se pode admitir.
Rameira é uma palavra muito usada na bíblia, que significa meretriz, prostituta. A prostituição é uma atividade tão antiga quanto condenada, mas essa prática, como prática sexual, lá terá sua lógica por ser a mais antiga das profissões. No entanto no emprego figurado do termo, ganha relevância, e maldade, sem comparação.
Dizia o cartaz literalmente: COSTA
rameira da
ESQUERDA, querendo dizer que o Dr. António Costa se havia vendido às esquerdas como fazem às prostitutas. Só alguém muito ligado ao perdedor Pedro Passos Coelho, quando as eleições deram outra maioria eleitoral, levando o PS ao governo, para pensar desta maneira. O que nos leva a crer que há outros interesses que se mobilizam por detrás deste único ensejo de contestação ao governo. Como eu perguntei várias vezes, se não achavam que eram camisolas amarelas à mais? No entanto essa manifestação de sábado decretou o fim do movimento, porque há uma lógica ética que direciona a aceitação das pessoas, mesmo quando aquilo que elas devem aceitar algo que ultrapasse o bom senso. É um Direito que os outros protestem, mesmo contra o bom senso, é como se todos disséssemos: Vocês tem o Direito de ser contra, mesmo sem razão nenhuma. O que esta lógica não aceita é a ofensa gratuita, o achinca-lhe, o desrespeito pelo desrespeito, ou que se possa imprecar contra a autoridade.
Exodo 22:28, significa que já no segundo livro do pentateuco, ou seja, no começo da História, como ela é conhecida, já havia a lógica de que contestar é legítimo mas, como diz aqui o nosso título, não se pode amaldiçoar a autoridade, reclamar dela sim, discordar dela, tudo bem, mas amaldiçoa-la não. E que maior maldição pode haver que uma pessoa ser rameira? E rameira em espírito? Ultrapassaram todas as marcas!
quinta-feira, 9 de junho de 2016
Os rostos da vergonha no Brasil / A chacota do mundo.
Relembrando um momento doloroso. Só não foi mais forte, porque o Brasil como um todo impõe respeito, mas esses simulacros de cidadãos, foram o achincalhe pelo mundo fora. Ridículos arremedos de gente, que são monos tão mais estúpidos quanto maior sua pretensão de representatividade.
Só o esplendor das suas capacidades naturais suplantam a vergonha das humanas em meu país, aliás estas últimas são pujantemente incapacidade, só o Brasil pelo que ele é fisicamente resguarda-me das sucessivas humilhações, empanando o manto de miséria com que esta pseudo-elite política e econômica, cobre e enxovalha suas grandezas.
O Brasil tem uma história que se conta com registro já em cinco séculos, mas que ainda não completou dois de sua autonomia, e guarda muito nesse período de que se envergonhar pela ação de seus políticos gananciosos, fracos, tíbios, covardes. Quem se esquece de Góis Monteiro a derrubar o homem que o havia feito? De Café Filho com seu apartamento em Copacabana cercado por tanques, e ele a mostrar um atestado médico? E o descrédito que Getúlio lançava sobre os políticos que queria afastar, que fracos, caiam feito moscas com uma bombada de flit, o antigo inseticida. Este é o Brasil vergonhoso de sempre que agora se repete, se mostra em toda sua vileza e ignomínia, naquilo que é.
Porém a cena de horas e horas de estúpidos desatrelados, de ignóbeis sem formação e critério, de gentinha a evocar o nome de Deus junto ao de seu cão e papagaio, para justificar seu voto espúrio, em que tão incontidamente só pretendem expressar algo que lhes dê rendimento eleitoral, é uma cena dantesca que ultrapassa as raias do aceitável. Num desfile de inadequados, numa passarela de ignóbeis, que em sucessão absurda, desconexa, vergonhosa, clamaram por tudo e por nada, achincalhando o nome de meu país, tornando-o chacota em todo o mundo civilizado, que extasiado com a sucessão ridícula e despropositada de imbecis sem noção, não acreditava no que via.
Eu que infelizmente tenho de acreditar e relembrar que é este o retrato do Brasil, desse Brasil sem classe média, onde a ascensão se dá pelo dinheiro, onde as pessoas de qualidade são excluídas, e onde não conhecem os valores misteres à construção de uma nação, só posso afirmar que, enquanto não se derem conta os eleitores da extensão de sua mediocridade, e gente medíocre elege gente medíocre, continuarão a ser a chacota do mundo.
* Passado alguns dias (1/6/16) sabe-se da notícia do túnel de São Gotthard com 57 quilômetros sob os Alpes, o mais extenso do mundo, foram 17 anos de obras ininterruptas, e DENTRO DO ORÇAMENTO inicial. Alguém acredita nisto? Só um país civilizado como a Suíça era capaz deste feito. Os valores dos países variam, não há um que os congregue todos, mas eu gosto de feitos como esse suíço, impensável no Brasil, não o túnel, mas cumprir o orçamento.
terça-feira, 7 de junho de 2016
0$ P0BRE$ PAI$E$ RIC0$.
Escolhemos três exemplos de diferentes tipos dessa riqueza pobre, porque com eles teremos boa noção do que se passa em economias onde ha enorme riqueza, e, mesmo assim há uma endemia da pobreza por razões que devemos ter em conta.
O exemplo mais gritante é o dos 700% de inflação na Venezuela, com tremendas repercussões sócio-econômicas, falta de gêneros, descontinuidade no fornecimento de energia, ruptura social e política, um caos que nenhum país pode atingir, salvo por uma incompetência profunda de quem governa. É claro que para além disto há sempre uma razão, uma causa para além do controle de quem governa, porque ninguém quer governar mal, nem começa crises, não sabe é muitas vezes como acabar com elas, como no caso da Venezuela, em que a queda do preço do petróleo reduziu a menos de metade as entradas de recursos no país, que sem receitas viu-se com todo o sistema econômico-financeiro em colapso, sem saber o que fazer, a situação foi piorando até o ponto em que se encontra. Venezuela é um dos maiores exportadores de petróleo, um país rico portanto, que não aprendeu ainda que a riqueza só é riqueza quando gera riqueza, quando se a gasta, ou quando ela entra numa economia não muito estruturada ela destrói essa economia, porque dinheiro a mais é como água a mais, em vez de ser um bem, algo que nos favoreça, que mate nossa sede, nos dê um bom banho, que regue com fartura nossos campos, não ! Nos afoga e alaga tudo, destruindo o que existe. A riqueza só é boa quando produz trabalho, gera mais riqueza que é distribuída num processo circular onde vai e volta para poder ir de novo, como a chuva, quando vai somente, como um rio, carrega consigo tudo que está dentro dele e despeja a jusante, causando pobreza por onde passa. Este rio de petróleo que corre na Venezuela, que se transforma num rio de dinheiro, a está destruindo, porque empregado erradamente.
O caso da Alemanha está nos antípodas venezuelanos, mas mostra claramente também a ação nociva da riqueza, que gera pobreza, que só não é mais grave de momento em território alemão porque, como ela se protege por trás do Euro, seus desequilíbrios são distribuídos por toda a Europa, criando miséria noutros países. Vejamos isto com atenção: a Alemanha está gerando superavites que distorce a sua moeda, distorção tão grande que já a teria jogado numa recessão econômica com inflação monetária, o que corroeria sua riqueza rapidamente, no entanto, como sua moeda é a mesma de mais vinte e sete países, e como os alemães têm o saudável hábito da poupança, este os defende, e assim exporta sua inflação, resultante dos superavites sucessivos, para o resto da Europa, indo eclodir em países como a Irlanda, Portugal e a Grécia, que não tendo o hábito da poupança, e tendo se endividado com a abundância de dinheiro que há no mercado, hoje pagam o preço de sua imprevidência.
O outro caso paradigmático é o brasileiro, que é riquíssimo, poderosíssimo, com diversificada economia, que tem em boa medida um sistema circular, pois produz de tudo, desde os produtos agrícolas aos bens de produção, instrumentais, e, portanto pode ir distribuindo o bolo, desde que na mesma medida que o distribua, produza crescimento econômico satisfatório para que o processo flua continuamente, se criar distorções pagará o preço de quebrar a fonte da riqueza, roubando seu crescimento, porque o que distribui a riqueza são os impostos e esses só podem ser aplicados sobre a produção, os serviços, as finanças e o consumo, só há essa cadeia, se houver circulação de riqueza, esta para ou enfraquece quando se quebra um qualquer elo da cadeia. No Brasil somadas três partes gravemente distorcidas, criou-se um monstro que é uma forma de encilhamento mais perverso, porque é um crédito mal parado, mesmo antes de ser concedido. Os três componentes da crise brasileira, muito fáceis de se recomporem numa economia com a força da brasileira, o que não há é ambiente político para se aplicar o remédio necessário, porque o povo não confiando em nenhum dos agentes políticos que há, se revoltaria em razão das medidas que são necessárias para solucionar a crise brasileira, em que esses três componentes foram um desastre completo, e devem ser amputados ou contido à vez. O primeiro, que deve ser totalmente estirpado, é a corrupção, que cria custos, desvios, e rouba a circularidade do fluxo econômico, porque o dinheiro roubado não é nem investido nem gasto no Brasil. O segundo é o custo-Brasil, que terá de ser eliminado, que existe em virtude das comissões, não corruptas, legais, da excessiva lucratividade das grandes empresas que força a todos a quererem e fazerem, se possível, o mesmo, o que gera um alto custo do dinheiro para financiar a economia, grandes taxas, e absurdos custos de contexto, criando uma realidade incompatível com um país que precisa crescer para poder distribuir. O terceiro é exatamente a distribuição do dinheiro, o repartir do bolo, que terá que ser contido, o que é muito mal, mas absolutamente necessário em virtude do ponto a que chegou a ação nociva dos dois anteriores componentes da crise. Ou seja, vai ser preciso um governo de direita que retire os benefícios distributivos incorporados na economia, até que essa possa se recompor e vir outro Lula que os reponha, porque o povo os quererá novamente. A classe média de algo entorno de vinte e cinco milhões que ascendeu no Brasil vindos das classes inferiores, para poder continuar a existir será necessário que não haja corrupção assim tão escandalosa pelo menos, e que o custo-Brasil caia, para permitir que a riqueza circule mais rapidamente, permitindo um maior acesso à sua produção, com mais empresas se instalando, mais comércio abrindo, mais serviços se implantando, gerando mais emprego e permitindo que o dinheiro circule. O fato que ficou evidente é que mesmo uma mina de ouro como o Brasil não foi suficiente rica para aguentar a ação combinada da roubalheira, com a ambição de lucratividade dos meios de produção, incluindo o trabalho que, justamente, quiz ser melhor remunerado e não, como sempre, pagar a fatura do enriquecimento dos outros.
Três pobres países ricos que enfrentam misérias tão diferentes que têm de ser equacionadas com sabedoria e trabalho, ainda que no caso da Alemanha, o trabalho seja o de gastar dinheiro em projetos e despesas que o empreguem, eliminando seu superavit. O que há de bonito nessa história é que tudo neste mundo tem limite e que aqui se confirma o preceito bíblico: Comei o pão de cada dia com o suor de seu rosto. Quando nos afastamos disto, estamos corrompendo a ordem das coisas. A riqueza só existe para gerar riqueza, e, ademais, para todos.
sexta-feira, 3 de junho de 2016
Até que o Mediterrâneo se tinja de vermelho! A realidade sempre ultrapassa ideias ocas.
O que se passa novamente no Mediterrâneo era previsível para quem tivesse dois dedos de testa, como dizem os portugueses com graça e exatidão, mas os decisores europeus confirmam sua testa baixa, no 18 do mês passado reafirmava a falência da política europeia, fazendo um apanhado de tudo que já havia escrito em torno das fotos que ganharam o Pulitzer que então se publicavam, parece que não satisfeitos com o horror destas, lançam as bases para que outra coletânea de fotos tão horrorosas quanto importantes se candidatem novamente ao Pulitzer este ano, falta-lhes mesmo juízo; eis o link. ao qual junto outro que escrevi entre os dois: http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/04/nada-justifica-o-que-se-continua-passar.html, e http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/04/lembrem-se-eles-sao-seres-humanos.html
Agora sou obrigado a retomar o assunto porque a insanidade perdura, e as vergonhas europeias continuam dependuradas em Indomene, para me repetir, e os 'líderes europeus' (líderes seus não meus) que também se repetem em seu imobilismo, imobilizados deixam que a sangueira continue. Até que o Mediterrâneo se tinja de vermelho.
Que mais se pode dizer de tanta tolice junta? Que não é tolice, é algo que ultrapassa esse estágio, e que tem uma razão de ser. Atende por muitos nomes, sendo o principal deles MEDO, a inconsequência e a estupidez filha do medo são capazes de ação poderosa, pois que esse medo existe em várias vertentes, desde o que acredita que a situação pode se tornar insustentável (já o é em certos moldes) nos que eles acreditam são outros, mas se tornar insustentável para sua medidas europeias, até o medo político de se verem ultrapassados por partidos xenófobos ultra-radicais de direita, que atuam no terreno da irracionalidade dos cidadãos que temem o terrorismo, temem perder seus postos de trabalho, temem a degradação da sua sociedade, conquistada com o fruto de seu trabalho, e dos que lhes antecederam, seus pais, seus companheiros de sindicato. MEDO real, admissível, que bem explorado dá bons dividendos eleitorais, e, querendo estancar essa ferida aberta em suas fileiras partidárias, para que seus partidos não percam mais votos, alinham nessas ideias absurdas, inumanas, contra os tratados internacionais, que nada mais fazem que enfraquecer seus colaboradores, porque não as defendem, mas colaboram com elas em virtude do MEDO.
Existe uma velha história que conta que aquele que aceitou que fizessem a seus próximos coisas que não o afetavam diretamente, porque nada faziam a si, encontrou seu turno, porque tudo excede quando não coibido desde início, é de pequenino que se torce o pepino, ensina a sabedoria popular. Quando Churchill se lançou contra Hitler, não lhe admitindo concessões, desde muito no começo da expansão territorial da Alemanha Nazi, querendo desde logo opor-se-lhe, e pregou num deserto de homens medrosos que não viam o que viria à seguir, tinha essa visão, antevisão, daqueles que contradizem a tal velha história por se importarem mesmo quando não se passa consigo ou com os seus a situação gravosa, sabendo que mais tarde ou mais cedo o que bate em seu vizinho baterá em si, ou como quer a sabedoria popular, sempre a sabedoria do povo, pau que dá em Pedro também dá em Mané. E que mesmo que você não se chame Pedro ou Manuel, mais cedo ou tarde ele lhe virá no lombo, portanto é preciso cuidar. Mas não há Churchill hoje, mas há Hitlers, o Daesh o prova, e é preciso atenção, é preciso cuidado.
Tivesse qualquer país europeu desses vinte e oito que se juntaram, até o Brexit este é o número, fosse dos mais poderosos, ou dois mais pequeninos, um líder do calibre de um Churchill, ainda que na oposição, um líder do calibre de um Mandela, e não se estaria a passar o que se está passando pela enézima vez no Mediterrâneo, nesse período da terceira grande travessia da vaga humana dos perseguidos, acossados, malbaratados, assassinados se lá ficarem, portanto REFUGIADOS, que atravessam o mar interior que os separa da esperança, a qualquer custo, sem ver os perigos, porque os que têm detrás de si são bem maiores, e arriscam tudo na busca dessa esperança, vergonhosamente falsa esperança por culpa desses 'líderes', arriscam tudo o que têm para arriscar, suas vidas, que oferecem em holocausto, oblatas face da covardia dos que deveriam decidir contra o medo e a estupidez que se generalizou.
quinta-feira, 2 de junho de 2016
AS ANUNCIAÇÕES DE MARIA TERESA HORTA
"O peso do mundo está nos meus ombros." Virginia Wolf.
Extasiado concluo a releitura do último livro, de título plural, de Maria Teresa Horta, suas Anunciações, que em sendo a mesma, são muitas, porque muito se aflige o sentimento, e ainda mais grita à procura do entendimento desses arcanos tão aparatosos, e que na verdade são tão simples, pois são a simplicidade das coisas simples, das coisas que são manifestas em nós, nos nossos sentimentos, porque, por eles, todos somos tomados, e Bendito seja Deus que seja assim... E que assim seja!
Nos catorze passos da paixão, catorze estâncias diversas, onde, em cada uma, com especial calma nos conta de verdades universais que estão para além de nós, e que nos revela, pois tudo que nos traz entendimento é revelação e descoberta, maravilha da possibilidade existencial, a que Teresa Horta classifica de estações, nas quais sucessivamente vai revelando os sentimentos possíveis de quem recebe tal anúncio, que em seu inusitado, há que ser repetido, explicado, vivido, vivenciado, para ser aceite e compreendido.
Uma vivencia espiritual para quem não teme a verdade, e para quem a quer conhecer, "Conheça a verdade e ela vos libertará!" Uma viagem na teogonia e na teologia para quem não teme blasfêmias inexistentes, e para quem não tem preconceitos, posto que quem ama não se indispõe, e quem O ama, e se deve ama-Lo sobre todas as coisas, se compõe, e contrapõe seu amor à mesquinhez dos entendimentos aprisionados à cegueira da intolerância.
Como bem me avisou a autora em sua dedicatória:"...livro de amor e enigma" talvez duas verdades complementares, talvez indissociáveis, talvez mútua revelação, ou Anunciação, e como são muitas, A N U N C I A Ç Õ E S, cada uma dentro de nossa alma liberta de superstições! E como as coisa que mais se revelam, insinuam-se muito mais do que se mostram ou se apresentam, fica o entendimento que não pode ser dito, mas sentido, e que traduzido em palavras é o poema que vos deixo:
Acontece o deslumbramento
De que ninguém sabe os
detalhes
Naquele vago momento
Em que se compõem os entalhes
Para aquém do pensamento
Que a maravilha angelical
exorta
Contra tudo que se impunha
P’ra bem além do que importa
Maria que se acabrunha
Vontade que se desperta. . .
De um anjo sempre alerta
E havia uma testemunha
Bem por detrás da porta
Que enternecida compunha,
Também se chama Maria,
Maria Teresa Horta!
24/3/17 As Anunciações recebem o prêmio de melhor livro de Poesia da SPA.
Subscrever:
Mensagens (Atom)