O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
COMO LER A ARTE - CONVERSA 2.
Seguindo a ideia apresentada na CONVERSA 1, (local e época) e ao percebermos numa obra o seu contesto espaço-temporal, aquele em que foi criada, mesmo que ela se refira a algo muito distante, tanto física como temporalmente da realidade que retrata, temos aí o ponto de partida para seu entendimento, no mais outra informação que quase sempre nos é facultada é ao que esta se refere, quer pelo nome que lhe foi dado, como pela referência a ela atribuída, que nos dá já uma razoável ideia daquilo com que somos confrontados, para podermos ter dela uma ideia inicial do que ela nos quer dizer (*), ou seja para que a possamos começar a ler. É como o que se passa com um livro. Ao lhe vermos a capa sabemos, mor das vezes, seu título, do qual buscamos inferir de que assunto trata o livro, bem como seu autor, sobre quem logo saberemos na orelha de que país é, e em que época viveu, ou vive, etc... etc... Assim poderemos começar a ler o livro inferindo do que trata (ainda que possam haver grandes equívocos) mas em geral um livro que se intitule História das Descobertas Portuguesas, trata das descobertas dos portugueses, contando-nos sua história, porém outro que se intitule 'O morro dos ventos uivantes' (O monte dos vendavais) pode tratar de meteorologia, de orografia, de filosofia, de política, ou ser um romance como, nesse caso, realmente é. Portanto a primeira coisa a estudar é se o que lhe sugere o título diz mesmo da natureza da obra.
Outra coisa imprescindível é ter a noção de que aquilo que se vê na obra, é, ou não, realmente uma referência direta à mensagem que ela quer passar. Temos aí um grande divisor de águas:
1. "Nihil volitum quid praecognitum" - Ninguém deseja, ou identifica o que desconhece.
Ora, a mensagem que pode conter a obra, seja ela qual for, depende intrinsecamente de seus signos serem identificáveis, reconhecíveis. (O que dividirá as obras em dois grandes grupos: 1- Naturalistas e 2- Simbólicas.)
1.1- Tanto o autor necessita uma linguagem que saiba que os outros irão perceber, como
1.2 - O observador (aquele que vê a obra) só reconhece aquilo que lhe é afeto, o que faz parte de seu universo de referências, logo as obras de uma determinada cultura só podem ser interpretadas segundo os padrões desta cultura.
2. Mesmo que a obra seja apenas imagética e não figurativa, ou seja, apenas represente algo que ele viu, e não uma alegoria do que viu, não um símbolo que queira expressar uma mensagem, há um código oculto, porque a realidade (chamemos-lhe assim) traduzida em obra de arte, é a realidade mais o filtro de seu autor.
Logo temos um grande problema desde logo, porque também nossos filtros estarão ativos quando observamos seja o que for, por isso há que:
a) Não fazer nenhum juízo à princípio.
b) Obter a máxima informação possível sobre o autor e sua intenção.
c) Na posse desta informação, tentar compreender como o autor filtrou o que viu (a realidade) e com isso criou o que estamos vendo (realidade+filtro do autor = obra).
d) De posse da informação do que está representado e como foi representado, poderemos começar então a desdobrar a informação que ali está.
Não se intimidem! Iremos ver passo a passo tudo o que está contido numa obra de arte.
Bom será voltar a arte em seu estado mais singelo, nas figuras rupestres, nas pintura e incisos pré-históricos, para vermos que em tudo há uma mensagem codificada, porque o filtro do autor deixa para além do que se, vê sua presença, a presença criadora, por mais realista que ele tente ser.
Por hoje ficamos por aqui, até para a semana.
(*) 'nos quer dizer' este o segredo para interpreta-la bem, para a podermos ler.
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