O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
... 60 anos de resistência democrática, a dos que defendem o Brasil, já era antes e o é agora. (1961 - 2021)
Foi em 25 e 26 de Agosto de 1961 que o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola, começou a defender a legalidade, com uma resistência democrática justificável a todos os propósitos, apesar de envolver uma resistência armada. Criou um movimento cívico para dar posse ao vice-presidente Jango Goulart, como determina a Constituição com a renúncia do presidente(Jânio Quadros havia renunciado a 25 de agosto), e os ministros militares haviam vetado a posse do vice, eleito autônoma e separadamente em voto direto por milhões de eleitores, como se fazia então o processo eleitoral. Era a resitência primeira à ânsia do golpismo. O ansiado golpe, que só viria anos depois, no 1º de Abril de 64, que, ao corrente da situação, o próprio presidente tentou dar, antecipando-se, (como haviam feito os militares em 55) com a esperança de tornar-se ele próprio seu sucessor (só que com novos e alargados poderes) o que não se deu, bem como não teve êxito a ação militar dos centros de poder das forças armadas em vetarem o nome de Jango, um latifundiário com simpatias à esquerda, não um homem de esquerda, mas que, como vice-presidente, era quem tinha o Direito e o dever de ser empossado. A voz do povo falou mais alto. Preparado em detalhes, o golpe de Jânio tinha como primeira medida ver afastado o vice (Jânio havia mandado Jango em missão comercial para a China, o mais longe possível do Brasil, o afastando de poder esboçar qualquer reação), e como segunda o veto ao nome do vice, previamente combinado com seus ministros das forças armadas (Jango foi vetado pelos três ministros militares) e, por fim, como elemento catalisador para o golpe, sua renúncia. Posto em marcha o plano do golpe, restava esperar que o vazio democrático que este criaría, viesse a dar espaço a um governo forte (na triste tradição republicana brasileira) para abrir espaço ao retorno de Jânio com poderes alargados, e, no caso dos militares (A junta: Denys-Heck-Moss) apoiarem outro nome, por não haver consenso, ou a situação não o permitir (como foi o caso), ao menos instituírem um novo regime, o que efetivamente ocorreu. E o Brasil foi parlamentarista por uns poucos anos. Reagindo contra o golpe iminente, as forças democráticas movimentaram-se, mas havia pouco a fazer, o país estava dividido, assim como os militares em geral, e a possibilidade de uma ditadura estava bem próxima. Esperava-se pela reação militar para ver a correlação de forças, e no que iria dar a movimentação dos dois lados. Entretanto muitos militares apoiavam a legalidade, tendo o ministro da guerra mandado prender alguns dos mais importantes líderes militares contra o golpe, inclusive o Marechal Lott. E implantaram a censura (Telefones, telégrafos, radios) e Lacerda, no governo do Rio (o então Estado da Guanabara/Cidade do Rio de Janeiro), valia-se de seu jornal para criar uma corrente de opinião favorável ao golpe, ao mesmo tempo que as forças janistas se movimentavam pelo retorno do presidente que renunciara, o processo estava conflagrado. A difícil reação e resistência ao golpe patrocinado pelo poder instituído, só tinha uma força absoluta a seu favor: A OPINIÃO PÚBLICA NACIONAL. Dar voz aos distantes. A inglória tarefa de permitir que essa opinião do povo fosse ouvida, era uma ação praticamente impossível, enquanto isso as forças do golpe movimentavam-se céleres. O povo estava distante do poder e de poder fazer valer sua vontade, ou ser ouvido, suas opiniões eram expressas na família, em suas casas, com os amigos, com os colegas de trabalho, lugares distantes da decisão política, e por lá ficavam, como que esquecidas. Como fazer esta opinião vir ao de cima e se manifestar efetivamente? Fazer-se ouvir, e ser apreciada, contando na decisão que deveria ser tomada? [Como sempre estava em jogo o modelo econômico brasileiro: os do golpe queriam, repito, como sempre, 1- A desvalorização da moeda. 2- Corte dos gastos/eliminação dos investimentos públicos 3- Restrição ao crédito/fim dos subsídios, a eterna receita do FMI, e eram ainda Contra a Reforma Agrária (que afinal até hoje nunca se realizou)]. Como manter a mobilização pela posse de Jango, a legalidade ? Como fazer isso a nível nacional? A solução concebida pelo Governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, foi, através de uma cadeia de emissoras de rádio (que era o meio de comunicação mais eficaz então, a televisão estava se implantando) manter no ar permanentemente o assunto, foi assim que nasceu a Cadeia Radiofônica da Legalidade, para dar voz ao movimento de resistência que surgia, e resistir com as forças das armas, se necessário, ao mesmo tempo contactar todos os elementos representativos por todo o país concitando-os a que resistissem ao golpe. E assim foi. Resistiram, os golpistas tiveram de esperar mais quatro anos para consumarem seu golpe, e fazerem-no mais organizadamente, para poderem estabelecer uma ditadura militar, como fizeram. E ficaram no poder por duas décadas, e nós continuamos resistindo, até que, eles vendo que a resistência era forte, e que não se iriam manter, abriram o poder, permitindo a volta dos exilados, dos perseguidos e torturados, que tendo resistido, ou tiveram que sair do país, ou ir para a clandestinidade. Três gerações já. Da minha vida são já sessenta anos, onde, quando chegou minha vez, tive de escolher um lado, no qual me mantenho, e resistir, e vamos continuar resistindo, como sempre.
domingo, 22 de agosto de 2021
A volta do califado: o primeiro Estado talibã.
Tudo tem um preço neste mundo, e tudo volta, "A história se repete sempre" "a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa."
Farsa ou tragédia?
A famosa reflexão de Marx sobre a constatação de Hegel de que os fatos históricos relevantes acontecem duas vezes, é feita bem sabendo que ambas as ocorrências se dão condicionadas pelas circunstâncias, e que essa limitação desvia, quase sempre, a ação do ator histórico de sua intencionalidade original, resultando seu projeto, quando se põe em confronto com a realidade, na conjugação do que pretendia com aquilo que os ditames das situações lhes dá margem a que faça. Tendo ocorrido uma, com todo o esforço de sua ação trágica, muitas vezes um banho de sangue, ocorre a segunda condicionada pelas fronteiras estabelecidas pela primeira que a modificam e sugestionam.
Consciente que as características orgânicas de uma ação (assim como as de uma substância) se alteram, apesar de guardar sua essência intacta, revelando um resultado diverso, produzindo nova e diferente realidade, nova coisa, como nova e diferente foi a oportunidade que a facultou.
Os califados islâmicos.
O califa, 'sucessor' de Maomé, que instituiu um Estado Islâmico, ou seja aquele Estado que é governado segundo a sharia, a lei religiosa do Islão, que, adotada, circunscreve todas as atitudes, vontades e ações de seus seguidores, ao respeito estricto de suas normas. Muitos foram os califado que existiram pelo mundo, muitos na Europa, e houve muita guerra, tanto para se estabelecerem, como para terminarem com sua existência naqueles territórios onde passaram a existir, foi muita a tragédia que acompanhou a tragetória histórica de sua existência. Havia uma correlação de forças entre o governo existente antes, aquele que enfraquecido foi substituido por um califado, e depois com o outro que substitui o califado. E nesse processo circular a roda da história põe um e tira outros, com sabemos.
Hoje a correlação de forças depende de muitas imponderáveis possibilidades, que vão desde a tecnologia, os recursos financeiros, e o acesso aos diferentes meios misteres a que se estabeleça um califado, até às vontades políticas, muito voláteis. Não devemos um confundir califado com um emirado, posto que esse, o emirado, é um governo como qualquer outro, só que muçulmano, e o poder do emirado pode ser legitimado pela população a qual governa, pelo voto preferencialmente, já o califado traz consigo o poder religioso que retira a necessidade de legitimação popular, e impõe a tirania, o poder absoluto, que suipostamente lhes terá sido conferido por Deus. Com o moderno confronto de forças, a estrutura tribal dos islamitas versus o poderio militar do Ocidente ou do Oriente, da verdadeira Ásia profunda, não admite comparação. A única coisa que nos impede retirar-lhes o poder, esse que vão mantendo sob as mais adversas condições, e ao longo de sucessivas alterações de suas possibilidades, é que só seriam/serão apeados se todos fossem mortos, o que seria um banho de sangue brutal - a absoluta tragédia - optando-se sempre pela farsa de restringirem-lhes sua capacidade de ação, os territórios que ocupam, e o confronto direto por quem tem os meios para os conter, ficando-se sempre por uma série de ações cirúrgicas, o que implica uma guerra que não é guerra. E para qual a resposta, não só em seus territórios, mas a nivel global, é o terror/terrorismo.
O passeio talibã.
De Kandahar a Cabul, até entrarem no palácio do governo afegão (um governo que não se governava nem ao país) foi um passeio, com direito a piquenique e festa, por fim com uma preposta transição de poder, na qual o detentor máximo do poder já havia fugido, o que mostra a incapacidade de um poder sem a componente religiosa, entenda-se absoluta, de governar. Ali não há lugar a emires, só a califas.
E instalou-se o terror.
Por terem conquistado um país, um Estado, não os tornará responsáveis, nem tão-pouco uma entidade com que se possa negociar (o que os EEUU fará mesmo assim, sem outra opção). Sendo o país em questão o Afeganistão, não se tornarão rico os talibãs (o Afeganistão quase não tem petróleo, tem pouco minério, agricultura de subsistência, excepto a do ópio, não que sejam esses recursos insuficientes para manter um Estado, atenção, não são!) mas atualmente esse país não tem mais uma posição estratégica, como teve, de encruzilhada de culturas e comércio, perdido no meio do nada, com uma terrível geografia, e ainda pior orografia, não serve para nada, não se tornará rico, só lhe resta tornar-se perigoso.
Desde o Estado tampão dos jogos de poder entre a Rússia e a Inglaterra, quando os senhores Mujaedins das 34 províncias restringiram-se ao poder local, que esta área geográfica nunca mais se tornou uma nação, é uma porção de terra que existe no planeta povoada por 38 milhões de almas, é um enclave no meio de nações fortes, sem saída alguma, nem para o mar, que não tem; é uma terra de ninguém, que ninguém quer, e que ficou claro desde os acordos de Bonn em 2001, 5 anos depois do domínio talibã, e da conferência de doadores, que houve em Tóquio no ano seguinte, que ninguém se importava verdadeiramente com o Afeganistão, e que seu futuro era absolutamente incerto (diferentemente do que se passa na Síria de Bashar Al-Assad, onde esse cruel ditador assassino é aceito - ainda que ninguém afirme isso - por que ele tem poder administrativo e beligerante, o que os sucessivos governos afegãos nunca conseguiram demonstrar ter) e, agora, os americanos cansados de manterem lá os seus fantoches no poder, se retiraram derrotados, não militarmente mas estratégica e pliticamente, e vemos voltar a se repetir a história de 1996 - com a volta dos talibãs ao poder - e a reinstalação das escolas de terror, só não há mais Budas em Badian para eles dinamitarem.
O homem dos três bin e o futuro.
Tendo se apercebido desta situação, o terrorista Osama foi para o Afeganistão, e lá instalou suas bases de treinamento de terroristas, o braço armado da Al-Quaeda. Como, com a expulsão dos talibãs, Osama perdeu a proficiência de sua capa protetora, passou a escolher outras plataformas para a Al-Quaeda, ele mesmo passando a esconder-se nos montes afegãos, e a ir a outros países, entre estes o Paquistão onde acabaría por ser morto, há dez anos, por um comando norte-americano. No entanto muitas das estruturas que criou mantêm-se ativas, ou adormecidas, tão logo o poder dos talibãs permita, voltarão todas a re-instalarem-se no Afeganistão, e haverá muitos mais campos de treinos, formação de grupos, e atividade terrorista pelo mundo fora. Isso era de ser evitado, mas não surgiu um ditador assassino para pôr mão forte naquele país. Os que puderem, e serã milhões, irão fugir (para a Europa preferivelmente), a Turquia, transformada em enorme campode concentração, não poderá mais conter os refugiados, e vai haver enorme conflito. Está criado o cenário da tempestade perfeita, agora só falta os ventos soprarem para que do primeiro Estado talibã, o que equivale a dizer terrorista, se espalhe a praga do terror, tornando o mundo ainda mais inseguro e perigoso.
terça-feira, 17 de agosto de 2021
A P R O P R I A Ç Ã O.
*Não é crime, mas é.
*Moda.
*Estúpida muitas vezes
*Muitas vezes ignorante
*Assumem o que não é seu
*Tomam
*Apropriam-se.
*Razão sem razão
*Comiseração.
sábado, 14 de agosto de 2021
ANTOLÓGICAS 13.
Odídio, Ofélia, Orfeu
Solução de desamor /Labirinto da alma
A Fernando Pessoa-Bernardo Soares.
Tem os venenos destilados todos
Em sua bolsa inoculadora, que só em si inoculava
Rastejando por todos os inquinados lodos
Mutilado, sem raciocínio e afetividade, andava
Expressão de covardia sem busca de mimos
Serpente exponencial sem harmonia
Dédalo em Knossos a procurarpor Minos
Seu vazio pleno que ao vazio enchia
Chamava-se Ofélia, Eurídice
E a matéria, quimera
Sossego é não como disse
É o que foi e o que era
Da revista o nome indicativo, és
Do que sempre quis ser
Com o corpo despedaço em papéis
Morre-vive em seu poder.
quinta-feira, 12 de agosto de 2021
JURAM POR SUA HONRA, MAS NÃO SÃO SÓ OS QUE A TÊM QUE JURAM.
Jurar, juram todos, mas que seja válida a jura, que a pretendam cumprir, já não é bem assim. Porque jurar é fácil,ter a dignidade que forma este sentimento, já não.
Todos aqueles que assumem cargos públicos fazem juramento, e juram por sua honra num compromisso de bem servir, bem desempenhar o cargo que assumem. Será a jura uma barreira psicológica, todos que incumprem um compromisso, um juramento, têm memória daquilo com que se comprometeram, e, se não o cumprem, é porque não tiveram a dignidade mister, perderam a honra, logo são pusilânimes, pois não tiveram a força para manter o compromisso,e se desonrraram.
E do que é, ou serve, saberem-se assim maculados? Nada, o foro íntimo lá fica em seu interior apenas, só o próprio saberá que se desonrrou, mas a ambição, principal 'motu'de todas as desonrras, a tentação lhes foi irresistível, por faltar honor. Então de que adianta jurar? Na prática pouco, no espírito muito, uma vez que o indigno sabe de sua indignidade, e mesmo que não lhe corroa a alma, arrase seu espírito, e o faça pedir perdão, certamente o incomoda seu malfeito.
Agora que vemos por toda parte políticos indiciados por seus crimes, e até alguns condenados (Imaginem!), fica-se a saber que Honra não têm, que perderam a dignidade, se alguma vez a tiveram, mas que, desmascarados, perdem para sempre a face, mergulhados na vergonha de uma condenação, vale dizer, que tiveram comprovada sua infração e exposto seu delito, ficando-se a saber que é um criminoso, aquilo que ele já sabia (cada um sabe o que fez e o que faz), e que o juramento quebrado é a nota mais dissonante, no âmbito ético, de sua torpeza.
Para o que é público, o acento da consciência que fica marcado, denota máxima indignidade, não só a do feito, por si indigno, mas por violar o que jurou, por isto juram todos, e muitos cumprem o juramento, portal de entrada, antes da aceitação das funções, no compromisso, neste caso público, de as cumprir com lealdade, essas funções que lhe foram confiadas, e que ao não cumpri-las foram desleais, e se desonrraram. Porque ninguém pode alegar que desconhece seu malfeito, e, uma vez que este se torne conhecido, todos temos consciência do que fazemos (e quase todos buscam esconder o malfeito), desse modo sua falta de dignidade estará exposta para além de qualquer tentativa de justificação. Por isso este ato aparentemnete fútil de jurar, posto que, para os que não cumprem o juramento, esse de nada vale, mas sabem, sabemos todos, que a quebra do compromisso é seu ponto de desonra, e, para que este fique bem claro, é por isso que juram, para que ninguém possa alegar que não tinha o dever de lealdade.
Aqui chegados refletirão alguns que essa história de honra, dignidade, lealdade, ante tanta corrupção e fraude que se vai conhecendo, é uma questão menor, porém é maior, é o dito pormenor, essa circunstância particular de ter jurado, porque, por jurar, o vincula, e assim se compromete, e que ao cometer qualquer ilegalidade, menos que conspurcar as funções e o cargo, que muitos desempenham bem e legitimamente, faltaram à Honra, ato de suprema imundície, passando o autor a ser lixo na dimensão ética e moral, o que lhe retira toda e qualquer conformidade com a razão, que não lhe assiste mais, sobretudo pela quebra do juramento.
segunda-feira, 9 de agosto de 2021
ANTOLÓGICAS 12.
De bautizos y funerales.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Las campanas huelen las alegrías y sonrisas
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En el campaneo de sus divisas
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Peró pliegan también los fúnebres
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A los que caminan incertidumbres
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Doblan las campanas y campanillas in horas ciertas
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Las que sean de tristezas y alegrias
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De las personas que son muertas
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Como aquelos que ven sus primeros dias.
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Por entre dos toques todo un vida!
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Peró la misma celebración
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Que sea con lagrimas o sonrisa
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Tendrá solo un atención....
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Tendrá solo un discusión.
terça-feira, 3 de agosto de 2021
ANTOLÓGICAS 11.
Com a chama eterna em suas mãos
E que chegado a um lugar distante e ermo
De outro local ermo e distante
Passeando seu coração
O poeta segue indômito da casa ao mundo
Esse “Mundo, mundo, vasto mundo...”
O nome com que rima é vagabundo
Em sua plena significação
Errante, ocioso, inconstante e ordinário
Sintetiza o tudo e o nada, o eterno e o diário
Desde seu quarto até os confins do universo
Verso e reverso de um mesmo sentir
O que lhe indicará aonde ir?
Perdido no seu canto, esquecido em seu amor
Canta igualmente a alegria e a dor
Encontra mesmamente a morte e o infinito
Porque de fins, começos e perenidade, entende
E a nenhum deles nunca se rende
Vê beleza tanto no mais banal
Como na mais esquisita e abismal irrealidade
Tomando tudo com enorme naturalidade
Não importa se efêmera ou se eterna
Sua verdade, porque ela é sua, por isso bela
E só sua, presente eternidade.
Antológicas, página 13.
segunda-feira, 2 de agosto de 2021
DA SUPRA-ANIMALIDADE HUMANA.
Desde o desejo de posse, às tatuagens e às alterações do corpo, passando pelas máscaras e rituais de iniciação, ao 'patronus' de Mrs. Howlings no seu Harry Potter, temos nossa identificação animal, que se traduz em insensibilidade, em indiferença, e, sobretudo em decisões duras, sem sentimentos, que vão desde a opção por um comportamento ou ação que no limite irá resultar na morte de quem ela afetar, até uma ação direta de forçar, atacar, ferir, e mesmo matar alguém, outra vez com fim último. Podem ocorrer individualmente, ou atingir milhões através de ações ou decisões que afetam populações inteiras, que vão desde a negação de ocorrências de situações que irão resultar em morte, até as guerras, ou extermínios, que atingem à todos contra quem forem perpetrados, verificado neste campo especial destaque para o Holocausto. Motivações que residem nas raizes mais profundas de nossa animalidade, no cérebro reptiliano, recriando nossas múltiplas tendências animalescas, mas com selvageria hiper-selvagem, as quais podemos anotar desse modo:
Por sua manifestação individual.
Como um sentimento dominante, como uma força que surge inusitada e inesperadamente, uma possessão, (Na idade média dizia-se que estavam possuídos pelo demônio.)inevitável energia que nos domina e leva-nos a cometer atos muito para além dos que os animais seriam capazes de cometer, posto que levam-nos a matar futilmente, quando os animais só matam para comer ou por medo (Por isso chamo de super-animalidade, matar por gosto.). Manifesta-se num indivíduo como uma presença, afetando-o, ou como consequência dos já afetados. Afetando àqueles que se deixam dominar por sua presença, num caso, ou noutro surge essa presença para aqueles que já estavam afetados (pelo ódio, pelas drogas, pelo álcool, ou mesmo por uma falsa e/ou justificada impressão perturbadora) a qual reagem com violência, quase sempre maior da que qualquer animal seria capaz. Ademais os humanos possuem instrumentos que os animais não possuem, dos venenos às armas, dos gestos às palavras (uma palavra pode ser mais contundente, mortífera, e letal, muitas vezes mais que uma arma).
O que está na raiz dessa insurgência é, na maioria dos casos, a ambição, noutros casos vaidade e presunção, e noutros ainda puro e simples desejo de poder, que muitas vezes se manifesta em absoluta maldade, e no gosto de exercer domínio e/ou superioridade de toda ordem.
Por sua manifestação colectiva.
O 'animal' que surge para além da individualidade quando se forma um grupo, e é substancialmente mais irracional que qualquer indivíduo que o forma. Uma vez perdida a individualidade, a consciência bloqueia, ou se anula em cada um de nós, e ganhamos aquilo que se acostumou chamar de 'consciência colectiva', que estimulada em modo pró-violência, consegue alcançar altíssimos níveis de irrascibilidade, que, ao se manterem, transformam-se em tirania e opressão, que também são faces outras da super-animalidade humana (em muitos grupos animais existe também alguma opressão superveniente, fruto da dominação dos alfas).
O animal em nós é muito mais perigoso, muito mais agressivo, e muito mais violento do que aquilo que qualquer animal pode ser.
Em sua face tribalista.
O homem em sua organização primitiva para viver em colectividade organizou-se em tribos, a memória desta primeira fase da vida em grupo guarda um comportamento público de instigação, com maldade e violência muito agressivo, com intenções que são manifestas no grupo, ou, para além do grupo, também nos rivais externos, com um norte bem definido, atacar ao inimigo, inicialmente com palavras vexatórias para dentro e para fora da tribo, e, logo a seguir, com a prática da exclusão, primeiro psicológica e moral, logo depois física, daquele que ganhou a inimizade, é rival ou bode expiatório, passando este a ser alvo da agressão, que pode evoluir até a eliminação do indesejado com sua morte.
Pelos punhos.
Os punhos, essa característica humana muito desenvolvida, mais visível no gênero masculino, inevitável herança ancestral do animal que somos, leva quase sempre a uma série de distúrbios e atos violentos muito recorrentes entre grupos diversos, e nas relações de convívio, sobretudo os domésticos, nos quais a manifestação alfa de domínio faz com que os punhos entrem em ação para exercerem seu poder sobre os elementos da casa.
No entanto essa forma de ser é o que nos dá possibilidades infinitas de criação e ciatividade, e nossas infinitas capacidades de e para nos reinventarmos, o ímpeto 'animal' é mister, só carece de fazermos as escolhas certas, com o livre-arbítrio de ir pelo caminho da violência, ou não.
Da evidência histórico-fenotípica.
A história em nós, conta a história da Humanidade. E qual foi ela? Qual tem sido? Foi, é, e tem sido sempre uma história de violência, desde as tribos guerreando entre si, até grupos de nações fazendo o mesmo, unicamente o que aconteceu neste interregno temporal até chegarmos a ser países, foi apenas aprimorar os métodos de matar, a funda, o arco, transformou-se em mísseis balístico, mas o objetivo é o mesmo, e este só. E nossa História, a das nações, das religiões, das culturas, é a história do ódio, da violência, do extermínio. A repetição constante dos processos de violência nos foi moldando, transformando-nos no que somos, e consolidando os instintos primitivos, os do cérebro reptiliano, e foi formando nosso fenótipo de agressividade brutal, muito superior a animal, mais mortífera, mais letal, e mais violenta, com a característica esdrúxula de ser fútil, como a própria a Natureza a analisaría, posto que em sua ação universal repudia tudo que é inútil.
Em sua pior face: O TERROR.
Quem gosta de história, a primeira coisa de que se lembrará ao ouvir a palavra terror, é de um certo período da Revolução Francesa, onde milhares perderam a cabeça, cortada por ordem do Estado, que para acelerar e facilitar o processo criou um instrumento de triste memória, epônimo do Dr. Guillotin, que sugeriu sua utilização. Mas o terror institucional, ou aquele o qual grupos de poder ocasionam, não é expontâneo, tem uma componente premeditada que visa exercê-lo com o intuito de prevenir e conter toda e qualquer ação contra seus interesses, através da intimidação.
O terror expontâneo que se apodera, ao manifestar-se, do indivíduo que o provoca ou acolhe, é muito mais consistente e irracional, uma vez que ultrapassa sua dimensão humana, e, se alimentando de si mesmo, só visa compelir e constranger todos quanto afeta, numa torrente com fluxo em crescendo, buscando ser sempre mais horrivel, para mais temível ser. [E malo nascitur omne malum.] Eis o terror criado por alguém ou por um grupo, que nesta e com essa ação gera uma entidade supra-existente, que, superveniente, se alimenta de si mesma, sendo terror para gerar mais terror, num caudal incontrolável. Nesse momento seus autores já não são humanos, muito menos animais, são outra coisa que não tem rosto, e que não tem controle.
Da maldição de assim ser.
Somos como somos porque vive em nós tudo que fomos. É tudo em nós. Se abrimos a porta a um sentimento escuro, seremos escuridão, já se convocarmos a luz, seremos claridade. Tudo que excitarmos se manifestará e viverá em nós, essa é nossa maldição.
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