É característica da vida tornar-se mais eficiente, mais capaz, mais ativa, vejam a espécie humana, tornou-se tão capaz que é um perigo para si mesma, com cérebros maiores e mais interligados, físico mais robusto, e maior longevidade. Assim tudo que é vivo procura passar estas características conquistadas de maiores capacidades para as gerações seguintes, incorporando-as, e o meio de o fazer é com o registro genético delas, das características melhoradas, assim toda alteração obtida passa para as gerações seguintes através da sua codificação em registros que são capazes de ser transmitidos, essa codificação é um ácido muito competente com o qual se a faz, via de sua famosa molécula de dupla hélice, legando desse modo sua herança genética, a forma com que todos os seres transmitem-nas às suas crias, e chama-se desoxirribonucleico (ADN).
Nova variante.
Pois bem, seguindo esse preceito da Natureza, o bichinho que dominou o mundo, o vírus da Covid 19, sofreu muitas mutações importantes, 17 confirmadas desde novembro último, mas devem ser muitas mais mutações que, a longo do tempo, o tornaram mais evoluído, que é o que a Natureza busca, tornando-o mais eficiente, vale dizer com capacidades que antes não possuía, agora já com as diferentes características que transmite a geração seguinte, tornando-a mais capaz. Na nova estirpe que está afligindo os ingleses, uma vez que gerou um surto muito violento no Sudeste de Inglaterra, e já está na Holanda, Dinamarca e Austrália, essa evolução se traduziu em aumentar a sua capacidade de transmitir-se entre seus hospedeiros (nós, seres humanos, e alguns outros animais) aumentando o contágio ao longo da cadeia de transmissão em 70% mais, segundo as primeiras avaliações já feitas. Isso é tenebroso.
Há 9 meses, no começo da crise, publiquei um artigo intitulado De Pandemia e pandemônios, que vários jornais reproduziram, Os Notícias a 11 de Março, vários blogs também a 11, A Pátria a 17 de Março, e depois ainda outros, onde dava conhecimento do poder de transmissibilidade do SARS-CoV-2, avaliado entre 2 e 3, o da gripe sazonal é em torno de 2, logo muito eficiente, e com essa eficiência criou-se a pandemia que nos aflige. E essa notícia agora de sua alargada agilidade é terrível porque aumentará a mortandade, porque mesmo mantendo igual letalidade atingirá um número muito maior de pessoas, infectado-as, e, consequentemente, matando muito mais gente.
Eficiência viral.
Com esse incremento na ordem de mais setenta por cento em seu poder contagiante, passa dos 2 a 3 novos infectados por infectado transmissor, para 3 a 5 (um pouco mais sem arredondarmos) e isto representa um aumento exponencial no número de contágios, de doentes, menos e mais graves, e de mortes, com uma pressão insuportável sobre os serviços de saúde que irão sofrer rotura em todos os lugares do mundo, não conseguindo dar vazão aos cuidados que serão necessários. O impacto sobre a humanidade será desastroso se isso acontecer. Tudo isso já tinha sido avaliado e previsto no artigo que intitulei Da vacina contra o Coronavirus publicado em Agosto, onde estudava as diversas possibilidades da atuação das vacinas, e do vírus em contraponto, demonstrando que o que é inquietante são os nossos tempos humanos, e os de nossa ciência, em sua dessincronização com os do vírus, que é muito mais rápido, e tendo se tornado ainda mais, espalhará o Caos como acontecia antes de nossos fantásticos recursos científicos existirem, com mortandade incontrolável.
Tendo em atenção que, por enquanto, a informação é insuficiente, porque como estamos lidando com o desconhecido, primeiro precisamos sofrer a agressão, para depois podermos avalia-la e saber como devemos lidar com ela, que, dependendo de sua extensão e violência, serão diferentes os planos de reação e defesa que deveremos arquitetar. Sobretudo em termos de imunidade. É muito complicado lidar com tal elemento, dir-se-ia que abriu-se a caixa de Pandora, e saíram de lá os males, e a esperança vem se mostrando muito tímida, e a vacina, o momento alto da esperança, poderá não ser a solução definitiva ainda, e que teremos de travar novas batalhas, uma vez que o vírus se vá modificando. Esperemos em Deus que não seja assim.
Não obstante alguma coisa há de ser feita, sobretudo devemos impedir a todo custo que a variante mais ágil do SARS-CoV-2 se possa espalhar. O Gabinete para resposta política a situações de crise, mecanismo integrado da União Europeia, já se reúne para determinar medidas que, se forem brandas, estarão em definitivo comprometendo o futuro de dezenas de milhões de vidas que irão pagar o máximo preço numa ação desenfreada da nova estirpe viral. Posto que a transmissibilidade do vírus seja o ponto central de momento, por não sabermos ainda de sua malignidade, nunca devendo esquecer que as sequelas do SARS-CoV-2 são violentas, incluindo demência com danos irreversíveis e irreparáveis no sistema nervoso central, sobretudo no cérebro,
Com essa nova capacidade de contágio num nível entre 3 a 5, o crescimento do poder de infecção é avassalador, façamos umas contas simples: Com a gripe comum de cada 1 (um) infectado em roda livre podemos atingir em torno de 500 (quinhentos) ao fim de uma série de 10 linhas de transmissão (quinhentos, em que cada um poderá infectar outros quinhentos) com a nova estirpe do coronavirus este número pode ser superior a 390.000 no pior cenário (390.000 em que cada um poderá infectar outros 390.000) é brutal o aumento de contágios, mesmo inimaginável, isso só não acontece assim, face do isolamento dos infectados entre os que foram testados. Porem se não forem detectados, significa que um assintomático que circule livremente por um certo período, irá criando outros doentes ao longo da cadeia de transmissão que iniciou, que terá um poder até 780 vezes maior que nas gripes sazonais, e 65 vezes maior que a estirpe que temos enfrentado até agora, cujo número final de infetados ao longo de dez linhas de transmissão é, no pior cenário, de 6.000 almas hoje com essa estirpe que temos, e que passarão a 390.000 com a nova variante.
Se esta nova estirpe se mundializar como se passou com o SARS-CoV-2 (primeira versão), teremos uma pandemia com efeito desastrosos, só comparáveis com o da peste negra em meado do século XIV, ou os da gripe espanhola no início do século XX, onde o número de mortos foi de 50 milhões em ambos os casos, atingindo uma população quatro vezes e meia menor na idade média do que a do início do século passado, resultando num impacto muito maior então. Hoje esse número de 50 milhões é impensável, face aos avanços da higiene e da ciência, mas os mesmos 12,5% da população que estava morta em 1352, proporcionalmente hoje seria um bilhão e os 3% da mortandade de 1920, hoje seriam 250 milhões de seres humanos que pagariam com suas vidas tributo a eficiência viral, e que, apesar de todo nosso progresso material, científico, tecnológico, e social, se essa nova estirpe se espalhar e tivermos que esperar por nova vacina, não estaremos livre dessa possibilidade de imensa mortandade, sendo mesmo o cenário mais provável, do qual nada nos poderá livrar, excepto Deus.