sábado, 6 de agosto de 2016

Não se apaga a História.






























Quem manda?






Grande erro comete quem tenta de alguma sorte esconder seu passado. As coisas foram como foram, não há nada a esconder. Se não gostamos de como foram, façamos um futuro diverso, construamos um amanhã diferente, mas nunca escamoteemos o passado.

Feito o preâmbulo, lembro que hoje faz 50 anos a Ponte Salazar. A que passaram a chamar 25 de Abril, como a querer apagar uma memória desconfortável, como a querer esquecer quatro décadas de História do país, pois por quarenta anos a história respondeu em Portugal com um só nome: Salazar. E assim chamou-se a ponte, e assim deveria continuar a chamar-se. A ponte que foi construída contra sua vontade, o que mostra bem seu feitio retrógrado num certo sentido, e que a moeda em prata de 20 escudos guarda o testemunho. Mesmo morto ensombrava a Revolução o Dr. Salazar, levando a que trocassem o nome da ponte. Mudaram o nome, não mudaram a história. Não a podem modificar.

Quem assim me lê e não me conhece, há de pensar já que sou um faxistoide, ou um conservador de direita zeloso da memória da velha senhora, ou do velho senhor, se preferirem. Por acaso sou de esquerda, se tivesse vivido aqueles dias provavelmente teria ido para Peniche, ou para o Tarrafal sem convite, mas não posso permitir essa tentativa cosmética da história. História é o que é, e é suja, porque comporta tudo o que foi feito para que ela acontecesse, e o que fazemos nem sempre merece um escrínio por ser jóia preciosa, ou um estojo por ser objeto de relevo. Não, bem sabemos que não, que muitas vezes os atos que ficam na história são os mais hediondos, vis, miseráveis, sórdidos e imundos, mas fazem parte da história, são a História! Uma tentativa de excluí-los, só demonstra fraqueza.

Que bem seria se a portentosa Revolução dos Cravos tivesse mantido o passado como era, tivesse conservado a ponte com seu nome, sem medo do fantasma, tivesse dado a César o que de César já era, no respeito ao passado, esse mesmo que não podiam mudar, ninguém pode, e na construção do futuro, esse mesmo que lançavam as bases expulsando a velha senhora. Só evidenciaria seu destemor, e mostraria seu respeito ao passado, esse que é como é.

Não sei se me faço entender, é claro que não se vá, não se concebe, erigir uma estátua a Hitler, o odioso; guardada as devidas proporções, Dr. Salazar ainda terá algumas repostas, pois ele não foi Hitler, mas  para quem achar que foi, olha, não vamos erigir-lhe estátuas, mas não podemos apagar-lhe a memória. Devemos enquadra-la bem historicamente, sem mentiras ou ódios, e entender que o velho senhor cometeu muitos erros, manteve-se demasiado tempo no poder, deixaram-no, até que uma cadeira fez o serviço que ninguém conseguiu fazer, e, na verdade, não tentaram com afinco efetivo, mas ainda que o tivessem escorraçado, e pendurado numa bomba de gasolina pelos calcanhares como fizeram ao falastrão Mussoline, eles fazem parte da História, e a ponte de seu nome também. e hoje em que se comemoram 50 anos dela, como lembra-la, e quem ela é? Não se apaga a História.

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