O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
sábado, 16 de fevereiro de 2019
O dia de 29 horas: Escolheram, deviam estar felizes...
<<As conclusões do estudo “As mulheres em Portugal, hoje” traçam um quadro não muito animador da realidade: de um modo geral, as portuguesas afirmam estar quase sempre cansadas, com excesso de tarefas domésticas e sem tempo para a vida pessoal. Pior ainda: uma em cada dez admite tomar diariamente medicamentos para a ansiedade, para os distúrbios do sono ou antidepressivos. >>(Expresso 12/2/18)
A realidade foi de 8 a 80. As mulher que não trabalhavam, que eram dependentes do pai, e depois dos maridos, deram o salto para o mercado. O que gerou isso, agora que entramos no último lustro para completarmos quatro décadas que a Dra. Betty Friedman publicou o seu Feminine Mystique? 1º Super oferta de mão de obra com a consequente diminuição dos salários de todos. 2º Os valores pagos não eram mais os necessários para sustentar uma família, já que haviam pelo menos dois salários agora a entrar agora na economia doméstica, além do dele, o dela. 3º Como as mulheres mantinham as casas (a higiene, a alimentação, a ordem, os filhos, etcetera) criaram a dupla jornada de trabalho para si mesmas. 4º Com a pressão sobre o mercado, como eram as novas a entrarem nesse meio, tinham (como ainda têm) salários mais baixos (os aceitavam para conseguirem os empregos). 5º São sempre excluídas porque como geram, e essa função demanda tempo e recursos, são sempre vistas como inconvenientes. =>Tudo evoluiu de maneira a que seria necessário um dia de 29 horas para poderem fazer tudo o que fazem, é o supremo desequilíbrio. >>> Bem a lista poderia continuar, mas já temos o suficiente para que me alcunhem de preconceituoso e misógeno.
Eu vivi tudo isso desde que começou. Pois foi na segunda metade do século XX que essa história começou mais generalizada e intensamente. Como nos lembra Rebecca Traister em seu livro sobre o assunto, foi o poder da raiva feminina que mudou isso tudo (a raiva da exclusão, de serem excluídas). Em busca de uma suposta independência criaram esse mundo com milhões e milhões de trabalhadores com baixos salários, em virtude da super-oferta de mão de obra ocasionada com a massiva presença feminina no mercado. Abdicaram do privilégio de serem sustentadas para trabalharem duro. Lançaram as crianças (os filhos) na solidão, ou na mão de terceiros. Optaram por trabalhar mais, optaram por ganhar menos, optaram por mudar radicalmente as relações sociais existentes, criando uma nova gramática para as relações humanas (as conjugais incluídas) e isso teve como consequência logo, entre outras, as seguintes resultantes:
1. Casarem-se cada vez mais velhas, numa franca desarmonia com a realidade biológica que põe a mulher madura para "casar" aos 14 anos (em média).
2. Começarem a prática do sexo muito mais tarde agora, porque têm outras prioridades que atender.
3. Terem maior formação porque sendo sempre as protegidas dos pais, têm melhores condições de se educarem e graduarem.
4. Têm cada vez menos tempo livre para viverem as outras facetas da vida, que se foram desintegrando como as de presença diária (passeios, leituras, distrações lúdicas, teatro, cinema, viagens, sexo, etcetera) e as de periodicidade mais longa (férias, filhos em maior número, continuarem os estudos depois de casadas e mães, etcetera)
5. Como têm estatuto igual aos dos homens que, contudo, não participam na dupla jornada (os trabalhos domésticos) cabe a elas entrarem com o dinheiro, o trabalho, a maternidade, o cuidar dos filhos, o trabalho extra, cuidar das casas, etcetera, etcetera. Entretanto isso tudo nos faz refletir: Porque será que pagam este preço altíssimo, sem haver uma debandada para o estatuto anterior, o de sustentadas?
>>>Bem, essa lista de inconveniências poderia continuar, mas acho que já angariei suficientes inimigas, que irão aumentar em número com o reparo que a seguir vou fazer: Que escolha mais burra!
Por outro lado os avanços das diversas ciências, artes, técnicas e tecnologias, abriram-lhes imensos espaços, desde poderem controlar a possibilidade de procriar sem nenhuma inibição de sua atividade sexual, com a pílula anticoncepcional, até não terem mais que lavar os pratos, e realizarem outra grande quantidade de tarefas, com as máquinas de lavar, e, passando por uma infinidade de outras 'maravilhas' que geraram tempo e conforto, simplificando-lhes as vidas, mas não as libertando. Já que com esse novo tempo então disponível, passaram a trabalhar ainda mais. E buscaram standards (padrões de vida) mais altos e mais exigentes.
Volto a me questionar: Porque será que pagam este preço altíssimo, sem haver uma debandada para o estatuto anterior, o de sustentadas?
Dá que pensar! Não é? E a essa reflexão a que vos convido, já que evidencia que, certamente, haverá valores muito estimáveis para que tudo seja assim como é agora, e, como conclusão, teremos de obter uma resultante, uma e só uma razão central . Elas não estão felizes, estão exaustas, carentes de atenção e sexo, sem ter descanso, ou maior alegria. O que lhes motiva manterem-se nesse sucesso? Penso que há duas ordens de razão, uma de ordem real, e outra de ordem emocional, sendo mais imperiosa a segunda, pois vemos todos os dias as mulheres abrirem mão de uma série de regalias e vantagens, em muitas circunstâncias e ocasiões, para atenderem ao chamamento de seus sentimentos, de suas emoções. Façamos uma análise rápida:
a- Em qualquer atividade os homens praticam-na com uma superficialidade que não têm as mulheres, elas são muito mais empenhadas, comprometidas, e com o tempo atingiram graus de destreza e capacidades sobre-humanas. Vejamos que um homem para pôr um lençol numa cama expende quase o triplo das calorias que uma mulher (Um exemplo somático comprovável.). Com o tempo elas adquiriram capacidades fabulosas, que não são valorizadas, incluam-se as de liderança no trabalho e as do desempenho de tarefas profissionais. Se eu tivesse uma grande empresa só contratava mulheres.
b- A maleabilidade psico-emocional (aquela capacidade que inclui o que os ingleses chamam de cunning) eleva-as a um patamar de gerência de situações que nunca os homens atingirão.
c- A flexibilidade em desempenharem tarefas absolutamente diferentes em sucessão de desempenho, bem como de passarem de uma às outras sem necessidade de intervalos, habilitam-nas superiormente em relação aos homens, inclusive para a guerra.
d- Essa flexibilidade (física e mental) habilita-as também para a simultaneidade e seletividade em patamares muito mais elevados que o dos homens.
e- O envelhecimento mais lento, as predispõem à manutenção de capacidades e habilidades que se desqualificam nos homens muito mais precocemente.
f- A capacidade de percepção interior, comparada com às fracas capacidades de interiorização masculinas, e mais ainda as expressões exógenas de seu desenvolvimento intelectual e espiritual, como suas diferentes sensibilidades, criam fossos intransponíveis entre os dois gêneros, e cada vez mais a habilitação do feminino para tudo nesse mundo, e a desabilitação do masculino, ficando sempre e cada vez mais para traz.
Há muitos outros fatores a realçar, mas já vai longo o artigo. [Penso que com essa meia dúzia de pontos, assim frontalmente colocados, já devem-me ter arranjados inimigos do meu sexo que cheguem.]
Então voltemos à questão que é o cerne disso tudo, referenciada no título do artigo: A infelicidade feminina no mundo que re-escreveram a seu talante. Questão que foi colocada por mim nos termos desta pergunta que repito: Porque será que pagam este preço altíssimo, sem haver uma debandada para o estatuto anterior, o de sustentadas? (Ainda que a pesquisa deixe claro que entre 20 e 25% preferiria ser sustentada, será mesmo assim?)
O fato é que estão dispostas (não todas, mas a esmagadora maioria delas) a pagar, seja que preço for, por uma condição pela qual lutaram toda sua existência, condição que uma vez conquistada tornou-se vital, como o ar que respiram, como o alimento que ingerem, e não irão abdicar dela por nada, mesmo que isso represente todo o conforto e prazer que possam desejar, já que essa condição que lhes foi tolhida e cerceada por milênios lhes é o mais importante em suas vidas, esta condição vital que chama-se: livre-arbítrio.
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