quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Maria Teresa Horta sócia do Real gabinete.






Minha amiga  Maria Teresa Horta foi distinguida sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura, merecida delicadeza e prerrogativa que se lhe atribuem os membros daquela distintíssima instituição brasileira

Da honra merecida não se discute, prendo-me na imaterialidade da atribuição, posto que Maria Teresa nunca irá caminhando pela praça Tiradentes em diversos dias, pisando as mesmas pedras portuguesas, iguais às de seu país natal, e ao passar por lá saudar D. Pedro com seus índios, chapéu ao alto destapado em gesto largo, no seu garboso alazão, alegre ou não, no convívio central da carioca, e imbicar pela Rua do  Teatro, e tendo passado por ele, o João Caetano, donde saí preso duas vezes, a primeira no protesto estudantil de 1974, e aí então poder ver no escaparate o que está em cartaz. E não saberá certamente que João Caetano foi um menino de Itaboraí, antes de ser o grande ator dos finais do XIX, e talvez também não saiba que esse teatro, hoje com o nome desse ator fluminense, era o antigo São João em homenagem ao Rei que o construiu, e que também foi seu, dos ancestrais de Maria Teresa, que alguns viveram no Rio, e que ali Tiradentes, a praça, era o Rossio, o antigo Campo de São Domingos transformado, depois  Rossio Grande, numa referência ao Rossio de Lisboa, e que depois foi o Largo do Polé por conta do pelourinho que ali havia, e sendo a seguir muito conhecido como o ‘ponto dos cem réis’, em razão do custo dos bondes que ali faziam ponto final, aos quais Maria Teresa certamente preferirá chamar elétricos, ainda que os primeiros que por ali passaram e fizeram ponto, fossem puxados por burros. E nesse ambiente, decerto notará que ele muito se assemelha, não topograficamente, mas espiritualmente, ao do espaço que vai do Alecrim à Nova do Almada pelo Chiado dentro, com suas livrarias, teatros e cafés.

Mas finalmente entremos pela Rua do Teatro com sua forçada curva, sem prosseguir por ela, para pronto ganharmos a primeira a esquerda, podendo logo ver ao fundo desta na qual entraremos, de chofre, o imponente prédio do Gabinete de que agora é sócia, tendo ainda que, caminhando um pouco mais, irá atravessar a Luís de Camões, pois que o Real Gabinete fica do outro lado desta rua, transversal da avenida Passos, e que é a homenagem da carioca ao grande poeta, que inspirou a todos nós, com o qual Teresa se identificará, lusitano como ela, poeta como essa mulher que ora homenageiam, mal sabendo eles que os terrenos onde tudo isso se passa, no coração da homenagem, foram outrora pântano, como são os intrincados terrenos da história, pois que estes pântanos que D. João, o nosso príncipe regente de tão boa memória, o sexto desse nome como rei de Portugal e o primeiro como imperador do Brasil, mandou dragar e sanear, tornando-os aptos para a construção de seu planeado teatro no amplo largo do Rossio Grande, onde as carruagens diversas podiam estacionar durante as funções teatrais a espera de seus donos, já que estes terrenos eram pertença de  D. Beatriz Anna de Vasconcellos, que vem ser parente de Maria Teresa Horta na ancestralidade da grande Dona Leonor Tomásia de Lorena e Távora, que era neta do Primeiro Duque de Cadaval de quem Beatriz Anna também descende.

E lá no Real Gabinete, e esse Real é do Imperador Pedro II, último Bragança a reinar nesse mundo, uma vez tendo entrado no magnífico edifício que lhe lembrará Lisboa, com sua riqueza e fausto, com suas fabulosas bibliotecas, e ao dizer Lisboa, digo Mafra, digo Porto, digo Coimbra, poderá pedir entre dezenas de edições e estudos críticos, a edição prínceps de ‘Os Lusíadas’, ‘As Ordenações de D. Manuel’ de 1521, saber d’ ‘A verdadeira informaçam das terras do Prestes Joan’, de 1540, ou consultar o manuscrito do ‘Amor de Perdição’ de Camilo, ou outra escolha entre as mais de trezentas e cinquenta mil obras a seu dispor.

Tendo ali, naqueles pântanos, parte de seu passado, podemos dizer que Maria Teresa Horta, sócia do Real Gabinete, assim sendo, o é, e nada mais justo, quanto mais não fosse por ainda inumeráveis outras razões mais relevantes, que o Real Gabinete Português de Leitura da Mui Leal e Heróica Cidade do Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, tenha concedido à menina Maria Teresa da Mui Nobre e Sempre Leal  Cidade de  Lisboa, Felicitas Julia Olissipo, o título de sócia honorária. E, direi eu, Mui ilustre Sócia do Sempre Mui Nobre, Mui Heróico, e Mui Leal Real Gabinete Português de Leitura, e leitura é tudo o que querem os autores, como Maria Teresa, certamente.

Nada mais a propósito!


  

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