terça-feira, 19 de dezembro de 2017

CARTA ENVIADA A REDAÇÃO DA VISÃO.







Prezados Senhores,

    Não vos ia escrever, tenho lá eu com isso, se ganham ou não ganham dinheiro!
Hesitei duas semanas! Se a vossa revista satisfaz ou não, se vocês se dão conta disso, se é válida a 
informação que fornecem. De fato não é da minha conta. 

                                     Refletindo melhor, dei-me conta que o que pretendo fazer: NUNCA MAIS 
COMPRAR A VISÃO, porque tem textos ruins, porque senti-me logrado, afeta, para além da minha 
pessoal consideração, que é tão somente excluí-los de minha vida por insatisfeito, afeta muita gente, 
primeiro que todos aos bons jornalistas que aí trabalham e que inocentes da muito má qualidade 
redacional do, seja lá quem seja, autor da matéria de capa de vosso número 1291, correm o sublimado 
risco de ficarem sem emprego, pois se muitos e muitos mais sentirem o desgosto que sinto de ter disposto 
de três euros e vinte cêntimos para investir em texto que me desse prazer, o que de forma alguma 
alcancei, acabarão por ficar sem leitores

    A matéria em questão creio há de ser uma, entre as muitas, que lá terão reservadas 
para semanas menos noticiosas, como há de ter sido esta primeira do mês em curso. O que leva ao leitor
consciente a esperar mais esmero, posto que pode ser elaborada com calma, essa mesma calma e esse
mesmo esmero que os eventos semanais hão de roubar ao escrevente muitas vezes pressionado pela
hora da edição concernente ao texto que desenvolve, e para o qual busca mais informação e cuidado, sem
poder dispor do tempo mister.

            E foram exatos esses dois substantivos esperados, de que careceu o texto a que me
refiro, sem manifestação de inquietação de espírito e diligência, essas duas vertentes da  informação e do
cuidado que podem fazer toda a diferença entre um bom e um mau texto. 

    Dir-me-á que informação sobre notícias, algumas quase milenárias, não há, penso
exatamente o contrário, que é o que mais há, posto haver o tempo de hiato para suscitar toda informação 
imaginável, desde as muitas críticas aos fatos, como as múltiplas análises históricas que se desenvolveram
em tão largo período que transcorreu, necessário é ir colhe-las, o que nos reporta à diligência, e de  posse 
das informações, motivado por boa inquietação de espírito, o que nos reporta ao cuidado para compor um 
texto atrativo, agradável, absorvente; como vêem é um jogo cruzado, já que as palavras são para quem as 
conhece.

            A primeira ideia que devera nortear a quem escreve um texto desses, é de que, ademais
se ele será matéria de capa, ele atrairá leitores com especial apreço pela história, como se fosse sobre flores, 
seriam os que apreciam botânica e jardinagem, se fosse sobre insetos, os da zoologia, e assim por diante, sendo
que todo o amante de seja lá o que for tem noções sobre a matéria e se quer ver envolvido pelo relato que lhe 
apresentem sobre aquilo que estima.

   Palha meus carossenhores, nada mais que palha encontrei no AS LOUCURAS DOS REIS 
DE PORUGAL, e por fim convenci-me que a única loucura foi eu ter comprado a VISÃO.

    Atentamente,
    Helder Paraná Do Coutto. 

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