domingo, 30 de outubro de 2016

A aceitação do outro: Os Yazidis de Ana Gomes.







Ama o próximo como a ti mesmo. O próximo, foi só ao próximo que Ele sugeriu. Mas há os longe, os outros, que mesmo não sendo próximos, a quem devemos amar e que merecem ser amados, porque amar é dar-se, e quem se dá cumpre um desígnio divino.

A compreensão do outro é um sentimento especial, porque aceitar as diferenças, compreende-las, integra-las, é uma postura cada vez mais rara nesse mundo onde a globalização nos torna cada vez mais iguais e indiferentes, e, ao mesmo tempo mais desiguais e diferentes dos demais, essa contradição em termos, esse paradoxo, é a forte realidade de nossos dias, para que fosse absoluta a contradição era necessário que fossemos preocupados e compassivos, mas até aí não chegamos todos.

Essa ação de igualdade que a globalização nos trouxe lembra-me um pouco os tempos da inquisição, onde os judeus eram obrigados, para poderem continuar vivos, para poderem continuar vivendo em seus países de nascimento, a se converter a fé católica, mas guardavam secretamente suas crenças e ritos, continuavam a comer casher, e penduravam alheiras para o fumeiro, essa criação sem carne de porco, continuavam a ler e a oralizar a Tora e o Talmud, mas iam a missa, continuavam a praticar o Tanakh e a Shivá, mas não deixavam ninguém saber. Porque não se arranca a alma de ninguém, não se lhes rouba a identidade com um batismo, ou com a afirmação do que ele agora passa a ser. As pessoas são o que são, e os Yazidis são uma gente diferente, e têm o Direito de o ser.


Quem os aceitará? Quem amará ao diferente? Quem suportará gente que segue um anjo que alguns dizem ser o demônio? Quem quererá junto de si uma gente pobre, simples, sem  muito futuro, sem garbo, sem brilho, sem produtividade, sem mediatização?


A Dra. Ana Gomes viu de que aos Yazidis, como a todos os refugiados, roubavam-lhes o país, suas casas, seu futuro, e era necessário lhes dar casa, lhes dar um país para onde pudessem ir viver, oferecer-lhes um futuro, é isso que é o acolhimento, mas junto a isto lhes haviam roubado também as identidades, e com elas sua esperança de viver, e só a repondo temos outra vez seres humanos, mas com os Yazidis, por roubar-lhes a identidade, como aos demais refugiados, passava-se ainda algo pior,  porque como sua identidade é gregária, assim roubavam-lhes também sua alma, que só se manifesta quando estão todos juntos, separados eles deixariam de entender-se no mundo como gente, e isso é o pior que se pode fazer a um ser humano, roubar suas referências. Por isso na esperança de preservar-lhes a alma, mantê-los todos juntos, a Dra. Ana Gomes viu a necessidade de lhes dar à todos um mesmo local, uma mesma vila, um mesmo chão.

Uma alma solitária a Dra. Ana Gomes, mas Deus as faz para todas as ocasiões, e uma alma solidária a Dra. Ana Gomes, e para os Yazidis calhou a eurodeputada assim como é.

Seguindo seu exemplo peroremos todos o mesmo remédio, que esse grupo Yazidi seja trazido para Portugal, e recebido e mantido junto, para que preserve sua esperança, suas referências, sua alma.

Aceitar o próximo como é, aceitar sua maneira de ser, respeitar suas diferenças é a nova Lei, esta que Jesus Cristo nos legou: "Amar ao próximo como a ti mesmo", essa que em todos os Seus exemplos, desde quando desafia para atirar a primeira pedra aquele que não tiver pecado, Sabedor da condição humana, até quando diz para nos perdoarmos. É sempre a mesma lição: Amar ao próximo!

Os Yazidis não nos são próximos, próximos são os nossos vizinhos, são aqueles que nos dizem respeito diretamente, são os com quem lidamos. Quem já lidou com um Yazidi? Entretanto esse mundo globalizado nos tornou a todos próximos, aumentando nossa responsabilidade, responsabilidade que ninguém vê, mas que é tão mais imperiosa quando vivemos tempos conturbados, quando a exepcionalidade das circunstâncias nos antepõe desafios, alguns dos quais desafiam mesmo a nossa própria capacidade de sermos humanos, e a resposta nem sempre é satisfatória, é, às vezes,  má resposta que condena povos inteiros, como se passou com os búlgaros e húngaros que não souberam exercer sua humanidade com a efetividade mister quando confrontados com a necessidade em fazê-lo, e aí eram mesmo os próximos, pois os refugiados batiam-lhes às portas. Mas é esta falta de proximidade real que a globalização colmata, e torna mais importante ainda amar ao próximo.


Há muitos meses nessa luta em busca de compreensão, esses Yazidis seguem esperando aceitação!




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