sexta-feira, 30 de maio de 2014

DISCRIME: BENEFICIAR O INFRATOR.






Meu pai dizia que a rapidez e a eficiência da punição é que determina que o pecador não peque, que o criminoso não cometa mais os crimes, e, acrescento eu, que o infrator não reinscida. A tolerância e o perdão são benesses que pertencem aos não reincidentes, àqueles que tendo transgredido, tendo pecado, se arrependem, por isto a Lei acolhe a figura do arrependimento eficaz, porque há pessoas que, após terem errado, caem em si e se arrependem, e, portanto, são merecedoras de uma tolerância, de um benefício proporcional ao seu arrependimento.


Certamente este não é o caso do governo atual de Portugal, que tendo infringido a Lei várias e reiteradas vezes, tendo, portanto, sido punido, e  obrigado a desfazer o erro cometido, não se arrepende, acreditando-se acima da Lei, e reincide no mesmo erro já apontado e punido, no intuito de mostrar a 'inconveniência' da Lei segundo seus critérios, e torna a pecar, acreditando estar no pecado a justeza de seus propósitos, a bondade de suas intenções. Não ver ou não querer ver os limítes que a Lei impõe, creio ser mais grave do que infringi-la involuntária, ou ocasionalmente, uma vez. Este govêrno é reincidente, violador contumaz de princípios, não respeitador da Lei, indisciplinado e deliberadamente infrator. Isto irá até onde?  

É muito difícil por cobro a quem, tendo os meios e a vontade, viola sucessivamente princípios que acredita serem impecilhos a seus objetivos. Esta atitude é grave, é criminosa quando dolosa, e mais grave e mais criminosa, quando a Lei violada é a maior de todas : a Constituição da República. 

Reiteradamente o Tribunal Constitucional consultado tem indicado a inconstitucionalidade das medidas tomadas pelo atual govêrno português, ordenando que as mesmas não prossigam, e, mesmo quando é tolerante e didático, não deixa de considerar, tendo em atenção a urgência e exepcionalidade da situação, da infração, e de sancioná-la e emendá-la repondo o Império da Lei. Além da questão que ficou acima: «Até onde pretende este govêrno repetir a sua infração e desrespeitar as Leis?» ficam duas outras muito pertinentes e muito clamorosas, que devemos analisar. A primeira é a da idéia que dá título a este artigo: Entendendo-se que vivia-se um momento exepcional, uma conjuntura extraordinária, o Tribunal Constitucional demonstrou sua tolerância aceitando a violação da Lei, a infração, face a referida exepcionalidade, advertindo das diversas situações que estavam envolvidas tanto na violação, quanto na tolerância, dando as instruções do que deveria ser feito para que as medidas fossem de justiça. Beneficiou assim o infrator tendo em conta o momento difícil e inusitado que se atravessava. Reincidirem na infração e em outras de igual calibre é que é o busílis e não pode, não deve, não merece ser tolerado e beneficiar de qualquer tipo de margem, face a vontade de 'pecar' do infrator. A atual tolerância que teve o Tribunal Constitucional em não fazer retroceder ao início da infração (o corte nos salários)  aceitando um meio semestre de crime, é o que não é aceitável por várias razões. 1ª. Os reincidentes não podem beneficiar de tolerância. 2ª. A tolerãncia é, neste caso, como um prêmio ao infrator. 3ª. A Infração contou com o patrocínio do  mais alto magistrado da nação. 4ª Face da razão anterior, verifica-se um conlúio que o torna ainda mais inaceitável, quando a função maior deste magistrado, o presidente da República, é fazer cumprir a constituição que ajudou a violar. 5ª. A Urgência desapareceu pois após três anos, havia e há outros meios, outras medidas possíveis, destarte evitando a reincidência. 6ª A tolerância retira a maior razão de ser das Leis e Tribunais, que é, como dizia meu pai, fazer com que o pecador não peque, deseducando-o. 7ª Permite que os prejudicados e circunstantes desacreditem da eficiência das Leis, atribuindo até alguma razão ao infrator, o que não procede. A outra questão é : Como pretendem resolver esta situação exepcional sem uma ampla re-discussão das prioridades do país em virtude da sua nova e inusitada situação, com uma dívida que caminha para os 140% do PIB, e não para de crescer, tendo que ser reposta nos 60% do PIB?


Os iluminados repetidamente sancionados, e repetidamente infratores, ao beneficiarem de tolerância, continuam a fazer o que sabem fazer melhor : Como bombeiros, e é meritório o trabalho dos bombeiros, vão de fogo em fogo apagando-os, até que ninguém mais tenha casa onde viver, por terem ardido todas. Resta-nos saber : Quem vai reconstruir as casas incendiadas? Quem vai refazer o edifício do Estado?










quarta-feira, 28 de maio de 2014

Uma missa negra.



 
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Quem viu as declarações do Papa à imprensa, ainda no avião, nesta viagem à Terra Santa, viu a cara do porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, que apesar de moderno, mente aberta, provincial dos Jesuítas em Itália, homem que ficou quase 12 anos nas telecomunicações, mesmo assim fica assustado (imaginem os outros) impressionado com Francisco ter comparado a ação de quem age como pedófilo, desencaminhando uma criança que dele esperava  o divino, ser uma missa negra, ou seja cultuar o demônio, entregar-se ao mal - a mim a comparação parece ótima -mas certamente causará escândalo nos meios eclesiais, porque a verdade nua e crua como a coloca Francisco, incomoda, fustiga, revoluciona, ilumina, e, ademais, confronta a califasia, a afetação e a hipocrisia dos meios da cúria e dos antecessores de Francisco no cargo, com muito poucas exceções. Francisco é mesmo um homem para o século XXI.

Volto a escrever sobre o Papa atual, eu o mais distante dos católicos que alguém pode ser, o mais incrédulo quanto aos sistemas e mais ainda do sistema que tem o encobrimento como única resposta possível em virtude da inimaculável imagem da Igreja católica, porque acredito no Papa Francisco, não por ser Papa, mas por ser Homem, como raramente costumam ser os que ocupam cargos cimeiros neste planetinha azul. Acredito em Fancisco pela sua verdade. Esta resposta da missa negra veio na sequência de outra em que entendia que o assunto do celibato é materia para ser discutida na Igreja, pois não é matéria de fé. Esta sua postura aberta o faz maior, é esta sua resolução de não fugir do mundo, como fizeram quase todos os papas, porque o mundo, esta obra de Deus, é, na verdade, seu último objetivo, e dirigir-se a ele, é não faltar a sua convocação nas matérias que o afligem, não se excusar por detrás da barreira forte e intransponível da coisa divina, é tansformar a coisa divina na coisa humana, posto que o divino ao humano se dirige, esta sua forma de estar é que o eleva a um nível que eu nunca vi em outro papa. A Igreja de Deus é para os homens e neles se realiza, já que quando duas ou mais pessoas se reúne em Seu nome, lá está Jesus, lá é a Igreja, lá está a Igreja, que dos homens não se deve esconder. Francisco não se esconde, e esta sua visita a Jerusalem, deu a prova provada disto. O significado em cada gesto seu espontâneo e verdadeiro, quase mundano, gestos quase mundanos, para que a sua espiritualidade seja plena e atinja seus objetivos. Grande Francisco! 

Desde os lugares onde parou, como se dirigiu às pessoas, sua prova de amizade e afeto à todas as religiões, traduzindo-as nas suas amizades pessoais. Alguém já tinha visto um Papa com amigos, que o frequentassem? E, mais ainda, com amigos de outras religiões? Que beijasse mãos em vez de dar a sua a ser beijada? Não, só Francisco! Sou mesmo fã de carteirinha deste homem que Deus fez Papa em momento tão delicado como o que atravessa uma humanidade sem líderes, para mostrar que com verdade e sinceridade, sem califasia, sem afetação, sem presunção de ser um Rei, Príncipe entre os Príncipes da Igreja, mas o seu maior servidor, porque só quem vive para servir serve para viver, como diz a expressão popular, revelando que só o humano nos pode redimir e juntar. E nesta ideia de juntar está eclipsada a de rebanho perdido e disperso, o que nos leva à sua ação pastoral, que acredito deve ser a primeira e mais importante, sem a qual todas as outras ficam falhas e diminuidas, por não trazerem o cunho de verdade que tansforma todos e cada um dos seres humanos em alguém digno de respeito, o cunho do serviço.

Esta singularidade que se tornou Papa, porque  a Igreja já não mais podia postergar a limpeza, a grande faxina da qual carece a Eclésia com profundidade, que até a data não teve ninguém com a coragem e independência para fazê-la, e que num momento grave de penúria e resignação, que levou à renúncia de seu antecessor, sem motivações ou caminhos alternativos, os cardeais viram-se constrangidos a eleger esta esperança, por não mais poderem esperar, por não mais poderem postergar os problemas que roem sua casa por dentro, esta singularidade é mais que só a solução encontrada, é também uma proposta de futuro, exatamente por ter a coragem de o ser, na plenitude do que ser, possa requerer de um homem enquanto ser humano. Lançaram todas as espectativa nesta alma, jogaram na possibilidade de haver neste homem as condições necessárias a tarefa, e acho que com a graça de Deus, acertaram em cheio: Habemus Papam!

Gaudium Maximun à parte, o homem por trás da figura do Bispo de Roma, sempre tão fulgurante, é o que me importa, porque, é bem verdade que coagido por dois atentados à sua vida, tendo sucedido um Papa que sabe-se o fim que teve, e que com a escolha de seu duplo nome, na sequência do antecessor tão breve, igual, queria demarcar que iria fazer a tarefa que a morte impediu ao primeiro João Paulo de realizar, é também verdade que paulatinamente em seu longuíssimo episcopado, foi subsituindo quase todo o consistório e o futuro conclave que a sua morte determinaria, abrindo, assim, outras possibilidades, como acabou por ocorrer, independente do interregno bentista, mas, além disto, não teve a coragem necessária para tocar nos pontos fundamentais como faz agora Francisco, sem temer atentados ou a morte que deles pode resultar. Por isto já pedi, e torno a fazê-lo: Orem por Francisco ! Porém, como disse, o Homem com as sandálias do pescador, para mim, é mais importante que as sandálias, é mais importante que ser o Bispo de Roma, pois que essa posição transcendental requer, antes, convições e atitudes que só um Homem forjado na decisão e na fé as terá, para merecer calçar estas sandálias. 'Carpe diem Franciscus'!

Francisco tem demonstrado efetivamente ser este Homem, por ser mais Homem que bispo, e Homem aqui é empregado no sentido de humano, no sentido de ter sintonia com a humanidade e de representá-la primeiramente com a noção inapartável da Eclésia, mas que esta só existe, porque existe humanidade. Ou seja, não há pastores sem rebanhos, e rebanhos em carne e ossos, não ideais, que numa acepção espiritual mereçam todas as preocupações e orações, mas na realidade do mundo não recebam as atenções e respostas esperadas da solidariedade, do amor, da caridade que revitaliza esperanças e, consequentemente, da fé. Sem ter ido a Lampeduza, sem orar pelos atingidos pelas guerras, em sua grande maioria não cristãos, sem denunciar a exclusão social, sem abjurar as faltas da sua Igreja, denunciando-as, sem, em Jerusalem, ter ido orar antes no muro da separação do que no do templo, sem estar presente nos temas fraturantes de nosso tempo indicando um caminho, sem ao falar de pedofilia, se ter lembrado de uma missa negra, Francisco não teria a dimensão que tem, congrassando a dimensão de homem, de lider e de pastor, sendo uma missa branca e luminosa contra as missas negras que escurecem nossas vidas.





terça-feira, 27 de maio de 2014

Tirar as consequências das eleições européias.





Estranha, muito estranha, a Europa sem rumo! Mas é assim que se encontra, como um barco que, à deriva, procura uma luz que o leve à costa para proceder a reparações, a Europa, e aí, bem compreendido, o sonho europeu de uma união, pode soçobrar por não ter aquilo que é básico numa união: coesão interna!

Coesão interna é uma força de união que se forma por cada uma das partes se sentir confortável no papel que desempenha, querendo o desempenhar, e atuando para se manter na condição em que se encontra.

A sabedoria popular clivou o anexim que afirma que «A União faz a força» pegue dois ou três gravetos e os tente partir, parti-los-á com relativa facilidade, reúna uma dezena e não os conseguirá partir. Porém quando você reune uma dezena deles, você  forma um feixe com esta união. A Europa com a reunião de 28 países não forma nada, exceto o que seja a própria União. Para que seja algo mais é imprescindível que a coesão desta União se expresse, ou seja, tenha uma força interior que, ao os manter unidos, os contenha em algo que os expresse. Falta à União Européia algo como aquele cordão que é posto ao redor dos feixes para os manter unidos, a este cordão podemos chamar solidariedade!

Quando você reune entidades autônomas e as quer mater unidas é absolutamente necessário que elas se congrassem em algo que as defina, para que elas, deixando, e continuando a ser o que cada uma delas é, se revejam nesta nova entidade que as une e as expressa em conjunto. Ou seja, apesar de serem quem são, abram mão de algo da sua individualidade para serem esta nova entidade que se formou. É assim por exemplo com uma família onde cada membro apesar de ser quem é, é no seu seio apenas parte, porque aceita a sua participação neste bloco, estando neste bloco, sendo  família, ele se anula um bocadinho, mas passa a ser algo forte e proveitoso onde ele se inclui. Só assim, com esta interação, se formam blocos unidos, famílias, grupos  onde há uma força de coesão interna que atua, porque há o laço de união que a propricia, aquele cordão que torna os gravetos, feixe.

As eleições para o Parlamento Europeu, uma entidade que, apesar de ter melhorado muito, é anódina, inexpressiva, ilusória, que apregoando representar todos os cidadão da Europa, não representa nada nem ninguém. Faz sentir a sensação de um parlamento sob ditadura, onde todos e cada um de seus membros estão reduzidos a serem 'yesmen' por que a discordância lhes é impossível, porque o verdadeiro poder de decisão não se encontra ali, eles figuram nos estamentos do poder, mas não resolvem nada, são só figuração. E dois terços da população consciente disto não se disponibilizou a dar seu tempo para eleger uma figuração, que irá progredindo a pouco e pouco, mas que ainda não os representa efetivamente.

Isto posto, o parlamento na Europa se demite daquela função de cordão de coesão, que tanto se busca, para que exista Europa. Logo pode-se admitir, pode-se permitir que em seu seio existam e convivam as mais difrentes expressões de individualidades que se possa imaginar, posto que nenhuma corrente se demite de seu caráter pessoal para fazer parte de algo que, os anulando, os funda, transformando-os em algo novo e restaurador, que realize o sonho europeu. Assim sendo, o sonho começa a morrer, contando já, num instrumento da sua constituição, dentro do próprio parlamento que deve formatar sua estrutura, um em cada cinco membros que lá estão para o destruir, que lá estão só para o corromper, para anular e aniquilar o sonho europeu, honestamente proclamando esta posição, que, diferentemente do enganador cavalo de Tróia, nada escondem, dizem claramente a que vêm, e proclamam sua intenção niilista, claramente desagregadora. E isto acontece porque a Europa está sem rumo, como afirmei, e está sem rumo porque este é o retrato consumado de suas lideranças. E isto gera por outro lado respostas políticas que querem assambarcar as propostas destas franjas, para, incluindo politicamente suas propostas, as excluir eleitoralmente, perdendo ideologia para ganhar eleições.

Assim encontramo-nos num impasse, a rua sem saída dos franceses, com a extrema direita sendo já um quarto dos eleitores manifestos, com o ressurgimento do Nazismo em vários pontos da Europa, já com ações físicas contra os Judeus, seu eterno alvo, às portas de Sinagogas, com um vetor desagregante e com uma quantidade de novas forças politicas se expressando, ainda que a maioria silenciosa, que acredito desejar este sonho bom de Europa, que suprime guerras e distorções e que bane estes fantasmas do nazismo, do xenofobismo, do totalitarismo e da imposição por ter força, para longe da Europa, se mantenha silenciosa, na expectativa de que surja alguém com pés e cabeça que naõ deixe este sonho morrer, não deixe este sonho acabar, para usar os versos do sambista, e, como conclui o sambista, para que isto aconteça é preciso que haja samba pra gente sambar, ou seja, que haja uma melodia que ponha todos no mesmo ritmo e que as individualidades assim motivadas participem e se revejam no projeto. O projeto da solidariedade que se transformou no projeto dos interesses e da farsa, da hipocrisía e da submissão, após Maastrich e Lisboa, assim é um projeto que acaba em sangue, não tenham dúvidas.

A igualdade dos números dos que se expressaram, e a esmagadora maioria dos que também se expressaram não participando da farsa, dão uma combinação perigosa e bloqueadora, como um cadeado trancando um portão de acesso, transformando em ingovernável a União, assim como muitos dos países que a constituem, como por exemplo Portugal (não digo Grécia, Chipre, França e Itália, porque estes já são não governados na expressão plena do termo, a algum tempo) que a repetir-se nas legislativas o empate técnico entre os partidos ditos do arco da governação, esquerda e direita, esta última com seu penduricalho de extrema, que pelo caminho de invisibilidade que assumiram as realidades partidárias na primeira análise dos resultados, que com cada força manifesta querendo manter sua posição, e mais fortemente na manutenção de sua cegueira pela ambição do poder, não viram e não querem ver, não se dando conta que este poder de nada serve ao país (servirá talvez ao recreio das ambições pessoais) pelo bloqueio administrativo que cria com a igual correlação de forças, inviabilizando as mudanças e o novo ciclo tão necessáriio, faz-nos lembrar-nos que nunca o Canto IV d'Os Lusíadas foi tão presente, trazendo à baila outro anexim que afirma que mais cego é aquele que não quer ver.

As instrumentalizações dos partidos que os foi lançando comodamente cada vez mais nas mãos de impreparados e incompetentes, muitos repesentando os interesses mais expúrios e inconfessáveis, e que permitiram que o poder nos partidos, que à seguir, eleitos, passam a ser o poder de fato, blindasse o acesso de gente interessada e válida, que passou a querer fazê-lo através de situação independente, ou constituindo outro pequeno partido que demorará a se viabilizar, desnaturando a hegemonia de ciclos alternantes de partidos que expressavam e garantiam a representatividade soberana. Criou-se um encilhamento, um coágulo, que impede a livre circulação do elemento vital que oxigene a vida democrática, necrosando o tecido político como um todo, mesmo que as franjas a juzante alternadamente invenenem e oxigenem pontualmente o tecido, o todo mantem-se em necrose, nem morrendo de vez, nem se revitalizando. Esta situação de forma mais ou menos grave, mais ou menos ativamente,  vem imobilizando todo o processso político europeu que subvertido e decaído em mãos dos interesses econômicos, já só serve à poucos dos que o constituiram.










quinta-feira, 22 de maio de 2014

Charles Aznavour no 22/5/2014.



« Pecar contra o corpo mas não contra o espírito!»
                       
                                                                                              À Charles Aznavour,
                                                                                                       'for me, for me....formidable!'
                                                                                                                  -- 90 anos --


« E portanto sem remorsos e sem arrependimento»
Meu caro poeta, digamos inteiros e prazenteiros,
Já que não temos mais vinte anos, e temos todo o sofrimento
Dos momentos de tristeza, bem como dos alviçareiros.

As marcas da intesidade da vida que ficaram,
Permanecem mesmo com a ablução da expiação...
«Porque vivemos nós?» os que restaram...
À busca de uma palavra, à busca de uma explicação?

Saber-se-á um dia? Ou é melhor retirar-se? Ficavas ou partias?
Desde que guardemos toda a dignidade...
Desde que não percamos a cara, mas com a idade....
Saber-se-á esconder as lágrimas «sob a máscara de todos os dias»?

O tempo de uns e de outros é diferente, como sabes!
«Os prazeres fora de moda», evaeceram-se.
Há só um ruido agora que já não parto e que já não partes....
Com os olhos meio fechados pelos quais perderam-se....

As loucuras, as orgias já não são mais
E quando o coração é uma prisão
E ficam «os dias ainda mais iguais e menos ternos»,
Para sem remorsos aceitarmos que não seremos mais...
Exceto os que, como tu, são eternos.

Espero mesmo que não tenhas esquecido nada,
Os amores, as escolhas e as lágrimas...
Os momentos sem respostas, a presença, o frêmito...
E mais que tudo a tua máxima das máximas:
«Pecar contra o corpo mas não contra o espírito.»

Morrer de amar meu caro 'chansonier', nada mais resta,
E sendo assim, porque não sei ser....
Devo, portanto, juntar-me à festa
Quando e porquanto nada mais se quer,
Que, então, neste dia te dizer
Somente: Bon anniversaire!




quarta-feira, 21 de maio de 2014

De ser como é.




Feliz  canta a menina...
A pomba arrulha triste,
O sabiá já canta alegre.
Cada qual é como existe!
Mas será fado, será sina
O que cada um persegue?



    A versão espanhola à pedidos:

                                                          Ya sea como.


                                                        Feliz, canta la niña
                                                        La paloma arrullo triste
                                                        El sabiá con canto alegre
                                                        Cada uno es como existe!
                                                        Es destino que ya  tenía
                                                        Y lo que cada cual persiste?


 E Por fim a versão francesa:

                                               Pour être comme il est.


                                            La bonne fille heureux chante ...
                                            Les roucoulements de colombes  tristes,
                                            La grive chante déjà gaie.
                                            Et ça est sort? Ou ça c'est le chagrin?
                                            Chacun est comme là-bas! Et fuit...
                                            Mais ce sera fado, sera le destin
                                            Qu'est-ce que chacun poursuit?      
                      
Um amigo sugere sem pontuação:


Feliz canta a menina A pomba arrulha triste O sabiá já canta alegre Cada qual é como existe Mas será fado será sina O que cada um persegue?


                                                   
Leia na secção Só poesia, mais poemas.
E leia os artigos de opinião do blog:
O Olho do Ogre.

terça-feira, 20 de maio de 2014

" E o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão"





Há ritmos da vida que são longos o bastante para demorar muito a nossa percepção deles. Muitas gerações foram necessárias, por exemplo, para se notar a periodicidade dos ciclos das manchas solares diferenciados durante o máximo e o mínimo solar estabelecendo o ciclo solar que é um fenômemo com uma intermitência de onze anos. O que significa que mesmo alguém que começasse a observar o fenômeno menino e tivesse uma vida muitíssimo longa, não teria chance de o observar mais que sete vezes, portanto a ciência precisou contar com muita gente, durante muitos séculos, desde que Galileu registrou pimeiramente a ocorrência. Há vários outros fenômenos cuja periodicidade é mais alargada ainda, como a passagem de alguns cometas, muitos dos quais nunca serão observados, por mais que viva o observador, duas vezes, ou até mesmo uma, dependendo da época em que este nascer.

A mudaça na inclinação do eixo da Terra é um desses fenômenos de ciclo muito longo, sendo que o ciclo completo dura 25.868 anos, portanto muito pouco observável. Dos muitos movimentos que faz a Terra, na sua ação vital como qualquer ser vivo, observamos quatro bem  definidos, posto que cíclicos: a rotação que é o que faz ao redor de si mesma e demora um dia, 24 horas, e define os dias e as noites, a translação que é o que faz em redor do Sol e demora 365 dias e um quarto de dia,  uma ano, a nutação que faz por ação da Lua e demora 18,6 anos, e a revolução que faz com todo o sistema em relação ao centro da Via Láctea, que demora doze eras astronõmicas, cada uma era de um signo do zodíaco durando 2.155,75 anos, demorando no total os 25.868 anos da precessão dos equinócios, onde o norte vira sul e volta outra vez a ser norte, completando o ciclo.

Assim a inclinação do eixo da Terra altera-se ao longo deste período, alterando o magnetismo e o clima do planeta, numa escala limitada como estimou o astrônomo Milutin Milakowitch (1879/1958) variando entre os 22,1º e os 24,5º de inclinação, o que altera muita coisa no planeta, entre elas a fisionomia das regiões e sua cobertura florestal determinada pelo clima. Agora entre os outros muitos movimentos não cíclicos a que a Terra está sujeita, recentemente tivemos duas ocorrências exponenciais que encurtaram a duração do dia e, consequentemente, aumentaram a duração da noite, já que alteraram a inclinação do eixo da Terra em cerca de oito centímetros que foram os sismos do Chile de 2010 e o sismo do Nordeste do Japão de 2011.


A maior temperatura de sempre registrada na Groenlândia, 25,9ºC, em 30 de Julho de 2013, é um de muitos indícios de que o clima está mudando, junto com ele fenômenos como os do aquecimento dos oceanos, El Ninho e La Ninha transloucados, o degêlo dos glaciares por todo o mundo, visitei vários na Noruega e é progressivo, criando um ciclo vicioso, quanto menos gêlo, menos branco sobre o planeta, maior absorção de calor, mais calor, menos gêlo, menos gêlo, mais absorção de calor. Todos estes indicativos dizem-nos que o clima está mudando já com alguma rapidez, e que levará com ele a resposta ambiental condizente. Cada clima determina um tipo de ambiente, um tipo de vegetação, um tipo de relação com o meio, que sendo frutos desta determinante imperiosa, molda o espaço do planeta onde se situa. Assim acontecerão coisas curiosas, algumas já estão acontecendo, os animais serão outros, na terrra e nos mares, nos ares também, as plantas serão outras, e, é evidente, a nossa relação com este ambiente será outra inevitavelmente. Um exemplo para que meus leitores portuqueses entendam, o Aléntejo que é uma zona temperada passará a tropical, com uma  feição sub sahariana. A vegetação dos sistemas dunares alentejanos irá aos poucos se modificando, as fitocenoses desenvolvidas se dissiparão diminuindo a sua variedade, espécies psamófitas prevalecerão, provavelmente a maioria ou a totalidade dos rios desaparecerão, deslocando as populações para o resto do país. As cegonhas brancas já se anteciparam e podem servistas já em trás-os-montes. O recurso aos lençóis hertezianos será a primeira reação humana, com custos e alterações de hábitos. O turismo talvez encontre soluções com uma abrangência reduzida, no entanto  mais atrativa com as águas costeiras mais quentes, algo assim como as regiões costeiras turísticas do Egito. Cito este exemplo porque a movimentação climática vai seguir esta direção. No Brasil se dará um deslocamento do polígono das secas desertificando outra regiões mais a sul, com o nordeste de Minas Gerais se tornando mais árido e com esta aridez se deslocando mais para sul. Paracatu e Unaí tornar-se-ão mais próximas em termos de vegetação. Já lá em cima mais à norte do polígono das secas, será como se o Maranhão e sua vegetação rica baixasse umas duas centenas de quilômetros nesta direção, transformando o tropical árido em temperado. O Piauí sofrerá enormes transformações, aumentando a pluviosidade, o Parnaíba terá mais água e poderá ganhar mais afluentes, o buritizal vai se espalhar no Estado, o polígno das secas vai desaparecer do Piauí.

Estes exemplos dão uma boa idéia do que se irá passar outra vez no planeta, pela primeira vez com ele habitado intensamente, modificando regiões e causando impactos difíceis de serem estimados. Na verdade não cumprir-se-á plenamente o prenunciado na música Sobradinho de Sá & Guarabyra, não é preciso sentir " medo que algum dia o mar também vire sertão" pela alteração da inclinação do eixo da Terra, talvez por outras razões ambientais sim, sobretudo a interferência do homem, cheguemos mesmo a isto um dia, mas este é um outro tema...



Leia sobre as alterações ambientais no mar em NEMOS NO MORE...aqui no blog O Olho do Ogre.



segunda-feira, 19 de maio de 2014

MANIFESTO PRÓ-DANTAS.

Vejo-me enfronhado, por dever de ofício, do valor das palavras, como bem de sua apreciação profunda, paradigma da boa escrita, à qual, todo aquele que a pratica, não se dispensa, atendendo a ter um vocabulário seu, estimado e preservado, emblema de seu saber e cultura. Uns mais abrangentemente a cultivaram, outros, numa escala mais restrita, atuaram em espaço mais apoucado, porém todos no esmero e dedicação ao verbo.

Júlio Dantas foi, sobretudo pela riqueza de imagens, um dos inexcedíveis em português, destarte provocando incômodo aos que o não acompanhavam, bem como aos que não o conseguiam atingir. Tendo propiciado a manifestação contra sua escrita que se consubstanciou no texto de 1916 de Almada Negreiros.Era um Almada jóvem e impetuoso, que escolheu Dantas para sortilégio de sua idéia de modificar e modernizar o estilo de se escrever em Portugal, sortilégio de que também valho-me.

Agora decorridos quase um século, onde o moderno fez concessões ao dito mal, ao maldito e ao mau gosto, regados pela falta de vocabulário grassante, tanto quanto pela inabilitação em seu uso, é necessário um manifesto pró- Dantas, uma manifestação em prol do bom e cuidado uso da língua vernácula. Fi-lo, porém em sentido inverso,como Almada,  que aqui merece também minha homenagem:

                                                               MANIFESTO

BASTA PUM BASTA !

UMA GERAÇÃO QUE CONSENTE EM DEIXAR-SE REPRESENTAR PELA ESCRITA QUE SE ENCONTRA NAS NOTÍCIAS DOS JORNAIS É UMA GERAÇÃO QUE NUNCA O FOI! É UM COIO DE INDIGENTES, D'INDIGNOS E DE CEGOS! É UMA RESMA DE CHARLATÃES E DE VENDIDOS, E SÓ PODE PARIR ABAIXO DE ZERO!

ABAIXO A GERAÇÃO!

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O DANTAS É UM ESCRITOR!

O DANTAS É UM ESCRITOR E MEIO!


DANTAS SABE GRAMMÁTICA, SABE SYNTAXE, SABE MEDICINA, SABE FAZER CEIAS P'RA CARDEAIS SABE TUDO SOBRETUDO ESCREVER QUE É A COISA QUE ELE FAZ  MELHOR!
O DANTAS PESCA TANTO DE POESIA QUE ATÉ FAZ SONETOS COM LIGAS DE DUQUEZAS!
O DANTAS É UM HÁBIL!
O DANTAS VESTE-SE BEM!
O DANTAS USA CEROULAS DE MALHA!
O DANTAS ESPECÚLA E INÓCULA OS FILHOS PRÓDIGOS!
O DANTAS É DANTAS!
O DANTAS É JÚLIO!
VIVA O DANTAS, VIVA! Mão.jpg (2277 bytes)PIM!
O DANTAS FEZ UMA SORÔR MARIANNA QUE TANTO O PODIA SER COMO A SORÔR IGNEZ OU A IGNEZ DE CASTRO, OU A LEONOR TELLES, OU O MESTRE D'AVIZ, OU A DONA CONSTANÇA, OU A NAU CATARINETA, OU A MARIA RAPAZ, O QUE  MOSTRA SUA UNIVERSALIDADE!
E O DANTAS TEVE CLÁQUE! E O DANTAS TEVE PALMAS! E O DANTAS AGRADECEU!
O DANTAS É UM RECONHECIDO!
NÃO É PRECISO IR P'RÓ ROCIO P'RA SE SER UM BOM AUTOR, BASTA SER-SE  UM BOM AUTOR !COMO É O DANTAS!
NÃO É PRECISO DISFARÇAR-SE P'RA SE SER COMPETENTE, BASTA ESCREVER COMO DANTAS! BASTA TER ESCRÚPULOS E MORAIS, ARTÍSTICOS, E HUMANOS! BASTA ANDAR CO'AS MODAS, CO'AS POLÍTICAS E CO'AS OPINIÕES! BASTA USAR O TAL SORRISINHO, BASTA SER MUITO DELICADO E USAR CÔCO E OLHOS MEIGOS! BASTA SER HERÓI! BASTA SER DANTAS!
VIVA O DANTAS, VIVA!Mão.jpg (2277 bytes) PIM!
O DANTAS NASCEU PARA PROVAR QUE, NEM TODOS OS QUE ESCREVEM SABEM ESCREVER!
O DANTAS É UM ARTISTA QUE DEITA PR'A FÓRA O QUE A GENTE JÁ ESPERAVA QUE IA SAIR... MAS É PRECISO DEITAR CULTURA! MUITA CULTURA!
O DANTAS É UM SONETO D'ELLE-PRÓPRIO!
O DANTAS É UM GÉNIO !NUNCA CHEGA A PÓLVORA SECA PARA FESTEJÁ-LO E EM TALENTO É PIM-PAM-PUM! PRECISO, EXACTO, INFALÍVEL!
O DANTAS NÚ É LINDO!
O DANTAS CHEIRA BEM DA BOCA!
VIVA O DANTAS, VIVA! Mão.jpg (2277 bytes)PIM!
O DANTAS É A CERTEZA DA CONSCIÊNCIA!
SE O DANTAS É PORTUGUÊS EU QUERO SER PORTUGUÊS!
O DANTAS É UMA GLÓRIA DA INTELECTUALIDADE PORTUGUESA! O DANTAS É A META DA CADÊNCIA MENTAL!
E AINDA HÁ QUEM NÃO SORRIA QUANDO DIZ ADMIRAR O DANTAS!
E AINDA HÁ QUEM NÃO LHE ESTENDA A MÃO!
E QUEM NÃO LHE LAVE A ROUPA!
E QUEM TENHA DÓ DO DANTAS!
E AINDA HÁ QUEM DUVIDE DE QUE O DANTAS  VALE MUITO, E QUE  SABE TUDO, E QUE É INTELLIGENTE E DECENTE, VALE MUITO!
"VOCÊS NÃO SABEM QUEM É A SOROR MARIANNA DO DANTAS? EU VOU-LHES CONTAR:
A PRINCÍPIO, POR CARTAZES, ENTREVISTAS E OUTRAS PREPARAÇÕES COM AS QUAES NADA TEMOS QUE VÊR, PENSEI TRATAR-SE DE SORÔR MARIANNA ALCOFORADO A PSEUDO AUCTORA D'AQUELLAS CARTAS FRANCEZAS QUE DOIS ILLUSTRES SENHORES D'ESTA TERRA NÃO DESCANÇARAM ENQUANTO NÃO ESTRAGARAM P'RA PORTUGUEZ, QUANDO SUBIU O PANNO TAMBÉM NÃO FUI CAPAZ DE DISTINGUIR PORQUE ERA NOITE MUITO ESCURA E SÓ DEPOIS DE MEIO ACTO É QUE DESCOBRI QUE ERA DE MADRUGADA PORQUE O BISPO DE BEJA DISSE QUE TINHA ESTADO À ESPERA DO NASCER DO SOL!
A MARIANNA VEM DESCENDO UMA ESCADA ESTREITÍSSIMA MAS NÃO VEM SÓ. TRAZ TAMBÉM O CHAMILLY QUE EU NÃO CHEGUEI A VER, OUVINDO APENAS UMA VOZ MUITO CONHECIDA AQUI NA BRAZILEIRA DO CHIADO. POUCO DEPOIS O BISPO DE BEJA É QUE ME DISSE QUE ELLE TRAZIA CALÇÕES VERMELHOS. A MARIANNA E O CHAMILLY ESTÃO SÒZINHOS EM SCENA, E ÀS ESCURAS DANDO A ENTENDER PERFEITAMENTE QUE FIZERAM INDECÊNCIAS NO QUARTO. DEPOIS O CHAMILLY, COMPLETAMENTE SATISFEITO DESPEDE-SE E SALTA P'LA JANELLA COM GRANDE MAGUA DA FREIRA LACRIMOSA. E ANDA HOJE OS TURISTAS TEEM OCCASIÃO DE OBSERVAR AS GRADES ARROMBADAS DA JANELLA DO QUINTO ANDAR DO CONVENTO DA CONCEIÇÃO DE BEJA NA RUA DO TOURO, POR ONDE SE DIZ QUE FUGIU O CÉLEBRE CAPITÃO DE CAVALOS EM PARIS E DENTISTA EM LISBOA.
A MARIANNA QUE É HISTÉRICA COMEÇA DE CHORAR DESATINADAMENTE NOS BRAÇOS DA SUA CONFIDENTE E EXCELLENTE PAU DE CABELEIRA SORÔR IGNEZ.
VEEM DESCENDO P'LA DITA ESTREITÍSSIMA ESCALA (sic), VARIAS MARIANNAS TODAS EGUAES E DE CANDEIAS ACESAS, MENOS UMA QUE USA ÓCULOS E BENGALLA E AINDA (sic) TODA CURVADA P'RÁ FRENTE O QUE QUER DIZER QUE É ABBADESSA.
E SERIA ATÉ UMA EXCELENTE PERSONIFICAÇÃO DAS BRUXAS DE GOYA SE QUANDO FALLASSE NÃO TIVESSE AQUELLA VOZ TÃO FRESCA E MAVIOSA DA TIA FELICIDADE DA VIZINHA DO LADO, E REPARANDO NOS DOIS VULTOS INTERROGA ESPAÇADAMENTE COM CADÊNCIA, AUSTERIDADE E IMMENSA FALTA DE CORDA...
QUEM ESTÁ AHI?... E DE CANDEIAS APAGADAS?
- FOI O VENTO, DIZEM AS POBRES INNOCENTES VARADAS DE TERROR... E A ABADESSA QUE SÓ É VELHA NOS ÓCULOS, NA BENGALA E EM ANDAR CURVADA P'RÁ FRENTE MANDA TOCAR A SINETA QUE É UM DÓ D'ALMA O OUVI-LA ASSIM TÃO DEBILITADA, VÃO TODAS P'RÓ CÔRO, MAS EIS QUE, DE REPENTE BATEM NO PORTÃO E SEM SE ANNUNCIAR NEM LIMPAR-SE DA POEIRA, SOBE A ESCADA E ENTRA P'LO SALÃO UM BISPO DE BEJA QUE QUANDO ERA NOVO FEZ BRÉGEIRICES CO'A MENINA DO CHOCOLATE.
AGORA COMPLETAMENTE EMENDADO REVELA À ABBADESSA QUE SABE POR CARTAS QUE HÁ HOMENS QUE VÃO ÀS MULHERES DO CONVENTO E QUE AINDA HÁ POUCO VIRA UM DE CAVALLOS A SALTAR P'LA JANELLA. A ABADESSA DIZ QUE EFFECTIVAMENTE JÁ HÁ TEMPOS QUE VINHA DANDO P'LA FALTA DE GALLINHAS E TÃO INNOCENTINHA, COITADA, QUE N'AQUELLES OITENTA ANNOS AINDA NÃO TEVE TEMPO P'RA DESCOBRIR A RAZÃO DA HUMANIDADE ESTAR DIVIDIDA EM HOMENS E MULHERES.
DEPOIS DE SÉRIOS EMBARAÇOS DO BISPO É QUE ELLA DEU COM O ATREVIMENTO E MANDOU CHAMAR AS DUAS FREIRAS DE HÁ POUCO CO'AS CANDEIAS APAGADAS. N'ESTA ALTURA ESTA PEÇA POLICIAL TOMA UM PEDAÇO D'INTERESSE PORQUE O BISPO ORA PARECE UM POLÍCIA DE INVESTIGAÇÃO DISFARÇADO EM BISPO, ORA UM BISPO COM A FALTA DE DELICADEZA DE UM POLÍCIA D'INVESTIGAÇÃO, E TÃO PERSPICAZ QUE DESCOBRE EM MENOS DE MEIO MINUTO O QUE O PÚBLICO JÁ ESTÁ FARTO DE SABER - QUE A MARIANNA DORMIU CO'O NOEL. O PEOR É QUE A MARIANNA FOI À SERRA CO'AS INDISCRIÇÕES DO BISPO E DESATA A BERRAR, A BERRAR COMO QUEM SE ESTAVA MARIMBANDO P'RA TUDO AQUILLO. ESTEVE MESMO MUITO PERTO DE
SE ESTRElAR COM UM PAR DE MURROS NA CORÔA DO BISPO NO QUE (SE) MOSTROU DE UM ATREVIMENTO, DE UMA INSOLÊNCIA E DE UMA DECISÃO REFILONA QUE EXCEDEU TODAS AS EXPECTATIVAS.
OUVE-SE UMA CORNETA A TOCAR UMA MARCHA DE CLARINS E MARIANNA SENTINDO NAS PATAS DOS CAVALLOS TODA A ALMA DO SEU PREFERIDO FOI QUAL PARDALITO ENGAIOLADO A CORRER ATÉ ÀS GRADES DA JANELLA A GRITAR DESALMADAMENTE P'LO SEU NOEL. GRITA, ASSOBIA E REDOPIA E PIA E RASGA-SE E MAGÓA-SE E CAE DE COSTAS COM UM ACCIDENTE, DO QUE JÁ PREVIAMENTE TINHA AVISADO O PÚBLICO E O PANNO TAMBÉM CAE E O ESPECTADOR TAMBÉM CAE" DE SATISFAÇÃO ABAIXO E DESATA N'UMA DESTAS SALVAS TÃO ENORMES E TÃO MONUMENTAES QUE TODOS OS JORNAES DE LISBOA NO DIA SEGUINTE FORAM UNÂNIMES N'AQUELLE ÊXITO TEATRAL DO DANTAS.
A GRANDE CONSOLAÇÃO QUE OS ESPECTADORES  TIVERAM FOI A CERTEZA DE QUE AQUILLO NÃO ERA A SORÔR ALCOFORADO MAS SIM UMA MAISMARIANNA ALDANTASCANFORADO QUE TINHA CHELIQUES E EXAGEROS SEXUAES, COMO SOEM SER AS FREIRAS E AS MULHERES COM RESTRIÇÕES SEXUAIS.
CONTINUE O SENHOR DANTAS A ESCREVER ASSIM QUE HÁ-DE GANHAR MUITO CO'O ALCANFORADO E HÁ-DE VER, QUE AINDA APANHA UMA ESTÁTUA DE PRATA POR UM OURIVES DO PORTO, E UMA EXPOSIÇÃO DAS MAQUETES P'RÓ SEU MONUMENTO ERECTO POR SUBSCRIÇAO NACIONAL DO SÉCULO A FAVOR DOS FERIDOS DA GUERRA, E A PRAÇA DE CAMÕES ACRESCENTADA EM PRAÇA DO DR. JULIO DANTAS, E COM FESTAS DA CIDADE P'LOS ANNIVERSÁRIOS, E SABONETES EM CONTA «JULIO DANTAS» E PASTAS DANTAS P'RÓS DENTES, E GRAXA DANTAS P'RÁS BOTAS, E NIVEINA DANTAS, E COMPRIMIDOS DANTAS E AUTOCLISMOS
DANTAS E DANTAS, DANTAS, DANTAS, DANTAS... E LIMONADAS DANTAS - MAGNESIA.
E FIQUE SABENDO O DANTAS QUE SE UM DIA HOUVER JUSTIÇA EM PORTUGAL TODO O MUNDO SABERÁ QUE O AUTOR DO MINHA PÁTRIA É O DANTAS QUE N'UM RASGO MEMORÁVEL DE IMODÉSTIA SE CONSENTIU A GLÓRIA DO SEU NOME JÚLIO.
E FIQUE SABENDO O DANTAS QUE SE TODOS FÔSSEM COMO EU, HAVERIA TAES MUNIÇÕES DE MANGUITOS QUE LEVARIAM DOIS SÉCULOS A GASTAR.
MAS JULGAES QUE N'ISTO SE RESUME A LITTERATURA PORTUGUEZA? NÃÓ! MIL VEZES NÃO! E A CULTURA PORTUGUESA? NÃO, MIL VEZES NÃO!
TEMOS, ALÉM D'ISTO O EÇA, O RAMALHO, O SARAMAGO , TODOS OS JORNAES! E OS ACTORES DE TODOS OS THEATROS! E TODOS OS PINTORES DAS BELLAS ARTES E TODOS OS ARTISTAS DE PORTUGAL QUE EU GOSTO. E OS DA AGUIA DO PORTO E OS DOUTORES DE COIMBRA! E A GAlHARDICE DO OLDEMIRO CESAR E O DOUTOR JOSÉ DE FIGUEIREDO AMANTE DO MUSEU E AH OH OS SOUSA PINTO HU HI E OS BONS DE CACILHAS E OS MENÚS DO ALFREDO GUISADO! E (O)  ALBINO FORJAZ SAMPAIO, CRITICO DA LUCTA A QUEM O FIALHO COM IMMENSA PIADA ASSEVEROU DE QUE TINHA TALENTO! E TODOS OS QUE SÃO POLITICOS E ARTISTAS! E AS EXPOSIÇÕES ANNUAES DAS BELLAS ARTE(S)! E TODAS AS MAQUETAS DO MARQUEZ DE POMBAL! E AS DE CAMÕES EM PARIS! E OS VAZ, OS ESTRELLA, OS LACERDA, OS LUCENA, OS ROSA, OS COSTA, OS ALMEIDA, OS CAMACHO, OS CUNHA, OS CARNEIRO, OS BARROS, OS SILVA, OS GOMES, OS VELHOS, OS NOVOS OS ANARQUISTAS, OS POTENTES, OS
ACELERADOS, OS CONSTRUIDOS, OS IMAGINOSOS, OS PÁTRIAS, OS ALERTAS, OS LOPES, OS PEIXOTOS, OS MOTTA, OS GODINHO, OS TEIXEIRA, OS QUE DEUS QUE OS PROTEJA, OS CONSTANTINO, OS GRAVE, OS MÂNTUA, OS BAHIA, OS MENDONÇA, OS BRAZÃO, OS MATTOS, OS ALVES, OS ALBUQUERQUE, OS SOUSAS E TODOS OS DANTAS QUE HOUVER POR AHI!!!!!!
E AS CONVICÇÕES URGENTES DO HOMEM CHRISTO PAE E AS CONVICÇÕES CATITAS DO HOMEM CHRISTO FILHO!
E OS CONCERTOS DO BLANCH! E AS ESTATUAS AO LEME, AO EÇA E AO DESPERTAR E A TUDO! E TUDO O QUE SEJA ARTE EM PORTUGAL! E TUDO! TUDO POR CAUSA DO DANTAS!
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PORTUGAL QUE COM TODOS ESTES SENHORES, CONSEGUIU A CLASSIFICAÇÃO DO PAIZ MAIS ANIMADO DA EUROPA E UM DOS MAIS DE TODO O MUNDO! O PAIZ MAIS QUERIDO DE TODAS AS ÁFRICAS! O EXILIO DOS ENGRAÇADOS E DOS DIFERENTES! A AFRICA RECLUSA DOS EUROPEUS! O ENTULHO DAS VANTAGENS E DOS SOBEJOS! PORTUGAL INTEIRO HÁ-DE ABRIR OS OLHOS UM DIA - SE É QUE A SUA CEGUEIRA NÃO É INCURÁVEL E ENTÃO GRITARÁ COMMIGO, A MEU LADO, A NECESSIDADE QUE PORTUGAL TEM DE SER QUALQUER COISA DE MELHOR!
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Lembrando José de Almada-Negreiros,
                                                                        Helder Paraná Do Coutto.

P.S. Mantive a escrita de época para verem o que é do Almada, e a moderna, em contraste, que é minha.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

As penitências do milenário.





Não querendo ser apontado como supersticioso, mas não fugindo de um assunto que é um fato histórico comprovável, faço notar que, por coincidência, ou não, a cada novo século que se inicia, começando um pouquinho antes ou um pouquinho depois do ano um do século novo, mas sempre à volta desta ocorrência, alterando o decorrer dos novos tempos que se contam a partir daí, acontecem  mudanças, que põem tudo de forma radicalmente diferente de como era dantes: Em toda mudança de século há modificações fortes do 'status quo' da humanidade, é um fato, uma coincidência comprovável.

Porque assim é ninguém o sabe, mas o fato é que é assim. Vejam do XVIII para o XIX a revolução francesa e o fenômeno napoleônico que alteraram totalmente as coisas como eram dantes, inaugurando profundas e decisivas mudanças. Do século XV para o século XVI  foram as grandes descobertas, e assim por diante, com maior ou menor repercussão, há alterações a cada virada de século que se registram como sendo períodos de profundas mudanças. É, para dizer o mínimo, curiosa a ocorrência.

Todos os calendários começam a contar a partir de um evento importante, assim é com o Jalali, a hégira ou o nosso gregoriano, e isto, por escolha ou por deferência, é compreensível que seja assim. Está-se a começar a contar o tempo, e, este deve ser contado a partir de um ponto relevante, é a partir de uma referência marcante e memorável que se o deve contar, como é lógico. O que é muito curioso é que hajam ocorrências fortes sempre por volta do começo dos séculos. As há também em outras datas, como a Revolução industrial que é da metade do XVIII (a 1ª), as coisas acontecem quando acontecem, não escolhem hora, quero acreditar. Mas o curioso é que hajam, sempre com importância, as seculares.

Assim sendo era de se esperar que as milenárias fossem, então, mais determinantes ainda, mais esparsas e distantes que são. Pois é, não sabemos porque razão, mas assim se estão verificando. Aspenitências do primeiro para o segundo milênio, até pela estupidez reinante e suas tolas expectativas, além da morte de Éric o Vermelho, e da primeira descoberta da América (Vinland) foram uma decorrência das crenças do fim do mundo, levadas a ação pela burrice generalizada, levando muita gente à morte. Não sei se no oriente tudo isto se verifica, mas por lá conta-se o tempo em outras datas, a partir e a resaliar-se.

Agora nesta virada do segundo para o terceiro milênio em nossa contagem, verificaram-se como maldição estas ocorrências. A reensenada volta do fim do mundo não foi catastrófica como a anterior, porque, se por um lado graças ao calendário Maia foi esperada para mais tarde (2012) que mesmo para o 2001, e, por outro, a incerteza se seria, ou houvera sido, no 2000 ajudaram a desconcentrar a estupidez, bem como ainda, por um outro lado, a maior ilustração das populações em geral contribuiu, livrando o mundo de  trágicas situações por ajuntamentos com mortandade, como na passagem ao final do primeiro  milenário para o segundo. O de que não nos livrou esta, do segundo para o terceiro, foi da ganância humana que provocou a maior crise de sempre, escalonada em três fases. 1ª a do sub-prime. 2ª a das dívidas soberanas. 3ª a da incompetência de lidar com as duas anteriores, a crise da estupidez como eu a chamo (1998, 2002 e 2008 e depois, respectivamente) (*).

Já lá vão 14 anos deste terceiro milênio desde que o começamos a contar, e soltaram-se os quatro cavaleiros do apocalipse com fúria inaudita, e tem-nos aflingido com situações de fome, miséria, falências de pessoas, empresas, cidades e mesmo países, desemprego, bancarrotas, convulsões, inadimplências, faltas de perspectivas econômicas, falta de lideranças, mudanças dos paradigmas existenciais, alterações climáticas profundas, trânsito econômico, deslocando os eixos da economia mundial de Norte/Sul para Leste/Oeste, surgimento de novos ditadores, guerras, insatisfação popular crescente, crimes contra a humanidade, abandono e menosprezo das pessoas à todos os níveis, locais, nacionais e mundiais, tantos nos microcosmos da família ou na rua onde se mora, até o planeta em sua globalidade, havendo enormes migrações, torturas, terrorismos, pestes propagadas por vários organismos e circunstâncias, e mais guerras, e com estas o quarto cavaleiro, em seu cavalo amarelo descorado, começa sua cavalgada mais efetiva. Parece que vivemos um tempo apenas de penitências e expiações.

Nota-se que há uma insatisfação por toda parte, que se manifesta das mais diversas e estranhas formas, desde as primaveras árabes à manifestações de tomada de consciência, como no Brasil, e ainda em outras políticas de confronto como na Venezuela e na China, e em centenas de atos públicos isolados, milhares de atos de grupos de diversos matizes que se formam espontaneamente, e milhões de atos individuais, numa exponencial revolta de sentimentos, percepções e ações políticas  que ocorrem cada vez mais frequentemente. Com tomadas de consciência inesperadas, ab-reptíciamente manifestas nestas cavalgadas loucas, surgidas de forma dolorosa, como a querer expiar culpas generalizadas. Penso que vivemos mesmo um tempo de penitências: As penitências do milenário.

(*) O que  devo ressaltar é que em tempos como este sempre surgiram falsos profetas, apocalípticos muitos deles, como depois da crise de 1929 surgiu um Hitler, após a Revolução francesa surgiu um Napoleão... Devemos estar atentos! 
















quinta-feira, 15 de maio de 2014

NÃO FAZER COPA!







E os protestos continuam!

A música de Edu Krieger Desculpe Neymar, e foi mal Felipão em seus versos, fala da realidade do sentimento de quem viu tanto dinheiro gasto, quando há tantas prioridades que foram menosprezadas, a verdade é que  não se equacionou o que não é e o que é prioritário para os brasileiros, já esporei minhas idéias quanto a isto. O crucial é que quando o Edu Krieger ou qualquer brasileiro diz que não vai torcer : Mente! E mente porque sua alma brasileira é de torcedor, de sofredor, de quem sempre e sempre quer ver seu país e sua seleção ganharem, por isto sabiamente o Autor diz no final da música dirigindo-se ao torcedor que : "É você que tem razão!" E é! O que não retira nada a argumentação de todos que estão contra estes enormes gastos não prioritários.

Então como é que se esclarece e se resolve isto? Não fazer copa! Não fazer copa! Não fazer copa! Gritava o povo revoltado a plenos pulmões. Será esta a solução? Talvez tivesse sido. Quem sabe? Acho que todos os empreendimentos que ultrapassem um certo valor devem ir a consulta popular, amplamente debatida, onde se pesem os prós e os contras e depois, então, se fará, ou não, este gasto. No caso, o Brasil antes de se candidatar, sabendo o enorme custo que isto implicaria, e as enormes vantagens e desvantagens que acarretaria, só após consulta popular que o autorizasse, ou não, se candidataria, ou não, a sediar a Copa do mundo, Se fossemos civilizados, e se os políticos reconhecessem a limitação de seus poderes e que são delegados do povo e que, portanto, a ele deve contas, teriam antes, no devido tempo, consultado o povo. Aproveito que esta idéia serve para saber também em que que o governo deve empregar os recursos de que dispõem. A isto se chama Orçamento participativo e é empregado, é feito, com toda a naturalidade, em muitos lugares pelo mundo fora. Esta insatisfação manifesta é uma excelente oportunidade para mudar as regras, já que estas não estão satisfazendo.

Agora que estamos nisto, e que maravilhado vejo que uma vanguarda expressiva da população, tomando consciência e lutando por seus Direitos, vai para a rua protestar porque não concorda com as opções do governo em vários assuntos, isto tem de se traduzir em legislação onde a opinião da população passe a contar, e que o não fazer copa possa ser ouvido no momento oportuno futuramente, vale dizer, antes de tomarem compromissos e assumirem responsabilidades que não estarão nas prioridades da maioria.

Porém nos sabemos que há coisas muito mais graves do que isto, como, por exemplo, a cessão do acesso ao pré-Sal a petrolíferas estangeiras. Numa concessão com valores tão avultados a decisão deveria estar sujeita a consulta popular. O Brasil é dos brasileiros e estes devem decidir de seu destino. Os políticos têm de aprender os limites de seu poder! Sempre que houver importância e peso maior nas decisões a serem tomadas o Soberano deve ser consultado diretamente. É claro que esta idéia não agrada a nenhum político, porque lhes retira imenso poder, mas é assim que deve ser, e sempre haverá alguém que proponha a lei que assim o determine. o que vai ser necessário e imprescindível é enorme pressão popular para que ela seja aprovada. Há que se começar um movimento de massas neste sentido para que o povo Soberano seja ouvido antes, para que depois não se ponha a gritar : Não fazer copa!







terça-feira, 13 de maio de 2014

14 anos da morte de José Blanc de Portugal.





Num dia de Nossa Senhora de Fátima morreu o poeta e musicólogo D: José Blanc de Portugal, lembro hoje sua ausência.


         Uma sensação brasileira.  

                                                        
                                                          Parede, 12/06/2009.
                                                          A D. José Blanc de Portugal.      
                                                              (8/3/1914  - 13/5/2000)

                                  


Tenho aqui comigo a tua Ana
Na noite popular das marchas...
Que no culto de tua memória
Mostra-me o teu 'Descompasso'
Onde está o Brasil e sua história
E onde, por todas as graças,
Conseguistes restabelecer o laço.

E pediu-me uma quadra ao Santo Antônio
Quando ganharam duas marchas da mesma colina
Formando destarte um binômio
Que se não via desde que ela era menina

Fico-me por estas sendas alfacinhas
Mas às façanhas devo lançar-me eu,
Longe de quaisquer coisas mesquinhas
Para poder dar-te, a ti, recado meu.

Louvar-te o elo de dois mundos tão diferentes e tão iguais
Que os jungistes e os fizestes mais
Por teu sentir, amar e bem dizer
Desvendastes o segredo da segregação,
Unindo o inconcebível no teu verbo lusitano
Para que não haja mais separação
E o torne ainda mais humano.

Há um batuque que se escute
Aqui, ali, acolá,
E que com meiguice desfrute
Deste rumorejar.

Refunde-se neste ato muita evocação
Do branco, do negro, do mulato ( tanto amor de perdição...)
Que se junta a este fato de haver sempre perdão
Com muito cafuso tato e muita cabrita alocução
Sem perdê-lo de fato, em ser nossa salvação.

Então desarmastes-te de europeu
E com pele de Romeu, entregastes-te ao teu querer.
Vestistes-te com a camisa listrada, que encaixou e que te deu
Como uma segunda pele, e pusestes-te a cometer.

Melhor seria, talvez, ter dito segunda língua,
Mas a língua é a mesma, fiel instrumento de trabalho,
Nem numa forma ou noutra o léxico mingua
Temos todas as cartas, pois não se amesquinha o baralho.

Muda é o ritmo, que neste calor já o sabemos dissoluto.
É o mesmo português que por aqui, porém mais hirsuto,
É filho dos mesmos sentimentos que foram postos a braço
Que para recompô-los  é necessário muito, muito descompasso!




domingo, 11 de maio de 2014

AS CRISES FINANCEIRAS, E NÃO SÓ !


                                                    Da crise da ganância à crise da estupidez!


A história começa com uma idéia bizarra, para dizer o mínimo: Agrupar hipotecas de imóveis em lotes e emitir um título de dívida negociável sobre este débito agrupado. Bizarro por que era duplicar valores de estoques existentes, criando papéis que apostavam na capacidade de um determinado grupo pagar ou não suas dívidas, criando todo um setor financeiro inexistente até então, gerado a partir do nada com o único intuito de especulação. Era uma brecha na legislação que foi aproveitada, passando-se a negociar como bons, títulos que não tinham nenhuma solidez, e que se baseavam numa promessa, gerando possibilidades de investimento enormes para um mercado sedento de oportunidades, tendo como seus promotores os maiores agentes financeiros existentes, porque todo mundo entrou na dança em busca do lucro, mesmo sabendo que estavam disponibilizando uma irrealidade, sem medo  de serem felizes, mesmo sabendo que isto iria custar a infelicidade, e, muitas vezes, a vida ao investidor.( Economia de Cassino dizem uns, melhor seria dizer Finanças de Casino.) O mundo tem dinheiro à mais! Dinheiro sem lastro, dinheiro por dinheiro, dinheiro por vontade do emissor. Dinheiro pra fazer dinheiro, dinheiro para tapar buracos. Desde que a Reserva Federal norte americana descobriu que emitir pode ser um recurso que safa suas fragilidades, isto tem sido uma desgraça!

Assim foi que se criaram algumas dezenas de bilionários (atentem bem ao termo: bilionários) em detrimento de milhões de pobres que também se criaram, gente que no extremo vai passar fome, mas que todos estes, em maior ou menor grau, vão sofrer sérias restrições, desde não poder ligar o aquecedor ou comer um bife, até esquecerem-se de que existem férias ou idas ao cinema, dependendo da gravidade das restrições às quais ficarem sujeitos.

E àquelas dezenas de bilionários que se criaram, inclusive com a falência de outros bilionários (Lehman brothers por exemplo) e algumas centenas de milionários na faixa intermediária, para além da destes muitos milhões que foram empurrados para a pobreza pelo mundo fora, não aconteceu nada. Passou-se já uma década desde o começo destes eventos, e estamos aqui comemorando este fato: Uma década em que algumas dezenas de pessoas passaram a poder comprar Picassos e  Monets, diamantes e Ferraris, passaram a poder deslocar-se pelo planeta em seus aviões privados, a ir para suas casas nos destinos mais fabulosos, ao preço de milhões que não podem ir na sua aldeia abraçar seus pais pela Páscoa, e nenhuma atitude foi tomada, nem mesmo uma regulamentação efetiva que impeça que uma situação similar se possa repitir. O Sr. Obama falou disto quando foi eleito já lá vão quase seis anos, e nada foi ou será feito, nada aconteceu, exceto os novos bilionários a passearem-se em seus aviões e os novos pobres a passarem fome. E continuamos expotos à sanha da ganância!

A maior crise da ganância que se teve notícia, pois exclusivamente especulativa, a de 1929 tinha uma componente econômica, isto é havia gerado riqueza, empregos, progresso, a maior ganância foi esta de 1998, pois só gerou, como disse, uns quantos bilionários contra milhões de miseráveis. Que haja ganância, que hajam brechas na legislação, que haja quem se aproveite disto, é absolutamente compreensível, que nada tenha sido feito é que não é minimamente aceitável. E é esta situação que nos leva à segunda crise, a das dívidas soberanas, que avassalou outros quantos milhões de seres humanos, porque a ganância dos mercados havia percebido a fragilidade em que se encontravam vários países por terem gasto muitos milhares de milhões na tentativa de evitar uma quebradeira geral na banca pelo mundo fora. ( Muitas vezes esses próprios bancos que geraram a situação de fragilidade dos Estados, especularam contra os seus salvadores, os Estados, com a situação em que se colocaram ao salvá-los. Parece incrível?) Assim o mundo viu a segunda crise em menos de um lustro, criando como que um efeito continuado, inibindo reações, coibindo alternativas e proibindo situações de desenvolvimento, únicas maneiras de se enfrentar, em econômia, situações de stress. ( Com as famosas fugas para frente, que vão purgando as crises.) Com a inibição desta possibilidade, entrou-se num compasso de espera, não se sabe bem do que, mas espera, já que há que se ter esperança, por um lado, e por outro dar tempo ao tempo, já que o tempo é a cura de todos os males, mesmo que em muitos casos represente a morte do doente, porém a morte é sempre uma solução, aliás a mais definitiva de todas as soluções ( morte se não antecipada, no fim do resto da vida sem opções e sem alternativas).

Tinha-se instalado então uma outra crise menos visível, mas fortemente perceptível ao se escrutinarem as relações novas criadas entre os Estados, entre as pessoas, entre as gerações, entre pobres e ricos, relações que se tornam perigosamente excludentes num salve-se quem puder, sem se darem conta que, com a globalização, estamos todos no mesmo barco e afundamos todos com ele. Que não há ricos que mantenham sua riqueza sem haver remediados que comprem seus produtos, sem haver remediados que paguem seus juros, sem haver quem lhes possa servir de mercado consumidor, porque não há mercado produtor ou financeiro sem o respectivo mercado consumidor, que com miseráveis como interlocutores, os ricos ficam rapidamente remediados e toda a estrutura se desmorona, e corremos o risco de viver num mundo onde todos sejam pobres. Era a crise da estupidez que se instalava.

Alertados para a velha máxima que a desgraça de  meu vizinho é a minha futura desgraça, esboçou-se qualquer reação, que vai, muito insipientemente, tapando buracos. Enquanto todos não se aperceberem que estas poucas dezenas mudaram o mundo definitivamente, e para pior em todos os sentidos, obrigando-nos a todos a rediscutir as relações econômicas e sobretudo financeiras entre todos nós e a todos os níveis, individuais, coletivas, Estaduais, globais, ou seja entre as pessoas, entre grupos de pessoas, entre as nações e num cômpto mais abrangente as do futuro do planeta como um todo, não havendo saídas isoladas, já que, repito, estamos todos no mesmo barco. Até parece um desígnio, mas, sem outro possível caminho, é assim. A ganância e a estupidez háo que ser postas de lado por algum tempo e, por fim, terem uma visão global da situação que impõe uma solução geral, já que a todos afeta. Por enquanto os ilustres senhores responsáveis fazem de tudo para ignorar que é assim!






quarta-feira, 7 de maio de 2014

PORTUGAL SEM SAÍDA, OU A SAÍDA É O AEROPORTO...

               




                                                               A GERAÇÃO MAIS QUALIFICADA DE SEMPRE...três vias X cinco paradigmas.


Trabalhou-se várias décadas, investiu-se, qualificou-se, preparou-se...Pais, avós, filhos e o país empenharam-se quatro décadas, até que conseguiram, por fim, obter esta geração que agora devera ingressar no mercado de trabalho português, e que é conhecida como a mais qualificada de sempre, e o é, com o mais alto nível cultural que jamais houve neste país, e a quem eu dedico este artigo. Sendo que quando penso nisto tudo a primeira coisa que me vem à mente é a frase do poema de Ferreira Gullar n'A Luta Corporal «As Pêras»: "As pêras concluídas, gastam-se no fulgor de estarem prontas para nada." onde o poeta nos lembra que não se pode parar o relógio.

Não há maior verdade para esta geração do que esta no poema do Gullar, pois que são pêras concluidas estes jovens, poder-se-ia dizer mesmo mais que concluídas, também selecionadas, perfeitas, fulgurantes, prontas, acabadas: A geração mais qualificada de sempre! Eis que assim como as peras concluídas, que atingiram sua maturidade plena, colhidas, escolhidas, fulgurantes na sua plenitude, prontas para serem desfrutadas, prontas para cumprirem seu destino. Eis que não há destino. Perdem-se no vazio, "gastam-se no fulgor". TANTO ESFORÇO PARA NADA!

Será que é assim? Fatal como o destino? Ou haveria, há, outra solução?

Eu vejo os países, sobretudo um pequeno e bem estruturado país como Portugal, como uma família alargada, uma família que deve se cuidar, uns aos outros, uma família que tem de responder nas horas difíceis com união e prontidão, na noção daquilo do que deveria ser uma família, que nem sempre é, unida, coesa e solidária. Portugal através da cabeça da família, seu governo, deveria ter assumido desde logo uma posição de prevenção de danos, de diminuir a nocividade da carga forte de veneno que se iria espalhar pelo país, com a terrivel situação de se recuperar financeiramente, entregue, que estava, à sanha dos mercados. Não foi assim! Esqueceram que a melhor, a mais valiosa, parte de seu investimento de décadas, e de realidades materiais e espirituais que se conjugaram, é esta sua geração mais qualificada de sempre, fruto do esforço conjunto das famílias e do Estado, que com meios inauditos conseguiram este assombroso feito pela vez primeira. E para que? Como no poema : PARA NADA ! O pior disto tudo é o futuro. Porque além de defraudar o presente de todos os que se prepararam e de todos os que se empenharam para esta preparação (todos, aí incluido dos professores e pais, até aos cidadãos que viram o recurso de seus impostos serem para aí mobilizados) é defraudar o futuro por várias vias: 1. A do descrédito, de que adianta se estar bem preparado em Portugal ? (Via muito perigosa, que dá espaço a se acreditar em outros caminhos diferentes, como se vem desenvolvendo na idéia de muitos jóvens hoje.). 2. A da desesperança, se se enganaram preparando tanta gente para nada, poderemos acreditar em outro caminho que vierem a apresentar?  (Dolorosa via, pois nada pior que se perder a esperança.). 3. A das impossibilidades, que fazer com esta geração mais qualificada de sempre? Se é impossível lhe dar aproveitamento, qual o caminho? (Via muito triste porque cumpre o paradigma perecível das pêras.). Enquanto a prioridade não for as pessoas, não se vai a lugar algum! A escolha do modelo é tudo!

 Eu penso que não é fatal, que havia, há, a solução de se fazer um esforço de empreendedorismo, de se aproveitar as potencialidades de Portugal numa outra lógica: A lógica da geração mais qualificada de sempre! E o que é isto? É voltar-se para o novo à partir das potencialidades imensas de que dispõe o país pelo seu passado. 1. Há o imenso mundo do idioma a explorar. 2. Há o fabuloso mundo do legado histórico a se capitalizar. 3. Há o imenso mar, outra vez, a conclamar (desta vez não à superficie mas mergulhando em suas águas). 4. Há as capacidades instaladas, e a melhor delas é o saber da geração mais qualificada de sempre. Se Portugal deu mundos ao mundo com uma gente medieval, o que não faría com estes jóvens pós modernos? Só que então havia um Rei, havia uma família, a ínclita geração, que governava o país, e o país tinha governo. Saiam do país sim, mas para voltar, a viagem tinha já marcada a sua volta, quando iam. Esta idéia de sair do país, de ir-se embora definitivamente, inspirou na irreverência brasileira a expressão: 'O último a sair apague a luz!' Triste antevisão.

Só se vai a algum lugar se conhecermos o caminho, mesmo que seja apenas onde ele começa. Sem o primeiro passo não se faz nenhuma caminhada, muito menos tendo o aeroporto como paradigma da redenção.