O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
The day after the overshoot day. UM SUSTO!
O dia seguinte do dia ao que ultrapassamos os recursos que o planeta dispõe para nós esse ano, e todos os outros dias que se seguirão, que serão 151 dias, estaremos vivendo sem os podermos viver. NÃO OS PODEMOS VIVER PORQUE SIMPLESMENTE ELES NÃO NOS PERTENCEM. É assim como se passássemos em frente a uma casa bonita e quiséssemos ir para ali morar, não podemos, ela não é nossa, se o fizermos estaremos invadindo a casa de alguém, e isso não é correto, não é decente, invadirmos a casa de outrem porque a achamos bonita. É o que todos estamos fazendo a partir de hoje, porque estamos invadindo seara alheia, algo que não nos pertence, nesses 151 dias até ao final do ano. É assustador! Todos os anos roubamos muitos dias aos anos seguintes, esses anos serão 42% do ano, os tais 151 dias, e não haverá possibilidade nenhuma de os pagarmos, ainda que fossemos condenados a fazê-lo, por isso estamos condenados todos a roubarmos os dias que não nos pertencem, essa a única solução possível para continuarmos vivos. E o nosso nível de consumos nas pequenas coisas é tão absurdo, que se por exemplo destruíssemos hoje a metade da frota de automóveis existente, apenas diminuiríamos dos dias furtados em onze dias durante esse ano em que já estouramos os dias em que podíamos ter vivido com os recursos disponíveis, desde ontem! Portanto roubaríamos ainda 140 dias dos anos vindouros, logo se vê que para pormos as contas em ordem necessitamos de muitas medidas fortes.
Por uma questão de consciência não me incluo entre os que roubam dias. Vivo os meus dias dentro das minhas possibilidades, e vivo uma vida de luxo, de riqueza e de prazeres, posto que tenho um muito bom padrão de vida. Então não tem esse gasto excessivo dos recursos do planeta nada a ver com o nível econômico da sociedade que os consome? Tem, tem tudo a ver, pois as sociedades mais ricas desperdiçam mais, e têm acesso a maiores recursos do planeta para os consumir. Então perguntar-me-ão como você não consome nada além da sua quota, digamos assim? É muito fácil! Primeiro não tenho praticamente nada em casa novo. Como sou antiquário só gosto de coisas antigas, e estas já estavam feitas há muitos anos, há séculos, quando eu cheguei aqui no planeta, logo não se consumiram recursos para eu ter a casa que tenho. Minha mesa, minhas cadeiras, meus quadros, minha cama, minhas estantes, meus livros, meus tapetes, etc... já existiam muito antes de eu vir ao mundo, e tenho imenso gosto em tê-los, e não acrescentei um dia ao desgaste ambiental para tê-los. Mas conheço o gosto das pessoas por comprar móveis novos, roupas novas, coisas novas, é um desatino! Tenho sapatos que já os uso há quarenta anos, e os adoro, são de altíssima qualidade, alguns foram de meu pai, e são extremamente confortáveis como podem imaginar. Algumas camisas minhas já têm trinta anos e são tão boas, gosto tanto delas, algumas vieram de recheios de casas que adquiri, e são ótimas, feitios e modelos que não se fazem mais, que eu adoro. Não gastei os recursos do planeta. É claro que sei que os meus leitores me acharão doido, despropositado, fora da moda, absurdo. Como se enganam. Sou um homem clássico, e isso é adorável, se querem saber.
É claro que sempre haverá coisas novas, esse computador onde escrevo, minha máquina fotográfica, os últimos livros de meus autores prediletos, o mais recente CD ou DVD de meus músicos preferidos, a vida continua, mas tudo isso eu tenho direito porque está dentro da minha quota. O problema é que as pessoas herdam coisas fabulosas, e no dia seguinte as estão a jogar fora para irem comprar outras. Tenho panelas, pratos e tenho talheres com mais de duzentos anos que os uso todos os dias e são excepcionalmente bons, muito superiores aos que se encontram nas lojas à venda hoje. Por outro lado me eduquei desde cedo a NÃO COMPRAR, ou seja NUNCA adquirir algo que eu não tenha efetiva necessidade. NUNCA COMPRAR POR IMPULSO, tantas vezes vou à casa de amigos meus e pergunto porque que eles compraram determinado objeto, e para que o querem: Eles simplesmente não me sabem responder! Compraram porque compraram, e pronto! Eu com essa minha posição tenho um crédito, e não é só o ambiental, é o econômico mesmo, sobra-me tanto dinheiro, que eu posso viajar muito, o que é um direito que conquistei com minhas poupanças, posto que viajar, sobretudo de avião, tem um grande impacto no planeta, mas como eu não desperdiço meio rabanete sequer, um litro d'água desnecessário, posto que sigo regras muito sensatas, por exemplo a água da torneira da cozinha com que lavo os alimentos, recolhida irá regar meu jardim, tenho o controle das descargas das casas de banho (banheiros para meus leitores brasileiros), uso máquina de lavar louça e roupa, máquinas que economizam muita água, e assim por diante.
Sou um apaixonado da dieta mediterrânea, que é de baixo consumo calórico e muito bem equilibrada, mais uma vez os antigos tinham razão. Por exemplo as receitas alentejanas são as mais criativas, as que mais aproveitam os alimentos, quem for ver as razões históricas para que assim sejam, descobrirá porque são tão equilibradas e econômicas, não deixando de ser deliciosas. Faço muitas sopas, essa maravilha culinária, que dispensa carne quase sempre, e que recicla todas as sobras dos dias anteriores, se as soubermos aproveitar. LOGO CADA DIA VOU CONSTRUINDO MEU CRÉDITO! (Econômico e ecológico.) E sou muito feliz com isso, a amplitude de recursos, e a amplitude moral que isto me dá é tão grande que, como disse, tenho ido a países que nunca imaginei que iria algum dia.
Como vêm é muito fácil não ultrapassar nossa quota, e ser feliz, e viver uma vida em alto padrão, o problema é que a sociedade na qual vivemos está moldada para o consumo, e com isso gastamos dinheiro em coisas que não precisamos, faltando-nos esse para outras coisas que efetivamente nos trarão felicidade - todo o consumo desnecessário é estúpido - (Imagine se faltava alguma coisa na casa de seus pais para você viver com dignidade) E se você tivesse mantido toda a casa que herdou como era? Poderia estar vivendo muito bem nela, e não teria impacto no planeta em nada dos utensílios necessários à vida doméstica para começar: MUITOS DOS QUE ME LÊM NÃO TEM A MÍNIMA NOÇÃO DE ONDE ESTÃO OS BENS DA CASA PATERNA. (?) É desse modo que o consumo 'nos' leva a adquirir coisas de que não precisamos, e faz-nos gastar dinheiro que poderíamos empregar em sermos felizes de diversas outras maneiras.
Bem o que você pretende fazer nesses 151 dias que irá viver além de sua conta até o final do ano? O que fará para manter-se dentro de sua quota? É como se vos perguntasse o que irão fazer com 42% de seu dinheiro anual? Imagine que você recebe 30.000 por ano e tendo gasto 17.000 tem ainda 13.000 mas que ja não são seus, porque os comprometeu, o que irá fazer até o final do ano? Eu tomei consciência disso aos dezesseis anos, e desde então tenho vivido alegremente sem tolices, sem roupa da moda, sem gadgets, sem bugigangas de consumo, que para nada servem, se não para enriquecer aos espertos que fazem promoção delas, e levam aos que não pensam, em as comprar estupidamente. Além disso tenho na minha quota ter reciclado milhares de objetos e os ter vendido a pessoas que de outra maneira teriam adquirido coisas novas, e assim com meu trabalho evitei em muito o processo de se fazer e consumir coisas novas com os recursos que devem ser poupados para as gerações futuras. Você já pensou em consertar aquela cadeira que está bambeando, em vez de jogá-la fora? Sou um homem rico, muito rico ecológica e ambientalmente, sempre também estimulei as pessoas a recuperarem seus pertences, coisas maravilhosas que com um lustre, uma nova capa, uma nova pintura, re-estofadas, recuperadas, poderão ser úteis ainda durante mais dezenas de anos. Pense que você é apenas mais um nesse planeta, que você está nessa casa como convidado, que deve utilizar o que há, e não ir inventar gastos não necessários, se você viver assim verá como fica tudo mais leve, e como lhe sobra muito mais dinheiro, e este também deverá ser usado para lhe dar felicidade: Vá ao teatro, vá ouvir boa música, vá passear, vá jantar fora, e não compre uma porcaria que você na verdade não necessita!
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