O blog O Olho do Ogre é composto de artigos de opinião sobre economia, política e cidadania, artigos de interesse sobre assuntos diversos com uma visão sociológica, e poesia, posto que a vida se não for cantada, não presta pra nada. O autor. Após algum tempo muitas dessas crônicas passaram a ser publicadas em jornais e revistas portugueses e brasileiros, esporadicamente.
sexta-feira, 12 de maio de 2023
A Santa Isabel da Capela da Misericórdia de Alfaiates - Guarda, Portugal.
ESTUDO CLASSIFICATÓRIO.
A capela é românica, o que significa que nos mais de setecentos anos que tem esta capela, tudo pode ter passado ou acontecido, e pouco ou nada, além das pedras restará de sua orígem. Logo por aí não vamos a lado nenhum.
A devoção Santa Isabelina.
Informado de que a tradição situa nos primórdios a devoção taylorense à Santa Isabel de Portugal, a Franciscana, Isabel a infanta Aragonesa (1279 - 1336), Rainha de Portugal, Promotora da paz, devoção esta que terá começado mesmo antes de sua canonização que é de 1625 por Urbano VIII, e que inspirou o magnífico quadro de Zurbarban feito dez anos após a canonização para as coleções reais espanholas, pintor que também retratou sua tia-avó para as mesmas coleções, e que se encontram no Prado, cuja imagética é suposta, assim como as das muitas talhas e pinturas que dela há, visto não se cofísiconhecer seu aspecto. Veio para Portugal com nze anos, sendo portuguesa para os portugueses. Devoção muito regional, bem entranhada em Coimbra, na tradição Clarissa, sem votos, quando ficou viuva, indo viver no convento daquela cidade, capital do centro português, como a chamo, onde Santa Isabel viveu até sua morte, podendo hoje ser vista incorrupta em seu túmulo de prata e cristal naquele mosteiro de Santa Clara, a nova. A devção da Santa portuguesa também é dedicada ao maravilhoso tesouro de seus pertences que nos deixou, e estão nas coleções do Janelas Verdes, que mereceu especial expsição nos meados do 2016(1), quando veio da Gemäldegalerie, Berlim, o magnífico quadro de Quentin Massys (1466 - 1530), o fabuloso pintor belga que a retratou, também imaginadamente.
A tradição imagística. Iconografia. Atributos.
Santa Isabel é sempre retratada coroada e com as rosas de seu milagre, sem nenhuma outra característica que a identifique, do mesmo modo que sua tia-avó, Isabel da Hungria (1207 - 1231 ou 17 - 41 ?) igualmente 'rainha' Duquesa da Turíngia, e igualmente santa, tendo feito milagre idêntico, com história igual e iguais termos e relatos(5). Canonizada logo após sua morte, em 1235 por Gregório IX, tem grande devoção por todos os países, sendo a padroeira da Ordem Franciscana. Somente há a diferença na palma e no livro, sendo a folha do tamareiro, palmeira fenix como a chamam, antigo símbolo de martírio, e um livro que carrega na mesma mão que significa a sagrada sabedoria, assim como um pergaminho. São esses os dois atributos de Santa Isabel da Hungria, que não são, também, de sua sobrinha-neta. Sendo a Isabel de Aragão canonizada quase três séculos após sua morte.
O Ceptro.
Quando do cisma protestante do princípio do XVI, os príncipes alemães questionaram Lutero sobre a sua igualdade com o Imperador - Imperador do Sacro Império Romano Germânico - ao que Lutero respondeu que haveria uma inquestionável preeminência do Imperador. E declarou que os 'Landgraves' não deveriam usar ceptro e corôa (3). Era uma época de grande convulsão, sobretudo na Igreja Católica Romana, e logo em 1534 dá-se o cisma Anglicano, de Henrique VIII, que demarcanddo-se dos outros cismas protestantes, assume a Santa Isabel da Hungria como Veneranda, quando ganha a representação com o ceptro curto dos landgraves(2) na mão esquerda preferencialmente, como também na direita.
Diferentes iconografias.
Muitos santos apresentam diferentes iconografias a simbolizar diversos momentos de sua vida, ou mesmo depois dela, como é o caso de S. Tiago Maior, que aparece montado a cavalo, como o Mata-Mouros da batalha de Clavijo, onde terá sido visto nesta configuração. Por isso é muito comum haver confusão na identificação hagiológica.
Em Isabel de Aragão a mais comum é a de Rainha com as rosas em seu colo, com corôa, ainda que muitas vezes sem a corôa, com ou sem um livro de horas, dos anjos e do baldaquino, porém também há a com hábito de Clarissa, com ou sem a esmoleira à cinta(4) como está com, em seu túmulo jacente, túmulo que apresenta ao seu redor várias das representações iconográficas da santa, como também segurando ou não um cruxifixo na mão direita, bem levantado acima da cabeça, com ou sem as rosas em seu regaço, e ainda como peregrina, com a vieira santiaguista, ou caminhante, sem a vieira, também com ou sem o bordão(5), mais empregado nas pinturas(6), e num raro caso com uma rosa na mão direita, imagem do sáculo XVIII, que se encontra na Paróquia de Santa Luzia, em Gardenia Azul, Jacarepaguá, Rio de Janeiro; mas nunca com ceptro, que as rainhas portuguesas não usavam.
CONCLUSÃO.
A imagem que se encontra na capela de Alfaiates, é uma representação de Santa Isabel da Hungria, com o ceptro curto dos 'Landgraves, talhada em madeira do barroco tardio, feita no último quartel do século XVIII, belissima representação, ainda com a policromia original.
(1) O tesouro da Rainha Santa - Imagem e poder. MNAA 2016.
(2) Ver Quentin Skinner em "As Fundações do pensamento político." " que o rex não se converta em sacerdos"
(3) "O Senhor estenderá de Sião o ceptro do teu poder * ... muito jovem foi dada em matrimónio a Luís IV, landgrave da Turín- gia, e teve três filhos." Liturgia do mês de Novembro.
(4) Cultura vol 27, 2010 - página 63.
(5) Ver também a Dissertação de Doutoramento que se encontramos a realizar, com bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia, tem por título O Género Feminino – A representação da mulher na escultura medieval em Portugal, Leão e Castela (séculos XII a XV) e é orientada pelo Professor Doutor José Custódio Vieira da Silva (FCSH – Nova de Lisboa) e co-orientada pela Professora Doutora María Etelvina.
(6) Revista Arautos do Evangelho, Julho/2007, n. 67, p. 22 à 25)
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