O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
quarta-feira, 21 de março de 2018
DIA INTERNACIONAL DA FELICIDADE.
O que será isso?
Será porque é meu aniversário? Será a conta do início da primavera e seu equinócio? A primavera está associada ao renascimento, à fecundidade, e à esperança, mas nada disso é felicidade. Será por terminar o ano astrológico? Será em virtude do dia da poesia? Faço essas perguntas disparatadas porque nada justifica um dia da felicidade, já que não se justifica todos os dias se não ser feliz, ou dizendo ao revés, ser infeliz não tem justificativa, logo ser feliz é o expectável, então como, porque, para que, se comemorar um dia da felicidade se ela deve estar constantemente entre nós?
A felicidade não é um estado de espírito, é uma condição, é o estado de quem é feliz, e só é feliz quem quer. Ou seja as pré-condições para a felicidade estão em nós e só em nós, NÃO SÃO EXTERNAS, logo não pode haver dia da felicidade. O grande João de Barros em seu Diálogo de preceitos morais, Lisboa 1540, compõe o que ele chama de uma 'árvore', um esquema, um diagrama sobre a felicidade humana, que partindo do homem e nele se centrando, ou sendo ele seu propósito, ou ao revés sendo a felicidade o propósito humano, e esta tem três troncos, sendo apenas o central o condizente com o que deve ser felicidade, pois dos outros dois, um é o dos excessos, e o outro o dos defeitos, assim entende João de Barros, por exemplo que para se ter felicidade plena é necessária a caridade, sendo a fé, excesso, e a esperança, defeito. Sendo a prudência a desejável condição, tendo essa a malícia como excesso e a simplicidade por defeito, assim como escolhe a fortaleza como o desejável, a fraqueza como defeito, e a ousadia como excesso. Segue João de Barros por uma dúzia de diferentes condições cada qual com os seus defeitos e excessos correspondentes, sendo a mais notável de todas a da verdade, que ele entende ter a dissimulação por defeito e a arrogância por excesso.
Como a felicidade é um concurso de circunstâncias, às quais nós devemos aceitar ou rejeitar, é óbvio que elas não ocorrem em dia determinado, nem determinar um dia as fará ocorrer. Lembremos mais avisadamente Vinicius, pois ele sabia como ninguém perceber as coisas, e nos dizia o seguinte, ao nos lembrar que a "tristeza não tem fim, felicidade sim":
"A felicidade é como a gota De orvalho numa pétala de flor Brilha tranquila Depois de leve oscila E cai como uma lágrima de amor
A felicidade do pobre parece A grande ilusão do carnaval A gente trabalha o ano inteiro Por um momento de sonho Pra fazer a fantasia De rei ou de pirata ou jardineira Pra tudo se acabar na quarta feira
Tristeza não tem fim Felicidade sim
A felicidade é como a pluma Que o vento vai levando pelo ar Voa tão leve Mas tem a vida breve Precisa que haja vento sem parar
A minha felicidade está sonhando Nos olhos da minha namorada É como esta noite Passando, passando Em busca da madrugada Falem baixo, por favor Prá que ela acorde alegre como o dia Oferecendo beijos de amor. . .
Tristeza não tem fim
Felicidade sim"
E como se faz para "que haja vento sem parar?
Porque se esse impulsionador faltar, a pluma tomará outro rumo,irá por terra, cairá na lama, se perderá para nunca mais, portanto, lembrando outro grande poeta, nos convenceremos que, para que haja vento, só depende de termos "engenho e arte". Logo não há dia para ser feliz, ainda que todo dia sirva para sê-lo. O que leva-nos, ou traz-nos de novo a nós mesmos, os únicos responsáveis, os únicos que podemos realiza-la, ou não, e, destarte, não pode haver um dia da felicidade.
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