quinta-feira, 31 de agosto de 2017

"A realidade tira sempre o tapete a ideologia" Cavaco Silva.















Uma afirmação absolutamente prática que revela que não se deve ter ideologia, que se deve aceitar a realidade sem nada fazer para contrária-la, posto que ela é inevitável como a morte, certa como uma fatalidade, incontornável como os oceanos, reconhecendo ao Dr. Cavaco Silva sua habilidade prática, nos questionamos se não é exatamente o contrário que esperamos de todos aqueles a que elegemos? Esperamos que eles contrariem a fatalidade da realidade, esgrimindo com ideologia rumos mais humanos, mais aceitáveis, mais justos, se não teríamos a escravidão, por exemplo, como uma realidade aceitável ainda, e válida, e ativa, posto que retirando o tapete à ideologia que baseando-se em princípios éticos se opôs a essa forma de dominação, eliminando-a, a realidade não poderia ser contrariada dentro das ideias práticas do Dr. Cavaco Silva, e ainda teríamos escravos. Não duvido nada que a ideia certamente agradará a alguns, mas felizmente repugna a esmagadora maioria.

"A Palavra presidencial deve ser rara." afirmou também, querendo criticar o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, esta afirmação mais a expressão: "a verborreia frenética dos políticos"dirige-se a sua tentativa de valorizar sua forma de ser, sua passividade enquanto político e presidente da república, cargo que deslustrou com sua atuação, e que a fortíssima dor de cotovelos que sente pela proximidade, o apreço,  e o bem querer que o Prof. Marcelo irradia e recebe, que rapidamente apagou da memória de todos que um dia sequer existiu alguém chamado Cavaco Silva, formatando um novo modelo de presidente que não mais dará espaço a figuras sem luz, opacas, sombrias, pesadas, perversa mesmo, como é Cavaco Silva. Recusando o esquecimento, que já se ia generalizando, e que inevitavelmente será absoluto, só quem viveu as décadas de sua presença poderá no futuro bem avaliar o quão malfazeja esta foi, guardando a lição por comparação daquilo que pode ser e representar um presidente da república com sentimentos e um sem. Portanto queremos todos uma palavra presidencial constante, presente, afetuosa, frenética, atuante, bendizente, reveladora e que formate a posição do máximo magistrado da nação como algo próximo e esclarecedor, portanto garante de nossa tranquilidade por sua constante vigilância, função para a qual foi eleito, e que não se deve recusar a cumpri-la refugiando-se nas sombras de gabinetes obscuros e inalcançáveis aos comuns dos  mortais. distanciando-se da realidade do país nos salões palacianos, fugindo ao compromisso popular, para o qual se exige vocação, exige que se goste do cheiro do povo, e não só do perfume de sua maria.

Essa criatura nociva, que tanto mal fez em seu magistrado ao país que escolheu mal essa figura,  procura fazer o que o Dr. Passos Coelho não revela a competência torsa para o fazer: OPOSIÇÃO, e não se pode negar que em tudo que é destrutivo as competências vincadas do Dr. Cavaco Silva se revelam industriosas e prolíficas, vindo assim colmatar este vazio, se opondo logo a tudo e a todos com a mais expressiva voluntariedade. Eis o Dr. Cavaco em seu melhor.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Os lindos laranjais do Algarve: AVISO !






Falemos antes da fruta, a laranja. Essa benção de equilíbrio entre o acre e o doce, com umbigo ou sem umbigo, mais redondas ou mais ovaladas, com a casca mais grossa ou mais fina, são uma maravilha, uma emoção e um prazer único de se desfrutar (e veja a palavra: des-frutar, que é gozar os frutos do trabalho). Imaginem lá aquele caldinho amarelinho a correr, a nos entrar pela boca, depois dos olhos e nariz, aquela sensação de absoluto reconhecível, esta fruta que tanto nos dá.

De suas muitas variedades desde a enorme Bahia, que deve seu nome a seu local de origem, até a pequenina D. João, que o sexto e último rei português deste nome se regalava, e que na 'orangerie' de Belém sempre as tinha porque chegam até o final do outono amadurecendo, e adocicando, no pé, e as que também mais cedo aparecem, como a que hoje se chama 'newhall' ou a 'ortanique' maduras entre fevereiro e abril, e que uma bem regada de arsênico foi a causa da morte do primeiro imperador do Brasil por tratado com seu filho D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, o saudoso João.

Não se esqueçam de incluírem nesse grupo dos citrinos duas outras maravilhas: as celestinas e as tangerinas, também cultivadas nesse Algarve dourado, e que deve começar a se preparar desde já para mover seus laranjais e outros cultivos porque irá se transformar num deserto, a continuação do Sahara do outro lado do Mediterrâneo, com a alteração da inclinação do eixo da Terra, e, devido a isto, a excelente produção de citrinos tem de ser movida para outras áreas onde possam prosperar, e manter a sua participação na economia portuguesa como importante ativo que é.

Os lindos laranjais do Algarve, devem continuar lindos, devem continuar laranjais, ou seja a produzirem as suas maravilhosas laranjas, só não mais poderão ser é algarvios, portanto é necessário tempo e calma para que se encontrem os locais adequados, prepararem-se os terrenos, e assim refaçam as extensas plantações dos laranjais, para que em seu devido tempo tenham a substituição mister.

Tenho alertado para isto com as minhas fracas forças, ninguém me ouve, o outro caso é o do montado, e está numa crônica intitulada Está na hora de mover os sobreiros. . . que pode ser lida nesse blog,  mas as coisas se fazem com antecipação e previsão. As laranjas talvez encontrem área mais à beira mar, como em todo o Marrocos desde o sul, na região de Agadir,  e no Norte junto a Tanger, aliás é do nome  dessa cidade que vem tangerina, e também a leste onde plantam de tudo. Nunca esquecer que com calma sempre se podem encontrar soluções, e que em Israel se cultiva o próprio deserto. Contudo as limitações econômicas impõem-separa além das climáticas, e antes, muito antes, que a situação esteja implantada, e que o problema bata aflitamente a nossa porta, devemos ir buscando soluções, mas parece ninguém querer se preocupar com isso, mas devem, para que sempre existam os lindos laranjais do 'Algarve', onde quer que eles possam estar plantados.

sábado, 26 de agosto de 2017

O melhor Fernandes. . . O homem que escolheu seu nome.







Se escrevêssemos em catalão, vocês logo se dariam conta de quem falo, vejam o título em catalão: El Millor Fernandes, que era mesmo o melhor em tudo que fazia e não haveria quem o ombreasse, chamasse-se Fernandes, ou não. Milton Viola Fernandes, como queriam seus país, e que pela má caligrafia do escrivão que assentou seu nascimento, pode vir a ser o homem que escolheu seu nome, quase, posto que na certidão que requereu aos dezessete anos viu que o que estava escrito não era Milton, o traço do t estava sobre o o parecendo um circunflexo, e o ene era como um erre, daí Millôr, o que parecia ótimo, artístico, diferente,  único mesmo, e optou pelo nome Millôr em vez de requerer uma retificação do registro de nascimento, nascendo então o grande Millôr Fernandes.

Eu o conheci na Codecri, onde o rato que ruge, que aparecia nas páginas do Pasquim, nos recomendava livros, com assuntos que nos espicaçavam a imaginação e mostravam um outro Brasil oculto, que eu desejava, e já com essa minha mania de livros e documentos, fui várias vezes lá no alto de Ipanema, na casa sede da editora buscar os livros que já não se encontravam mais a venda, e pude conversar com os donos, e dizer muitas coisas, eles eram interessados em quem se interessava por eles, e tive longos papos, os de um garoto entre os 19 e vinte e tais anos, o tempo que durou minhas idas lá, e aqueles que encontrava na sede da editora. Lembro-me perfeitamente do dia em que encontrei Millôr, já bem careca, ele ria muito com as orelhas, e tinha uns olhos penetrantes, porém sempre um homem simples, despretensioso, falava sem nenhuma afetação e discutia comigo normalmente, muito embora fosse extremamente mordaz.

Vi, por aqueles dias, também o Henrique Filho, o Tarso, o Ziraldo e o Zélio, o Claudius, o Redi, o Ique, e até o Sérgio Cabral, era muito engraçada a sede da editora, você entrava pela varanda, dava na sala da casa onde se abriam portas para os outros cômodos da casa, e quase nunca tinha ninguém na sala, era tudo muito informal, algo que me agradava bastante, e apontava para outro mundo, onde as pessoas não se obrigavam a ordens e estruturas, era um Brasil que podia dar certo, e o Pasquim, o símbolo e o responsável daquilo tudo nos abria para uma realidade tão diferente...

Agora que se completaram cinco anos de sua morte e sabemos que o mundo ficou muito mais pobre sem Millôr, esta alma tão vivaz e irascível, que canalizava sua indignação para a transformação social e para fazer refletir as pessoas "... livre pensar é só pensar . . .", "Fábulas fabulosas" de alguém que compreendeu o Brasil como ninguém, como os que o governaram o deveriam ter compreendido, e feito com esta análise e entendimento a libertação das forças potenciais do Brasil, como o Millôr fez. Sim porque ele abriu as estradas a um Brasil mais verdadeiro, revelando "Que pais é este?", aquele que nós sonhávamos, o que indignadamente levou o Legião Urbana a cantar na década seguinte, e que assim fez com que todos guardássemos na alma a esperança do futuro, essa indeterminada e difusa manifestação de que algo virá nos redimir, algo que chegará inexplicavelmente, como digo num poema.

No seu "Livro branco do Humor", que foi o que primeiro que li, vê-se o olhar crítico, onde a gozação mostra as contradições e ri-se, fazendo-nos rir delas consigo, até os Guia Millôr Fernandes do final, sempre se encontra o mesmo homem empapado na sua brasilidade, enganchado no seu tempo, embrenhado na selva escura da alma, desvendando-a. Seu teatro é bem revelador desse desassossego (e eis aqui palavra apropriada) na "É", que logo que surgiu fui ver no Maison de France, que me era mais acessível que os teatros de Ipanema, pois eu vivia em Niterói, e com o casal Fernando e Fernanda protagonizando, eu, que com meus vinte e um feitos naquela mesma semana, pois foi quando soube que havia estreado a peça, e que era do Millôr, e tinha a atriz que eu gostava tanto fazendo par com o marido no papel principal, foi uma primeira revelação para mim a força do teatro de Millôr, bem como em muitas outras peças suas, será sempre o mesmo Millôr, livre e impetuoso, benigno e contraditório, como um Haikai vivo, desses que ele gostava tanto, perorando "por um mundo Millor".


quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A Morte do Mar Morto.






O Mar Morto é uma dádiva de Deus (os que preferirem leiam natureza onde escrevi Deus) não bem conhecida, e ignorada, sobretudo em razão de sua localização. Cada gota de sua água, cada grama de sua lama e de seu sal deveriam ser estimados e valorizados, e resguardados como uma preciosidade médica para as futuras gerações.

O Mar Morto como lhe chamam os árabes (أل بحر أل معي  al Bahr al Mayit) ou Mar de sal como os judeus (אם-היא-מלאה Yam -ha-Melah) ou mais atentamente Asfaltites, como lhe chamavam os antigos gregos, ou Mare Asphalticum como queriam os romanos, se formou na fenda formada por tectônica de placas entre a africana e a arábica com a influência da euro-asiática, tendo formado essa fenda a que chamam de sírio-africana, que uma vez aberta foi inundada pela água do mar (tem o Mediterrâneo e o Vermelho ao lado), que penetrou pela terra adentro por gravidade, posto que a fenda fica centenas de metros abaixo do nível do mar, indo ao encontro do interior da terra que ali se expôs, com sua riqueza mineral, o magma que brotou, os famosos depósitos de asfalto, que tudo misturado deu a sopa que é o Mar Morto, e que por sua formação endorreica, logo tendo ficado sem comunicação com nada, um lago quase totalmente isolado, no vale do rio Jordão, só sendo alimentado pelas águas deste rio, e por esporádicas nascentes nas encostas circundantes ao lago (Mar Morto) assumiu uma natural tendência para secar, posto que a quantidade de água que lhe chegava, não repunha o que perdia por evaporação, diminuindo dos mais de três mil quilômetros quadrados para os mil e cinquenta em 1930 (hoje menos de 650km2) ficando desta forma com enorme concentração salina, a maior do planeta, atingindo onze vezes a  dosagem oceânica média, estando nas trinta e cinco gramas de sal por cem mililitros, o que impede a existência de qualquer tipo de vida, exceção feita a algumas algas e arqueo-bactérias . Ademais situado numa região árida junto ao deserto, o de Negev, a tendência é uma evaporação violenta e sem chuvas para aumentar a desgraça, posto que é de cem milímetros cúbicos anuais a norte e menos de cinquenta a sul (Para compararem no Rio chovem mil trezentos e cinquenta milímetros, e em Lisboa setecentos.)

O Mar Morto está dividido meio a meio entre Israel e a Jordânia, que vêm perdendo igualmente muitos quilômetros quadrados do mar em virtude da aceleração de sua secagem continuada, nos últimos oitenta anos diminuiu mais de quatrocentos quilômetros quadrados, de 1050 em 1930 para os atuais menos de 650) verificando-se uma aceleração por diversas razões, tendo desta diminuição mais de um terço se verificado nas últimas seis décadas, tendo baixado seu nível em vinte e um metros entre 1930 e 1997,  acelerando para um metro por ano após 1992, tendência que se mantém e acentua.

Muito citado na bíblia com diversos nomes: Mar de Lot, Mar de Arava, ou Mar de Arabá, Mar Oriental, Mar Salgado,  desde o Gênese (14:3)  a Mateus (3:5) estando em todo o antigo testamento muito citado. O lago Asfaltite dos gregos, denuncia este nome a presença do betume, que havia em fontes pros lados de Sodoma e Gomorra, o Talmude chama mesmo ao Mar Morto de mar de Sodoma. Pois estas substâncias todas juntas dão a suas águas uma densidade tal que tudo que não estiver dissolvido nelas bóia, é empurrado para cima, quando tomamos banho nele, temos de ter estremo cuidado para não boiarmos, porque depois para nos pormos de pé iremos ter enorme dificuldade. Pois estão aí nestas águas que parecem azeite de tão densas, uma combinação de óleos essenciais, argila, e vários sais que são um remédio fabuloso, com muito magnésio, cálcio, potássio, sódio, e ainda  iodo, bromo, ferro, silício e silicatos, e em menor quantidade zinco, bário, selênio, cromo e vanádio.

Há poucos lugares no mundo que têm ao dispor as propriedades curativas do Mar Morto, e composição similar, locais como em Ischia, no Mar Tirreno, onde ocorrem águas doces com enormes poderes curativos. Seus oligoelementos contém todos os micro-nutrientes, sais minerais, e muitos outros componentes que curam úlceras, varizes, pruridos, fístolas, psoríase, eczemas furúnculos etc...   Dizemos nutrientes pois têm a ver com as capacidades atróficas encontrada nestas águas, em Ischia, não só as argílas, como as termais, são capazes de maravilhas, mas na Fonte da Ninfa Nitrodi também beber a água traz enormes benefícios, pois têm outras propriedades para os rins, o fígado, o pâncreas, a regulação da  circulação.  Conto minha experiência pessoal após meu primeiro banho na fonte da Ninfa, e beber um bocado da água, que é mito saborosa, tinha vontade de dançar, parecia ter perdido vinte, trinta quilos, uma  sensação única.

Voltando aos poderes curativos dermatológicos, o Mar Morto seria como uma concentração de Aloé vera, que tem inúmeras propriedades curativas e micro-nutrientes, mas o poder da argila e das águas do Mar Morto são inigualáveis, pois exponenciais pela concentração única dos elementos. O maior crime que se comete é a extração de potássio, de sal e a utilização para a beleza desse reservatório de saúde, só deveriam permitir a utilização e comercialização de suas águas e lama para fins medicinais, bem como deveriam introduzir sempre uma quantidade de água para manter o nível do mar que diminui, como disse, todos os anos. Israel que tem um povo muito adiantado, muito evoluído, tem que tomar consciência disso e não permitir a morte do Mar Morto.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Além da humana compreensão: As Almas Negras.




Uma avo e neta chegam ao seu hotel, deixam sua bagagem, avisam que chegaram bem, e vão dar uma volta pelas redondezas, logo ali está La Rambla, a via central, a mais eminentemente turística da cidade que foram visitar. E encontram uma morte desesperada. Eram militares, eram espiões, eram representantes de algum governo? Não, eram turistas, inocentes visitantes como outras dezenas que foram atingidas. Eu não consigo entender a motivação e a falta de sentimento de um ser humano para fazer isso. Eu entendo perfeitamente alguém que mate com uma motivação, por raiva, por defesa, por luta, mas a frio? Sem motivo? A uma pessoa totalmente inocente que nunca viram? Cujo único azar foi estar na hora que resolveram matar no local que escolheram para isso . . .

Outros por raiva incendeiam, agridem, matam ao vizinho, ao seu concidadão.

Eu por mais que me esforce, e tenho me esforçado muito desde que esta selvajaria começou, não consigo compreender, não consigo apreciar com que forças, debaixo de qual entendimento, alguém pode gratuitamente agredir, esfaquear, atropelar, explodir, incendiar, etc...  pelo simples fato de julgar o outro contra suas ideias. E onde falta o entendimento, prevalece a poesia.(Poesia como expressão de um estado de espírito.)

                       Almas Negras

Carregadas de fumo e horror
Capazes de tanto ódio
Capazes de tanta dor

Matam por matar
Ferem por ferir
Os que vão a passar
Aos que conseguem atingir

Transbordam sua vileza
Espalham somente tristeza
São pura maldade

Põem fogo nas florestas
Destroem o infeliz a passar
Crêem serem estas
As ações que os irão clarear

Insanos na sua torpeza
Ferindo por crerem-se feridos
Maldade por serem malditos

Negras, mais negras que o fumo
Almas da pior escuridão
Desditosas e sem rumo
Perdem-se nessa ilusão.

domingo, 20 de agosto de 2017

Tricky Trump.






Existiu um homem que ocupando a Casa branca, mentiu, valeu-se de todos os tipos  de falsidades, manipulou tudo e todos, valendo-se de todos os modos de enganos e enganações, com o fito de manter-se no poder, visando única e exclusivamente protelar sua estadia no poder, fosse a que custo fosse, Richard Milhous Nixon de seu nome, ficou conhecido por Tricky Dick. Quem disse que a História não se repete? Como bem viu Karl Marx ao clivar sua famosa frase: "A História se repete, a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa."

Pouco mais de quatro décadas depois temos a mesma insânia na Casa Branca, another Tricky.

Todos concordamos em avaliar Richard Nixon como um homem reles, populista, sem grandes virtudes, desonesto, sem escrúpulos, sem remorsos, duas caras, abjeto e impiedoso, que chegou à casa Branca num tempo de grande inquietação e instabilidade, valendo-se destes fatores para prometer uma saída à crise que se vivia nos EEUU.  (FIM DAS SIMILITUDES COM TRUMP.) Posto que Nixon era um homem com baixa estatura moral, com enorme aptidão para a mentira, capaz das piores façanhas para atingir o fim pretendido, com um caráter duvidoso, pronto a transgredir a Lei, capaz da conspiração mais baixa para implantar seu intento, temos também que era um advogado brilhante, um homem que acabou por ter um papel muito importante na História americana, perseguindo suas promessas eleitorais, e cristalizando a posição de liderança americana no mundo. O seu discurso sobre a cidadania é um marco na lógica do pensamento republicano. Terminou com a guerra  do Vietname, e reatou relações com a China, era um marido fiel, recusou as mulheres mais lindas que o assediaram, e tinha outras perspectivas da convivência familiar e humana; terá errado muito, principalmente fruto de seu jeito tortuoso, sua forma de ser enganosa, seu gosto pela mentira e pela confabulação política, mas tinha enorme experiência parlamentar, tendo sido deputado e senador, e administrativa, tendo sido vice-presidente vária vezes, não era um inconsequente.

Trump além das semelhanças apontadas com Nixon, diferentemente de Nixon que tinha uma baixa estatura moral, é amoral, não só tem uma aptidão pela mentira, é um mentiroso compulsivo, não será capaz das piores coisas para tingir o fim que pretenda, Trump é capaz de qualquer coisa mais que tudo porque não tem capacidade de avaliar, sendo um psicopata, o alcance moral de seus atos, sendo capaz não só dos piores, mas de todos os necessários, muito para além do improvável, diferentemente de Nixon que tinha um caráter duvidoso e transgredia a Lei, Trump não tem caráter, e desconhece a Lei, e foi capaz não apenas da conspiração mais baixa para atingir seu intento, mas capaz de comprometer seu país para esse fim. No mais não tem nada que se compare com a cultura de Nixon, Trump é um ignorante, e não tem nenhuma experiência legislativa, ou administrativa da máquina americana. Ou seja: Um desastre! Ao mesmo tempo que uma bomba relógio como veremos.

No entanto foi eleito com minoria de votos, dentro do sistema americano de representantes eleitores, tendo sabido utilizar o sistema para atingir suas pretensões. Único mérito que lhe reconheço até então, mas para tal, valeu-se de expedientes que comprometem definitivamente os EEUU, sobretudo em seu envolvimento com a Rússia, principal opositor americano no mundo, pouco se importando do efeito que esse envolvimento virá a ter no futuro dos EEUU.

Porém não creio que nada disso seja inocente, que inocente mesmo nunca poderia ser, uso a palavra no sentido de ingênuo e não de inculpável, já que culpado ele é absolutamente,  mas poderia ser apenas naif, não o é, ele tem um plano de ação, e após esse tempo em que já está na presidência, ao atento observador vai ficando claro que, assim como Maduro o pretende em relação a Venezuela, Trump tem pretensões ditatoriais em relação aos EEUU, é algo assustador, que seria cômico, se não fosse trágico, o fato de apenas existirem tais pretensões, que no entanto existem, e cumprem um plano, é algo insano, é verdade, mas não o poderia deixar de ser; entretanto um plano que, urdido numa mente alucinada, se, em meio a uma guerra atômica, por exemplo, poderia obter a consecução de seu intento com um momento em que a desordem mundial se estremasse, e a necessidade de aumento de poderes presidenciais se fizesse necessária, criando as condições favoráveis a tão odioso objetivo. O senhor Trump age com uma intenção, o que faz do psicopata que ele é, um psicopata perigoso, como já tive oportunidade de evidenciar, mas, por outro lado, alguém que irá jogar com as deficiências do sistema, coisa que ele sabe muito bem fazer, e em seu ato maior de enganos e perseguições, ("this is not this", "you're fired". . .) estabelecer uma plataforma onde se possa manter à tona, até ter gente 'sua' em todos os setores vitais para seu projeto, posto que se ele declarasse uma guerra hoje, por exemplo, seria logo bloqueado pelo Congresso, por isso precisa de tempo, bastante tempo no poder, e para tal precisa de enganar, o mais que possa, precisa de absolutamente ser o Tricky Trump.


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

À gauche Carlos Drumond de Andrade.


         


                                                                   
                                                 Nos trinta anos de sua morte,
                                                 lembrando o décimo segundo dia de insuportável tristeza.


Um pai nunca deveria enterrar um filho. No seis de Agosto desse 1987, pouco mais de um ano depois  do episódio que lhes contei ontem, pedem-me para ir ao cemitério em Botafogo, ao enterro da Maria Julieta, a única filha de Drumond. Lembro-me de passar um dia por Manguinhos e ver nos muros da Fundação Osvaldo Cruz imensa faixa com o nome da Maria Julieta, simpatizava com ela, vou ao cemitério. Lá está o poeta, mais defunto que a morta, de preto, rosto congelado, cumpre as funções que eram de se esperar dele, acompanhar à campa o ser a que ele mais amou em sua vida, e o faz maquinalmente, o faz como que por um instinto social, por uma razão de existir, que existir nos obriga a muita coisa. Vive ainda uma dúzia de dias de insuportável tristeza, até que nesse décimo segundo dia não suporta mais.

Passadas três décadas desses fatos ainda os recordo com espanto, porque para mim é espantosa a ligação entre as pessoas, lembro de Minha bisavó Zizinha e sua filha mais velha, uma num dia e a outra no seguinte, como a nos dizer que esses dois seres viviam conectados, e tendo-se acabado um, o propósito do outro esvanecera.

Mas deixemo-nos de coisas tristes que a herança drumondiana deixa-nos muito o que lembrar por boas razões, não que as da morte não sejam boas, certamente serão, mas, sendo funéreas, decerto não são alegres, e alguém que amou e foi amado, alguém que desejou e soube cantar o desejo, alguém que viveu a realidade de seu tempo em plenitude, "Vosso pai evém chegando" deve ser lembrado no dia de sua morte por melhores razões que ela mesma. Lembremos de como se descrevia em face da vida:

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE amanhã.




                                                                                           “Quando nasci, um anjo torto
                                                                                        desses que vivem na sombra
                                                                                       disse: Vai, Carlos! Ser ‘gauche’ na vida.”
-                                                                                                 Carlos Drummond de Andrade, do poema "Sete Faces"/in: Alguma Poesia, 1930.


1986 - Estava organizando o Jornal de campanha do Darcy Ribeiro, candidato ao Governo do Estado do Rio de Janeiro pelo PDT que havíamos fundado, e a ideia era por os principais apoios de personalidades ao Darcy nas páginas do meio do jornal com suas respectivas assinaturas, dando assim um caráter pessoal. Faltavam algumas, entre elas a do Carlos Drumond de Andrade, telefono para a casa do Drumond para solicitar o grafismo, alguém atende, pergunto se posso falar com o Carlos Drumond, ele vem ao telefone, explico quem sou e do que se trata, ele pede para aguardar um momento, passado longo intervalo vem ao telefone D. Dolores e diz que o Drumond não irá participar, eu a informo que tenho em mãos uma carta de apoio de próprio punho do Drumond, ela diz que ele mudou de ideia, eu afirmo que minutos antes ele havia confirmado seu apoio e que fora ver a melhor forma de fazer chegar o grafismo da assinatura.Ela diz que se  publicarmos o apoio irá para os jornais o negando. Encerro a conversa.

Tive também, por essa época, a oportunidade de conhecer D. Lygia que era vizinha duma amiga minha na Urca, e que era amante de Drumond, na verdade era seu grande amor, ainda que tenha tido outros, uma mulher bonita D. Lygia, liguei para a minha amiga pedindo que falasse com sua vizinha, e contornasse a dificuldade de acesso a casa de Drumond, bloqueio cerrado de D. Dolores, lembro-me de ter ido até o 60 da Conselheiro Lafayete, mas nunca cheguei ao sétimo andar, Drumond desceu e disse que era melhor eu deixar pra lá. Fiz assim, já tinha até tentado contactar a Maria Julieta, mas deixei para lá. Porém vem-me a cabeça a afirmação: "Que triste são as coisas consideradas sem ênfase." Sim as palavras próprias de Drumond, o ideal versus a mesquinhez da vida, talvez a luta diária de Drumond, na alma, no corpo e, agora sabia, em seu dia-a-dia.

Deixo-vos a poesia toda:
                                          "Preso à minha classe e a algumas roupas,Vou de branco pela rua cinzenta.

Melancolias, mercadorias espreitam-me.

Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:

Não, o tempo não chegou de completa justiça.

O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.

O tempo pobre, o poeta pobrefundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.

O sol consola os doentes e não os renova.As coisas.

Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.

Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado.

Nenhuma carta escrita nem recebida.

Todos os homens voltam para casa.

Estão menos livres mas levam jornaise soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?

Tomei parte em muitos, outros escondi.

Alguns achei belos, foram publicados.

Crimes suaves, que ajudam a viver.

Ração diária de erro, distribuída em casa.

Os ferozes padeiros do mal.Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.

Ao menino de 1918 chamavam anarquista.

Porém meu ódio é o melhor de mim.

Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.

Uma flor ainda desbotada

ilude a polícia, rompe o asfalto.

Façam completo silêncio, paralisem os negócios,

garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.

Suas pétalas não se abrem.

Seu nome não está nos livros.

É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde

e lentamente passo a mão nessa forma insegura.

Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.

Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.

É feia.

Mas é uma flor.

Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio."

 Talvez esperemos todos que nasça uma flor no asfalto . . .

    

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

A sombra de Isaltino.




Rouba mas faz! Chamavam a Ademar de Barros os cidadãos paulistas para justificar seu voto nele, eleito sucessivas vezes governador de São Paulo. Aqui em Oeiras teremos um fenômeno semelhante. Eu não me envergonho nada, nem pouso de vestal, querendo aparentar uma perfeição que não tenho, menos ainda acho absurdo, ainda que menos desejável, que o povo se importe menos com um deslize ou outro de seus governantes, se estes lhes são satisfatórios e diligentes.

Dr. Isaltino de Morais é um ex-condenado por corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Eu lidei com o Dr. Isaltino, e vi como ele fazia as coisas, ele lançava-se para que as coisas acontecessem, para poder eficientemente bem governar o município que o elegeu seis vezes para a função com maioria absoluta, ia tocando a governação, e isso acabaria por o comprometer, porque muitos de seus atos foram solitários, sem a aprovação das reuniões de Câmara ou da Assembleia Municipal. Eu até acredito que ele tenha guardado uns trocos dos patos bravos, e de outras empresas que  queriam se aliar ao excepcional progresso que ele criou no município, mas esses valores não são nada quando comparados com as dezenas, até centenas de milhões que outros sacaram dos sítios onde governaram. E o que quer que tenha tirado, não é nada comparado ao salário a que teria direito se tivesse se dedicado ao privado por exemplo, ou a empresas estatais, ou de economia mista, é triste, mas a verdade é essa.

O comparemos por exemplo com o Zeinal Bava, Oeiras tem um orçamento muito maior que a PT, e o Dr.Isaltino o aumentou, deu boa utilização aos recursos, atendeu ao interesse de seus 'acionistas' (munícipes). Quem conheceu Oeiras há três décadas sabe bem do que eu estou a falar. Agora pergunto: Quantos milhões recebeu o Zeinal para levar a PT a falência? E o Dr. Isaltino, quantos tostões para fazer de Oeiras o Conselho mais progressivo de Portugal? Quem me está lendo até pode pensar que eu estou a fazer a apologia do crime. Deus me livre, mas de  fato se houve, ele já pagou por ele, Isaltino esteve preso e cumpriu sua pena. O julgamento político agora só cabe a população de Oeiras, a ninguém mais!

É esse o problema. Politicamente o Dr. Isaltino tem uma sombra aterradora  a qualquer político que pense em tentar lhe fazer frente, em competir, em medir-se com ele em Oeiras, e é isso que todos o temem. Eu sequer vivo ou voto em Oeiras, mas atuei muito no território do conselho, e sei o que pensam os oeirenses. O dr. Casinhas da Silva Vistas, hoje por terror, quem foi criatura e criação do Dr. Isaltino, o deverá temer politicamente, e por terror, defrontá-lo em eleições, coisa que nunca fez, deve tirar-lhe o sono. Pois bem assim são as coisas.

Agora com o afastamento do juiz afilhado do dr. Casinhas, a candidatura do Dr. Isaltino vai ter nova apreciação, e, acredito, será aceita. Para terror de seus oponentes, já que a simples presença de sua sombra os  amedronta. E por fim os cidadão de Oeiras poderão proceder a seu julgamento político! E então saberemos quão extensa é a sombra de Isaltino.

O inferno português.







Sem desculpas para o agravamento das condições climáticas, as condições humanas se impõem. Penso que a gravidade das ocorrências justificam uma reflexão sobre os acendimentos de milhares de fogos em todo o território nacional.

As chamas, as altas chamas, o calor, a fumaça, o brilho dourado do fogo, exercem fascínio sobre muita gente, porém o número de malucos, destes psicopatas que põem fogo para ver arder, é excessivo. Se as estatísticas estão certas, que apenas vinte por cento dos incêndios são naturais, por combustão espontânea, teremos, então, mesmo centenas de loucos a atear fogo todos os dias. Em 220 fogos num dia, 20% são 44, sobram 176 fogos postos por mão humana, isto num dia, todos os dias há centenas de fogos, não me parece que poderá ser atribuído só à loucura. Havendo tanto doido a pôr fogo na floresta todos os dias em Portugal, resta-nos perguntar: O que pensará essa gente para além da sedução das labaredas? Será que não sabem que depois que instalam o  inferno, são necessários batalhões de anjos para o conter e erradicar?

A quase totalidade dos incendiários é gente frustrada, sem emprego, recalcada, creio que a procura de emoções, mas tudo isso junto também penso não explicar um número tão alto de atiçadores, depois falaremos disto. Esta realidade se mantém no segredo dos deuses, porque a mídia não revela o caráter dos incendiários, nem os expõe às suas responsabilidades, como faz com a quase totalidade dos outros criminosos, com os políticos, com os profissionais com responsabilidades públicas, etc... Penso que cometem falha grave em não revelar esse mundo torpe e obscuro dos incendiários. Deveriam haver listas para que fossem vigiados nesta época do ano. O horror a que nos submetem a todos com sua piromania é de tal ordem que merecem mesmo medidas de exceção, mas apenas estou referindo-me a medidas normais adotadas pela sociedade no sentido de precaver a ocorrência de qualquer ação desastrosa para o todo social (Assim há monitoramento dos pretensos terroristas, listas de pedófilos, registro cadastral dos criminosos, etc.) Sou denodado defensor das liberdades e dos direitos de privacidade, mas no caso dos incendiários uma exceção ia bem.

Além do mais porque há outros interesses em jogo nesta cena dos incêndios, onde entram em jogo muitos recursos do Estado, interesses particulares, a indústria da celulose a par com a indústria dos combates ao fogo, que mobilizam avultados recursos, e que devem ter seus interesses defendidos, todos, contra a mão criminosa seja motivada pelo que for.  Tudo isto posto às claras revelaria as verdadeiras motivações que há por detrás desse Inferno todos os anos. É bem verdade que neste 2017 foi amplificado pelo vetor atmosférico que criou as condições mais completas para o desastre, sobretudo com a excepcionalidade das ventanias e suas estranhas manifestações.

As particularidades climáticas agravam, mas não explicam, esse absurdo número de incêndios que prejudicam a imagem do país, com reflexos no turismo, destrói a agricultura, de todos os tipos, tão necessária às populações, a silvicultura, e, mais que tudo, afetam essa gente que ocupa o território onde o despovoamento é grave e necessita de estímulo, com o fogo ninguém se sentirá motivado pelo
interior do país, posto que não se aceitam convites para o Inferno português.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

PAZ E AMOR: HÁ 50 ANOS.




O movimento Hippie estava no auge, 100.000 viajaram a São Francisco na Califórnia com o sonho de mudar o mundo, lindo sonho, de paz e amor, como diziam e marcavam com os dedos abertos em V, o do símbolo de seu movimento, que circunscrito num círculo, marcava a época de esperança, símbolo  reproduzido em centenas de milhares de objetos, sobretudo os pendentes que teriam em colares, em seus gorros e chapéus, que eram sua marca identitária, hippies, como eram, portadores do sonho de amor e paz.

A mídia, a publicidade, os meios estabelecidos, pegaram no movimento e em seus símbolos e o caricaturaram, até o desfigurarem. Era a revolução roída em seu interior, pois que após a esse 'summer of love', como ficou conhecido o verão de há 50 anos, que trazia em força valores que iriam se disseminar, mesmo com a discrição do movimento, seus paradigmas mantiveram-se, feminismo, pacifismo, ambientalismo, e ajudaram a tornar menos rude o mundo, esse que vinha de duas guerras brutais. Eu era um garoto de calças curtas, mas tudo que via, mesmo o modo de estar das pessoas, e eu nunca tive nada de hippie, nunca poderia estar-me desleixado, mas os sabia compreender e admirar, eram o contraponto desse mundo arrumadinho, que hoje poderíamos dizer Yuppie, que tornou miserável tanto caráter, destruiu tanto sonho, descaracterizou tanta emoção, e essa era divergência boa, sempre devemos ter oposição para que não reine uma imposição, seja do que for. A diversidade é a essência das sociedades humanas, da democracia, tudo que é homogêneo e igual é estúpido, por melhor que sejam os valores que criem essa homogeneidade. O não entendimento disso, e a não aceitação da diversidade tem um nome e uma característica muito tristes, é a dita dura, é ditadura.

Quão diferente se tornou o mundo; quais valores imperam hoje? Ninguém perora mais pela paz, menos ainda aconselha o amor. Meio século volvido, entrado esse novo milênio tão insalubre, inclusive para os sonhos, creio até que ninguém mesmo mais ouse sonhar, e os valores pelos quais pugnamos são os das primaveras árabes, das respostas ao terror, nós que o detestamos, ou a pregação do mesmo por aqueles que o deseja perpetrar, são os da luta por valores que tínhamos como adquiridos, como a democracia e os do Estado Social, quão nos enganávamos, tão frágeis eles são. A ação dos grandes interesses econômicos pode derrubar como se fosse um castelo de cartas todas as nossas conquistas tão laboriosamente obtidas, que custou o sangue e o suor de milhões, a vida de milhares de trabalhadores e de milhões de combatentes em duas guerras horrendas, para que com a arte de uns quantos truques financeiros o  mundo seja jogado em crises absurdas como no caso recente do sub-prime e das dívidas soberanas. Ficamos a saber que nosso dinheiro não está seguro em lugar algum, que os bancos são menos instituições, que circos de feras. E sabemos que há um vento mal que sopra incessantemente qual bafo bafiento saído das profundezas da obscuridade que realmente nos governa, emanado dos verdadeiros poderes corruptos, invisíveis, corruptores, economicamente obscurantistas, que segue assoprando para permitir o privilégio de alguns a conta da miséria de muitíssimos.

Falar em realidades tristes, lutar por Direitos incertos, por mais justos que sejam, arriscar a vida e a saúde neste confronto, é bem mais a temática de nossos dias, que aquela de há 50 anos, quando um bando de sonhadores desejavam Paz e Amor. Apesar da perfeita noção da pouca força que terá a afirmação, pelo desgaste vitorioso que promoveram as forças do status quo contra ela, ainda abro meus dedos em V, e grito a plenos pulmões: Faça amor, não faça a guerra!  Viva o movimento Hippie! Paz e Amor!

domingo, 6 de agosto de 2017

Guerra civil na Venezuela.






Começa a guerra Civil na Venezuela. Após o golpe de Maduro, como eu comentava já desde Setembro do ano passado na crônica 'O golpe na Venezuela já está, Maduro.'  link:
http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/09/o-golpe-na-venezuela-ja-esta-maduro.html - golpe que se consumou  querendo dar aparência de democracia com a convocatória da Constituinte.

Com a falsa Constituinte, suas medidas para mascarar a ditadura que se consuma onze meses depois do golpe, posto que foi tudo um golpe para a ditadura de Maduro desde o princípio, o que se veio consumando a pouco e pouco. Agora a população do país, ou bolsões dela, se irão insurgir em armas, não só com os continuados protestos nas ruas, mas para tentar depor o regime.

Fica o poema ao VIOLINISTA DAS RUAS.  E fica a tristeza que o sonho chavista morra, e que mais um lindo e próspero país se vá destruir, pela ambição ditatorial de um só homem. Chaves rola no túmulo pela má escolha que fez, os verdadeiros bolivarianos arrancam os cabelos, e o mundo se entristece e se indigna com o que vai se transformar a Venezuela, já que a obsessão de poder do Sr. Nicolás é mesmo desmedida e absoluta.

O poema:
                  §    A fidler on the streets.

                        Um violinista nas ruas
                        A marcar o momento
                        Em que as emoções cruas
                        São desespero e tormento

                        Segue firme e guerreiro
                        Pelas ruas, a tocar sua rabeca
                        Assim como o último, será o primeiro,
                        Já não há mais Lei, é sem norma, é sem beca . . .

                        Há conflito, injúria, mentira e farsa!
                        Representa-se a enorme zarzuela
                        Trágica, bufa, insana e lassa
                        E assim se destrói Venezuela.




Revelação Audrey Hepburn!




    Está presentemente passando na RTP2 a série sobre a vida de Audrey Hepburn, que foi originalmente filmada em 2000 com o título The Audrey Hepburn story, e que tem como interprete a atriz Jennifer Love Hewitt, atriz que eu gosto, que acho bonita, que aprecio sua interpretação, e que neste ano tinha o 'physique de rôle' e a idade certa para o papel, "o papel de uma magricela" diria Audrey. Mrs Jennifer hoje tem uma filmografia vasta e vitoriosa, e é além disso escritora, diretora, produtora, cantora e compositora, logo multifacetada, com muito talento, mas é esmagada na série, pelo que lhe falta, e que era a principal característica de Audrey Hepburn, que a levou ao estrelato e a tornar-se na lenda em que se tornou: graça! Ou presença se preferirem, ou ainda carisma, como quererão alguns, não importa que nome dêem, Audrey Hepburn tinha um brilho que foi e é inimitável, e a Jennifer, coitada por mais que se esforçe, e ela se esforça, revela com um fosso abismal em comparação com o porque de Audrey Hepburn ser a lenda que é, a graça única de Audrey, que ensombra a representação de Jennifer, porque pode se representar tudo numa pessoa, seu jeito, sua fala, seu sotaque, seu físico, mas nunca se pode representar sua graça, seu charme, sua presença, seu carisma, e isso era o que tinha desmedidamente Audrey Hepburn.

O hiato presente a cada cena da série, é, por sua vez um tributo não programado a atriz. A falta constante de seu brilho único, de seu glamour, de sua graça e charme, marcam a série e mostram, ainda com mais veemência e intensidade quão inimitável foi Audrey Hepburn. Os franceses tem uma medida muito característica para avaliar o carisma, a presença de uma pessoa, dizem se sim ou não, são capazes de 'plein une photo', de 'rempli au complet une photo'. Se têm brilho para chamar a atenção, essa capacidade carismática de atrair as pessoas com sua simples presença, e era isso o que Audrey Hepburn tinha a um nível que quem queira passar por ela, chamará sobre si o vazio de não ser Audrey Hepburn.

Como Oscar Wilde  evidencia na sua peça 'A importância de ser Ernesto', uma peça "sem nenhum interesse realmente sério" como também nos informa o autor, as 'personas' que cada um usa, são escapes para diferentes realidades sociais que se apresentam, pois a força da personalidade de uma pessoa não será suficiente para o total transcurso de sua existência social, com Audrey Hepburn, se evidencia o oposto, pois que sem a força de sua personalidade, qualquer 'persona' que interpretasse, não existia, pois faltava-lhe A importância de ser Audrey! As realidades são indissociáveis de seu contexto, cada uma tendo seu pano de fundo, assim as pessoas, que são elas e as suas circunstâncias. A circunstância de ser Audrey Hepburn era encantar os demais, era ser fascinante, atração que as lentes tinham a capacidade de ampliar. Na já longa história do cinema, como na dos palcos, só outras duas divas atingiram esse estatuto, Katherine Hepburn, e Bette Davis.

Não critico a homenagem da série, mais que merecida, apenas faço notar a sombra sempre presente, o vazio que ensombra a série, porque Audrey Hepburn é inimitável.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

The day after the overshoot day. UM SUSTO!





O dia seguinte do dia ao que ultrapassamos os recursos que o planeta dispõe para nós esse ano, e todos os outros dias que se seguirão, que serão 151 dias, estaremos vivendo sem os podermos viver. NÃO OS PODEMOS VIVER PORQUE SIMPLESMENTE ELES NÃO NOS PERTENCEM. É assim como se passássemos em frente a uma casa  bonita e quiséssemos ir para ali morar, não podemos, ela não é nossa, se o fizermos estaremos invadindo a casa de alguém, e isso não é correto, não é decente, invadirmos a casa de outrem porque a achamos bonita. É o que todos estamos fazendo a partir de hoje, porque estamos invadindo seara alheia, algo que não nos pertence, nesses 151 dias até ao final do ano. É assustador! Todos os anos roubamos muitos dias aos anos seguintes, esses anos serão 42% do ano, os tais 151 dias, e não haverá possibilidade nenhuma de os pagarmos, ainda que fossemos condenados a fazê-lo, por isso estamos condenados todos a roubarmos os dias que não nos pertencem, essa a única solução possível para continuarmos vivos. E o nosso nível de consumos nas pequenas coisas é tão absurdo, que se por exemplo destruíssemos hoje a metade da frota de automóveis existente, apenas diminuiríamos dos dias furtados em onze dias durante esse ano em que já estouramos os dias em que podíamos ter vivido com os recursos disponíveis, desde ontem! Portanto roubaríamos ainda 140 dias dos anos vindouros, logo se vê que para pormos as contas em ordem necessitamos de muitas medidas fortes.

Por uma questão de consciência não me incluo entre os que roubam dias. Vivo os  meus dias dentro das minhas possibilidades, e vivo uma vida de luxo, de riqueza e de prazeres, posto que tenho um muito bom padrão de vida. Então não tem esse gasto excessivo dos recursos do planeta nada a ver  com o nível econômico da sociedade que os consome? Tem, tem tudo a ver, pois as sociedades mais ricas desperdiçam mais, e têm acesso a maiores recursos do planeta para os consumir. Então perguntar-me-ão como você não consome nada além da sua quota, digamos assim? É muito fácil! Primeiro não tenho praticamente nada em casa novo. Como sou antiquário só gosto de coisas antigas, e estas já estavam feitas há muitos anos, há séculos, quando eu cheguei aqui no planeta, logo não se consumiram recursos para eu ter a casa que tenho. Minha mesa, minhas cadeiras, meus quadros, minha cama, minhas estantes, meus livros, meus tapetes, etc... já existiam muito antes de eu vir ao mundo, e tenho imenso gosto em tê-los, e não acrescentei um dia ao desgaste ambiental para tê-los. Mas conheço o gosto das pessoas por comprar móveis novos, roupas novas, coisas novas, é um desatino! Tenho sapatos que já os uso há quarenta anos, e os adoro, são de altíssima qualidade, alguns foram de meu pai, e são extremamente confortáveis como podem imaginar. Algumas camisas minhas já têm trinta anos e são tão boas, gosto tanto delas, algumas vieram de recheios de casas que adquiri, e são ótimas, feitios e modelos que não se fazem mais, que eu adoro. Não gastei os recursos do planeta. É claro que sei que os meus leitores me acharão doido, despropositado, fora da moda, absurdo. Como se enganam. Sou um homem clássico, e isso é adorável, se querem saber.

É claro que sempre haverá coisas novas, esse computador onde escrevo, minha máquina fotográfica, os últimos livros de meus autores prediletos, o mais recente CD ou DVD de meus músicos preferidos, a vida continua, mas tudo isso eu tenho direito porque está dentro da minha quota. O problema é que as pessoas herdam coisas fabulosas, e no dia seguinte as estão a jogar fora para irem comprar outras. Tenho panelas, pratos e tenho talheres com mais de duzentos anos que os uso todos os dias e são excepcionalmente bons, muito superiores aos que se encontram nas lojas à venda hoje. Por outro lado me eduquei desde cedo a NÃO COMPRAR, ou seja NUNCA adquirir algo que eu não tenha efetiva necessidade. NUNCA COMPRAR POR IMPULSO, tantas vezes vou à casa de amigos meus e pergunto porque que eles compraram determinado objeto, e para que o querem: Eles simplesmente não me sabem responder! Compraram porque compraram, e pronto! Eu com essa minha posição tenho um crédito, e não é só o ambiental, é o econômico mesmo, sobra-me tanto dinheiro, que eu posso viajar muito, o que é um direito que conquistei com minhas poupanças, posto que viajar, sobretudo de avião, tem um grande impacto no planeta, mas como eu não desperdiço meio rabanete sequer, um litro d'água desnecessário, posto que sigo regras muito sensatas, por exemplo a água da torneira da cozinha com que lavo os alimentos, recolhida irá regar meu jardim, tenho o controle das descargas das casas de banho (banheiros para meus leitores brasileiros), uso máquina de lavar louça e roupa, máquinas que economizam muita água, e assim por diante.

Sou um apaixonado da dieta mediterrânea, que é de baixo consumo calórico e muito bem equilibrada, mais uma vez os antigos tinham razão. Por exemplo as receitas alentejanas são as mais criativas, as que mais aproveitam os alimentos, quem for ver as razões históricas para que assim sejam, descobrirá porque são tão equilibradas e econômicas, não deixando de ser deliciosas. Faço muitas sopas, essa maravilha culinária, que dispensa carne quase sempre, e que recicla todas as sobras dos dias anteriores, se as soubermos aproveitar. LOGO CADA DIA VOU CONSTRUINDO MEU CRÉDITO! (Econômico e ecológico.) E sou muito feliz com isso, a amplitude de recursos, e a amplitude moral que isto me dá é tão grande que, como disse, tenho ido a países que nunca imaginei que iria algum dia.

Como vêm é muito fácil não ultrapassar nossa quota, e ser feliz, e viver uma vida em alto padrão, o problema é que a sociedade na qual vivemos está moldada para o consumo, e com isso gastamos dinheiro em coisas que não precisamos, faltando-nos esse  para outras coisas que efetivamente nos trarão felicidade - todo o consumo desnecessário é estúpido - (Imagine se faltava alguma coisa na casa de seus pais para você viver com dignidade) E se você tivesse mantido toda a casa que herdou como era? Poderia estar vivendo muito bem nela, e não teria impacto no planeta em nada dos utensílios necessários à vida doméstica para começar: MUITOS DOS QUE ME LÊM NÃO TEM A MÍNIMA NOÇÃO DE ONDE ESTÃO OS BENS DA CASA PATERNA. (?) É desse modo que o consumo 'nos' leva a adquirir coisas de que não precisamos, e faz-nos gastar dinheiro que poderíamos empregar em sermos felizes de diversas outras maneiras.

Bem o que você pretende fazer nesses 151 dias que irá viver além de sua conta até o final do ano? O que fará para manter-se dentro de sua quota? É como se vos perguntasse o que irão fazer com 42% de seu dinheiro anual? Imagine que você  recebe 30.000 por ano e tendo gasto 17.000 tem ainda 13.000 mas que ja não são seus, porque os comprometeu, o que irá fazer até o final do ano? Eu tomei consciência disso aos dezesseis anos, e desde então tenho vivido alegremente sem tolices, sem roupa da moda, sem gadgets, sem bugigangas de consumo, que para nada servem, se não para enriquecer aos espertos que fazem promoção delas, e levam aos que não pensam, em as comprar estupidamente. Além disso tenho na minha quota ter reciclado milhares de objetos e os ter vendido a pessoas que de outra maneira teriam adquirido coisas novas, e assim com meu trabalho evitei em muito o processo de se fazer e consumir coisas novas com os recursos que devem ser poupados para as gerações futuras. Você já pensou em consertar aquela cadeira que está bambeando, em vez de jogá-la fora? Sou um homem rico, muito rico ecológica e ambientalmente, sempre também estimulei as pessoas a recuperarem seus pertences, coisas maravilhosas que com um lustre, uma nova capa, uma nova pintura, re-estofadas, recuperadas, poderão ser úteis ainda durante mais dezenas de anos. Pense que você é apenas mais um nesse planeta, que você está nessa casa como convidado, que deve utilizar o que há, e não ir inventar gastos não necessários, se você viver assim verá como fica tudo mais leve, e como lhe sobra muito mais dinheiro, e este também deverá ser usado para lhe dar felicidade: Vá ao teatro, vá ouvir boa música, vá passear, vá jantar fora, e não compre uma porcaria que você na verdade não necessita!   
  

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Overshoot day e as possíveis cativações.





Para nossa desgraça a cada ano é mais cedo, o que significa que nossa dívida com tudo e todos aumenta, e nossa possibilidade em paga-la diminui. A continuar a tornar-se cada vez mais cedo, o overshoot day vai passar a ser o doomsday.

Aqui falamos de economia ambiental. Existe uma quantidade de recursos, os quais a Natureza nos oferece, que em o utilizarmos estamos sujeitos a seus limites que não podem ser alargados, nem remediados seja de que modo for. Há uma só quantidade de água disponível, uma só quantidadede terra, uma só quantidade de ar, uma só quantidade de mar, etcetera, existente no planeta, e que à medida que excedemos seu uso, roubamos-lhe a capacidade de se recompor, para que nós a possamos usar outra vez. Assim se excedermos o uso da água, ela irá faltar, se tirarmos mais peixes do mar do que ele produz para que possa ser pescado outra vez, estaremos consumindo a matriz, e isso levará a que o peixe diminua ou acabe, assim foi feito com muitas espécies que foram predadas até a extinção. Esse uso excessivo dos recursos naturais nos levarão ao doomsday, não que haja juízo final, não haverá, mais haverá um dia em que a fome, a miséria e a poluição darão cabo da sociedade como nós a conhecemos, e colocará em seu lugar um outro tipo de sociedade mais pobre, mais pequena, e menos predadora, menos ofensiva, e mais adequada aos recursos que ainda existirem. Um defeso de quinze anos para as sardinhas sería uma solução para a recomposição de seus estoques, a matriz, para que as pudéssemos voltar a continuar a pescar como agora, porém a continuação da pesca nos níveis atuais vai consumir a matriz, os cardumes existentes, tornando-os cada vez menores, até tornar a pesca impossível. Isto está acontecendo por toda parte, tiramos tanto leite da vaca que a vamos matar.

Desde os anos 70, auge da questão ecológica, em que pensou-se calcular o dia em que os recursos naturais disponíveis para consumo a cada ano seria atingido, neste ano, o de setenta, já se o tinha ultrapassado, e se o denominou de overshoot day, o dia de ir além, aquele dia em que ultrapassaríamos nossa possibilidade de uso dos recursos disponíveis para o ano, posto que no dia anterior já a tínhamos atingido. Como a cada ano temos um quanto de recursos que podemos utilizar (como se fosse nosso orçamento natural, e lembremos aqui o aumento da população mundial) a o atingirmos deveríamos parar o consumo, e nos restringirmos  a esta realidade. Era como se acabasse o dinheiro na nossa conta, e já não pudéssemos gastar mais. No caso dos orçamentos de Estado, quando isso acontece, o prudente ministro da finanças faz cativações, ou seja o uso dos recursos é bloqueado face a necessidade que se tem deles, até voltar a ser disponibilizados no ano seguinte, porque os gastos possíveis neste anos foram atingidos. É claro que em nossas vidas isso não é possível, porque continuamos a precisar de água para beber, de ter o que comer e assim por diante, então como fazer? Entretanto se passou meio século desde que tivemos as contas equilibradas. . .

Nos dois parágrafos anteriores, num falamos de sociedade, e no outro de consumo, juntando as duas ideias temos sociedade de consumo, que é essa na qual vivemos, e que nos transformou nos predadores vorazes que somos. Porque o capitalismo existe em função de um hipotético crescimento, que, em se tornando real o põe em marcha, e isto teoricamente, e para que o capitalismo dê certo, deve perdurar indefinidamente, o que é uma contradição nos termos com a realidade natural que é finita, logo esse confronto de duas intenções opostas é o grande nó górdio desse modelo de sociedade que construímos, e ao qual chamamos acertadamente de sociedade de consumo, o que equivale a dizer que consumir é o mais importante. Em total desacordo com as limitações ao consumo impostas pelos recursos que se esgotam. Desse confronto nossa desgraça. A imaturidade das populações, dos governos, das instituições, não nos permite ir promovendo as mudanças necessárias para que a sociedade deixe de ser de consumo e passe a ser uma sociedade de desfrute, por exemplo, aquela que gozará dos progressos atingidos, como um usufruto, que iria sendo distribuído equitativamente entre todos, e, quanto mais poupança houvesse maior possibilidade de usufruir haveria, assim por exemplo em vez de termos milhares de cores diferentes, e milhões de padrões nos tecidos, teríamos uns poucos quantos, e com isso liberaríamos as enorme quantidade de recursos que são usados em fabricarem-se esses tecidos. E assim sucessivamente fazendo-se economia dos recursos, seríamos como a China no tempo de Mao, quando todo mundo se vestia de azul.

A ideia pode não ser agradável, e restritiva da liberdade, e o é, mas é, será, a única solução para vivermos bem num mundo onde os recursos são finitos. Esse modelo de sociedade de consumo, onde tem de haver crescimento econômico contínuo para que a engrenagem continue a se por em movimento, é o maior equívoco que criamos, e que urge em ser modificado. O exemplo que usei da China de Mao, é o de um momento estremo, onde a superpopulação obrigou a opções.  O planeta tem maravilhas para nos oferecer ainda como está, apesar de já o termos deflorestado em três quartas partes, se quisermos continuar a viver nele com boa qualidade de vida, temos que parar com esse modelo de sociedade (de consumo) que criamos.

Metade de todos os recursos existentes são gastos com alimentação e mobilidade (transportes) dois pontos cruciais, primeiro porque todos nos alimentamos, e o segundo porque ninguém mora onde trabalha. Entretanto há muito que fazer para diminuir os gastos nesses dois pontos, tanto com o melhoramento dos hábitos alimentares para consumir alimentos com menor pegada ecológica, cereais em vez de carne por exemplo, bem como fazendo-se a optimização residencial para locais mais próximos dos locais de trabalho. Hoje essas ideias são cada vez mais improváveis, porque diversamente de como era antigamente, as pessoas têm hoje maior mobilidade no emprego. O que isso quer dizer? Antigamente uma pessoa tinha seu emprego e permanecia nele por longos períodos de suas vidas, hoje por interesses econômicos das empresas, as pessoas são substituidas, criando o que chamamos de mobilidade laboral, o que é certamente mais um fator impeditivo da optimização residencial. O mundo se irá consumir em falta de planejamento e ganância, onde um impede o outro, ainda que os dois convivam muito bem na destruição dos recursos que permite sua existência. até quando? Porém os recursos naturais são de todos, ainda que a só alguns beneficie.

O fato é que as coisas estão se complicando, todos os anos o overshoot day é mais cedo em relação ao ano anterior, para esse de 2017, subiu seis dias, de oito para dois de Agosto do de 2016, hoje, esse dia no qual escrevo a crônica, dois de Agosto, que é ducentésimo décimo quarto dia do ano, o pior será quando ultrapassarmos 1º de Julho, o centésimo octagésimo sexto dia do ano, meio do ano, porque aí estaremos a dois por um, e entraremos em progressão geométrica, porque ao consumirmos a cada ano o recurso de dois, iremos acumular desgaste a uma velocidade progressiva que nos irá fazer aproximar cada vez mais do dia de não retorno, ao qual podemos chamar doomsday.

A estupidez que campeia, a falta de visão e previsão, e a constante prioridade política, e a palavra nobre aqui é usada em sua pior acepção, que é a de seu sentido figurado, leva a decisões inconsequentes e a a elevação constante do modelo capitalista na persecução de índices de crescimento econômico cada vez mais altos, com aumento do consumo e com a estúpida dilapidação dos recursos naturais imprescindíveis para o futuro, se é que queremos ter futuro.