terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Como vampiros.







Zeca Afonso compôs e cantava uma canção chamada Os Vampiros que dizia: "Eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada."e só ela me vem a cabeça quando vou analisar os números que Davos explicita com grande veemência.

Dezoito por cento para 99%, e 82% para um porcento, esses são os números, Davos os exalta, essa distorção absurda, essa contorção da realidade, essa violência ignominiosa feita a toda a Humanidade, onde 1% dela tem o controle absoluto de quase tudo que existe, onde essa absoluta minoria de 1% domina 82% de tudo que existe, de toda a riqueza, de tudo que é produzido, desde o leite que sai das vacas, até os mais complexos computadores que saem das fábricas, passando evidentemente por todos os materiais, produtos, dinheiros e alimentos que faltam á imensa maioria das pessoas, 99% delas, que só têm acesso aos restantes 18% de toda a riqueza,  para gáudio, para a pândega desta concreta minoria que controla todo o resto - são 82% de tudo nas mãos de 1%, excluindo os outros 99%.

"Eles comem tudo e não deixam nada" é o única raciocínio que pode resultar ao refletirmos sobre a incongruência dessa desproporção resultante de uma lógica da própria natureza do sistema, que é preciso contrariar. Como nada se faz sem capital, e esse, por sua própria natureza, se acumula cada vez mais nas mãos de uns poucos, devido a quem tem capital, serem os que tem capital, e, evidentemente, são sempre os mesmos, aqueles que lucraram com seus investimentos anteriores, aumentando o seu bolo, e como o rio sempre corre para o mar, eles irão repetir a façanha gerando sempre maior concentração de capital. Os investidores não têm culpa, pelo contrário, até fazem muito bem em investir, pois criam riqueza e empregos, e sempre essa riqueza é taxada produzindo mais escolas, mais hospitais, melhores condições sociais, longe de mim criticar de que maneira for aos investimentos, e também compreendo perfeitamente essa tendência para concentração que o dinheiro tem, pois como tudo se faz com dinheiro, só quem o tem o investirá, gerando mais dinheiro e passando a abarcar também aquela nova área de investimento, numa sucessão infinda de negócios. Então que fazer?

Antigamente como rareava capital, exatamente ao contrário de hoje, em que há capital a mais, para se fazer uma empresa eram lançadas vendas de debêntures, de ações, de títulos que permitiam a subscrição pública a muitos pequeninos aforradores para formar um grande bolo, uma grande quantia,  dispersando o capital do empreendimento que começava por muitos pequenos investidores. Em Inglaterra milhões de pequeninos investidores eram donos de empreendimentos em locais longínquos do mundo, desde plantações de chá no Himalaia aos canais no Egito e no Panamá, razão de haver tanta gente com recursos na Inglaterra, porque a riqueza se espalhou em muitas mãos, e foi assim que se consolidou uma classe média com capital investido, com rendas e com boa situação financeira, muito para além da que lhes poderia proporcionar suas reformas, por isso podiam cuidar de seus jardins, fazer colecionismo das mais variadas coisas, ler e escrever livros, viajar por todo o mundo entre outras coisas.

Deveria ser lei que as empresas tivessem disperso um percentual alto de seu capital em bolsa, o que em nada impediria aos seus criadores de controlarem as 'suas' empresas, posto que  mesmo com o capital muito disperso se pode controlar uma empresa. Basta apenas com um quarto dele nas mãos de um grupo para esse a poder controlar. Se obrigássemos a que 75% do capital de todas as empresas fosse disperso por pequenos investidores, onde cada um não pudesse adquirir mais de meio por cento de seu capital, e que todos tivessem parte de seus fundos de pensões constituídos dessa maneira, e assim como há taxações altíssimas do capital, que desestimulam os investidores, porque metade, às vezes mais, de sua riqueza vai para impostos, com o suposto intuito de promover justiça social, com as altas dispersões à cabeça, aquando da criação das empresas, essas dispersões sim criariam verdadeira justiça social, e os impostos poderiam baixar, desse modo, inclusive, as pessoas precisariam menos do Estado, como se passa ainda hoje em Inglaterra, como referimos, porque há mais riqueza nas mãos de cada cidadão. Também com essa medida as bolsas de valores deixariam de ser os casinos que são hoje para cumprirem a missão para que foram criadas, realizar capital, distribuir riqueza.

Essa a única maneira de contrariar a tendência natural do dinheiro (do capital) de se condensar, de se multiplicar sempre nas mesmas mãos, dando oportunidade para todos de fazerem sua poupança-reforma, de irem a pouco e pouco construindo sua velhice, ou sua riqueza, dependendo do grau de investimento de cada um, promovendo justiça social desde a multiplicação original do capital, diferentemente do que se passa hoje onde há cada vez maior concentração, maior injustiça, maior descontentamento: com os pobres a criticarem os ricos por serem ricos, e os ricos a criticarem os governos por morderem-nos muito forte, com os governos a criticarem toda gente por quererem fugir aos impostos. Então sem que apenas uns poucos viessem "chupar o sangue fresco da manada" poderia haver melhor futuro.


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