terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

QUEM MATOU IHOR? CULPA SEM CULPADOS...



O cidadão ucraniano brutalmente assassinado nas instalações do SEF  no aeroporto de Lisboa por ação de (vamos no popular) um arraial de porradas que o derriou, que ninguém confessa o ter agredido, fica claro que foi morto pela prepotência, que é a pior das manifestações dos sistemas governativos, posto que dá margem a muita desgraça.

Porque há inspeções periódicas? Porque há controle interno? Porque há câmaras de vídeo vigilância? Porque há polícia para a polícia (IGAI)? Etcetera? Porque nas franjas da natureza humana existem distorções perigosas do comportamento, que, em sua imensa maioria, são causa e efeito da prepotência. Por haver prepotência permitem-se manifestar essas distorções, e por haver essas distorções comportamentais há prepotência. É daqui pra lá e de lá pra cá! A prepotência alimenta-se da prepotência, e aí mora todo o perigo de alguns terem poder total sobre as pessoas, porque pode, pretender exercê-lo. Sem um controle apertado das pessoas (agentes) que dispõem de tal poder, cedo ou tarde fazem mal uso dele, porque todo poder corrompe, e corrompe o espírito, o que é a mais absoluta corrupção. num mundo ideal ninguém deveria ter esse poder sobre as pessoas, mas que no nosso mundo falível é infelizmente necessário, face a ação danosa de bandidos de diversos calibres e de diversas áreas de atuação. O que não impede que os agentes que combatem esses bandidos atuem eventualmente de forma abusiva, equívoca, absurda, prepotente (A acusação desses três é Homicídio qualificado com agravantes, pode haver pior?). O uso do cachimbo faz a boca torta, diz o adágio, e para combatermos a boca torta, é necessário vigiarmos o uso do cachimbo. Agora vai haver câmaras naquela salinha do SEF no aeroporto, o que nos leva a outro adágio: Casa arrombada, trancas a porta.

Mas primeiro de tudo: Porque há aquela salinha sem vigilância? A resposta leva-nos outra vez à prepotência, completando aquela relação de causa e efeito que demonstramos, irmãs siamesas de um poder discriminatório circunstancial, que na verdade tem só um corpo apesar das suas duas cabeças. Monstruosa manifestação do poder em sua prepotência (da prepotência há mais culpados que esses três).

Agora que há julgamento, com três acusados do assassinato em conjunto, e que os réus recusam confessar, nos defrontamos com a vertente mais extrema da prepotência, que é a prepotência pós-prepotência, ou seja o toque de impunidade costumeiro, apaniguado do corporativismo, matéria das dificuldades dos tribunais, margem de manobra dos jogos jurídicos de acusação e defesa, onde quase sempre sobra espaço para poderem falsear o contraditório, sobretudo quando os fatos se passaram sem testemunhas numa salinha sem video-vigilância, entre comparsas prepotentes, que, passados os fatos não tiveram arrependimento (este que a justiça entende como eficaz, sempre e quando é efetivo e evidente).

Esses três agentes do SEF de momento sob julgamento, se não esclarecerem a verdade do que se passou, sem dúvida razoável merecem condenação com a pena mais alta admissível aos crimes dos quais estão imputados, porque alguém agrediu brutalmente, espancou, feriu e deixou abandonado para morrer Ihor, o emigrante ucraniano, que por ser cataléptico, e ter tido uma crise convulsiva de catalepsia, incomodou tanto aos agentes, por este serem mal-formados emocionalmente, e o foram punir (um dos primeiros quesitos necessários a agentes que atuam em situações tão cheias de atrito, deveriaa ser baterias de testes e exames psicológicos que os considerassem aptos a lidar com situações stressantes), punição que levou à morte de Ihor, que deixa viuva e dois filhos órfãos, quando tantos outros Ihors foram submetidos a situação semelhante que, não tendo resultado em morte, os outros Ihors foram repatriados, mantendo-se calados quanto aos mal-tratos que sofreram, não tendo lá longe como reclamar. A boca torta do cachimbo da impunidade permitiu a consolidação da prepotência, que nem a morte, a condenação geral da sociedade portuguesa, o horror da brutalidade da frça que empregaram, a acusação que os sujeitou a irem a julgamento, não foram capazes de produzir algum arrependimento. 

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