quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Um "maluco beleza"...




A expressão se disseminou a partir da música homônima de Raul Seixas, ele mesmo um maluco beleza, expressão que serve para designar um extravagante, alguém que foge aos cânones sociais, e projeta sua personalidade diferentemente, e que, certamente, provoca estranheza e incompreensão.

"A usura é um cancer no azul..."

Esta forte imagem que me marcou, eu que venho de uma família com muitos usurários, gente que só soube amealhar pelo efeito de amealhar, nada mais, sem  maior perspectiva social, humana ou pessoal, que a de deter dinheiro. Aonde isso leva? Esse ponto leva a uma grande discussão. Entretanto a imagem de que esse procedimento é desruptivo, e que destrói a beleza, destrói o entorno, a proposta de uma vida incluída numa razão importante e num objetivo maior de existência, posto que existir é se perder no universo da existência, traz-nos a figura de seu autor, o grande poeta Ezra Pound, que esteve internado  doze anos no St. Elizabeths Hospital para alienados, ele que tinha uma visão tão lúcida, o que prova que às vezes é preciso mesmo se ser louco para ter uma visão lúcida nesse mundo distorcido.


"Enquanto você se esforça para ser um sujeito normal..."


Penso que todos nos esforçamos, mas o busílis é que a norma é a medida da mediocridade, média que é de gente excepcional junto com um sem número de estúpidos e gente banal, insignificante a nível de entendimento, baixíssimos QI, dando um valor muito baixo para a média, o que leva a muita gente ser excluída e incompreendida na sua forma de ser e manifestar seu entendimento do mundo. Ezra Pound certamente foi um desses, ainda que pudesse ter qualquer tipo de comportamento desviante por causa de sua aguçada perceção.

O adorável livro de Daniel Swift sobre a vida de Ezra Pound recentemente editado com o sugestivo título de Maluco (ou mentalmente perturbado) Bughouse no original em inglês, conta a história da vida do grande poeta, considerado insano aos sessenta anos, tendo passado mais de doze anos da vida internado, e nos conta a história de uma maneira sugestiva e com uma visão não preconceituosa.


"Eu vou ficar com certeza . . ."


Não apontando o dedo ao poeta por sua condição, nem esquecendo o amigo por sua situação excepcional, iam visita-lo ao St. Elizabeths nomes como Elizabeth Bishop, John Berryman, T. S. Eliot, Charles Olson, William Carlos Williams, Robert Lowell, que, como nos conta Daniel Swift, sentavam-se com ele (Ezra) no chão do hospital para longas conversas, em suas frequentes visitas. A doença mental que inspira uma repulsa ainda maior que a maioria das doenças fisiológicas, e lançam o doente no ostracismo, não levou Ezra Pound a esta condição miserável de abandono, pelo apreço que lhe tinham seus amigos, que continuaram o visitando, acreditando no que afinal de contas era aquela situação, uma maneira de evitar sua condenação por envolvimento com o fascismo, retirando-o da terrível condição de pária em que fora lançado. Desde o pós-guerra até 58 ficará 'internado'. Ainda viverá até aos 87 anos em Itália para onde seguiu depois que foi libertado do hospital de Washington.

Porém o que fica dessa história é a beleza da presença dos amigos, sua 'recuperação' social, e o valor enorme de sua poesia que sempre a continuou fazendo como uma profunda análise social e humana, a que seus versos evocam. Tendo influenciado além dos que o visitaram, já mencionados, nomes como Yeats e Joyce. Com a sonoridade da língua que tanto sublinhava estendeu sua influência a muita gente, mesmo até a esse que aqui vos escreve, que acredita piamente na musicalidade da poesia juntamente com um forte poder da imagem que concite. E aí somos todos malucos belezas. . .


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