Há um programa na SIC Notícias
chamado Sociedade das Nações, que tinha dois apresentadores e passou a ter um.
Um equivocado apresentador que através de sucessivas tolices vai ganhando a sua
vida, e também vai trazendo com seu conhecimento e interesse muita informação útil,
inclusive a que emerge da fala de seus entrevistados. Tendo melhorado muito a
sua postura tola e presunçosa, falta agora melhorar a qualidade da informação
que passa, sobretudo aquela que depende exclusivamente de se preparar para
fazer uso da palavra. A palavra que é sua arma, a palavra que é seu veículo, a palavra que é seu bastião.
Num programa em que entrevistava
o Prof. Watanabe, discutindo basicamente os dois gigantes orientais,
interessante entrevista, termina com a recomendação de uns quantos livros, como
habitualmente faz, e para dar uma nota interessante, válida, direi mesmo
valiosa, inclui um CD nas recomendações, procurando que este seja relacionado
com o assunto tratado no programa. Até aí tudo bem. Porém neste programa por não
encontrar CD que se alinhasse, ou que referisse o assunto do programa, inventou.
Escolheu o adorável CD do
saxofonista Ernie Watts, que, com Gilberto Gil cantando, o produziu, e entre as músicas
que lá se encontram, está uma composição de Gilberto Gil que cresci ouvindo,
intitulada Oriente, onde
referindo-se ao Japão (verbis) :
« Considere rapaz a possibilidade de ir pro Japão / Num cargueiro do Lloyd
lavando o porão» cuja estrofe inicial é : « Se oriente rapaz pela constelação
do Cruzeiro do Sul » enseja que o "rapaz", a quem apela na música, oriente-se, já que toda a letra
pede que o “rapaz” se oriente, que tome rumo, que saiba o que está a fazer, e o que deve
fazer. Senti-me bem tentado a dar esta recomendação como título deste texto, mas como
não quero dirigir-me diretamente a este apresentador, se não comentar as circunstâncias
da ignorância de assuntos de que tratam muitos, que tendo a missão de informar,
são rapazes que desorientam-se, escolhi outro título, que vinculado à segunda
gafe, tem este caráter mais abrangente.
A palavra oriente que não é empregada absolutamente, aqui na música, portanto seria com minúscula, o que poderia ter causado confusão, mas que é empregada em tempo verbal, como é evidente, então vale dizer que é conjugação
do verbo orientar, que, aliás, no Brasil é mais utilizado em sua forma
pronominal. Desorientadamente afirma o apresentador sobre Gilberto Gil (verbis): «…que nesta composição fala essencialmente sobre a necessidade de chegar ao Japão. » uma terrível
ignorância do que propõe a música, enfatizada pelo ar pomposo, que teima em
manter, tendo melhorado nisto conforme afirmei, e pela expressão «essencialmente», uma lástima.
Não satisfeito com tal engano lê
o título do CD, afoxé, com uma pronúncia descabida , de quem não conhece mesmo
do que fala. E eu acredito que uma pessoa só deva falar do que conhece. Diz
afoksé, por afoxé (pronuncia-se afoché) o que evidencia que não fez seu
trabalho de casa, passando péssima informação ao público português, que não tem porque
conhecer as palavras afro-brasileiras, no entanto um jornalista, que as queira usar, sim, as deve conhecer.
Poderia ter registrado na
apresentação do CD, ótima recomendação mesmo não tendo nada a ver com o
Oriente, que os afoxés são um ritmo musical, cujo nome deriva de um instrumento
de mesmo nome, sendo termo de origem Yorubá, significando depois o candomblé de
rua, que é como um bloco carnavalesco que sai, em geral com os membros do terreiro
onde se origina, como quer meu amigo o Professor Raul Lody. Poderia ter dito
que o primeiro afoxé que saiu no ano de 1885, chamava-se Embaixada de África,
seguido pelos Pândegos de África no ano seguinte, tendo começado por Salvador
da Bahia e que tem, desde então, se espalhado
por vários locais do Brasil, sendo o último
de que tive notícia, a cidade de Macaé, o T’Ogun laxe (diz-se laché). Deveria ter conhecimento, e poderia
dar notícias, dos famosos, e cantados em prosa e verso, Filhos de Gandhy, e Olorum Baba Mi, poderia ter dito muitas coisas, menos afoksé.
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