quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Clarice bem que me disse...


          

                                                                                                            10/12/1920 - 10/12/2020

                                                                               Com licença poética de Caymmi e Antº Almeida.


Se "amar é tolice, é bobagem, ilusão."?

Morrerei  certamente bobo, iludido e tolo

Apesar da clara convicção certa

Que firme nos alerta 

Para estarmos atentos ao dolo

Que o mergulho desta ação

Não nega!


Nego eu na tolice

Perdido de amor e meiguice

Em minha franca convicção

Nada me negará a ilusão 

Que deveras condisse

Perplexo de muita pieguice

Em não dizer a Clarice

Ao menos, por pouco que fosse,

Algo do que ela sempre me disse.


No Centenário de Clarice Lispector, a mais brasileira de todas as ucranianas, que nos ensinou a absoluta liberdade no dizer, mágica, vertiginosa, desconcertante, a quem só o Sol do Nordeste brasileiro poderia bronzear a alma.

No dezembro de 2017 quando se completaram quatro décadas que ela no deixou, havia publicado um outro poema com o qual a honrava:

                                                                                                    "... eu também sou o escuro da noite."
                                                                                                                   Clarice Lispector.


Fez a nove próximo passado quatro décadas que nos deixou a mais brasileira das ucranianas, e como foi brasileira, bem como também foi algo que traduz um senso mais taciturno em plena alegria, contradição existencial que a define, só a poderia lembrar com um poema, que espero represente um pouco de sua magia.

A vida NÃO inventada, ou
"Viver ultrapassa qualquer entendimento."

                                                                              "Liberdade é pouco, o que eu desejo não tem nome."
                                                                                                                          Clarice Lispector.                                     

Como mulher tinha o útero do mundo
E com isso toda sua imensa tristeza e alegria
Intrínseca e necessária contradição
Portanto desdobramento é a palavra
Que tem tudo a ver com implantação
Como se para ver o conjunto das coisas fosse necessária
Esta prévia fixação
Que pervagando este mapa
Seguindo linhas já traçadas
A caminho de não sei onde
Em busca de não sei que
Segue
Porque aprendeu a seguir
E isto é o quanto basta para o efeito
De fazer sentido
Porém fazer sentido é pouco
A "Liberdade é pouco . . ."
É imprescindível recusar a vida
Pois é absolutamente necessário o desejo do que não tem nome.


Sem comentários:

Enviar um comentário