terça-feira, 8 de setembro de 2020

Sintonia.

 



O Coronavirus pôs-nos a todos a vibrar na mesma frequência, fez com que as pessoas se dividissem entre os prudentes e os imprudentes. Qual terá sido o grupo de maior número de adeptos? Os prudentes? Ou os imprudentes? A falta de sintonia com as medidas necessárias a combater um mal que nos toca a todos, e cujos efeitos podiam, e podem, ser observados diretamente nos seres humanos, revelou que só mesmo com o monstro dentro de casa é que as pessoas tomam alguma medida preventiva. Porém todos sabemos que com a casa arrombada já é tarde demais.

Assim temos duas partes da mesma fruta, sendo uma nitidamente menos proactiva e imprudente, assim como a outra metade, ou talvez só os 20% mais atentos actuaram, havendo portanto um alto percentual de descuidados ou ineptos. E, como todos querem se ver livres de um vírus que se revela mortífero, todos os recursos disponíveis foram canalizados para fazer frente à pandemia. Com a crise climática não é assim. A casa por mais arrombada que esteja tem sempre outros quartos para quem tiver recursos se ir escondendo do monstro que a invadiu, uma vez que a ação do monstro, apesar de constante e resoluta, se processa lentamente, onde muitos dos habitantes da casa já estarão mortos, livrando-se da insídia, os que morrerão nas garras do monstro serão os outros, e como ninguém quer arcar com os custos do problema em combater o monstro, vão todos empurrando com a barriga.

Todos sabem, mas ninguém faz nada, encadeiam soluções, fazem promessas, expõem o problema que se tornou tão evidente na sua vertente climática, que não pode ser ignorado, mas a turma do deixa disso, como se diz no Brasil, aqueles que preferem acumular o dinheiro necessário à combater o terrível monstro que criamos com a poluição ambiental, para a qual muitos alertam há quase um século, mas que os lucros em promovê-la, e a fuga aos custos em combatê-la, gerou um pacto de silêncio entre os interesses tão mais poderosos quanto espúrios, que só se verão expostos, quando o monstro atacar a estrutura da casa, ameaçando derruba-la e destruí-la totalmente, enquanto for arrebentando um quarto após os o outro, esse quarto será sempre o do infeliz vizinho, e eu, muito sagaz, terei me safado no quarto seguinte, na outra sala em que irei continuar vivendo com conforto e riqueza, e que se dane o vizinho. ATÉ QUANDO? 

Justin Worland é dos tais, assim como eu, eis alguma sintonia, que percebe que estamos no limiar da necessidade de agir contra o monstro insidioso, e avisa que temos "UMA ÚLTIMA CHANCE" contra o ser teratológico que prossegue em sua ação destrutiva, MONSTRO QUE NÓS CRIAMOS, e que por enquanto só tem exposta sua face climática, terrível e monstruosa face, mas que, mesmo assim, não nos faz agir com a intensidade e presteza mister, só quando virmos suas múltiplas cabeças, ficaremos suficientemente assustados e quereremos reagir rapidamente. Foi mesmo necessário que uma miúda de 14 anos, com um transtorno obsessivo-compulsivo, com crises que a leva a ficar muda por longos períodos, superasse sua doença para nos vir esbofetear a todos com a realidade que nos entra pelos olhos, a qual não somos capazes de enfrentar pronta e efetivamente. O Sr Worland, na capa da Time que mostramos acima, com seu terrível alerta para o fim que se aproxima, lugar desejado por todos os políticos, a capa da TIME, lugar que também a Srta. Thumberg já ocupou, o que mostra que há consciência, espaço mediático, e uma corrente preocupada com o problema, a corrente daqueles que baseados em estudos científicos, tomaram a resolução da Conferência de Paris, onde o mundo se pôs de acordo (no papel ao menos) mostrando a absoluta convicção de que o problema tem de ser enfrentado, que o monstro tem de ser contido, consciência que só alguns transformam efetivamente em ação, tendo-se ficado, a maioria, pelas palavras do acordo, e alguns mesmo o tendo rasgado, em virtude dos custos que sua implementação representa, e por ser necessário implementar medidas que não trazem votos.

O problema maior é que o rosto climático do monstro é apenas um dos muitíssimas que possui. Assim como a Hidra de Lerna, essa um monstro mitológico, o monstro ambiental tem muitas cabeças, portanto muitos rostos, que aparecerão, e ainda outros mais que á medida que o cortemos, problema após problemas, os ficaremos a conhecer em toda sua amplitude, como o plástico, a consumada poluição que se infiltra em tudo que existe, com as suas cada vez mais pequenas partículas, que passam a fazer parte de tudo, com sua eternidade duvidosa que tudo invade e contamina. Criamos o monstro de mil faces, meus caros, e ele nos devorará!

Aos poucos sintonizados, peço que a dureza de minhas palavras não os faça desistir, porque sempre, apesar de tudo, é melhor morrer lutando. Quem sabe não poderemos encontrar misericórdia? 







 



 

 

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