O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
sábado, 18 de janeiro de 2020
Os franceses não são bons em integração.
Atendendo ao que afirma o título dessa crónica, os franceses não deveriam receber estrangeiros em seu país, muito menos árabes. É bem verdade que têm de pagar o preço da colonização, porque estiveram em muitos países como colonialistas, e, no refluxo da maré, agora têm de aguentar aos ex-coloniais 'franceses', porém a forma de ser e estar dos franceses não ajuda nada a qualquer tentativa de integração.
Conto-Vos uma história que vivi de perto, que passou-se com uma moça francesa/senegalesa, pai francês, mãe do Senegal, mulata portanto, culta, bonita, altamente preparada, com o garu de mestra na sua especialidade, dominando vários idiomas, e sem a mínima possibilidade de emprego. Passou-se em Pais há menos de dez anos.
A referida francesa de mãe senegalesa, que eu conheci nos subúrbios parisienses tendo ido a uma recepção a qual a moça também foi, tinha se graduado numa área muito específica, que penso não haver idêntica formação em Portugal, que é uma especialista em comércio exterior, onde sabe lidar com a papelada, sabe fazer os tradings, melhor dizendo as negociações, sabe estabelecer as pontes necessárias, e conhece todo o panorama e especificidades dos diversos países com quem a França mantém comércio regular.
Muito bem, pensei que ser negra era inclusive uma mais valia para lidar com muitos desses países, e é assim. Pensei que falar vários idiomas era outra mais valia, e é. Pensei que ser bonita e educada, era ainda outra mais valia, e estou em crer que é. A sua formação na Sorbonne, que levou quatro anos mais dois, porque fez a especialização, de nada lhe valeu. Depois como não arranjava emprego fez mestrado, e a seguir doutorado, com elogio da tese que defendeu, e nada. Foram anos, e toda a vez que eu ia a Paris, ia saber da minha amiga, e a encontrei desempenhando os mais diversos trabalhos, inclusive como atriz de teatro, no que era razoavelmente boa. Mas de seus Affaires Internationales, nada. Diria Piaf: "rien de rien..." Até que eu fazendo a retro-ação de várias de suas entrevistas laborais, para as quais havia sido selecionada, e nas quais era a mais qualificada de longe, fiz várias perguntas, e cheguei à seguinte conclusão. As empresas para as quais enviara curriculum com foto, tinha sido logo rejeitada, para as que não, foi a entrevista, onde, com desculpas diversas, recusaram a contratação. Era óbvio.
Disse-lhe, vou acompanhá-la como seu ex-professor à próxima entrevista que você vá. E assim fiz. Lá chegados, antes que ela se apresentasse, dei um jeito para saber dos currículos das demais candidatas, quando chegou a vez de sua entrevista, logo que a entrevistadora, que era uma senhora de meia idade, a viu, disse que a vaga tinha sido preenchida. Agradecemos, e fingimos ir embora. As entrevistas continuaram. A chamei de volta, ela que se tinha ido esconder no andar inferior ao da empresa, e, então, entramos de supetão na sala da seleção, onde outra entrevista estava se realizando. A Senhora que a conduzia, quase chorou, sem saber o que dizer. É crime em França discriminar uma pessoa por seu sexo, sua religião, ou sua cor. Estava feita a desgraça.
A senhora implorou para que não fizéssemos nada, que ela iria perder o emprego se denunciássemos, que ela não tinha culpa, que eram instruções superiores, e eram. Mas que eles a responsabilizariam, ela perderia o emprego, e não ia dar em nada, porque o posto já estaria preenchido de qualquer forma quando chegassem os inspetores do trabalho. E, se obrigados a contratá-la, passado pouco tempo acabariam com a função, para contratar outra pessoa com características similares, mas com alguma peculiaridade que incapacitasse a pretensão de minha amiga. O fato é que não queriam negros como empregado na empresa. E assim é com todas elas.
Isso é a França! Pagaram vinte anos de formação à moça. Duas décadas inteiras quando incluímos as pós-graduações, deram toda a esperança que se pode dar a uma pessoa, a fazendo crer que teria um futuro, e a França precisa de gente qualificada nesta área, e a moça tem as mais altas qualificações, a última vez que soube dela estava em Liège, com uma troupe em viagem. E fazem pior, deixam os negros aparecer em anúncios como esse dos soldes da Sandro, tudo em França faz parecer que há espaço para eles, mas não é bem assim. Os franceses deveriam, sabendo como são preconceituosos, dar melhor rumo àqueles que eles nunca conseguirão integrar, respeitando seu tempo, suas vidas, porque têm todo o direito em serem excludentes, apesar de tudo o que exclui é desagregador, o que não têm é o direito de enganarem as pessoas, como fazem, sendo a França um território de conflitos, e para os árabes em grande escala. Agora, com as ações jihadistas, atingiu um pico em que se manterá, porque ao não aceitarem os diferentes, criam um ambiente de fricção, gerando tensões que só pioram a sociedade francesa, que, por outro lado, também não os consegue excluir. Nada mais estúpido.
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