Absurdos tempos.
Chamo-lhes absurdos porque dá-se com um retrocesso histórico, não só voltamos no tempo, como repetimos os mesmos erros que sabemos que acabam mal. Já vimos esta extrema direita alvoroçada a pregar preconceitos, a escolher e apontar culpados, os de sempre, "os outros", seja quem for, os que forem convenientes de momento, os judeus, os ciganos, os de outra fé que não a nossa, os de outra cor de pele, preta, vermelha, amarela, qualquer que seja oportuna. Os culpados são sempre aqueles que podemos apontar como outros, por serem diferentes, seja em que modalidade for, não importa, bode expiatório deve ser bem visível e identificável, ou pela cor da pele, ou pela fé, ou pela etnia, melhor ainda quando essas coisas se podem juntar.
Mas já vimos tudo isso, desde a idade média até a segunda guerra mundial, e sabemos como tudo acaba.
Poderemos ser, ou estar, tão equivocados que iremos repetir o absurdo engano, o erro fatal que já cometemos tantas vezes?
Dilema aparente.
Esta a contradição que se apresenta em nossos dias, 75 anos apenas depois do Holocausto, pois já se esqueceram de tudo, e na primeira conjuntura difícil, sem saída satisfatória, escolhem os bodes de sempre para apontarem o dedo, e se juntam e formam em grupos, e vão para as ruas em protesto, e formam partidos FASCISTAS, eis a designação incontornável, uma vez que aí estão eles novamente a pregar por toda parte, até no pequenino Portugal, sem excluir a perigosa re-edição alemã da maldição nazista, ódios guardados, inimigos de eleição, insuflados por ventos de dificuldades várias que levam a reações irracionais, mais meia dúzia de estúpidos cheios de raiva, de Salvini a Trump, de Erdogan a Boris Johnson.
As alternativas que temos em momentos difíceis não podem ser fáceis nem agradáveis, e esta conjuntura é perfeita para fazerem vicejar os ódios, semearem os medos, pregarem a raiva, e apontarem como culpados os inocentes que estejam à mão, e são os de sempre. As angústias que vivemos se traduzem em oportunidade para uns quantos aproveitadores populistas, que encontram caminho perfeito para pregarem o ódio, que arrebanha multidões, e os conduza ao poder. Nunca conseguirei esquecer o que fez o povo alemão, dos povos mais evoluídos do planeta, porque a razão e origem da sua ação está em ter acolhido a raiva, o ódio e os complexos de uns quantos, orquestrados pela capacidade oratória de um demente, que contaminou toda uma nação, os inocentes foram muito poucos.
E estamos vendo o filme de terror em re-make, posto em cartaz novamente.
Verdadeiro dilema.
Como reagir a tudo isso os que têm juízo e responsabilidade em agir perante esta onda calamitosa da ascensão fascista que estamos vendo? Esse o verdadeiro dilema de nosso tempo! Porque o valor das instituições democráticas nos põe na encruzilhada de termos de escolher entre permitir o avanço do fascismo, ou restringirmos de alguma forma a democracia. Uma vez confrontados com uma patologia em nosso corpo temos muitas vezes que tomar medicamentos nocivos a outras funções de nosso organismo, mas é a única maneira de nos livrarmos do mal. Penso que com o corpo social passa-se o mesmo, teremos de tomar o veneno, o remédio amargo mister, para nos livrarmos dessa patologia que se espalha pelo planeta.
Confrontado com esse dilema, fui buscar a resposta na frase do Che, teremos que endurecer o processo democrático, restringindo algumas liberdades, afirmando que não aceitamos os preconceitos, o racismo, e todas as manifestações desse teor, restringindo certamente a liberdade de expressão, e proibirmos a formação de partidos que preguem qualquer tipo de segregação, mas estaremos fazendo frente a esse mal que se espalha, e que sabemos no que vai dar (spoiled, conhecemos o final do filme) e NÃO PODEMOS PERMITIR QUE ELE SE REPITA.
Dar a cara.
Quem será o primeiro corajoso, o destemido que sem medo de ser apontado como arbitrário irá actuar para estancar essa onda FASCISTA? Onde estará a sensibilidade necessária para liderar uma reação ao que vivemos? Ou se apresentarão outros Chamberlain, fazendo com que os Churchill não possam agir atempadamente? Este é o grande impasse que temos por resolver, sem medo, sem complexos, sem meias verdades. E, como Che, oferecer a solução: Temos que endurecer, sem perder a ternura (a democracia) jamais!
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