domingo, 24 de maio de 2020

MORRE A SEGUNDA DAS TRÊS MARIAS.





Três Marias, três sentimentos, três emoções, que nos legaram como as carta de uma quarta apocopada, quando se insurgiram contra a dita dura, ditadura que não queriam suportar ou viver. Com suas novas cartas reveladoras e libertadoras romperam o cerco, rasgaram o claustro, foram além, quando muitos poucos se aventuravam, viveram o sonho da liberdade, ousadia e desassombro, história dessas três vidas.

Maria Velho da Costa, a Maria do meio das três, em idade, segue Isabel, a mais nova que foi a primeira a partir. E nesse partir o encontro com o sonho da eternidade, só alcançável com a força das palavras, essas que são de todos, mas que restam na de muito poucos.

Suas "Casas Pardas" terminaram no palco, a sua "Myra" caminha por aí indelével, sua "Missa in albis" continuará a ser dita, e sua Lúcialima, como bela-luísa, verbenácea admirável, estará nos molhos, temperos e chás para sempre... Eis sua luta maior, sua capacidade de dizer, que era o esgrimir com as palavras, essas suas amigas, com as quais sabia amedrontar o regime, e afugentar as nuvens pardas da obscuridade, "Os regimes totalitários sabem que a palavra e o seu cume de fulgor, a literatura e a poesia, são um perigo."

Sofro com mais esta perda, e sofro com a dor da terceira Maria, minha amiga Maria Teresa Horta, que ficou só na solidão em que já se encontrava, em tempos amargos, tempos de amargor e amargura, esta que se espalha na alma dos que amaram sua escrita. Para a Maria que fica, deixo, em jeito de ânimo, esse poema:

Ficastes sozinha Maria
Teu rumo é sempre Norte
No jogo das cartas da vida, Maria
Tivestes a melhor sorte?

Sorte era estarem todas juntas
A escreverem-se cartas
Sorte era o desafiar
A sorte de não ter medo
A sorte de não fraquejar
Contra o regime aterrador
E com as palavras
Só com as palavras
Lutar!
Lutar!
Lutar!

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