Um livro e uma caneta...
e uma vontade.
Depois de ter ano passado apostado na interdição das armas químicas, este ano o Comité Norueguês veio apostar no Direito das Crianças, estas indefesas criaturas que são tantas vezes, abusadas, exploradas, escravizadas e excluídas, que têm surgido na atenção mediática deste terceiro milênio pelas piores razões.
Malala uma criança que pagou o preço da exclusão e soube pela força das suas palavras fazer-se incluir ao mais alto nível. Malala que ao saber falar, prova a força das suas ideias e prova que a caneta é mais poderosa que a espada, confirmando o velho aforismo. Malala que por ter o pai que tem, saiu inteira de um episódio que costuma amputar a alma, quando não retira a vida de quem é exposto a ele. A força moral hoje no Paquistão conquistou um aliado fantasma poderosíssimo: A força de uma vontade, uma vontade que não se cala.
Kailash que na mesma ideia de que criança deve estudar, opondo-se ao trabalho infantil, tem denunciado esta exploração por todo o mundo, tendo retirado milhares de crianças desta triste condição. Com o seu BBA, o movimento de salvação das crianças por ele criado, começou uma luta árdua e difícil, que requer uma paciência imensa, e uma persistência ainda maior. Também amanhã terá ainda mais autoridade moral para este rude combate.
No Nobel que pela primeira vez foi atribuído a uma criança, o comité reúne também, pela força do destino, dois países que já foram um, e que a incompreensão separou, ritualizando assim inesperadamente a voz de mais de um quinto da população do planeta ali reunidos, representados por uma menina e um sexagenário. É um pouco como se Gandhi revivesse nessas duas almas.
Este Nobel da Paz de 2014 que para sempre ficará recordado como o Nobel das crianças, estas mesmas crianças que o Papa Francisco chamava ontem a si no mais puro critério cristão, estas mesmas de todo o mundo, como o líder dos guarda-chuvas de Hong Kong, Joshua Wong, da mesma idade que Malala, traz-me uma inquietação e uma esperança, que em sendo dois sentimentos opostos, neste caso são um, e uma mesma coisa : A inquietação de ver que quase sem mais remédio, este Direito tão menosprezado tenha de ser ainda clamado e reclamado, até pelo próprio agente passivo de sua violação. E a esperança é ver que, mesmo na condição de excluídas, as vozes que não se calam vão vendo seus Direitos reconhecidos e afirmados contra a sanha da estupidez dos que as querem suprimir.
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