"MUCH ADO ABOUT NOTHING"
W. Shakespeare. 1600.
É da natureza humana lentes de aumento desnecessárias. Estão convocados sempre Benedick, Beatrice, o príncipe de Aragão, seu irmão bastardo, Balthasar, Cláudio, Leonato e, claro, sua filha, António... Bem, todos os originais da peça, e mais toda a Humanidade, que guarda esse perfil de tempestade em copo d'água, de grande celeuma por nada.
É o que se passa, mas uma vez o prolongando para além da linha do absurdo, posto que devemos aceitar tudo dentro dos parâmetros da razão, os que, então, uma vez ultrapassados, tornam absurdo e desconchavado tudo que esteja além, ou seja, para lá dessa linha, que são só disparates pegados, contrários a razão, situações que só podem dar prazer aos Trumps, Bolsonaros, Boris Johnsons, e Salvinis dessa vida. Todos os demais devem se horrorizar face ao que é mórbido, doentio, como essa predileção e insistência em cuidar do lado negro da pandemia, como se a vida estivesse suspensa até segunda ordem. Convoco aqui outros ingleses com sua fleugma tão admirável, os Monthy Pytons, para vos alertarem ao cantarem o "Bright side of life":
"Some things in life are bad
They can really make you mad
Other things just make you swear and curse.
When you're chewing on life's gristle
Don't grumble, give a whistle
And this'll help things turn out for the best...
Other things just make you swear and curse.
When you're chewing on life's gristle
Don't grumble, give a whistle
And this'll help things turn out for the best...
And...always look on the bright side of life...
Always look on the light side of life... "E voltemos todos a Messina, de onde se embarcava para Jerusalém à época das cruzadas, escolha de Shakespeare para essa peça, para notarmos que as ruidosas respostas às coisas imprevistas, são uma corrente elétrica que percorre os nervos libertando adrenalina, e, como explicaria Leonato, referindo-se a Beatriz: "There is a kind of merry war betwixt Signor Benedick and her."
Posto que as guerras, alegres, se é que o podem ser, ou tristes talvez, trazem sempre a
incompreensão consigo, evocando esse sentimento patológico em nós, como terror. E a
resposta é sempre a mesma: "Much ado about nothing." Um desgaste tremendo por ninharias.
Alguém deve lembrar o lado doentio dessa reação para que a evitemos, para que
compreendamos a brevidade de todas as coisas, o que faz com que não mereçam demasiada
atenção. São o que são, passam como tudo nesse mundo, deixam seu rasto, é verdade, mais
ou menos trágico, ou desgraçado, ou feliz, mas terminam, para que venha a seguir a
continuação da vida, o inevitável depois, como quererá Janus, seu guardião.
Curemo-nos desse mal, mais que tudo.
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