sábado, 20 de fevereiro de 2021

(A beleza da dúvida 2) - O Infinito científico.

 


Não podemos conhecer absolutamente Deus nem a ciência. A desproporcionalidade da grandeza de ambos frente a nossa possibilidade de manipular os dados para sua compreensão, nos impede. (Nem com o auxílio tecnológico que aumentou exponencialmente esta capacidade.) Espacial e temporalmente somos muito limitados, e por mais que a ciência possa e se vá registrando em documentos para vencer o tempo, e vá criando modelos que busquem as razões e inter-relações que possam haver; para poder seguir caminho além do tempo e do espaço onde se tenha galgado, atingindo com este avanço, novo horizonte, indo mais fundo do que poderia ir sem a palavra escrita, porque, sem registro, desconheceríamos o que os outros tinham alcançado até ali, bem como o que se deva fazer para ir além daquele estado do saber, da pesquisa, em que se encontre a ciência num dado momento, podendo, por esta via cumulativa do que se sabe, se tornar imensa, com sucessivas descobertas, com sempre novas pesquisas, porém o universo de suas inquietações é ainda maior, e as engole, as limita, as relativiza, porque raramente chegamos sequer a perceber o todo, devido a sua extensão e desvios, derivações e imbricamentos que apresenta, quanto mais conhecê-lo, e ainda menos entendê-lo em sua totalidade. Só a palavra escrita [uma banalidade hoje que todo mundo tem caneta e papel] pode nos levar a ultrapassar a dispersão do saber, o que, por outro lado, nos lançou nesse poço sem fundo da ciência, permitindo-nos ir sempre mais além.

Esse universo com que lidamos na ciência é sem fim, por isso o designo como infinito científico, onde todas as perguntas nos levam a mais questões, a mais perguntas, sempre mais, a nunca acabar. Essa a maravilha da ciência, em que só uma dúvida persistente, sua indagação permanente, por ter o questionar por ofício, pode levar a que muita coisa fosse e seja descoberta, e outras tantas reveladas. 

Uma vez que nunca termina a busca, essa deve ter método, forma, sequência, e continuidade, numa lógica progressiva. Rios de tinta discutem estes fatores [deixemos à praxis e à epistemologia, antes de mais e entre outras abordagens, o cuidar deste assunto), e concentremo-nos aqui na sua infinitude, qualidade da ciência que nos leva a outra dimensão filosófica, quase religiosa. Em Deus essa qualidade nos levou a abandonar seu aspecto filosófico, e a criar muitíssimas outras ligações para explicarmos esta relação que confrontamos, com a descoberta da imensidão das dúvidas, onde Ele é sempre resposta, as religiões, onde há doutrina, dever e reverência; e onde nunca se põem de acordo umas com as outras, em doutrinas desiguais, incomporovadas e improváveis. Infinidades que devem ser apreciadas em sua razão, cada qual, por ser esta a própria prova, sua própria filosofia afinal. A ciência também tem doutrina, exige deveres para com ela, e impõe reverência ante a tão portentoso edifício que construiu ao longo de sua evolução.


Infinito da ciência.

                                                   -  O infinito da ciência reside na beleza renovada de sua dúvida. 


Ao longo de toda a experiência humana ficou provado que os questionamentos da ciência levam sempre, com suas respostas e comprovações, a outras perguntas e dúvidas, não se encontrando fim para eles. Tudo seria, como disse, impossível sem a palavra escrita, porque se descobririam as mesmas coisas muitas e muitas vezes, e nunca se alcançaria um estágio de acumulação de saber suficientemente largo e profundo que nos permitisse avançar além de determinado ponto, ou que nos desse uma ideia do todo daquilo que estamos estudando, essa ideia tão necessária em ciência para que ela possa avançar. Entretanto, como em toda fotografia, ficam involuntariamente registradas na imagem tantas outras coisas que não têm a ver diretamente com o quadro geral que fotografamos, mas que estão lá, presentes, e que afinal devem ser levadas em conta, posto que, como fazem parte do quadro geral, e, consequentemente, contribuem para a sua configuração, como tal devem ser apreciadas. [Pode-se pensar de forma inversa isto, colocando-se na outra ponta, e propondo-se ao contrário, com inversa perspectiva de sua valoração: Todas e cada uma devem ser apreciadas porque configuram o quadro geral, dele fazendo parte, mesmo que não seja esta a imagem principal retratada no quadro.] E em cada um desses desdobramentos teremos outros, filhos da imagem principal, numa sucessão (e aí a condição incontornável) infinita de realidades relacionadas, todas com a mesma origem lógica, mas outras, diferentes. E cada qual estabelecerá dúvida, desde a da extensão de sua influência, até a da permeabilidade de sua presença, ou não. Sempre havendo um sem número que questões que respondidas, propõem novos questionamentos, numa série interminável. Eis o infinito da ciência! 


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